DIÁRIO
DO TATARITARITATÁ – As novidades
de hoje do Diário Tataritaritatá: A arte de furtar, a Filosofia de Anaxímenes, Uma
ode pítica de Píndaro, a peça Platónov de Anton Tchékov, a pintura de Horace
Vernet & Malcolm Liepke, a música de Stanley Clarke, Susan Hayward, a dança
do Un Peu de Tendresse Bordel de Merde! de
Dave Saint-Pierre & Preciso de um culpado! Para conferir tudo isso e muito
mais é só clicar aqui.
terça-feira, junho 30, 2015
segunda-feira, junho 29, 2015
DIÁRIO DO TATARITARITATÁ
DIÁRIO DO TATARITARITATÁ - As novidades de
hoje do Diário Tataritaritatá: O Projeto Atman de Ken Wilber, O
Sermão do Bom Ladrão do Padre Antonio Vieira, a poesia de Henriqueta Lisboa, Prometeu
Acorrentado de Ésquilo, a pintura de Peter Paul Rubens, a
Floresta do Amazonas de Heitor Villa-Lobos, o filme Copie
Conforme de Abbas Kiarostami & Juliette Binoche, a arte de Alex Toth &
Ekaterina Mortensen, o Fecamepa é culpa da Dilma, o Programa Crônica de Amor no Projeto MCLAM & muito mais dicas de
Literatura, Filosofia, Música, Cinema & Teatro. Vamos aprumar a conversa e
clique aqui.
domingo, junho 28, 2015
DIÁRIO DO TATARITARITATÁ
DIÁRIO
DO TATARITARITATÁ – Os destaques de hoje do Diário do Tataritaritatá são o
Discurso sobre as ciências e as artes de Jean-Jacques Rousseau, A patente de
Luigi Pirandello, a História do Mundo de Mel Brooks, a Poesia de Marly de
Oliveira, a literatura de Aldemar Paiva, a arte de Maria Luisa Persson, Guilhermina
Suggia, Anita Mercier e Nena
Borges; o talento
de Santanna O Cantador, o cd América de Felipe Radicetti & muitas dicas sobre cinema,
teatro, literatura, música, filosofia, psicologia, solidariedade, história
& muito mais. Confira tudo aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Aprume aqui.
segunda-feira, junho 15, 2015
ENTREVISTA LEILA MICCOLIS
LEILA MICCOLIS - Leila
Miccolis é um amor de gente. Ela nasceu no Rio de Janeiro, é editora,
professora de roteiro de televisão, promotora cultural e artista performática.
Já publicou mais de 30 livros, dentre eles: Em perfeito mau
estado, Editora Achiamé, Rio de Janeiro, 1987; Do poder ao poder - alternativas
na poesia e no jornalismo nos anos 60, Editora Tchê, Rio Grande do Sul, 1987; O
bom filho a casa torra, editoras Edicon e Blocos, São Paulo e Rio, 1992;
Achadas e Perdidas e Sangue cenográfico, Editora Blocos, Rio de Janeiro, 1997.
Tem obras publicadas na França, México, Colômbia, África, Estados
Unidos e Portugal.
Leila é também teatróloga, roteirista de cinema e escritora de
novelas de televisão, entre elas: “Kananga do Japão”, “Barriga de Aluguel” e
“Mandacaru”.
Já elaborou verbetes para a “Enciclopédia de Literatura
Brasileira” (MEC/OLAC) e também publicou: “Catálogo da Imprensa Alternativa”,
1986, pela RioArte/Prefeitª do RJ.
Publicada na Revista Poesia Sempre nº 7 (Biblioteca Nacional/MEC),
consta do Banco de Dados Informatizados do Banco Itaú - Módulo Literatura
Brasileira, Setor Poesia (categoria: “Tendências Contemporâneas”) e dos
“Cadernos Poesia Brasileira” - vol. 4, “Poesia Contemporânea”, editado pela
mesma instituição, 1997.
Seu livro reunindo sua obra quase completa, “Sangue Cenográfico”
(Ed. Blocos, 1997) tem prefácios de Heloísa Buarque de Hollanda, Nélida Piñon,
Gilberto Mendonça Teles, Ignácio de Loyolla Brandão.
E mais: sua obra é citada e analisada por escritores como: Affonso
Romano de Sant’Anna (Ed. Vozes/1978), Glauco Mattoso (Ed.
Brasiliense/1981), Jair Ferreira dos Santos (idem/1986), Assis Brasil
(Ed. Imago/FBN/UMC, 1998). Co-edita com Urhacy Faustino Blocos Online.
Desde da década de 70 que a gente mantém contato. Ou seja, desde
as publicações da Trote, lembro-me bem. E também pela troca de materiais que
publicávamos.
Da minha parte, primeiro, pelos trabalhos alternativos que
desenvolvi, com amigos, eu ainda adolescente, através da “Nova Caiana”, revistinha
editada pelas “Noites da
Cultura Palmarense”, na década de 70. Depois com a revista A Região, editada na década
de 80, onde além de ser membro do conselho editorial, eu editava o encarte
“Vozes de Uma”, destinado à publicação de poesias e que findou nas Edições
Bagaço de hoje; e, por fim, pela edição do tablóide “Nascente – Publicação Lítero-Cultural”,
que editei na década de 90.
Além disso, durante esses anos todos, eu ficava extremamente feliz
cada vez que recebia um aerograma com um alô e uma poesia dela.
Por isso digo e reitero: Leila é um amor de gente mesmo!
Pois bem, havia tempo que eu queria fazer uma entrevista com
Leila. E isso foi logo quando ela me inseriu no rol do Muita Poesia Brasileira.
Depois quando ela me convidou para escrever uma crônica quinzenal pro Blocos.
Escrevi e, por causa da minha louca agenda, passei a enviar de forma não
regular. Ou seja, uma aqui; outra daqui um ano. Mas não é ingratidão minha, é
briga por sobrevivência, luta por conquistas.
Agora quero me redimir. E como já disse que Leila é um amor de
gente, vejam vocês esta entrevista que ela me concedeu.
Com vocês, Leila Míccolis.
LAM - Leila, este ano você está comemorando 40
anos de poesia. Mas, de início, eu quero fazer a pergunta de praxe: como foi
que você chegou na poesia, na arte? Como se deu a comunhão artística?
Meus primeiros versinhos, aos três anos de idade, foram trovas
para meu gato e, pasme, para Jesus – sempre tive muita ligação com Ele... Minha
mãe me incentivou a lidar com a poesia desde sempre. Devo a ela este incentivo
e esse caminho. Ela também me estimulava a participar de muitos concursos
literários e, tendo vencido vários, tive mais encorajamento para prosseguir;
mas nunca pensei em escrever, como profissão. Fui advogada por alguns anos, só
que, como costumo dizer, a literatura é um senhor muito possessivo, acabei por
abandonar a advocacia e eis-me serva da escrita: “meu bem, meu mal”...
LAM - Como disse anteriormente, você comemora
40 anos de poesia, tudo começa com "Gaveta da Solidão" em 1965, num
é? Fala um pouco dessa estrada toda pela poesia, os prêmios, as publicações,
enfim, o seu trajeto poético.
Gaveta é meu primeiro livro (a capa é feita por minha mãe),
considero-o infanto-juvenil (risos)... mas nele já estava o germe do que eu
desenvolveria com o correr do tempo.
INUTILIDADE
Voltaste.
Nem precisava.
Os elementos mais característicos de minha poesia já estão
presentes nesse poema, por exemplo: o minimalismo, a crítica e a visão crítica
de uma lírica insubordinada e por vezes até agressiva – como na primeira fase
da minha obra.
Gaveta, então, tem o mérito de ter sido o primeiro passo, que é
sempre difícil, os chineses costumam dizer que às vezes o primeiro passo
equivale a mais da metade do caminho.
No dia do lançamento, o poeta Murilo Araújo falou sobre o livro;
hoje, me é motivo de orgulho; mas naquela época eu nem sabia o que era o
Modernismo. Fazia arte pela arte.
Por “castigo”, passei muito tempo depois exorcizando o livro...
risos.
Agora, eu o vejo uma espécie de registro do quanto avancei: do
romantismo piegas à consciência crítica.
Depois seguiram-se: Impróprio para Menores de 18 amores, com
Franklin Jorge, em 76, Silêncio Relativo (77) Respeitável Público (80), Maus
Antecedentes, com o saudoso Paulo Veras (81), MPB (82), Mercado de Escravas,
com Glória Perez (84).
A partir daí, vieram os livros da segunda fase: Em perfeito Mau
Estado, De 4, com Marçal Aquino, Glória Perez e Ona Gaia, Só se for a dois, com
Urhacy Faustino, O bom filho a casa torra, Olívia, a que não era palito,
Estalos, com Urhacy Faustino (haicais) e Sangue Cenográfico – com prefácios de
Ignácio de Loyola Brandão, Heloísa Buarque de Holanda, Gilberto Mendonça Teles
e Nélida Piñon.
Por último, em 1999, “Sob o Céu de Maricá” (edição limitadíssima
que pretendo transformar em livro virtual).
No final do ano passado participei do Projeto Celuler – livros de
poesia através de telefonia celular.
Esses são meus livros solos ou semi-solos de poesia.
Há as antologias, livros de prosa, etc. etc. etc. A produção é
vasta. Urha também já está com seis livros de poesias, alguns infanto-juvenis,
inclusive O Pulo do Sapo, com Cláudia Pacce (Ed. Ática), um de romance que eu
acho notável: “Colibri deflora o sexo – sexo, amor e amizade pela Internet”, a
primeira obra na época a falar dos chats, inclusive utilizando a própria
linguagem das salas de conversação; e atualmente está terminando um novo
romance, sobre vampiros, bem diferente das obras tradicionais do gênero.
LAM - Você transita por vários formatos
poéticos e já atravessou todo tipo de alternativa poética ao longo dos anos,
sendo elogiada pela crítica especializada, enfim, como é que se dá o fazer
poético para você?
Sou bem cria da Geração Poética de 70: utilizo o material do
cotidiano, do dia a dia, seja através de notícia de rádio, uma frase ouvida na
televisão ou em uma música, e até, atos falhos ou erros de digitação, pego
tudo, o que mostra que fico antenada o tempo inteiro, aberta ao que acontece a
minha volta, e, lógico, dentro de mim também.
Sou um laboratório de criatividade ambulante... J O tratamento
bem-humorado é para o leitor segurar o impacto da crítica ferrenha, do soco na
boca do estômago. Ele lê, sorri, mas quando acaba se toca: do que é que estou
rindo? Na verdade, o público entende perfeitamente o morde e sopra do poema...
Minha formação foi parnasiana e dela conservo a força da rima –
havendo mais de cem espécies de rimas, a opção do material de escolha então é
farta... No entanto, creio ter conseguido o que Mário de Andrade falava: ritmo
individual e ritmo socializante, não só através dos temas que abordo, mas,
também, pelo modo como o faço, com rupturas ásperas, quebras inesperadas e
cortes abruptos.
Pessoalmente, gosto de todos os tipos de poesia. Acho notável esta
imensa gama de modalidades poéticas, sinal da riqueza da poesia brasileira, que
só se engrandece com essa polifonia de vozes.
Pena que as obras – principalmente didáticas – parem na Geração
45. Poucas são as que vão além, e, quando o fazem, apenas alinham uma relação
de nomes, sem se deter nas tendências pós-modernas em que determinados autores
se agrupam.
Quanto à poesia experimental então, esta nunca é sequer
mencionada. Na verdade há um enorme desconhecimento da poesia brasileira a
partir do Modernismo, como se nada mais tivesse valido a pena, a partir dele –
o que não é verdade. Nunca se fez tanta poesia como na contemporaneidade – basta
compararmos o número de poetas de que se tem notícia até o final do século XIX
com o atual (divulgo em Blocos a minha relação já com mais de 7.000 nomes,
tendo ainda outro tanto de poetas para acrescentar). Não vejo este dado como
negativo: só se aprende escrever, escrevendo. Negativa é esta indiferença pelo
que está se fazendo hoje. Afinal, o passado já se encontra registrado;
precisamos portanto, resgatar é o presente.
Se Mário não escrevesse sobre as tensões da época, muito do
movimento se teria perdido. Ou nos empenhamos em testemunhar a
contemporaneidade, ou ela continuará vaga e ironicamente longínqua e
inacessível.
LAM - Você e Urhacy Faustino comandam o Blocos.
Conta pra gente como se desenvolve todo o trabalho do portal, como nasceu e
quais as perspectivas?
Com muito afinco, dedicação e, quase sempre, entrando pelas horas
de sono e pelo dinheiro da sobrevivência. Um site, assim como um jornal
alternativo, é um importante veículo de resistência cultural, de trabalho em
conjunto (embora muita gente não veja por este ângulo). Então, não tenho em
mente apenas fazer amigos, embora isto seja primordial, se não o ato de
escrever se esvazia. Porém quem abandonou tudo para aventurar-se a escrever em
um país como o nosso, não pode achar que um portal seja apenas um “point” de
encontro...
Dá um trabalhão danado administrar quase 18.000 páginas de um
portal que cresce sempre mais (já temos 6.000 acessos diários); e o desgaste
não é só físico; passa também pelo contato diário com uma multidão muito heterogênea
de pessoas, das mais humildes às mais vaidosas – estes bastidores (assim como o
das novelas) são um capítulo à parte, um exercício muito difícil, às vezes. E,
sendo escrever o meu trabalho, há uma confusão generalizada: poucos param para
pensar qual é o limite em que o lazer invade a profissão.
Passamos sete anos mantendo Blocos, nem sabemos como... Os gastos
são muitos. Agora conseguimos, através de Mauro Salles, dois patrocinadores:
Bradesco e Brasil Telecom.
Também estamos com um Conselho Consultor de primeira – incluindo o
atual Secretário da Cultura do Rio de Janeiro, Arnaldo Niskier, Affonso Romano,
Lêdo Ivo, Nejar, Carlos Heitor Cony, Glauco Mattoso, entre outros – presenças
que, por si só, já respaldam nossas atividades, além dos nossos colunistas
maravilhosos, e de um pessoal que está surgindo agora, muito interessante.
Tem gente escrevendo MUITO. E é um privilégio lidar com este
material, tentar de alguma forma apresentá-lo ao público, interagir com esses
escritores que surgem de todas as partes. Esta interatividade é de grande valor
para quem, como eu, se interessa pelas propostas estéticas atuais.
LAM - Você reúne no portal uma infinidade de
poetas dos mais diversos gêneros, isso tudo no Muita Poesia Brasileira - MPB,
que, salvo engano, é o título de um livro que você publicou. Fala dessa
reunião, qual o objetivo dessa reunião?
É, o MPB vem do título de um dos meus livros: MPB – Muita Poesia
Brasileira, que foi publicado pela Trote, uma editora que tive antes da nossa
Blocos (a Blocos no momento está paralisada, porque estamos reestruturando-a,
em outros moldes).
Por extensão, coloquei o Muita Poesia Brasileira no portal, não só
porque gosto muito do título como também pela conotação da sigla, que chama atenção
para o entrecruzamento poético com outras atividades artísticas, principalmente
com a música – e a Geração Poética de 70 teve muita ligação com as letras de
música.
Nesta nova fase de Blocos, porém, o título MPB foi substituído por
outro: Enciclopédia Virtual Blocos de Poesia Contemporânea, que dá uma dimensão
mais abrangente do que pretendemos nessa área do portal.
LAM - Você também desenvolve um trabalho de
pesquisa que resultou no Catálogo da Imprensa Alternativa. Fala um pouco a
respeito dessa pesquisa, os objetivos e resultados até então.
A RioArte - Prefeitura do Rio de Janeiro – publicou o livro em
1986, e agora deve sair a edição revista e atualizada pela Prefeitura de
Imperatriz.
Neste novo projeto, Edmilson Sanchez ficou responsável pelos
jornais maranhenses e eu pelos dos demais Estados.
Como fonte de pesquisa baseei-me, no meu acervo pessoal, com
publicações de todo o Brasil, até 1999, e o Edmilson também utilizou os jornais
do acervo particular dele.
LAM - Você está fazendo mestrado em Teoria da
Literatura. O que você tenciona com este estudo acadêmico?
Entender cada vez mais a linguagem, em sentido amplo,
aprofundar-me nos estudos lingüísticos, literários, e, também mergulhar mais
profundamente nos mecanismos do agir da poesia (através da Poética e da
História das Idéias, principalmente). Aliás, todas as minhas atividades
paralelas são ramificação do tronco em cuja seiva corre o amor ao meu ofício: o
portal, as pesquisas literaturas, as leituras, as opiniões críticas, as
análises de texto, o meu show “A Pequena Notável”, a editora, as conferências,
os debates, a minha luta pela profissionalização e pela conscientização da
classe, tudo é inerente à enorme paixão que dedico ao ato de escrever.
Como já disse em um dos meus livros da década de 80, não sei ser
feliz sem caneta e papel por perto (ressalva: na época ainda não tinha
computador...).
LAM - Você milita na televisão, com
trabalhos em novelas e seriados na televisão brasileira. Como
é trabalhar na televisão?
Bem, em televisão não se milita... com tanto autor atualmente, no
máximo aquartela-se... J
Brincadeiras à parte, eu gosto muito de escrever roteiros, e os
que criamos para a televisão dão mais retorno, porque em um país pouco
alfabetizado como o nosso, portanto sem hábito de leitura, a literatura oral é
muito melhor aceita, é muito mais entendida e, portanto, prestigiada.
Como eu acho que todos os caminhos da palavra podem levar à
literatura, desde que se tenha esta prioridade quando escrevemos, não tenho
nenhum tipo de preconceito com qualquer gênero – do pornô ao erudito, passando
pelas histórias em quadrinho.
Em todas as áreas há sempre pessoas que pensam que a crítica
válida é apenas a destrutiva: daí, existem poetas que acham que traí a poesia
escrevendo novelas, e, naturalmente, dramaturgos que consideram uma grande
perda de tempo e de fôlego eu escrever poesia...
A situação do intelectual brasileiro, principalmente se ele quer
viver do que escreve, é um constante pisar de ovos. No entanto, não temo
quebrar alguns, porque, afinal, viver é sempre um risco. E não há como agradar
a todos. Ainda bem.
LAM - Além da televisão, você trabalha com
cinema, rádio e teatro. Fala dessas experiências, como concilia tantas
atividades?
Quem vive profissionalmente de literatura, aprende rápido...
risos...
Ser polígrafa não é mérito, é questão de sobrevivência.
Para o rádio eu só fiz um seriado radiofônico, mas nunca tentei
vendê-lo, ficou só mesmo como teste experimental, que, inclusive gravamos
(Tanussi Cardoso, Eugênia Loretti, Carmen Moreno e eu) com efeitos sonoros,
inclusive. Foi muito divertido.
Gosto muito de escrever peças para teatro - tenho algumas
encenadas, inclusive uma feita para a Ana Rosa, que a produziu no final de
1993, no Rio: "Se o casamento vai mal... pimenta, alquimia e sal".
A peça mais recente que escrevi estreou em São Paulo, Poesia Br,
direção do Jo Martin – e ela me deu duas grandes alegrias: a primeira a de
colocar a poesia como tema central de um texto teatral (em geral o que vemos é
a poesia transposta para a cena), e a segunda a de ter tido a participação do
Urha, que é formado em Artes Cênicas, e da Ana Míccolis, minha prima harpista.
Foi um trabalho incrível, inesquecível.
Para cinema, meu único trabalho solo, foi a roteirização final do
longa-metragem Terra Prometida.
Sempre trabalho em parceria com João Luiz Pacheco Mendes, um
grande profissional da área – agora está encarregado da parte de teatro de
Blocos On Line, inclusive – e temos inclusive dois curtas baseados em poemas
meus.
Trabalhar com uma equipe de se gosta é um prazer raro e precioso.
LAM - Outra coisa, Leila: você trabalha,
realiza cursos e muitas atividades na Internet. Pergunto: a Internet tem
contribuído para o desenvolvimento dos seus trabalhos? Como é trabalhar com a
Internet?
Eu e a Internet foi paixão à primeira vista. Antes mesmo de eu
entrar na rede, em 1996, eu já sabia que gostaria dela. Tipo: “nunca te vi,
sempre te amei”... Já sonhava com ela, antes de sermos apresentadas, pessoalmente.
E ela sempre excede minhas expectativas.
Atualmente, tornou-se da família, tenho inclusive uma série de
problemas, a “Fase Micreira”, dedicada a ela.
Sempre me impressiona muito poder falar com países de cultura tão
diferente, em browsers simultâneos – esse abrir janelas para o mundo em
conjunto me mobiliza profundamente; além disso, todo dia descubro um
site que me acrescenta, uma pesquisa que me interessa, um artigo que me
abre novas perspectivas, um jogo que me absorve, uma gif que me encanta, uma
palavra que me marca e sobre a qual reflito, um contato que me surpreende. Sem
falar dos reencontros pessoais que ela me proporciona: amigos que há anos eu
não via e que estão morando inclusive fora do Brasil... Companheiros meus da imprensa
alternativa ou poetas que voltam a manter contato (como você inclusive, Luiz
Alberto)... é muita gente, e é muita alegria efetiva e afetiva quando isto
ocorre.
A Internet para mim consegue ser trabalho (os capítulos de
Mandacaru chegavam à Manchete via web) e diversão; nela delicio-me com as
conversas e com as receitas vegetarianas, com as viagens (adoro os museus
europeus), as descobertas, os fóruns, os debates, notícias, comunicados,
informações, os jornais online, enfim, com idéias e emoções em movimento
caleidoscópico ininterrupto.
LAM - Mais especificamente, a Internet, a seu
ver, tem contribuído para a difusão da poesia, da literatura, da arte,
enfim?
É, ela cumpre esse papel também, mas, neste particular,
preocupo-me muito com a questão dos direitos autorais. Adoro o virtual, mas
também adoro o livro impresso, e penso que um deve complementar e não
substituir o outro. A divulgação totalmente desgovernada que em geral se faz na
rede, induz-me pensar se ela surte na prática os efeitos desejados. É que já
foi o tempo em que um escritor apenas escrevia. Escrever é a ponta de um
iceberg, como dizia Torquato Neto. Ou, lembrando Barthes, “o saber literário
tem muitos saberes”, inclusive entre eles estão, hoje em dia, lidar com a
Internet, com o mercado literário, com a política editorial, com as correntes
divergentes, com os paparazzos, com as estratégicas publicitárias e com as
estratégias de marketing. Por quê não? O impasse é que a maioria dos autores,
principalmente os poetas, ainda têm o sonho romântico de que bastam aparecer
para que alguém, em meio de milhares de outros bons autores, o descubra, o
escolha, e transforme sua obra em best-seller de fama internacional. Nesta vã
espera, cruzam os braços e ficam esperando que caia do céu reconhecimento,
prestígio, a fama e dinheiro, muito desapontados e frustrados quando nada disso
acontece. Este individualismo e essa vaidade desconectam os escritores da
realidade mercadológica. Pensam apenas em aparecer nas vitrines (que é como se
referem à Internet, comumente), esquecidos de que as vitrines estão sempre
ligadas a uma loja a um comércio, cujas leis de oferta e procura eles precisam
entender, mesmo que minimamente, até para poderem enfrentar a competitividade a
cada dia mais acirrada.
LAM - Quais os projetos que você está
desenvolvendo e quais as perspectivas de realizá-los?
São muitos e bem variados, sempre trabalho em vários deles ao
mesmo tempo – além de evitar cansaço, quando estou exaurida de um pego um
outro, essa alternância também proporciona um distanciamento crítico muito
produtivo.
Há alguns projetos que não param, como a ampliação do portal, meus
cursos online de teledramaturgia e a dissertação de Mestrado, para daqui a
alguns meses; outros já possuem compasso mais lento como meus roteiros
televisivos, as peças de teatro, e, como não poderia deixar de ser, a
publicação de vários livros - não só poéticos e ficcionais, mas teóricos
também.
Para quem escreve, as perspectivas de realização são sempre bem
mais complexas do que a elaboração do texto, uma vez que não se fica muito à
vontade dentro da área executiva; porém, quando os projetos estão prontos, só
resta ao escritor acumular as funções de showman ou de businesswoman, e
corajosamente ir à luta...
Para conhecer mais Leila Míccolis e o seu trabalho, é só acessar: http://www.blocosonline.com.br/
ou enviar um mail para blocos@blocosonline.com.br.