domingo, outubro 07, 2018

CATÁLOGO DE ÂNGULOS & VATE VITAL



CATÁLOGO DE ÂNGULOS

PÉTREIA LÁUREA

Laboriosos círculos ourives crava
Na pele lícita da joia engendrando grades de esmeralda
Puros engates, cortes precisos engenhando.
Artifícios íris aziaga comete quilate a quilate
Golpeando a pedra e seus sóis crescentes
Com majestosas pinças e lenta maestria
Até que céus nascidos de suas mãos circulassem
Na pele alma da pedra alada e rainha.

DIXIT VCA FINALMENTE EM RESUMÃO

A bordo do abismo sigo
Cego e vital destino insido
E à poesia crucial sacrifico.
Há os que necessitam do inferno
Amam a claridade feroz do fogo eterno
E cruel do mais ínfero lugar da alma.
Hão de ser estéreis tais criaturas
(E possivelmente estéril tal criador).

VITALIANAS NOVAS

Afogue ganso no hímen do abismo.
Venda a vida à vista, mas dê o necessário
Desconto temporário trisregistro.
Nunca esgane veia, nutra-a de etanol lírico.
Navalhas são lentas quando não cortam
E desafiam a afinação se ávidas
Atravessam carnes inocentes. Saciam-se
Melhor no córrego femural, talvez na aorta aporte.
Rosa esquizofrênica brota
Do jardim depressivo, e desodorece.
Noite cessa quando sol começa
Sua instalação célica.

QUESTÃO

A tona da verdade (como a beira do
Inferno ou a borda do obediente abismo) não é redonda
Qual a cor e o jeito dela?
É funda ou eferica a tona da verdade?
Caso você veja a tona da verdade profunda
Avise à portaria da poesia.
Tal como tona da verdade
Sombra da dúvida não é amarela.

DESOLHAR

As escarpas belas do teu olhar alpino
(olhar lateral é da real
E insincera leitora)
Lábio sujo com úmida pertinácia
E atiço e acicato
Sentidos que não queiram delirar.

ANJO ADJETIVO

Anjo gentil, manso, doce, rilke
Na alegria da gloria imerso.
Farto da grandeza do esplendor (opaco)
Anjo de mel e plumas deliquescendo
Gerundial anjo da colmeia de Deus
De asas enchamejadas do enxame branco do céu
De garganta de orvalho envenenada
Anjo de um tempo pós-angélico
(ou da não-localidade)
De físicas místicas, anjo quântico, ávido.

DÍSTICOS

Medula noturna ama escárnios
Gerúndios se suicidam pulando do catre do anacoluto.
Pra me manter vivo falácias de aura escravizo.
E creio em burocráticos céus pra ser fiel à alma.

CENA ÍGNEA

A zarabatana azulada do relâmpago
Atraiçoa céu rompendo Rombula tenda
Rasga véus de nuvens, dorsos de vento costura
Espaduas do vermelho tremulo exibindo
A olhares incrédulos ou sem brilho
Dos indecisos homens e maltrapilhos.

É O POEMA

De mínimo mundos e somas finitas
De assertivas vãs e obliquas intrusões
De minúsculas mandíbulas (verbo-carnívoras)
De carbono azul e atntas minucias é o poema.
Tanto parco grão quanto
Mero cosmo são o poema.
Abandono que carrega cansaço
Tedio que alimenta sonho larapio
Veia que inflama ser inútil
Som que atenua medo
Tudo são poemas.
Comboio de cães vadios
Viralatando a latir avenidas escusas
É o poema.

CATÁLOGO DE ÂNGULOS – O livro O catálogo de ângulos (Autor, 2018), do poeta e crítico literário Vital Corrêa de Araújo, reúne poemas com prefácio Os diversos ângulos de uma mesma poesia, de Admmauro Gommes, e Apresentação do próprio autor. Veja mais aqui e aqui.


VATE VITAL - O livro Vate Vital: aspectos da obra poética de Vital Corrêa de Araújo (CriArt, 2018), do poeta e professor Admmauro Gommes, traz uma palavra do vate e as partes tratando Vital Corrêa e o curso de Letras da Famasul, da influência poética, estrutura da obra, intervalo da pré-teoria da Poesia Absoluta (PA), entre outros assuntos. Veja mais aqui e aqui.



CRÔNICA DE AMOR POR ELA – POEMAS & CANÇÕES

Só quem ama sabe o que é o amor,


Só quem tem amor sabe o que é amar. 

CRÔNICA DE AMOR POR ELA – Reunião dos poemas, canções e crônicas que compõem o repertório do show/livro Crônica de amor por ela, com a indicação dos seus respectivos vídeos e imagens.



A ARTE DE MAURÍCIO SILVA



A ARTE DE MAURÍCIO SILVA – Por Cyane Pacheco. A obra do artista Maurício Silva resgata à ancestralidade da arte, seus primeiros rumores, o memento das cavernas que, ali, eram circunscritas ao território da magia e nós, após tantos séculos, a dissemos: Arte! A obra esse artista, desvela todas as grandes questões, aquelas que colocam a criação artística nos lugares confusos da contemporaneidade: ele adentra florestas de símbolos, para lá confundir uma temporalidade que significa buscar novas pistas, devolve à terra, camadas do tempo que os homens esqueceram de acrescentar à ínfima ligação entre criar e viver. Ali, terra da sua amada, desfaz a expatriação, sua e da própria Arte, refazendo a partir da sua terra natal, outras memórias: uma pá, um novelo de lã – crochê diverso onde urde à noção de que não há exílio onde vive a mulher amada. O artista usa a valise de Walter Benjamin, a esvazia e guarda nela suas criações, buscas de toda sua vida, sabe que há um sistema perverso, que precisa responder com suas criações, as perguntas sobre a morte, o anonimato daqueles que lançaram flechas perdidas. Mauricio Silva nos oferece pistas sobre o lugar estanque da Arte e sobre os modos de resistência a isso, buscando tremores fundos, que vêm dos caminhos percorridos até aqui. Refaz todos os lugares, a partir das formas e técnicas primevas, traz para o espectador, não apenas à fruição, mas torna-o parte daquilo que cria: alguém que terá que empreender sua própria busca, descobrir naquilo que, propositadamente, o artista vela e desvela, semi-encobre e oferta. Suas cores, texturas, formas, sua multiplicidade temporal, o que parece com a criação das manhãs, voluntariando à Arte, a recriação de suas próprias ferramentas e buscas. Não pretende reproduzir a natureza, nem sua exaustiva distorção, antes, abriga-se nas intercessões da existência, funda mundos e convida à uma compreensão maior do fazer artístico. Maurício Silva, em sua vida e obra, que é uma só coisa, faz perguntas, as espalha em sítios diversos e abre-se, atento, às respostas, são seus fios de transversalidade em relação ao outro.


MAURÍCIO SILVA – O artista pernambucano radicado na França, Maurício Silva, trabalha com diversos materiais que compõem a sua pintura, gravura, desenho, escultura, fotografias e peças em cerâmica, além de vídeos, instalações e performances em suas exposições. Veja mais aqui e aqui.


CYANE PACHECO – A artista visual e escritora Cyane Pacheco já realizou diversas exposições e está preparando a publicação do seu livro Ara ou O Livro das Portas e uma exposição para breve. Veja mais aqui, aqui e aqui.