a geografia do
meu medo
tem dois nomes
ansiedade e
fome
a ciência do
meu medo
duas raízes tem
ser eu
não ser ninguém
escrever é
tecer de aranha
é sol nos fios
de orvalho
entrelaçadas
malhas
que tecem o
amanhã
escrever é
morte no orgasmo
é morte que
ninguém vê
esta voz que
mora em mim
um dia ficará
quando eu partir
em outra
garganta
de asas irá
pousar
este canto
que hoje mora
em mim
é dádiva fugaz
risco de luz
dentro da
escuridão
gesto no espaço
negando o não
quando um poema
me pega
não tem jeito
ficam pratos
sem lavar
roupas por
passar
casa pra varrer
me sequestra
até que eu
sente
e escreva o que
ele quer
a chuva levou
os cravos
as orquídeas
os gerânios da
janela
a noite
encobriu os lírios
perdeste o
melhor amigo
- nem percebeste
–
teus pés
pisaram as rosas
se feriram nos
espinhos
- nem
percebeste –
não viste a
primavera
não vista nunca
nem o orvalho
da íris
que escorreu
da tela de van
gogh
Poço profundo
sem roldana:
solidão.
um sapo
apareceu na cozinha
quem sabe
príncipe disfarçado?
dei-lhe um
beijo
ele piscou
que príncipe
nada
e ainda saiu
pulando
e contando vantagem...
ditadura
a dor que
senti, não coube aqui
junho chegou
trouxe as
tristezas de maio
atrás de mim
um tigre
faminto
à minha frente
um abismo
de pássaro
são teus passos
ainda assim eu
sigo
teu voo
teus rastros
amor é olho d’água
cresce devagar
cresce
cresce
cresce tanto
que um dia
deságua no mar
ou nos teus
olhos
RISOMAR FASANARO – Poemas extraídos
do livro Capibaribe & flamboyans
(Desconcertos, 2021), da premiada escritora, jornalista e professora
pernambucana Risomar Fasanaro, autora dos livros Eu, primeira pessoa, singular (Prêmio
Teresa Martin de Literatura), Casa Grande
e Sem Sala e possui contos e poesias em diversas antologias, além de editar
um Blog. Veja mais aqui e aqui.