TEORIA
DA POESIA ABSOLUTA
A partir do momento em que eu passei a
compreender que a poesia é essência, o poema representa apenas uma tentativa de
concretizá-la. Foi assim que mudei meu ponto de vista no que tange è estética
literária. A metáfora nucleia o poema, e isso é fundamental para o entendimento
do que seja poesia e o texto poético. [...] Tambpem não se pode deixar de
reconhcer que a poesia pode estar em todas as coisas. No cotidiano, a
encontramos de maneira escrita até nos para-choques de caminhão, nos ditos
populares, e não é algo exclusivo dos poetas, porquanto um escritor
diferenciado se preocupa em concentrar um número maior de figuras e imagens em
um único texto. Quando isso acontece pela primeira vez, é algo extraordinário.
[...]. A nossa intenção é registrar essa preocupação como fuga à inércia
criativa. Para isso, não nos conformemos em apenas historiar, como por um
retrovisor, lendo o passado. [...] Para finalizar, sem concluir, vale ressaltar
que embora todas as artes estejam acessíveis à inteligência humana, não é
verdade que todos possam desenvolver habilidades naturais para ser um artista. Conhecer
os mecanismos utilizados por um grande autor não faz com que alguém se torne
mestre em produção literária. Quando muito, vai compreender o mundo criativo de
determinados gênios de um idioma, embora se prove que quem tem mais
conhecimento em uma área pode desenvolver suas potencialidades. [...] mesmo
sendo vaga, minha esperança é que esta obra contribua para o interminável
debate sobre a idealização do poema e sua construção estilística. Acredito,
ainda, que tenha dito tudo que queria e podia a respeito do tema, após uma
vivencia em torno do literário que ultrapassa quatro décadas de exercício-linguistico.
[...] Enfim, chego à conclusão de que a poesia pertence ao campo semântico do indizível,
do sublime e do sensitivo.
In: Teoria da poesia absoluta (Autor, 2017).
A
CASCA DO GRITO
Os lábios
d’água
Se abriram
em flor
Era
primavera
Quando
amoleci
O sólido
silêncio.
Corri ao
encontro da dúvida
E provei
amoras
Amores
amaros
Como as
cores frias
Como lilases
de prata nostálgica.
Mas
eternizei os minutos
Feitos de
mármore e granito
Seivas e
soluços e quebrei
A flácida
casca do grito.
In: O futuro
da poesia (Inovação, 2017).
PORTO
Já fui porto
tantas vezes
Vezes tantas
eu fui mar
Atracaram
aos meus pés
Muitos
barcos sem destino
Que meus
sonhos de menino
Morreram por
tanto mar.
De refúgio
De caverna
Já servi a
tanta gente
Já beijeito
pedra por lábios
E lábios por
alimento.
Já ui homem,
quase deus
Já fui tudo,
quase nada
Que a minha
adolescência
Perdeu-se
pela estrada
Só hoje eu
percebi
Que quanto
mais eu fugia
Pra longe
deste poeta
O verso que
não é meu
Prendia-me à vida inteira
Ao porto
chamado mundo
Ao mundo
chamado eu.
In: Fernando
Pessoa e o mar (Autor, 2015)
SABORES
DO BRASIL
Em terra
brasileira
Tem a
laranjeira
Tem a
goiabeira
Tem a
bananeira
Tem a
jaqueira
E mais
outras mil
Elas
representam
Os sabores
do Brasil.
In: Sabores
do Brasil (Burarema, 2010)
O
SER INDECIFRÁVEL
O que devo
fazer contigo, poeta
Se tu’alma
está cheia de constelações
Signos e
pensamentos lúdicos
Narcisismos,
esfingismos...
...ismos,
ecos indecifráveis.
Como posso
te aceitar
Se não
aceitam meus limites
As tuas mãos
indeléveis?
Não podes
voltar ao pó
Só homens
voltam ao nada,
Tu segues à
eternidade.
Já que não
posso deixar-te
Ao menos,
poeta, deixa
Saber por
onde tu andas.
O
POETA
O poeta é
pai do filósofo
E avô do
versejador
É mais que
feitor de rima
O versejador
declina
Quando falta
filosofia
E esta é
coisa vã
Quando falta
poesia.
Repetir-se
em poesia
Sem o
equilíbrio estético
É chegar ao
máximo grau do patético.
Ser poeta é
bem mais
É vasculhar
o infinito
E na mudez
do silêncio
Plantar seu
grito.
In: Para
nunca mais dizer adeus (Bagaço, 2006)
SER
POETA
Ser poeta é
ter o pressentimento
Que as
coisas podem mudar
Que um dia
vai melhorar
Quem sabe, a
qualquer momento.
É viver seu
invento
Como quem
inventa cores
Como quem
vive de amores
E tem a alma
repleta
Transforma
dores em flores
Isso sim, é
seu poeta.
In: Para
nunca mais dizer adeus (Bagaço, 2006)
NO
MEIO DA PEDRA
No meio da
pedra havia um caminho
Havia um
caminho no meio da pedra
Nunca me
esqueci deste acontecimento.
Entontrei,
pois uma luta tão fatigada
O que o
poeta maior não percebeu:
No meio da
pedra uma abertura.
Uma abertura
que dá para luz
Que irradia
toda uma estrada
Transcende a
alma, remove a pedra.
E para meu
deslumbramento
A essência
do que eu achei não era
Só o
caminho, mas a Verdade e a Vida.
In: Poemas
do manancial de luz (Bagaço, 2002)
DANTE
E EU
Mestre
És
Tu
Dante.
In: Pelos
sete mares (Bagaço, 2001)
TOTALITÁRIO
O regime
totalitário
Rege-me pelo
contrário:
Não pense na
vida futura
Não pense em
cultura
Não pense
Não pense.
In: Cinco
poetas e um luar (Bubarema, 2009)
ADMMAURO
GOMMES – O poeta e professor Admmauro Gomes é autor de diversas
obras poéticas e organizador de obras reunindo estudos literários e
sociolingüísticos, além de participar de antologias poéticas. Atua como professor
de Teoria Literária e Literatura Brasileira na Faculdade de
Formação de Professores da Mata Sul (FAMASUL), é especialista em Língua
Portuguesa pela FAFIMA (Maceió) e já ocupou o cargo de Secretário de Educação
em diversos municípios. Ele edita o blog Professor de Literatura e mantém um
canal no YouTube. Veja mais aqui e aqui.