sábado, fevereiro 28, 2015

HOSPEDARIA, DE EDUARDO PROFFA



HOSPEDARIA – Acontecerá no próximo dia 14 de março, a partir das 19hs, no Zeppelin Restaurante e Bar, Maceió, o lançamento do livro Hospedaria, do poeta e integrante da dupla Nó na Garganta, Eduardo Proffa. O livro conta com apresentações de Diógenes Tenório e Edna Lopes, com capa do multiartista alagoano Deyvis.



EDUARDO PROFFAEduardo Proffa nasceu em São Paulo – Capital, em 16 de janeiro de 1965, com o nome de Eduardo Souza Oliveira. Chegou a Maceió com 05 anos de idade e foi residir no bairro do Pinheiro-Farol. Aos 15 anos iniciou o Curso de Edificações na Escola Técnica Federal de Alagoas (ETFAL, antiga CEFET, hoje IFAL), onde participou da primeira antologia literária com o poema: Por que tem que ser? Hoje, é professor de Educação Física, especialista em Handebol. Leciona no Colégio Marista de Maceió  e na E.E. Margarez Lacet. Ele é integrante da dupla de sucesso Nó na Garganta, ao lado de Jan Claudio.

SERVIÇO -  O quê? Pré-lançamento do livro Hospedaria Onde? ZEPPELIN RESTAURANTE E BAR (Rua Desembargador Arthur Jucá, 40 - Centro – Maceió. Ao lado das Lojas Americanas.). Quem? Eduardo Proffa e Convidados Quando? Sábado - 14 de Março, 19h00. Maiores informações pelos fones: (82) 8807-5064 ou 8715 - 8009.


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quarta-feira, fevereiro 25, 2015

JOYCE CAVALCCANTE


JOYCE CAVALCCANTE – Importante escritora cearense, Joyce Cavalccante tem confirmado seu talento no cenário literário brasileiro e desenvolvido trabalhos em prol da literatura brasileira. Alguns anos atrás ela concedeu uma entrevista para o meu Guia de Poesia que reproduzo aqui.

LAM - Como a Literatura chegou até Joyce Cavalccante?

JC - De forma legítima como todos os amores a primeira vista. Eu já sabia que iria viver literatura desde a primeira redação escolar. Quando chegava o dia da aula de português eu exultava de alegria. Era uma excitação cheia de sensualidade, faces coradas, coração aos pulos e inquietude. Só muito mais tarde, quase hoje, que aprendi ser o mesmo o chacra da criatividade e o da sensualidade, ou seja, essas duas emoções dividem o mesmo espaço energético. Aliás, diga-se, essas duas coisas são de extrema importância para minha felicidade e realização como ser humano.

LAM - E os primeiros escritos, os primeiros passos, como ocorreram?

JC - Assim mesmo. Na escola. Comecei ganhando concursos de redação e pra mim isso nunca foi importante. O que eu queria mesmo, como ainda quero é emocionar com minha narrativa. Quero buscar dentro de cada pessoa as preciosidades que elas nem suspeitam possuir. Quero encantar. O que mais mexia comigo eram as redações. Eu estava sempre narrando algo, descrevendo o que via; mas depois, quando aprendi metrificação na escola, resolvi ser poeta. Cometi algumas poesias, é verdade, mas logo logo voltei ao meu estado natural: a prosa. Eu tenho uma irmã que nesse tempo estava fundando um grupo literário com alguns colegas de faculdade, o Grupo Literário “Sim”, que até hoje é uma referência importante na literatura cearense. Eu, ainda menina, ficava ali escutando as discussões do pessoal. Ficava querendo me meter na conversa, mas me continha com medo de ser rechaçada por ser criança. Mas certa vez, não me contive e quando acabou a reunião eu chamei um dos membros do grupo, o Pedro Lyra que hoje em dia é um grande crítico e poeta conhecido nacionalmente, e confidenciei-lhe que havia escrito um poema. Pedi-lhe para que lesse e dissesse o que achou. Ora, O Pedro não só leu como publicou no jornal “O Povo”, de Fortaleza, o poeminha ingênuo de autoria da menina escutadeira de conversa dos adultos. E foi assim que tudo começou.

LAM - Que avaliação você faz de toda a sua trajetória até o "Cão Chupando Manga"?

JC - Hoje eu vejo que não carecia de ter tido tanta insegurança ou dúvidas. Tudo iria acontecer de qualquer forma. Mas a gente é sempre assim: descrente, ansiosa. Eu não faço exceção. Todas as vezes que estou escrevendo algo sempre acho que nunca estará suficientemente bom, até que um dia fica do jeito que eu gostaria. E é só assim que eu libero um original pra publicação. Eu sou daqueles autores que desconstrói para construir. Fico na lida o tempo todo, mexo muito no texto, limpo, limpo, limpo. Escrevo e reescrevo quantas vezes forem necessárias porque escrever mediocridades, coisas imperfeitas, ninguém merece. No mais, a trajetória foi essa: uma letra em seguida da outra formando frases que se ligaram em parágrafos que se ligaram em textos literários. Belos, senão não os assino

LAM - Você vem arrebatando prêmios ao longo da carreira. Como isso tem contribuído para a receptividade do público ao "Cão Chupando Manga"?

JC - Deixe de exagero, poeta. Eu não venho arrebatando prêmios assim a torto e a direito, não. Mesmo porque eu nem participo tanto de concursos. Ganhei uns reconhecimentos, foi só. Na verdade o maior prêmio da minha vida foi o encantamento que o “Cão Chupando Manga” provocou no coração daqueles que o leram. Foi um arraso geral. Todos os leitores desse romance quiseram interferir, modificar, escolher um destino para tal e tal personagem, reclamar. Todos se tornam coautores, e a meu ver essa é a finalidade de um livro. Só assim uma obra artística se completa.

LAM - Como foi escrever o "Cão Chupando Manga", aproveitando para que você indique onde ele pode ser encontrado pelo leitor internauta?

JC - Bom, escrever o "Cão Chupando Manga" foi um suplício, pra ser mais precisa. Foram três anos de trabalho diário e ininterrupto, pois é assim que se faz romances: sentada em frente ao computador sem se dar tréguas. Enquanto isso os personagens me atormentavam se intrometendo na minha vida, me pedindo dinheiro emprestado, atrapalhando meus namoros, sujando minha cozinha e me assustando com seus pesadelos. Eu tinha uma ideia para onde deveria ir mas não sabia se ia chegar. Mas no fim tudo deu certo. Tudo deu certo. Quanto a indicar aonde o "Cão Chupando Manga" poderá ser encontrado, tenho a dizer que ele está bem distribuído e pode ser encontrado em qualquer livraria física. Como toda livraria nos dias de hoje faz vendas online, no site das referidas livrarias logicamente terá o "Cão Chupando Manga". Mas se quiser uma indicação mais direta, pode procurar na livraria REBRA.

LAM - Qual a sua visão sobre a Literatura brasileira atual? Que destaques você pontua?

JC - Acho difícil julgar. É uma tarefa que não me atrai. Mas gosto de ler principalmente romances e novelas. Tenho lido boas coisas de Ana Miranda, de Roberto Drummond, de João Ubaldo e outros colegas. A poesia contemporânea ainda não me cativou, mas talvez seja porque eu tenho o gosto muito clássico. Talvez até eu esteja perdendo muita coisa. Gosto de ler, isso sim. Não fico um minuto sem um livro na cabeceira.

LAM - Como você encara o processo editorial convencional mediante o advento da Internet?

JC - Uma coisa não tem nada a ver com outra por isso não dá pra comparar. O processo editorial do livro impresso é uma coisa totalmente diversa da publicação online. Um livro de papel é um objeto de arte, concreto, palpável; uma publicação na Internet é volátil como uma boa ideia. O livro físico sempre existirá. Há uma enorme camada da população que não passa sem ele, eu sou um exemplo disso. Quanto a publicações virtuais não sei responder já que nunca li nenhuma. Não me atrai ficar sentada diante de um computador lendo um livro. Pobre da minha coluna. Pobre do meu juízo. Mas uma coisa eu garanto, a Internet auxilia muito na divulgação de um livro, Isso sim. Considero que ela é hoje um instrumento de primeira necessidade ao mundo das artes e do intelecto. De qualquer forma essas minhas afirmações tem um certo prazo de validade. Vamos ver como as coisas irão se situar no futuro.

LAM - A Internet tem contribuído para a difusão da Literatura e o hábito da leitura?

JC – Sim. Acabei de afirmar isso. Tem sido de grande auxilio usar o poder de penetração da Internet para movimentar o mundo literário. Dando um exemplo simples: eu mantenho um site de referência na rede: http://www.JoyceCavalccante.com Nesse site estão todas as informações que uma pessoa, um estudante ou um estudioso, precisa para desenhar um trabalho escolar sobre a minha literatura. Após visitá-la totalmente, sobre muito pouco a perguntar, resultando em grande facilidade para a divulgação de meu trabalho. E isso tem me dado muitas gratificações. Também convites e avisos sobre novas publicações são melhores distribuídos e menos dispendiosos se usarmos o meio eletrônico. Grupos de interesses em comum se formam, poetas trocam poesias e namorados promessas. É uma festa essa rede. Eu fico feliz em estar nessa festa.

LAM - De que forma a REBRA tem contribuído para a difusão e o desenvolvimento da Literatura Feminina Brasileira?

JC – A REBRA inteira é movida por essa ideia. Alguns de nossos princípios são: Divulgar as obras das associadas nacional e internacionalmente, por meios eletrônicos e convencionais; manter viva na memória cultural brasileira as obras de nossas escritoras já falecidas, divulgando a história da literatura feminina do Brasil; desenvolver projetos literários tais como; cursos, encontros, simpósios, concursos e congressos, assim como promover publicações visando as finalidades acima descritas; criar em parceria com a iniciativa privada ou com órgãos governamentais, no âmbito nacional ou internacional, mecanismos que estimulem o mercado da literatura feminina em particular e da literatura em geral; expor a literatura brasileira feita por mulheres para o mundo inteiro, com o objetivo modernizar e globalizar sua divulgação para o mercado literário; fazer valer os direitos da mulher escritora a um tratamento justo e igual ao dos homens escritores entre outras coisas. Temos cumprindo ao que nos propomos e por isso que nesses 4 anos de vida podemos dizer: a REBRA foi uma ideia que deu certo.

LAM - Que projetos a Rebra tem desenvolvido e a desenvolver?

JC – As principais iniciativas nossas foram: as home pages trilíngües para cada sócia e suas consequentes apresentações virtuais para um universo bem largo de endereços eletrônicos. O SER-Selo Editorial REBRA e agora a Livraria REBRA. Além disso a participação em feiras nacionais e internacionais com exposição de livros e a presença de associadas. Tudo isso ajuda e muito a fazer a voz da mulher brasileira ser ouvida e respeitada. Mas reconhecemos que ainda há muito a fazer e faremos. Ora se faremos.


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segunda-feira, fevereiro 23, 2015

LARA – DUPLA IDENTIDADE, DE RONALDO URGEL NOGUEIRA


LARA, DUPLA IDENTIDADE – No próximo dia 28 de fevereiro acontecerá o lançamento de mais um romance da série "Lara - Dupla Identidade", do poeta e escritor tricordiano Ronaldo Urgel Nogueira. Serviço: Dia 28/02, das 17 às 21 horas, na Savel no Santa Tereza, em Três Corações, sul de Minas (Info: Meimei Corrêa).



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sexta-feira, fevereiro 20, 2015

FESTIVAL DE ARTES VIRAMINAS


FESTIVAL DE ARTES VIRAMINAS - A Viraminas está com inscrições abertas para as oficinas do Festival de Arte, Tecnologia e Tradição Oral (FATO) 2015, que vai de 23 de fevereiro a 13 de março. Faça sua inscrição e divulgue para os amigos. Todas as oficinas são gratuitas. Inscrições pelo Whatsapp (35) 9928-4396 ou pelo telefone 3231-2690. Classificação: 14 anos. OFICINAS DO FATO 2015 - 23 a 27 de fevereiro (segunda a sexta) Oficina de Home Studio. Conheça noções de como gravar música com poucos recursos e usando software livre para depois você irritar seus vizinhos com sua banda de rock. Oficineiro: Wilken Sanchez, Coletivo Digital (SP). Horário: 14h às 18h. Oficina de Pôster. Aprenda a criar e desenhar pôsteres usando as mais impressionantes técnicas já criadas e algumas ainda não inventadas, tudo em software livre. No fim, será feita uma exposição com arte criada durante a oficina. Oficineiro: Paulo Morais, Viraminas. Horário: 18h30 às 21h. 3 a 6 de março (terça a sexta) Oficina Mostra de Cinema – Faça Você Mesmo. Os participantes vão organizar uma mostra de curtas-metragens e exibir em algum lugar do mundo – escolhido pelos próprios alunos –, aprendendo sobre a curadoria, seleção de filmes e produção do evento. Oficineira: Ananda Guimarãešrães, Mostra Mosca (Cambuquira). Horário: 14h às 18h. Oficina de Contação de Histórias. Exercite seu potencial expressivo com técnicas de artes cênicas e a partir daí você nunca mais vai contar histórias do mesmo jeito. Oficineira: Gabi Felipe (atriz). Horário: 14 às 17h. Local: Casa Pelé. 9 a 13 de março (segunda a sexta) Oficina de percussão – até quem não tem ritmo nenhum vai conseguir participar da bateria montada nesta oficina. Oficineiro: Mestre Claudião, Projeto Tombatuke (Varginha). Horário: 18h30 às 21h. (Info: Meimei Corrêa),

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quinta-feira, fevereiro 19, 2015

CULTURA 2015 EM TRÊS CORAÇÕES (MG)


PROJETOS CULTURAIS - A Seltc TC anuncia: Vem aí.. Cultura 2015. Recomeçando os projetos Culturais. Calendário para os Meses de Fevereiro e Março/2015.

PROJETO LEITURA NA PRAÇA Dia 28/02 - Projeto Leitura Na Praça, acompanhando o Prefeitura Cidadã, no Bairro Monte Alegre. Leitura, conhecimento e brincadeiras. Leve as crianças.

QUARTA COM ARTE - Dia 04/03 - Quarta-Feira - O primeiro "4ª Com Arte" de 2015. Na Biblioteca Pública Municipal Darcy Brasil.. A partir das 19h.

PROJETO LEITURA NA PRAÇA - Dia 07/03 - Sábado - A partir das 09h da manhã, O Projeto Leitura Na Praça, começa sua itinerância pelos Bairros de Três Corações e, a estreia, é na Praça do Bairro Bandeirantes (ao lado da E. M. Henriqueta Lisboa). Vamos incentivar a leitura e as brincadeiras lúdicas. Levem as crianças para o mundo mágico dos livros!

DIA NACIONAL DA POESIA - Dia 14/03 - Sábado - A partir das 9hs da manhã - Dia Nacional da Poesia, no Calçadão 18. Poesia, Música e Artes. O tema deste ano, será "Parangolé... vestidos de poesia" .. Homenageando o criador dos Parangolés... O Artista Plástico e Performático Hélio Oiticica e Poetas Tricordianos. Participe!... (Info: Meimei Corrêa).


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terça-feira, fevereiro 17, 2015

VIRNA TEIXEIRA


ENTREVISTA - Virna Teixeira é poeta, tradutora e neurologista. Ela lançou em 2000, o livro “Visita” e, recentemente, o “Distância” ambos pela Editora 7 Letras.

O primeiro, Visita, indubitavelmente, uma viagem que começa volátil, vai para a sala, quarto, regressa, passa pelo dorso, chega numa tarde de maio, passeia pelo outono, usa binóculos para se acercar das lonjuras, vira Penélope e depois retorna ao passado. Segue seus percursos a partir de janeiro, domingos, museus, meio-dia, caminhos, viagens. Tudo a partir de uma epígrafe da Ana Cristina César: “A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriam para sempre na distância”. Uma visita que é ousadia, porque parte e nem sequer saiu de perto. Uma visita longínqua, porque em si já comunga tudo e todos. Uma visita que não é visita: é a poesia que vai e volta na transcendência poética para ser vida.

Agora, Distância, o seu mais novo trabalho onde me resta reiterar as palavras mencionadas com relação ao primeiro, com um detalhe: a distância é, ao mesmo tempo, o afeto e o estranhamento. É como estar no meio do maior rebuliço e estando cônscio de que, mesmo levado pelo movimento, se posiciona acima, ao lado, abaixo ou mesmo fora dele, digerindo a experimentação. Isso porque a poeta se faz migrante de uma belíssima viagem que o leitor jamais esquecerá: o universo poético de Virna Teixeira.

Tendo já comentado os dois livros dela, agora, uma oportunidade ímpar: um bate-papo com a autora. Com vocês, Virna Teixeira.

LAM - Virna, primeiro, como costumo abrir as entrevistas que faço, o de praxe: quando se deu e como foi seu encontro com a literatura?

Muito cedo, na infância mesmo. Meus pais são pessoas cultas, bem informadas. Com sete anos de idade ganhei o livro “Ou isto ou aquilo” de poemas infantis da Cecília Meireles, foi o meu primeiro encontro com a poesia. Depois li toda a coleção do Monteiro Lobato para crianças e me tornei, precocemente, uma leitora ávida. Tive acesso a uma vasta biblioteca em casa. Desde os clássicos da literatura nacional e estrangeira até poesia contemporânea, beatniks, poesia marginal.

LAM - Você é cearense de Fortaleza e está em São Paulo. Para você, como é o trâmite de se vê nordestina no meio dessa loucura toda?

Comecei a mudar de cidade na infância. Até mesmo na época da faculdade, cursei parte do meu curso de graduação em Recife.
O motivo de ter mudado para São Paulo, dez anos atrás, foi a residência médica. Uma mudança grande no início, mas me adaptei rapidamente. Gosto bastante de São Paulo, de cidades cosmopolitas, tenho amigos aqui do Nordeste e de toda parte. Minha natureza é nômade, aprecio a diversidade.

LAM - Você é médica neurologista. Como concilia medicina, literatura, poesia? Elas se completam ou cada qual, cada qual?

Tenho um horário de trabalho um pouco irregular, dou plantões, trabalho final de semana. Mas tenho horários livres durante a semana, que dedico à poesia, às leituras. Levo livros para ler no plantão, onde uso o computador e escrevo alguma coisa quando o movimento está calmo. Sou inquieta, preciso ter várias atividades ao mesmo tempo. E a poesia, a leitura são necessidades praticamente cotidianas.

LAM - Você publicou o seu primeiro livro, Visita, em 2000. Como se deu o processo de criação, publicação e a receptividade?

Comecei a escrever com mais regularidade após os vinte anos. Já morando em São Paulo, fiz contato com dois poetas em Fortaleza, o Manoel Ricardo de Lima e o Carlos Augusto Lima. Através deles conheci alguns poetas da região do ABC paulista, ligados à revista Monturo, onde publiquei meu primeiro poema, Visita. Este contato foi um incentivo recíproco e boa parte do grupo publicou seus primeiros livros mais ou menos na mesma época. “Visita” foi publicado pela editora 7 letras e auto-financiado. O Manoel Ricardo, que além de poeta é professor de Literatura (atualmente na UFSC, em Florianópolis) escreveu o prefácio do livro. A receptividade inicial foi boa, e permitiu que eu fizesse vários contatos, o que foi importante para amadurecer minha escrita.

LAM - Recentemente você lançou Distância. E digo, ambos, Visita e Distância, excelentes. Fala, então, da experiência com esse novo livro que, inclusive, você ainda está vivendo porque ainda está quentinho, né? Como está sendo a receptividade com esta sua nova cria?

Melhor do que eu esperava. “Distância” recebeu menção honrosa no concurso de poesia da FUNALFA, o que foi um bom começo. Foi publicado pela mesma editora de “Visita”, a 7 letras, na coleção Guizos. A 7 letras tem ajudado a divulgar a coleção em jornais, e recentemente saiu uma resenha do livro na revista Zunái. Estou muito contente com este retorno.

LAM - A sua poesia é constituída de pequenos relatos, versos enxutos, flagras, tudo num domínio poético com perícia cirúrgica. O que a poeta Virna Teixeira diz da sua própria poesia?

Minha poesia é concisa, objetiva, imagética. Gosto muito de fotografia. Muitos destes relatos são coisas vistas de passagem, em viagens, em deslocamentos. Sempre li muita poesia norte-americana contemporânea, uma influência nítida na minha escrita.

LAM - Você também é tradutora, fala dessa experiência. E falando de tradução, aproveito e jé quero saber do blog, o Papel de Rascunho, onde você normalmente publica as traduções. Como se dá esse trabalho?

Comecei a traduzir por volta de 2000, logo após a publicação de “Visita”. Nesta época, traduzi alguns poemas da argentina Alejandra Pizarnik para o site Lumiarte, junto com um pequeno ensaio sobre a poeta. Traduzi também poemas de Robert Creeley, que saíram este ano no site Pop Box. Publiquei minha primeira tradução em 2001, na revista Sibila, um poema da canadense Norma Cole.
Desde então, venho traduzindo cada vez mais, principalmente após ter passado uma temporada de dois anos fazendo uma pós-graduação fora do país, na Escócia, período em que descobri vários poetas interessantes.
Quando começei a editar meu blog, há pouco mais de um ano, começei a publicar estas traduções, além de mostrar meu trabalho e o de outros poetas.
Procuro na maior parte das vezes, publicar o poema original no blog, exceto quando é muito longo.
Tenho colaborado periodicamente em revistas e suplementos literários como tradutora. Traduzir para mim é uma tarefa agradável e um aprendizado.

LAM - Você publica na rede, além do seu blog, em outras revistas eletrônicas, mantendo coluna e circulando sempre por ela. A Internet tem contribuído para difusão e ampliação do seu trabalho poético? Qual a sua avaliação da Internet com relação à poesia?

A internet é um veículo excelente e muito prático para divulgar o seu trabalho. Além disso é uma rede onde o conhecimento e os contatos se ampliam, onde você pode conhecer pessoas interessantes. Há blogs e revistas de poesia excelentes na internet, como a Zunái e a Cronópios.

LAM - Aqui, ali e acolá, a gente hoje ouve a expressão poesia feminina, literatura feminina. Para você, há uma poesia feminina? Há uma literatura feminina? Como você vê isso?

Não acredito em escrita feminina, nem em escrita masculina. Acredito em subjetividades diferentes, que variam de acordo com o autor, conforme suas experiências e trajeto pessoal.

LAM - Que projetos a poeta Virna Teixeira tem em mente?

Estou organizando uma antologia de poetas da Escócia, que deve ser publicada em 2006. Tenho escrito bastante desde que terminei “Distância” há um ano atrás, imagino que em breve terei outro livro pronto.


Entrevista concedida para o Guia de Poesia. Veja mais aqui e aqui.


domingo, fevereiro 08, 2015

ARRIETE VILELA


Ancorei em Maceió por volta do segundo semestre de 94, meados de junho, oriundo da vizinha terra pernambucana.

Levado pela mania de pesquisar e conhecer tudo avidamente deslumbrava-me com a beleza exuberante natural que distava do Pontal até Riacho Doce, ao mesmo tempo que ia me esgueirando em conhecer melhor as virtudes altaneiras locais.

Não posso negar que já visitara a cidade outras vezes, às carreiras, e sempre saía daqui sem saber nem mesmo distinguir um beco de qualquer avenida. Aproveitava, então, agora a oportunidade de aqui residir e desfrutar dessa paisagem paradisíaca.

E foi numa dessas investidas que me deparei com o livro "Dos destroços, o resgate", de Arriete Vilela, uma escritora natural da cidade de Marechal Deodoro - a primeira capital de Alagoas -, mestra em Literatura e premiada nacionalmente, reunindo uns contos de infância com gosto de caju, brincadeiras e reminiscências. Coisas telúricas me buliam por dentro e repassava na minha memória engenhos, animais, avós e muita peraltice. Era tudo muito cristalino feito água de brejo que a gente timbunga ao som da passarinhada, ao gosto da mais diversa fruteira, no eflúvio da mais singela alegria. Assim, era tudo transparente na narrativa de coisas vivas e sentimentais.

Reforço que não foi fácil encontrar nas livrarias da cidade livros de novos autores, somente e, ainda, com dificuldade, Jorge de Lima, Graciliano Ramos ou Ledo Ivo, ou, e olhe lá, nem isso nelas. Quando muito, um poema ou uma crônica desses novos autores alagoanos, uma vez por semana, no caderno cultural da Gazeta de Alagoas. Mas eu queria gente mais próxima, gente andando na traquinagem da arte, no aqui agora, coisa difícil ainda hoje, até.

Foi quando inventei, já por volta de 96, de fundar o periódico Nascente - Publicação Lítero-Cultural - tentando preencher esta lacuna. Que pretensão a minha! E lá se foi o número inaugural, dois, três; recebia mais colaborações do Brasil inteiro e até do exterior, menos de Maceió ou Alagoas.

Não enverguei o propósito e parti disposto, lançando edição com uma entrevista que havia feito com Djavan. Pensei, agora escancaro este território. Nada, eu circulava e sonhava numa barraca da orla da Ponta Verde, distribuindo gratuitamente a edição de cinco mil exemplares e nada acontecia. No meio da boêmia tive um estalo: vou entrevistar Arriete Vilela. Cascavilhei os livros dela nas livrarias, nada. Endoidei e não sei como descobri um telefone de contato.

O Nascente já estava, parece, pela edição seis ou sete. Liguei com a maior cara de pau e disse: quero entrevistar Arriete Vilela! Quem é? Expliquei tudo e a pessoa, ao telefone, alegou que transmitiria o recado. Não senti firmeza e esperei.

Uns dias mais, consegui marcar a entrevista; nós nos encontramos e ela, gentilmente, autografou o "Ócio dos anjos ignorados", recém lançado. Saí dali duplamente satisfeito: com a entrevista e com o livro. Preparei a edição e mandei brasa. Deixei uns duzentos exemplares na portaria da residência dela e depois ela me presenteou com uma visita, querendo mais alguns exemplares. Foi aí que interpelei por um poema para a seção "Poético" do nosso tablóide. Ela me entregou o poema "Teus Olhos". Enquanto lia, surgia uma melodia na minha alma, tomando conta, parindo pronta, de vez. A canção crescia, se perdia de mim pelos poros, pelas vísceras, pelos nervos, atravessava o coração pactuado animicamente. Era o poema da alma escrito com a carne do corpo. Era flagrar a oferenda do avesso, o fio da meada, o poliedro do postigo da vida, essa vida que é a volúpia dos tons de Piazzola: "o gozo de sermos campos lavrados por sôfregas ilusões pagãs".

O pacto entre a canção e o poema alinhavava fantasias e avessos: o amor desordenado, a crueza do espinho fincado na carne, a solidão da noite, "o modo licencioso de apossar-me da alma humana".

A partir de então, a literatura de Arriete cresceu-me: "Vadios afetos" e "Tardios Afetos", em 1999, e a quarta edição de "Fantasia e Avesso", agora em 2001. Eu lia como se tivesse o prazer de ouvir a Ária na corda de sol ou a Bachianinha n.º 5, revolvendo a raiz da terra com a menina frente ao mar dos olhos da mãe na boquinha da noite, "sobre o peito de maduros amores mortalmente desinventados". Eu descobria a diferença entre ser e estar alegre no meio das errâncias, quebrando a frieza e afiando a lâmina da poesia, apascentando feras, quitando os débitos do patrimônio sentimental, mergulhando no abismo do anonimato de todas as dores e felicidades, descobrindo os enredos da alma traduzível, livre, como aves de arribação no exercício secreto da descoberta dos estilhaços, exorcizando o duelo da palavra neste mundo insólito como um ácido no corte: a desumanidade embaçando a memória dos que carecem de ilusão.

O seu depoimento com todas as paixões do ser, saindo com o coração pela boca até se entregar na palma da mão: tudo muito cristalino como a menina Arriete, tudo transparente na transcendência imanente da comunhão poética de Arriete. Era, afinal, a revelação da menina comungando sonhos no vórtice do universo.

Por essa e por todas as razões, do sisifismo do menino que fica adulto e volta a ser menino nos dias e nas noites, que alimento essa natural e cristalina maneira de amar Arriete, sempre Arriete Vilela.

ENTREVISTAA alagoana Arriete Vilela é natural da cidade de Marechal Deodoro. Ela é mestra em Literatura Brasileira e professora aposentada da Universidade Federal de Alagoas.

Vários de seus livros publicados já foram premiados e já estão com diversas edições. Dentre as suas obras estão: Para além do avesso da corda (Edufal, 1980); Pequena história da meninice e outras estórias (Edufal, 1981), que recebeu o Prêmio Carlos Paurílio – Grupo Literário Alagoano; Remate (Edufal, 1983); Carlos Moliterno: vida e obra (Edufal, 1985) que foi contemplado com o Prêmio Comendador Tércio Wanderley – Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e, também, o Prêmio Organização Arnon de Melo – Academia Alagoana de Letras; O poeta popular José Martins dos Santos (Edufal, 1986); Fantasia e avesso (alcançando quatro edições de 1986/2001); Farpa (Sergasa, 1988), que ganhou o Prêmio Romeu Avelar – Academia Alagoana de Letras; A rede do anjo (Gráf. Ed. Gazeta de Alagoas, 1992); Dos destroços, o resgate (em segunda edição, 1994/1999), que recebeu o Prêmio Romeu Avelar – Academia Alagoana de Letras e o Prêmio Malba Tahan – Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores / RJ; O ócio dos anjos ignorados (Gráfica Ed. Gazeta de Alagoas, 1995) Prêmio Cecília Meireles – União Brasileira de Escritores – UBE; Tardios afetos (Gráf. Ed. Gazeta de Alagoas, 1999); Vadios afetos (Gráf. Ed. Gazeta de Alagoas, 1999) Prêmio Jorge de Lima  -  Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores /  RJ; Artesanias da palavra (Coletânea de poemas com Gonzaga Leão, José Geraldo Marques, Otávio Cabral e Sidney Wanderley - Grafmarques, 2001); Maria Flor etc (com 2 edições em 2002); Grande baú, a infancia (Edufal, 2003); Frêmitos (Grafmarques, 2004); A Palavra sem Âncora (Maceió, AL, 2005); e Lãs ao vento (Gryphus, 2005), que recebeu o Premio Luzia Aizim de Ficção e Poesia de Mulheres, concedido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro no último dia 27 de outubro de 2006, na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro. Além desses e de outros prêmios, ainda foi agraciada com o Mérito Cultural – União Brasileira de Escritores (Rio de Janeiro – 1988), o Prêmio Imprensa – Categoria: Poesia - Fundação Cultural Cidade de Maceió (Prefeitura Municipal de Maceió-1997), o Prêmio Destaque na Literatura 2001 -  Prefeitura Municipal de Maceió, o Alto Mérito Sociocultural - União Brasileira de Escritores/RJ -2002 e a Comenda Nise da Silveira - Governo do Estado de Alagoas – 2005.

Para quem conhece Arriete Vilela, sabe que se trata de uma mulher simpaticíssima e de uma poética merecedora de aplausos.
Esta é a segunda vez que ela me concede uma entrevista. A primeira, por volta de 1996, quando eu editava o Nascente – Publicação Lítero-Cultural que circulou entre 1996/1999.
Desta vez, Arriete Vilela vem com todos os festejos do seu mais recente livro, Lãs ao Vento, sucesso de público e de crítica.
Com vocês, Arriete Vilela!

LAM - Arriete, de início a pergunta de praxe: como e quando foi que ocorreu o seu encontro com a Literatura?

Posso responder de várias maneiras. Por exemplo: que esse meu encontro com a Literatura é uma longa história. Mas aí eu teria de contar alguns fatos, e esse retorno à infância, embora seja prazeroso, hoje, porque elaboro certos conteúdos por meio da palavra, é também difícil, bordado de lembranças que, se já não sangram, ainda traçam no meu coração uns riscos de tristeza, de desamparo afetivo. Esqueçamos, então. 
Mas posso responder assim: nada me levou à Literatura. Não houve um encontro, pois nasci dela. A Literatura está tão entranhada em mim como uma veia poderosa que me irriga a alma de uma seiva hoje imprescindível à minha vida.

LAM - Você nasceu em Marechal Deodoro, a primeira capital e uma cidade histórica de Alagoas. O que ficou ou foi recolhido da cidade na sua Literatura?

Ficaram, sobretudo, as águas. Água de lagoa, água de cacimba, água de pote, água de rio, água de quartinha, água de chuva. 
A água é um elemento pertinente à minha escrita. Há, inclusive, um trabalho da profa. dra. Enaura Quixabeira que mostra bem isso: “Arriete Vilela e o devaneio aquático da palavra”.

LAM - Na condição de professora e mestra em Literatura Brasileira, você se diz privilegiada por ter podido conciliar a Literatura como profissão e vocação. Como foi a descoberta por essa profissão e vocação?

Essa é também uma pergunta que eu poderia responder de várias maneiras. Mário Vargas Llosa fala de uma predisposição que se pode ter, na infância ou no começo da adolescência, “para fantasiar pessoas, situações, casos, mundos diversos do mundo em que se vive, e essa inclinação é o ponto de partida do que mais tarde poderá se chamar vocação literária”. 
Isso ocorreu comigo. Eu costumava criar histórias e contava-as às minhas colegas. Um dia, já adolescente, percebi que minhas histórias se perdiam, eu mesma as esquecia já na outra semana. Resolvi, então, escrevê-las. Publiquei algumas no Fiat, jornalzinho do Colégio de São José, onde eu estudava. Professores e alunas (à época, só meninas estudavam lá) liam e elogiavam. Fui tomando gosto, entende? 
Tomei gosto, igualmente, pela leitura. E descobri que quanto mais eu lia mais facilidade sentia para escrever. Dos 14 aos 18 anos, li clássicos como Machado de Assis, Dostoievski, Flaubert e Eça de Queirós. Um aprendizado e tanto! 
Então, já completamente seduzida pela Literatura, só me restava cursar Letras e, quase inevitavelmente, tornar-me professora de Literatura.

LAM - O que primeiro rebentou para você: a poesia ou a prosa?

A prosa. Mas, quase intuitivamente, a minha escrita sempre foi marcada pela prosa poética.

LAM - Como foi a experiência de publicar “Para além do avesso da corda”?

Foi um livro que me deu a grande alegria de saber que, já àquela época, eu tinha leitores (risos). Fiz uma edição de mil exemplares, e praticamente todos foram adquiridos logo depois do lançamento. Uma maravilha, não? Hoje, possuo apenas um exemplar.

LAM - Fale um pouco do seu livro “Farpa”.

Em “Farpa” há uns contos (“Cirandinha”) que depois reescrevi, ampliei, juntei a outros, inéditos, e publiquei com o título “Dos destroços, o resgate” (sobre o qual há uma dissertação de Mestrado da profa. ms. Cármen Lúcia Dantas). 
Esse livro foi, anos depois, revisto, ampliado e reeditado sob o título “Grande Baú, a infância” (ainda este ano, creio, sairá uma edição em braile, pela Edufal, o que me emociona bastante).

LAM - Em 1992, você publicou “A rede do anjo”. Fale a respeito desse livro.

Passei alguns anos sem escrever poemas. “A rede do anjo” foi gratificante, porque algumas pessoas, cuja opinião levo a sério, se mostraram bem impressionadas com o livro.

LAM - Em “O ócio dos anjos ignorados”, a profª. Dra. Izabel Brandão destacou o prazer do amor e a paixão da palavra, reunindo uma variedade de sentimentos díspares no caldeirão da sua poética. Há, notadamente, muito de infância, errâncias, silêncios nesse livro. Conta pra gente a sua impressão a respeito disso.

Em 1999, “O ócio dos anjos ignorados” (poemas) foi adotado para a seleção do Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística da UFAL, e isso me deu uma grande alegria, pois esse livro foi lido por pessoas que possuíam um bom referencial teórico. De todos os meus livros, creio ser esse o que tem menos leitores. A profa. dra. Izabel Brandão fundamentou o estudo dos poemas na teoria de Bachelard, e por ser uma obra densa ficou, de certa forma, marcada como difícil. Segundo a crítica, é um dos meus livros mais importantes.

LAM - Já nos “Vadios afetos”, você ao mesmo tempo teve e vai desconstruindo o verso até o alcance de uma excelência notável, a ponto de se deixar derramar como quem se refaz a cada reconstrução. O que acha disso?

Bom, para resumir o que você quis dizer e acrescentar alguma outra coisa que a gente queira, eu diria, como Manoel de Barros, que “o meu processo de escrever é ir desbastando a palavra até os seus murmúrios e ali encaixar o que tenho em mim de desencontros”. É isso.

LAM - Você incursiona na prosa por livros como “Tardios afetos”, “Fantasia e avesso” e “Grande baú, a infância”. Fale da experiência de trabalhar tanto a poesia como a prosa. Fale, inclusive, do seu mais recente livro, o romance “Lãs ao vento”.

Adélia Prado disse: “Às vezes Deus me tira a poesia; olho pedra, vejo pedra mesmo”.
Quando ocorre isso comigo, busco encontrar a poesia onde aparentemente ela não está: nas entrelinhas da vida. Não sei viver/escrever de forma prosaica. Então, nos momentos em que vejo apenas “pedra”, tento metaforizar o real, porque, como disse Cecília Meireles, “a vida só é possível reinventada”. De modo que a minha prosa é sempre poética. O que quero dizer é que prosa e poesia se confundem no meu fazer literário. É só uma questão de forma. 
Em “Fantasia e avesso” e “Lãs ao vento”, o leitor percebe bem essa minha preocupação com a palavra poética. E como informação, devo dizer que “Lãs ao vento” (romance) foi premiado pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. A premiação foi na Academia Brasileira de Letras, no dia 27 de outubro deste ano. Esse é, aliás, o meu quinto prêmio nacional.

LAM - Você é uma autora premiadíssima e já teve muitas de suas obras como tema de pesquisas acadêmicas. Fale desses prêmios e dessas pesquisas efetuadas sobre a sua obra.

Já me antecipei quanto aos prêmios nacionais. Também já recebi muitos prêmios aqui em Alagoas, sobretudo da Academia Alagoana de Letras, mas só até 1996, ano em que tomei posse como acadêmica, na Cadeira nº 6; pertencente ao quadro dos “imortais”, eu já não podia concorrer aos prêmios (exceto no caso de não haver nenhum inscrito, o que não é comum), e passei então a fazer parte das comissões julgadoras. 
Mas quero registrar aqui a Comenda Dra. Nise da Silveira, com que fui agraciada pelo Governo do Estado, em 2005, por ser considerada uma das mulheres alagoanas que mais têm se destacado na área cultural. 
Um outro registro, embora não se trate de premiação, mas de homenagem: em 2002, a biblioteca setorial da Pós-Graduação em Letras da UFAL passou a ser chamada Biblioteca Escritora Arriete Vilela, por iniciativa da profa. dra. Belmira Magalhães.

LAM - Como você vê a poesia hoje? Quem você destaca no fazer poético contemporâneo?

A poesia é eterna. Na Antiguidade Clássica ou na contemporaneidade, a poesia é a seiva da alma humana, a redenção.
Tenho, naturalmente, preferência por alguns poetas, inclusive alagoanos, porque temos, nesta nossa terra, ótimos poetas. Mas prefiro não citar nomes. Além disso, são escolhas muito pessoais, e cabe a cada leitor eleger os seus poetas preferidos.

LAM - Há espaço para a poesia hoje?

Claro. Manoel de Barros diz que “poesia é quando a tarde está competente para as dálias”. E a tarde sempre está competente para o belo. Não só a tarde, aliás. A manhã, a noite, a própria vida.

LAM - Como a gente está conversando para um Guia de Poesia que está disponível na internet, você acha que essa ferramenta da tecnologia tem contribuído para a difusão da poesia? O seu trabalho está sendo divulgado na internet?

Creio que devemos sempre nos atualizar. Não sou uma pessoa com grandes paixões por computador, mas reconheço que é uma excelente ferramenta de trabalho. Acesso sites de literatura com freqüência, embora reconheça que há muita coisa que não vale a pena. 

LAM - Quais os projetos que você tenciona realizar?

O meu projeto é sempre imediato: sentir e vivenciar a poesia sobretudo nas entrelinhas da vida, no cotidiano, nas coisas mais simples. 
O meu projeto literário está sendo construído aos poucos: estou escrevendo um outro romance.

E mais: dou cursos de leitura e produção de textos; sou convidada constantemente para palestras em escolas e faculdades; faço o 4º período de Publicidade e Propaganda. 
Como vê, ocupo muito bem o meu tempo. Tanto, que levei meses para responder essa entrevista. O que, afinal, me proporcionou o prazer de, virtualmente, conversar com um amigo tão querido como você e com os leitores do seu Guia de Poesia.

Obrigado, Arriete.

Texto e entrevista publicados originalmente no Guia de Poesia do Projeto SobreSites aqui e aqui.




sábado, fevereiro 07, 2015

TCHELLO D´BARROS


TCHELLO D´BARROS – Tive a oportunidade de ter o primeiro contato com a arte de Tchello D´Barros pela internet no final dos anos 1990. A partir disso, participamos de fóruns e grupos de poesia, trocamos muitos mails e batemos o centro na amizade. Nos anos 2000 ele passou em temporada por Alagoas, ocasião em que emendamos os bigodes, tomamos cervejas e cervejas, conversamos, participamos de eventos, andamos pelo meio do mundo, fizemos artes & desartes, debatemos, dividimos anseios e realizações, enfim, fui um agraciado pela vida de ter experienciado uma das melhores amizades que pude construir na vida. Por causa disso, nada melhor que reunir aqui um pouco dessa convivência. A primeira delas meritória de destaque, foi a entrevista que ele me concedeu por Guia de Poesia e que aqui reproduzo. Em seguida, links de suas atividades em Alagoas por ocasião de sua estada por Mazceió.

ENTREVISTA - Tchello d´Barros é poeta, escritor, artista plástico e ator catarinense, que começou a vida sendo premiado com desenhos, até realizar exposições no Brasil e no exterior, participa de antologias poéticas, publica livros, atua no teatro e milita nos mais diversos eventos culturais e artísticos, a exemplo de chegar a presidir a Sociedade Escritores de Blumenau. Mesmo com a sua vida intensa de trabalho e realizações, visitando Maceió, eis que nos encontramos numa tarde de fevereiro e conversamos despojadamente sobre seu trabalho, arte e vida. Com vocês, Tchello d´Barros.

LAM: Tchello, parece que tudo começou com a sua vida artística nas artes plásticas. Quando a poesia chegou até você?

Tchello d'Barros : Creio que tudo começou mesmo foi com um tal Big-Bang! Bem depois, em meu caso, por pura necessidade - estética e metafísica - de expressão, houve uma identificação inicial com o desenho, ofício que amadureceu na lida com as artes plásticas e artes visuais em geral. Participei de exposições e salões de pintura, também ilustrei jornais, livros e revistas. Mais tarde passei a fazer teatro, atividade que exigiu muita leitura, incluindo-se aí a poesia, modalidade que nunca gostei. Ao conhecer poetas de linguagem contemporânea e experimental - que não se vê em salas de aula - passei a rascunhar uns versitos, já com meus 25 anos de idade e talvez por acaso nunca mais parei. Em suma, a poesia chegou sorrateiramaente, calada, alada, na calada da noite, como a lua, quando a gente vê, já está lá.

LAM: Salvo engano você começa com os volumes "Olho Nu" e "Palavrório". Como você vê sua trajetória a partir desses lançamentos até o mais recente "Amor à Flor da Pele"?

Tchello d'Barros : O lançamento desses livros foram a tentativa - vã - de organizar o caos pessoal de um iniciante na arte poética. Uma proposta de reunir em coletâneas determinadas propostas estéticas. "Olho Nu" é meu segundo trabalho escrito, embora tenha sido lançado primeiro. É um livro de ideogramas ocidentais, ou seja, resulta de uma pesquisa de linguagem, donde se teoriza que o homem principiou a fala por onomatopéias e grunhidos monossilábicos. Daí para a poesia foi um grito. Desconheço trabalho paralelo em nosso idioma. Depois lancei "Palavrório", a primeira série de poemas que escrevi. São textos que tem entre si uma organização rítmica e preocupação com a métrica. A metalinguagem é outro elemento presente nessa série. Quanto à temática os textos apresentam percepções sobre muito do que transita entre dois polos da natureza humana: a sexualidade e a espiritualidade. Esses temas e conceitos até hoje permeiam minha produção em poesia. "Amor à Flor da Pele" surgiu bem depois, depois de meus livros de hai-kais. São quadrinhas - trovas - e foi publicado com uma versão em braille .

LAM: Você transita por várias áreas: artes plásticas, teatro, infantil, literatura, dentre outras. Como você concilia tudo isso?

Tchello d'Barros : Penso - e sinto - que as coisas se complementam. Minha principal preocupação não está na quantidade das modalidades artísticas que pratico, mas na identidade de meu trabalho. Há que se manter o estilo e a linguagem peculiar, em todas as criações, sejam visuais, sejam literárias. Hoje, mais maduro, separo tudo por projetos, para que haja um mínimo de controle. Enfim, são viagens diferentes, mas  o destino, é o mesmo.

LAM: As artes plásticas exercem influência no seu trabalho poético?

Tchello d'Barros : Eu até gostaria de dizer que não, mas é difícil dissociar uma da outra. Consideremos que na leitura de um poema, antes de se atingir o nível semântico, estamos diante de uma imagem, uma mancha gráfica composta de pequenas figuras, sinais, signos - as letras, palavras, versos, estrofes - daí muitas vezes a oportunidade de organizar no espaço da página tais elementos gráficos, com o propósito de atingir um equilíbrio no nível visual. O poema por vezes é diagramado no espaço, mediante recursos das artes plásticas. Como vingança, eventualmente o próprio poema se utiliza do tema da pintura.

LAM: Com o livro "Letramorfose" você reúne poemínimos. Fala um pouco dessa sua proposta poética.

Tchello d'Barros : Creio que "Letramorfose" define e fundamenta o trabalho iniciado em "Palavrório". São 50 textos curtos - três anos de elaboração - explorando as possibilidades semânticas, fonéticas e visuais que as palavras permitem. Há aí desde neologismos até trocadilhos, de expressões populares até gírias e regionalismos. Mas tudo filtrado sob a lente da metalinguagem e o prisma da concisão. É tudo enxuto e exíguo, lapidado mesmo. Se tirar uma palavra que seja, o poema desmonta. Essa obra exigiu uma seqüência - mais 50 poemas, mais 3 anos - que se traduz no livro "Vide-Verso", já apresentado em versão virtual, inédito em versão impressa. Como essa série de poemas exige o mínimo de palavras para comunicar, as pessoas começaram a chamá-los de poemínimos .

LAM: Você desenvolve um trabalho de militância literária em Blumenau. Fala prá gente como se dá essa experiência, da forma como é desenvolvida e o que você traz dessa experiência nesse trabalho?

Tchello d'Barros : São mais de 10 anos de política cultural em várias cidades do sul do Brasil. Antes vou mencionar que minha obra não é engajada, talvez engajada seja minha atitude diante do sistema. Não sou filiado em partidos, mas minha atitude é política. Participei de entidades e associações de artistas, com o objetivo de conseguir mais espaço, recursos e mesmo reconhecimento aos que fazem arte mas vivem a mercê do sistema capitalista e de uma sociedade consumista. São experiências positivas, com conquistas reais, seja brigando com políticos alienados, provocando empresários avarentos, cutucando a burguesia alienada, refutando pseudo-críticos ou afrontando os mercenários de plantão. É preciso lembrar que a arte no Brasil é riquíssima, mas a cultura - a indústria cultural e seus meandros - são uma balbúrdia completa, um descalabro total. Não vou destilar aqui relatório de atividades, pra não cansar os leitores mas finalizo mencionando que quanto mais a classe artística conseguir força mediante união e conhecer seus direitos, maiores as chances de mudar esse quadro que se agrava com o fenômeno da globalização.

LAM: Você já presidiu a Sociedade Escritores de Blumenau. Fala um pouco a respeito disso.

Tchello d'Barros: Fui co-fundador da SEB e presidente por duas gestões dessa entidade literária que hoje conta com escritores de vários estados do Brasil e mesmo de outros países. A entidade surgiu em função do descaso com que os escritores são tratados e de lá pra cá foram muitas conquistas, desde o intercâmbio cultural entre autores e entidades, participações em Bienais do Livro - Rio e  Sampa - Feiras, Congressos, Eventos, Lançamentos, Antologias, Projetos, Patrocínios, Prêmios, Cursos, Concursos e uma série de ações culturais que não seriam possíveis sem uma entidade desse porte. A SEB apresentou para a prefeitura da cidade de Blumenau o ante-projeto de um congresso literário de âmbito nacional e a Fundação Cultural de Blumenau, em parceria com a SEB, realiza esse evento com o nome de Fórum Brasileiro de Literatura. Já participaram nesse projeto nomes de relevo da literatura nacional e nesse momento está em fase de planejamento a terceira edição desse evento que é um significativo momento de discussão entre autores, editores, livreiros, tradutores, ilustradores, professores e amantes da literatura em geral.

LAM: A gente teve oportunidade de conversar bebemorando muito a respeito de vários assuntos. Gostaria, portanto, que agora você fizesse uma análise de como você vê a poesia e a literatura em geral atualmente?

Tchello d'Barros : Confetes à parte, considero um privilégio dialogar com um autor - e editor - consciente e erudito do naipe de um Luiz Alberto Machado. Penso que no Brasil alguns caminhos se desenham no horizonte da literatura. O brasileiro está lendo mais - inclui-se aí a egrégora internauta - está tomando conhecimento da nova e novíssima geração de escritores. A indústria gráfica/editorial está caminhando para a excelência  - tanto em forma quanto em conteúdo - e as Bienais do Livro nunca foram tão visitadas. A cultura popular  - digamos aqui o cordel e tantas outras formas fixas de nosso rico Brasil - estão resistindo e se afirmando diante da globalização e americanização de nossa cultura e idioma. Em contra-ponto, creio que ainda falta muita discussão no meio intelectual e crivo por parte das editoras. A mídia fica devendo pela falta de crítica - e resenhas  - e as universidades pela pouca valorização da literatura de suas respectivas regiões. À parte isso penso que estamos todos inseridos num interminável lance de dados.

GP: Fala prá gente os projetos que você têm em mente por realizar.

Tchello d'Barros : Quem me conhece pessoalmente sabe que raramente comento meus projetos. As pessoas ficam sabendo quando recebem o convite ou lêem na mídia, depois que está tudo pronto. Aqui vou adiantar apenas que estou aí as voltas com meu livro de relatos de viagens pelos países onde perambulei e nas artes visuais estou catalogando antigos trabalhos e pesquisando uma série de Mandalas e Labirintos, assuntos pelos quais sou apaixonado e estarão presentes em minhas próximas exposições. À parte isso, meu principal projeto é mergulhar cada vez mais fundo na vida, com sua multiplicidade de experiências e aventuras.

Entrevista originalmente publicada no Guia de Poesia do Projeto SobreSites.
 
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