GIRASSOIS
QUE MORRERAM
Sei que
meu corpo fala
E
denuncia décadas
De
girassóis que morreram
E nuvens
de flores
Que
rasgam o sol
Cada
manhã...
Depois
de tantas eras.
DÚVIDA
A dívida
da dúvida
Pode ser
uma dádiva.
Dá-se
que uma suspeita
Ainda
não confirmada
Aponte o
endereço de uma Diva.
Ziguezagueando
caminham os trens
Procurando
o destino
Que se
esconde na volta do vento.
LABIRINTO
Um mundo
dentro do mundo
Segredos
não revelados
Nas
trapaças do destino
Nas luas
que inventei.
Se
alguém seguir a trilha
Que
tracei em agonia
Pode se
perder em rios
Atalhos
pelo caminho.
Decerto,
rasguei o mapa
Que
mostrava a saída.
Se
quiserem novo nome
Com
travo de absinto
Tenho
mais um heterônimo:
Labirinto.
PLUFT
A vida
definha-se
A cada
amanhecer
Que se
deixa engolir
Pela
noite densa.
Pulveriza-se
Mesmo
pedra.
Desmancha-se
frágil
Bola de
sabão
Que
navega
Em vãs
ventanias.
E mesmo
antes do tempo
Pluft!
UM MAR
DENTRO DOS OLHOS
Tem um
mar dentro dos teus olhos
Que
banharia a ilusão de um homem
E
atiçaria
Toda e
qualquer saudade;
Há uma
luz que provoca
A mais
séria ambição em quem sofre
E
promete liberdade
A quem
não sofreu de amor.
São
bolas de cristal os teus olhos
Que
enfeitiçam
Os
sonhos mais impossíveis
De um
guerreiro vencido.
UNIVERSAL
Universal
é o mar como as manhãs.
Todo dia
teremos água e maravilhas
Assim na
terra como nos céus!
TUDO
VALE A PENA
Nesta
vida tudo passa
Como as
ondas do mar
Como as
do amar
Quando o
vento transpassa.
Mas
“tudo vale a pena”
Quando
se volta a amar
Quando
se volta do mar
“se a
alma não é pequena”.
PESSOAS
QUE PARTEM
As
pessoas que partem
Parecem
que partem
Alguma
coisa dentro de nós.
Como
algo de cristal
Continuam
preluzindo
Reluzindo
Luzindo
Zindo
Indo..
Até
transformarem-se em saudade.
ESCREVO
Escrevo
porque as palavras
Procuram-me
Provocam-me
Perseguem-me.
Não
posso fugir da briga.
Não
tolero desaforo.
Luto.
Luta
desigual.
Às vezes
penso que venço.
INVENTÍVEL
Precisa-se
de um poeta
Que
invente palavras
Para
dizer o indizível
Que
arborize ideia
Que tire
mel de colmeia
Invisível.
Que faça
chover raios de sol
Em
nuvens de pétalas
Que seja
tão abstrato
Que veja
coisas concretas.
Que fale
sempre de amor
Que
afugente a tristeza
Que não
seja obrigado
A fugir
da natureza
E não
faça necessário
Rimar
beleza com mês
Mas que
tenha sempre dúvida
Enquanto
tiver certeza.
CONTEMPORANEIDADE
Escrever
para o meu tempo
Eis a
dificuldade de fazê-lo.
Como
dizer o que eu quero
Sem
dizê-lo?
Que
palavra usar que se leve
No bolso
de cada pessoa
E se
entenda pensamento
Perdido
em metáforas?
Se é pra
falar à posteridade
Que eu
não diga coisa com coisa
Simplesmente
acene
Com meu
olhar de futuro.
Os que
hão de vir
Dirão
qualquer letra de mim.
Que me
importa a tradução
Duvido
que me descubram.
OUTROS
POETAS
O poeta
é um cidadão do mundo
Do mundo
das palavras
Ilógicas
góticas nórdicas
Qualquer
coisa de tácito
Tudo que
não se pode medir
Cabe no
poema
E no
coração do poeta.
O seu
olhar mastiga o signo
E um sol
de neve
Explode
a cada novo som.
Depois
deste mundo
Tem
outras galáxias
Que
pertencem a outros poetas.
O RIO
QUE CORRE NA MINHA ALDEIA
O rio
que corre na minha aldeia
Corre
por dentro de mim.
Tem
cristais de aroma
E peixes
azuis
São
águas de néctar
Em
primaveras líquidas.
Banha as
margens
Onde uma
criança navega
Por
lembrar os primeiros mergulhos
Na vida.
Um rio
ainda corre na minha aldeia.
FERNANDO PESSOA E O MAR – A obra Fernando Pessoa e o mar (Autor, 2015), do poeta
e professor Admmauro Gommes, traz o prefácio Admmauro Gommes: do melhor poema
do poeta maior, por Vital Corrêa de Araújo, e é dividido em duas partes:
Fernando Pessoa e o mar e Um século depois: 2015 em Pernambuco. Veja mais aqui,
aqui, aqui e aqui.