quinta-feira, agosto 31, 2017

A ARTE NA ENTREVISTA DE VILMAR ANTÔNIO CARVALHO


LAM - Vilmar, como e quando se deu seu encontro com a Literatura?

A literatura apareceu ainda na adolescência. Uns 13 anos. Na época, ingressava no então Segundo Grau e lembro que reservei um caderno e comecei escrever. Certamente, coisas muito vagas e simples. Porém, foi ali que comecei essa aventura, coisa de escola. Os grandes poetas brasileiros descobri na escola, no livro didático, especial Drummond, Bandeira e, um em especial, Olavo Bilac. O primeiro poema que, lembro, despertou-me a musicalidade e a narrativa do verso foi "Ouvir Estrelas" de Bilac e, depois, o tema em Manoel Bandeira, como o moderno "A Estrela", numa cadência mais musical e criativa. Lembro que foi por aí. Gostava de ler e passei a fazer poemas.

LAM - Quais influências da infância e adolescência foram determinantes para sua opção pela Literatura?

Como disse poetas brasileiros: Drummond, Bandeira, Bilac e depois conheci João Cabral de Melo Neto; também me chegou às mãos uns livros de Ledo Ivo, Murilo Mendes e Marcos Acioli. Depois, já com uns 17 anos, conheci dois poetas de Palmares com livros publicados: Juareiz Correya e o amigo (você) Luiz Alberto Machado. Cheguei em Palmares para morar com 15 anos. Uma sorte! Estava numa cidade com tradição literária e isso é incrível coincidência: estava na terra de Ascenso Ferreira e de tantos poetas. Senti que não estava sozinho. Comecei a divulgar meus poemas e conhecer esse pessoal que fazia literatura foi incentivador.

LAM - Você publicou os livros de poemas: Sentimento verso e reverso (1985), Passavida e outros poemas (1988), Cartas ao girassol (1998) e Bordel Barroco (2011), entre outros. Fala pra gente a sua avaliação dessa trajetória poética.

A publicação é uma meta para qualquer jovem que escreve. Comecei assim e tive colaboradores. O primeiro nasceu pelas Edições Bagaços ainda quando funcionava em Palmares. Depois acompanhei as Edições Bagaço até 2011. Hoje, depois do advento da Internet, Blogs e Redes Sociais, o livro de poemas anda secundário, porém, espero lançar novos livros e defender a lira de mais de trinta anos. Poesia é o tempo que apura. Tenho muita coisa inédita e penso logo publicá-las.

LAM - Na obra A Tertúlia (2004), você mescla poesia e prosa. Fala pra gente desse seu projeto editorial.

A Tertúlia é fruto de está a meio caminho entre a prosa e o verso. E isso exige despersonalização. A prosa exige narradores outros e é o que faço na Tertúlia. Criou mais três poetas com biografias e estilos diferentes. O clássico Epicuro Soares; o moderno J. Carlos Acre; e o popular Calixto Mococa. O título A Tertúlia vem dessa lógica de reunião literária. O livro em 2004 circulou bem. Mas acredito que a tiragem limitada e falta de divulgação maior atrapalhou extrapolar o circuito local. Penso em disponibilizá-lo, numa edição revisada e ampliada, na internet.


LAM - O Poeta que virou estante (2011), é a sua incursão nos contos. Conta pra gente dessa sua experiência literária.

A Tertúlia me abriu o caminho. Depois veio a escrita historiográfica. Sou também da seara dos historiadores. O Poeta que vivou estante foi a estreia, mas tenho outros trabalhos inéditos que pretendo publicar e divulgar contos e crônicas que escrevo. Algumas já divulgo na internet.


LAM - Você publicou duas outras obras, Escritos: História, Literatura e Cultura Letrada (2008), e Letrados e Ufanos (2011), esta última oriunda dos estudos de sua dissertação de mestrado. Fala a respeito dessa sua pesquisa.

Ficou feliz de ter feito em 2007 a opção pelo projeto do Clube Literário que submeti ao mestrado em História pela UFPE. Primeiro porque abriu um campo de estudo que vincula Literatura e História. E também, fico feliz por isso, porque pude preservar as ralas e raras memórias do Clube Literário de Palmares que, em 2010, foram totalmente destruídas pelas enchentes. Hoje e sempre haverá publicada essa história do Clube e do papel que desempenhou entre 1883 e 1910, tempo que foi clube de letras.

LAM - No bojo dessas suas pesquisas, você está se doutorando com temática nessa linha. Fala pra gente desse seu projeto de doutoramento.

Pretendo continuar na temática, porém ampliando na direção da história da imprensa de periódicos e revistas nativas da zona da mata sul de Pernambuco sob a influência da estrada de ferro e da modernização conservadora que se estabeleceu na região canavieira a partir de 1870 até 1930.


LAM - Além de escritor e pesquisador, você tem desenvolvido a atividade de professor há muito tempo, tendo, inclusive, assumido a secretaria de educação do município palmarense por diversas vezes. Fala pra gente de como você conciliar essas atividades no seu dia-a-dia laboral.

Tomo essas experiências como engajamento. Fruto da defesa da educação pública e do direito de estudar, ensinar e aprender, principalmente aprender, numa escola municipal democrática e acolhedora. Sinto que contribui com essa trajetória, junto com homens e mulheres de grande valor na educação local e regional.

LAM - Como profissional da educação, que avaliação você faz da educação brasileira na atualidade?

A educação brasileira não consegue sair de certos paradigmas próprios do século XIX. Teimamos em separar a educação formal daquela que é também responsável pela formação cidadã. O ensino mais geral e essa intervenção na vida cotidiana tem que se realizar no ambientes das escolas, formando melhor os professores, disponibilizando padrões de funcionamento e qualidade a todas escolas e aproximando a escola da cultura local. A cultura é a fronteira para que nossa escola avance. O currículo livresco não garante essa condição. É necessário investimento materiais e intelectuais para isso.

LAM - Quais projetos você tem por perspectiva de realizar?

Bem, com quase 55 anos. A vez será da dedicação exclusiva à Literatura. Penso nisso todo dia nos últimos tempo. Esse é meu horizonte. Espero divulgar melhor o que andei e ando escrevendo. Um forte abraço e obrigado pela entrevista.


Veja mais Vilmar Carvalho aqui, aqui e aqui.

sexta-feira, agosto 25, 2017

POLÍTICAS EM DEBATE DE MANOCA LEÃO


POLÍTICAS EM DEBATE – Programa radiofônico realizado no último dia 19 de agosto, na Rádio Farol FM 90,7, com Manoca Leão. Veja mais aqui.



quarta-feira, agosto 23, 2017

A ARTE & ENTREVISTA DE OZI DOS PALMARES


A ESFERA DO DOM (Luiz Alberto Machado) - Quem viu - como eu vi -, lenta e laboriosamente a trajetória de um sonho se manifestar por inteiro, saberá o tamanho da precisão com que o artífice poliu engenhosamente sua obra final. E quando deparar com o resultado maduro verá o malabarismo constante para registrar múltiplos closes precisos, pôsteres reais na retina giratória duma lente a focar, em todas as direções, flagrando tudo e todas as coisas. Isso, sem contar, o encontro com o dom de recordar coisas boas da mais remota data do coração, das gentes mais simples, das festas de tenra idade, recônditas na incólume emoção.
Aqui dou meu testemunho: o Ozi compõe com os condimentos pertinentes aos que sabem fazer do talento uma proposta séria e encantadora.
Oriundo das terras pernambucanas, o cantor e compositor Ozi dos Palmares delineia sua estrada de muitos matizes, em composições que vai desde os Caboclinhos do Rabeca, resgate cultural da sua terra, ao heterogêneo encontro com as variantes de todos estilos musicais. Um caldeirão esborrando os gostos da terra e da alma nordestina.
Abracadabra! E ele faz viva São João, fogos de 8 de dezembro na matriz, mungangas de terças de Zé Pereira, fubânicas louvações do Una: tudo fragmentos imanentes da realidade dos que são do rio, da cana, da praça, dos Palmares de Zumbi, de depois e dagora: o canto de luz e sangue na carne da raiz. Tudo misturado ao saracoteio, jinga, valha-me tudo e o escracho soberbo dos que estão escapando nas veredas do século XXI, comendo o hilário das mais sutis e simplórias minudências das gentes que povoam as províncias do seu rincão.
Prova disso são seus ritmos mixados: mambos, xotes, baladas, frevos, maracatus, afoxés, guarânias, sambas, baladas, boleros, um sincretismo usual capaz de delinear sua miscigenação: há muito de Nordeste, de Espanha, Turquia, África, dos países balcânicos, uma salada a partir da Tábua de Esmeralda até o sectarismo do Frei Damião Bozzano, tendo, entre tal parâmetro, uma diversidade mágica quase inconcebível. Porque tudo é possível no seu canto, inclusive uma fonte mágica com mosaico caleidoscópico de todas as imagens díspares que povoam as ruas da cidade natal e, por conseguinte, análogas no caldeirão criativo do seu sotaque.
Um sujeito genuíno enraizado na feira do mercado que dá em Caruaru, com Zé Condé, Vitalino e tudo dali. Um sujeito talentoso de pegar no rabo do corisco e transcender na luz de Luiz Gonzaga, Patativa de Assaré, Jackson do Pandeiro, poetas, repentistas, macunaímas e bugres, gitanos e caetés, andaluzes e calungas.
Para mim que o conheço desdontem – desde as molecadas de Santo Onofre, passando pelas zoadas no pé do maluvido, das cachaçadas virando a noite insone e das cantorias esgoeladas nas escadarias da igreja da praça Maurity -, Ozi sempre foi e será o sumo do bom e do melhor.
Pro Brasil ele só apareceu com “Estréia”, seu primeiro disco. Depois, “No canto da boca”. Aí vedio, “Vontade”, tradução: bão demais de bom. Leia-se: eita cabra bom da gota! Agora é “Arrelique”, vixe que coisa boa!
Com esta discografia ele só ensaia, pois o danado tem um balaio cheinho de sons, solfejos e coisas que você nem imagina de assobio, pantim, estalo de língua e muxoxo de beiço. Eu que o diga: é uma tuia de caçuá esborrando pelo ladrão de tanta música. Isso sem contar com seu estudo dedicado ao violão e ao canto. Coisa de ver: verdadeiro espetáculo.
O compromisso com o seu tempo e a sua terra contempla Ozi duma incandescência capaz de irisar o seu canto e a sua poética em canções salutares tão próprias ao paladar do coração. E quem mergulhou no rio Una, em Pirangi e no Riacho dos Cachorros, sabe. Prove do som dele e verá. Vamos pro bate-papo.


LAM - Ozi, você acaba de lançar o seu quarto álbum Arrelique. Fala pra gente da proposta desse seu novo trabalho.

Eu queria gravar um disco neste formato onde pudesse imprimir um pouco do que presenciei e vivi em minha infância, algo que tivesse o cheiro de tudo dali. Isto deixei bem evidente em “Espetáculo de Rua” É isto.


LAM - Esse álbum reúne vinte composições, seis instrumentais, vários ritmos, misturar é preciso?

Faço reverência à música nordestina e outros gêneros da Música Popular Brasileira. Eu adoro bulir com tudo isto. É uma característica de meu trabalho.

LAM - Nesse álbum você traz parceiros, a exemplo de XicoBizerra e uma novíssima com Maurício Melo Junior. Fala a respeito dessas parcerias.

Foi um prazer imenso compor com estes mais novos parceiros, são queridos amigos, Rodrigues Lima SP, Geraldo Anisio RO, Leandro Correa SP, Eron Oliveira SP, Mauricio Melo, meu conterrâneo e Xico que já é um veterano parceiro. Parcerias como estas só agregam valores positivos.


LAM - Você nesse álbum presta homenagens e traz o belíssimo trabalho de Sebastiao Lima. Conta pra gente a respeito disso.

Sim, as homenagens são aos meus ídolos e grandes músicos, com os quais estive presente nos palcos da arte, além da lembrança ao meu pai, músico clarinetista. Sobre a arte de Sebastiao Lima (sem o til mesmo), tive muita sorte pelo seu grande profissionalismo, isto só enriqueceu meu trabalho.

LAM - Que avaliação você faz da sua trajetória de “Estreia” até “Arrelique”?

Depois de um certo tempo na vida tu não aceita mais amadorismo naquilo que te dá muito prazer, no meu caso a música. A coisa tem que ficar séria. Estou muito feliz e mais leve.


LAM - Na sua trajetória você segue seu caminho encontrando gente da maior estirpe, como Spok Frevo, Dominguinhos, fala a respeito desses seus encontros.

Nas estradas da vida da arte tudo pode acontecer e foi assim sempre comigo. Em gravações de estúdio e outros, uma coisa leva a outra.

LAM - Quais projetos você tem por perspectivas realizar?

Neste momento estou cuidando de “Arrelique” mas na minha cabeça tem vários planos a ser conquistados. Luiz, meu abraço e obrigado.

Veja outras entrevistas e mais coisas do Ozi dos Palmares aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


quinta-feira, agosto 17, 2017

ENTREVISTA & ARTE DE MARQUINHOS CABRAL


LAM - Marquinhos, como e quando se deu seu encontro com a música?

A música é minha companheira desde pequeno! Lembro-me bem que com pouco mais de 6 anos ouvia Românticos de Cuba, Perez Prado, Agostinho dos Santos, Altemar Dutra, Triny Lopez, Caubi Peixoto, Nelson Gonçalves e Roberto Carlos em minha casa aqui em Palmares. Os meus irmãos Luiz Carlos e Beco (Carlos Alberto) escutavam musica diariamente num velho passa disco montado por Beco.

LAM - Quais as influências da infância e adolescência que determinaram sua escolha pela música?

O que determinou a minha entrada na musica se deu após ouvir Elvis Presley e eu falei exatamente assim: Eu quero fazer isso!

LAM - Você teve uma experiência hippie, fala pra gente como ocorreu e qual avaliação você faz dessa sua vivência?

No final da década de 60 e começo dos anos 70 fomos invadidos pelo movimento da contracultura e nós jovens adolescentes achávamos que a rebeldia era o canal de ligação com uma nova ordem mundial... Ficamos só aí pois a repressão (ditadura) fechou a porta na nossa cara reprimindo tal ordem que  espalhava-se  por todo o país.

LAM - Você participou de vários conjuntos musicais locais e regionais, como Tocantins, Mancines, Ideais, entre outros. Fala pra gente dessa experiência.

Na verdade comecei cantando em um conjunto formado pelo Senhor Paulo Siqueira Marques na Rádio Cultura dos Palmares depois fui cantar no GodFather (Era o grande boom ter nome estrangeiro naquela época) em seguida cantei nos Mancines, Tocantins, Statos, Rosa Metálica, Big Band Show de Maceió, Diamantes de Ribeirão e Os Ideais de Catende.

LAM - Depois você foi pro Recife para integrar bandas como Alcano e outras. Conta pra gente dessa trajetória.

Em setembro de 1982 recebi um convite para integrar o Grupo Skorpios de Recife e aceitei de imediato convite feito pelo empresário Ivonaldo Silva do Cabo de Santo Agostinho lá gravei o disco Peek a Boo . Saí um ano depois para o Grupo Alcano que era outro grande nome no mercado de show-baile e lá gravei o disco Sabor, pela gravadora Copacabana. Como almejava coisas mais audaciosas no mercado da musica formei a Banda Força Estranha e lá gravamos um disco qual não foi para o mercado. Em 1987 recebi o convite para assumir os vocais da Turma do Pinguim e lá gravamos o primeiro álbum que tinha como titulo Turma do Pinguim. Dois anos depois fui para o Esquema Novo uma banda com supermúsicos tocamos alguns anos juntos, Logo fui para a Banda Vinil e lá gravamos o álbum Meu Barco e tive a oportunidade de trabalhar no trio da Coca-Cola que era o grande nome nos carnavais do Brasil.
Voltei ao Força Estranha e em seguida ingressei na Banda Shampoo onde realizamos grandes projetos por todos estados do nordeste lá gravei o CD Coisas de Pernambuco, um disco fantástico com ritmos de nossa terra. Com o fim da Banda Shampoo veio o convite para integrar a Orquestra Raízes onde gravamos um CD e um DVD de grandes clássicos da musica mundial lá permaneci até 2013 quando voltei pra Palmares.

LAM - Como se deu o projeto de parceria com Genésio Cavalcanti & Zé Linaldo?

Em meio essa loucura de dividir a minha vida entre Palmares e o resto do mundo dou de cara com o poeta Genésio Cavalcanti escrevendo letras de musicas inspirado nas nossas audições de mesas de bar nos finais de semana. Logo convidou Zé Linaldo para musicar tais escritos daí surgiu o nosso primeiro álbum Viva o Congresso Nacional e em seguida surge o álbum dois por nome América em canções, não demorou e fizemos mais um álbum por nome Madrigais e agora estamos em fase de conversação para trazer mais um álbum.

LAM - Você hoje está desenvolvendo atividades na Fundação Hermilo Borba Filho, em Palmares. Fala dessas atividades.

No ano de 2013 recebi um convite para fazer uma manutenção no equipamento de som do Teatro Cinema Apollo de Palmares convite esse feito pelo então presidente da FCCHBF o nosso amigo Lulika dos Palmares. Após o termino da manutenção o mesmo me convidou para fazer parte da Orquestra Metais em Ouro e trabalhar no teatro. Convite aceito e hoje faço parte do quadro da FCCHBF como técnico responsável daquele templo da cultura palmarense.

LAM - Você está preparando um novo cd. Conta pra gente de como está se desenrolando esse projeto.

Exatamente há dois anos atrás lancei um CD de musicas que eu costumo cantar nos lugares onde passo que tem com titulo: Pelos bares e bailes da vida e agora estou em fase de montar repertório para um novo trabalho que inclui duas musicas dos discos gravados em parceria com Genésio Cavalcanti e Zé linaldo.

LAM - Quais projetos você tem por perspectiva de realizar?

Tenho um projeto em frente da Orquestra Athennas aqui em Palmares e estou em fase de construção de um livro de contos.

Veja mais Marquinhos Cabral aqui, aqui , aqui e aqui.
  

quinta-feira, agosto 10, 2017

A ARTE & ENTREVISTA COM PAULO PROFETA


VIDA PARA TODOS

Quero viver
Com a força que acredito ter
E
Transformar essa crença
Na vida mais intensa
Mais cheia
Onde o ócio dê lugar
Ao que fazer
Quero viver
Como se tivesse a missão de todos.
Pena que para isso
Eu precise morrer
Para mim e
Viver para todos.

CÂNTICO PALMARES

Meu cântico a Palmares
Da Rua do Rio
Da Rua das Pedreiras
E das Ladeiras de Bigode
Daquele pagode
Lá de Santo Onofre.
Vou cantar Palmares
Para ver como sofrem os inquilinos
Das ruas sem nome:
É cheia, inundação
É morro, é chão batido,
É rieira, desmoronamento,
É choro partido dos filhos esmolando.
Meu cântico a Palmares
Aos heróis da resistência
Veludo, Rabeca,
Zé sem profissão,
João sem futuro,
Que podem divertir os que ainda hoje
Acreditam no porvir.
Vou cantar Palmares andando a pé,
Pisando o mesmo caminho
De Ascenso Ferreira, Fenelon Barreto,
Raimundo Alves, Artur Griz, Givanilton Mendes, Luiz Berto...
O Clube Literário, A Notícia
Pax Dourada, o Clube Ferroviário,
O antigo mercado
Museu da lembrança que já acabou.
Vou cantar
Meu cântico a Palmares
Santa Rosa, Santa Luzia
São Francisco,
A Rua do Esconde Negro,
O Beco do Engole Homem,
A Rua da Viração,
Vamos cantar comigo
Este cântico de oração.
Cante uma vez,
Cante de novo,
Vamos cantar
O sonho desse povo
Numa só voz,
Num só coro
Um canto de luta
Um canto de paz
Vamos cantar Palmares
E não chorar jamais.

SERVENTIA

Na vida encontrei a dor
Tropecei,
Magoei
As costas encaliçadas
Das poltronas públicas;
Das desburocratizações raquíticas
Que se perderam em monturos.
Feri os dedos
Nos cálculos orçamentários do rotineiro
E senti sangrar as vísceras do trabalhador
De tanta inércia.
Parei o fiel
Da balança da renda
- não precisava pesar:
Vários atlas financeiros
Equilibram o mundo
Com os pés no ar.
Escutei otimistas
Empanturrados nas mordomias
Traçando e deduzindo formulas
De ilusória divisão.
E eu;
E muitos
Pasmados
Sem nos prestarmos para tal
Ficamos a gritar na noite
Esperando a serventia acabar.

VIDA DIFICIL

Quem não conhece Maria
Nunca saiu
Basta frquentar as angustias da noite.
Noite afora
Se vê Maria toda fantasia:
Cara, pele e riso,
Concubina das madrugadas
Em cada ombro debruçada
Maquinando alegria.
Em cada gole
O prazer de expor a sorte
Na sobriedade contraditória
Do copo de aguardente;
Em cada homem, o trabalho
De, no suor do leito,
Conseguir o mísero salário.
Quem vê Maria
Na manhã a embalar seu filho
- somente eu
Não conhece a outra
Que nos bares de ontem,
Num quarto qualquer
Seu corpo vendeu.
Quem vê Maria
Num beijo singelo saindo pro trabalho
Se despedindo do lar.
Quem vê Maria
Sem riso, sem fantasia,
Nunca diria que sua vida é fácil.

MINHA DONA

Não quero lhe fazer apologia,
Nem lhe tornar musa,
Mas descobri que você
Meiguice eterna em minha companhia
É o melhor de minha felicidade
O mais rico de meus poemas
Que nunca consegui escrever.
Você
Poema-vida que será inédita
Em cada gesto,
No cuidar da casa,
No brincar com as crianças,
No abraço e nos carinhos de todas as noites.
Até mesmo na indecisão das horas
E nos instantes de impaciência.
Não quero render homenagem
Para não me sentir convencional
E apenas gratificado com você.
Mas não reclamo num poema
Nem me desculpo
Não há nada a desculpar.
E da vida
Quero apenas que você me tenha
Assim como a amo e tenho
Nada mais.

ENTREVISTA


LAM - Paulo, conta pra gente como e quando se deu seu encontro com a arte.

Meu encontro com a arte... Vem da infância. Desenhava as figuras da história: D. Pedro I e II, Mauá, D. João VI... e principalmente Tiradentes, pois estudava em Aracaju-SE, no Colégio Tiradentes, e na segunda quinzena de abril ficava desenhando cartazes até as madrugadas para os colegas de turma e cobrava um mil reis (a abobrinha do conto de Drummond de Andrade) de cada. Os trabalhados selecionados eram expostos num espaço na Rua João Pessoa, centro daquela capital. Gostava de ver meus trabalhos expostos com o nome dos colegas que tinham pago pelo cartaz. Durante os quatro anos que lá estudei teve apenas um desenho selecionado com meu nome. Mas, vários que fiz para os colegas.

LAM - Quais as influências da infância e adolescência que foram determinantes pela escolha da arte?

Ninguém e nada mesmo me influenciaram para arte. Tinha sempre o gosto pelo desenho, pela participação nos jograis, recitava poesia na escola, na igreja evangélica que papai era membro ativo. Sonhava em cursar Escola de Belas Artes...

LAM - Inicialmente você publicou um livro de poesias. Fala a respeito dessa experiência poética.

Primeiro livro de poesia. Primeiro entendi que era capaz de fazer poesia. Escrevi alguns sonetos, quadras, sextilhas... Descobrir os versos brancos e como colocar um pouco de ritmo e musicalidade nos versos e priorizando o peso das palavras. Achei que já podia publicar e em 1978, menos de um ano após minha chegada a Palmares, lancei “Marcas no Silencio”, capa de Anchieta, colega de banco, um livreto cheio de incorreções gráficas feita em linotipos. Mas, Palmares vivia efervescência cultural e econômica e acolheu muito bem a poesia e o novo poeta.

LAM - Você publicou um livro de poesias em parceria com Felipe Maldaner, Jogo Vivo. Como se deu essa publicação?

Jogo Vivo: Com a experiência do primeiro livro provoquei o colega do Banco do Brasil a estrear com um livro de poesia em parceria comigo. Dai nasceu “Jogo Vivo”, com a orelha de capa escrita por José Duran y Duran. Eu jogo o primeiro tempo e Maldaner o segundo. Fizemos dois grandes lançamentos nas AABBs de Palmares e Garanhuns, com direito a coquetel e show de artistas locais. Depois disso ninguém segurou mais o Felipe. Enveredou pela prosa com vários livros publicados, fez critica literária quando deixou o Nordeste e retornou para o Rio Grande do Sul. Tive noticias que passou mais de dez anos na Coreia do Sul, onde publicou artigos nos jornais locais e, recentemente, recebi convite para o lançamento de novo livro em Porto Alegre, após sua volta ao Brasil, já aposentado do Banco do Brasil e representado um banco estrangeiro.


LAM - Você também publicou o livro Sindicalismo versus Repressão, contando a trajetória de Zé Eduardo. Quais os resultados dessa iniciativa?

Sindicalismo X Repressão – A História de Zé Eduardo, o líder do maior sindicato de camponeses do Brasil foi lançado com a finalidade de angariar recursos para a campanha de uma chapa de oposição à presidência do sindicato dos trabalhadores rurais de Palmares, com a venda dos livros. Escrever a história de Zé Eduardo foi fácil. Bastou o deixar falar. Livro pronto, editado pela Nordestal Editora, com capa do Artista Plástico sergipano Pithiu. Perdemos a eleição do sindicato, mas o livro ganhou as universidades e foi citado em várias dissertações de mestrado e estudantes vieram de longe conhecer o escritor e o protagonista, Zé Eduardo de Lima Filho. Foram várias entrevistas e encontros.

LAM - Você foi participante ativo de diversos movimentos culturais e artísticos em Palmares, como as Noites da Cultura Palmarense, Revista A Região, Fundação de Hermilo, Edições Bagaço, entre outros. Fala pra gente dessa sua experiência.

Já após minha chegada para morar em Palmares Nov/1977, meses depois, já era professor em vários colégios locais e na FAMASUL. Era recém-formado em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe. Daí em 1978 recebia convite para jurado da IV Feira de Musica dos Palmares. Naquele mesmo ano publiquei meu primeiro livro de poesia (Marcas no Silêncio). Escrevi com os colegas do Banco do Brasil, Tiné, Carlos Alberto Pestana, Agenor Sá, Zé Rodrigues, Neudson Simões... jornalzinho da AABB “A Língua”, depois o “Educativo”. Depois passei a ser militante dos movimentos de arte e cultura. Tudo com o viés das letras. Falar dessa vivência caberia num livro de grande brochura. As Noites da Cultura Palmarense, Revista A Região, Edições Bagaço, Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, projeto de Juareiz Correia, depois da criação do Museu da Cidade e Fundação Casa da Cultura de Serra Talhada, onde fui o primeiro presidente. Eram tantas as emoções. Santa loucura. As Edições Bagaço nasceu movimento cultural onde um grupo de sonhadores, eu, Arnaldo, Gilberto, Elita, Inez, Nito (Você)... e outros nos cotizávamos para publicar um poeta da região e com a venda dos trabalhos viabilizar a publicação de outros até o ultimo escritor inédito.


LAM -Você esteve durante anos na militância política, que avaliação você faz dessa sua incursão?

Comecei na campanha de Luiz Portela. Mesmo sem ser candidato participei da escolha dos candidatos a vereador da chapa PMDB. Estava acontecendo um racha nas bandas do PDS de Garibaldi Gurgel e Luiz Portela resolveu formar uma comissão para escolha dos candidatos para não se desgastar com a militância de pré-candidatos que ficassem sem vaga na disputa. Eu, o finado Koury e Gonzaga da Casa dos Retalhos. Este último veio logo mostrar uma lista dos nomes que Portela queria. Desprezamos tal lista. Tivemos a ideia e Koury apoiou prontamente, os 56 pré-candidatos numa reunião na qual se definia critérios e perfis dos candidatos, eram divididos em grupos que escolheram os 18 candidatos que acompanharia a chapa de Portela e Chiquinho ao Palácio do Bambu. Cada grupo escolheu seu 18 nomes, depois de tabulados os votos escolhidos por todos os grupos garantiram a vaga, a exceção de Preta que já detinha mandato e direito adquirido e Moacir da Futurista que Luiz Portela anunciou como décimo nono candidato, vaga negociada com Maromba, candidato a Prefeito da Sublegenda PMDB dois.
Depois a mosca azul me picou e inventei de sair candidato a Prefeito em 1988 contra o candidato de Portela, Seu Chiquinho e o Gaguinho. Teve cinco candidatos a Prefeito nessa eleição e ficamos em terceiro lugar. Não tive votos, mas ganhei mais um livro que publiquei treze anos depois. Não queria escrever um panfleto. Dai a demora.
Fiz militância em movimentos sociais, sindicais, culturais artísticos, literários,pois sou membro das Academias de Letras de Palmares e Serra Talhada.
Minha última e definitiva incursão na política partidária foi em 2012. Fui candidato a vereador com uma bela campanha nas ruas. Um boneco gigante do Profeta que atraia a criançada que descia os morros para tirar fotos. Musicas de Zé Ripe com participação de vários artistas locais (Zé Linaldo, Lulica, João Marcos, e tantos outros). Para nunca mais. Fiquei no isolamento do idealismo onde não existia militância paga. Tal decisão foi tomada depois da convicção de que: “Atualmente, não se pode fazer política sem pelo menos ser conivente com o crime”.

LAM - Além de poeta, você agora também é artista plástico. Como se deu o processo de enveredar por esta área artística?

Esse sonho de artes plásticas veio como já disse, da infância. Precisei esperar a aposentadoria para realizar tal sonho. Como fazer Escola de Belas Artes tendo que entrar no mercado de trabalho aos 12 anos para ajudar no sustento da casa? Na infância era apenas o desenho vendido aos colegas para poder comprar roupa. Depois de aposentado como gerente do Banco do Brasil, em julho de 2007, em outubro do mesmo ano já frequentava um atelier de uma artista na rua Manoel Borba, em Recife. No ano seguinte estava matriculado nos cursos de Ilustrador e Pintor Artístico do SENAC, onde fiz toda a grade dos cursos de arte que ofereceram naquela época. Em 2009, fiz o ENEM e o vestibular na Universidade Federal de Pernambuco e conquistei uma vaga no curso de Artes Plásticas. Em 2014, fiz intercambio e fui estudar na Escola de Belas Artes da Universidade de Porto, em Portugal. Lá passei seis meses desenhando, pintando e expondo com os artistas da Europa. A Universidade do Porto recebe cerca de 3.500 alunos do exterior anualmente. Depois de uma exposição de pinturas realizada na Reitoria da Universidade do Porto, recebi um convite dos professores curadores da exposição para tomar um “fino” chopp em taça pequena. No bate papo elogiei o nível da Escola de Belas Artes e um dos professores fez a seguinte declaração: “pois, pois,... estamos a ensinar a esses alunos de arte e eles depois não sabem o que fazer desse saber”. Naquele momento afirmei com emoção: Eu sei o que fazer desse meu saber: vou compartilhar com Palmares, minha cidade no Brasil.


LAM - O que é e qual a proposta do Instituto Belas Artes Vale do Una?

Voltei de Portugal decidido a terminar o curso de Artes Plásticas e criar uma escola de artes em Palmares. Uma escolinha não dizia nada do tamanho do sonho. Então criei um Instituto, entidade civil sem fins lucrativos que servirá de guarda chuva para toda atividade artística, cultural, aí envolvendo, show, exposição, publicações, formação, consultoria, divulgação, etc. Cabe também nesse projeto, uma escola técnica e, quiçá, uma faculdade de artes visuais. O nome Vale do Una para denotar o aspecto regional e abrangente não se limitando a Palmares.

LAM - Quais projetos você tem por perspectiva de realizar?

Projetos em perspectivas: oferecer, como já acontece, oficinas gratuitas de desenho e pintura a alunos da rede pública estadual. Formar parcerias para capacitação de professores de arte da rede municipal de ensino; criar oficina para o publico em geral de diversos saberes, encadernação, marchetaria, serigrafia artística, modelagem, gravura, argila, desenho, pintura... Realizar anualmente, o projeto Pintando na Praça, atualmente na quarta edição, que consiste em trazer artistas do Recife, alunos de artes da Universidade Federal de Pernambuco para, juntos dos artistas locais pintar ao ar livre na praça Paulo Paranhos e fazer exposição durante todo o mês de realização do evento. Tudo isso com o complemento teórico de palestras sobre arte em escolas públicas de Palmares realizadas por alunos, artistas e professores de artes da UFPE.

Este é o Paulo Profeta: veja mais aqui, aqui & aqui.