sábado, fevereiro 03, 2018

ASAS DO TEMPO DE FERNANDO NASCIMENTO BARRETO


UM MODELO
Fundada em 1930, pelo nosso amigo Odylo Ferreira, a Livraria Escolas foi um dos marcos vibrantes da cultura palmarense, pela sua importância e operosidade do seu fundador. Tanto é que, em suas paredes, acima das estantes – a título de curiosidade, havia estampados pensamentos seletos dos mais fundamentais e filosóficos da cultura nacional e, um deles vem-me à recordação – “Livros a mancheias”.
Aquela operosa Livraria, não somente se incumbia da venda de livros, mas, por intermédio do esteta Odylo, ela se firmou por muitos anos como ponto de encontro de poetas, pintores, contistas, teatrólogos, artistas, juristas e tantas outras figuras importantes da cultura palmarense e de outros rincões da nossa Pátria. Lá estavam presentes, aos encontros homens notáveis como Ascenso Ferreira, Fenelon Barreto, Jayme Griz, Jayme Montenegro, João Costa, Raimundo Alves e tantos outros.
Ainda com a presença desses grandes valores, a Livraria foi mais longe: fundou a Academia Palmarense de Letras e, naturalmente, lá estava a figura imponente do esteta Odylo, firme e atuante, colaborador incasável das letras palmarenses.
Transferindo-se, em 1965, da avenida Frei Caneca, esquina com a Vigário Bastos, para um prédio menor da mesma rua, preserva a mesma atuação fecunda, servindo a quem pretendesse projetar-se nas letras florescentes, surgindo novos valores poetas como Juarez Correia, Eniel Sabino de Oliveira, Elizeu Pereira de Melo, José Ramos e o pintor-poeta Teles Junior, entre outros.
A cidade orgulhosa de sua Livraria Escolar agradece a Odylo Ferreira que soube manter-se nos ideais de servir à cultura e à gente da querida Palmares.
(Publicada originalmente no Jornal do Commercio, em 31/07/1977).


EVOCAÇÃO A PALMARES

Palmares ergue-se triunfante
Ante seu passado glorioso.
Em seu futuro de grandeza
Geme um poema infante,
Exaltando os feitos de seus filhos!
Ó filhos da terra dos poetas, dos amores
Vide ver a cidade poesia,
Onde, em seu berço,
Encantam seus poetas e escritores.
Cantemos com fervor um hino à terra dos esplendores!
Palmares de Ascenso Ferreira,
Palmares de Hermilo Borba Filho,
Palmares de Jayme e Artur Griz,
Palmares de Fenelon Barreto,
Palmares de Antonio Veloso,
Palmares de Lelé Correia,
Palmares de Odylo Ferreira,
Palmares de Letácio Montenegro,
Palmares de Milton Souto,
Palmares de João Costa,
Palmares de Raimundo Alves,
E de tantos outros...
Palmares do Clube Literário,
Palmares do Teatro Aplo...
Onde estariam os saudosos filhos ilustres dos Palmares,
Que ainda ouço eco de um passado distante?
Palmares da cana caiana, cana fita,
Palmares de minha infância:
Rua Nova, Rua da Notícia, Rua da Soledade...
O Alto do Inglês, a estação do trem
Escutemos a canção de um novo tempo!
Ó filhos da terra dos poetas
Amai, amai esta terra fecunda e feliz,
Cujo passado foi grito de liberdade!
Palmares, teu nome é uma eterna canção.
Estribilho eterno em solo pernambucano!


FANTASIA

Quero te ver Recife
Fantasia de sonhos.
Teus sobrados e pontes
Pincelados dos mais belos matizes;
Tua mocidade
Revestida de flores,
Risos e felicidade.
Teus poetas e escritores
Recitando poemas de amor!
Quero te ver Recife
Fantasiada de sonhos!...


O CANTO DAS CIGARRAS

Por mais unidas que sejais
Cantai sempre, cantai sempre,
Benditas cigarras condoreiras,
Que na floresta virgem,
Cantam seu choro saudoso,
Despedindo-se da tarde que se vai!
Homeras cigarras!
Menestréis do verão!
Explodindo em cantos
Num ritmo alucinante!
Que misterioso encanto
A melodia dessas cigarras:
Estridulando em coro,
Tarde afora, num choro saudoso.


O RIO

O rio corta o vale,
Corta um mundo.
Seu curso sinuoso
Corta matas, serras, campos.
Ora se expande,
Ora se retrai
Por entre pedras e montanhas...
Há quem o admire,
Há quem o odeie,
(em época de cheia)
Castigando o mundo todo,
Sem piedade.
Mas ele é assim mesmo.
Bondoso: às margens do seu leito,
Brotam vidas
Que fertilizam a terra,
Como um ato de indenização
A todos que tudo perderam
O rio tudo tira,
E tudo devolve com acréscimo.


PRESENÇA

Menina flor de aquarela,
Onipresente em nossos corações,
No riso a meiguice que aflora,
Nos olhos a grandeza d’alma!
Sabe?
Ainda que você não existisse
Cá, entre nós, você estaria presente,
Amando sempre
No universo da juventude!

FERNANDO NASCIMENTO BARRETO – É palmarense, filho do poeta e teatrólogo Fenelon Barreto e irmão do artista plástico e compositor musical Luiz Barreto. É formado em Contabilidade e Letras, publicou seus trabalhos literários no jornal A Notícia, Diocese de Palmares, Jornal do Commercio e Jornal Caroatá (Gravatá-PE). É autor da peça teatral infantil A boneca assanhada. Veja mais aqui.