sexta-feira, março 29, 2019

SURTOS & POEMAS, DE AGLAÉ GIL



Cavalo de antolhos

Vez por outra eu me surpreendo agindo como um cavalo de antolhos.
Eu me sinto desconfortável com os arreios que me dominam,
eu me revolto contra as mudanças de curso
a que eles me obrigam.

Como se eu fosse outra coisa, outra pessoa,
outra força - que não a minha -
que me impelisse a fazer o que não devo,
a sofrer o que mais não posso,
a desejar o que não me cabe.

Minha fúria, é, então,
a marca que me condena.

Agora que começo a entender isso, talvez seja
mais fácil conhecer essa mulher
que me sorri ali, no espelho,
e, assim, me livrar dos antolhos,
dando lugar a um animal liberto,
que se concede um galope soberano.

Pela doçura de algum amor

Eu pedi que trouxessem as palavras mais duras que pudessem encontrar.
Elas me foram servidas  em um daqueles dias em que se tem fome apenas de
doçuras, mas, ainda assim,
eu sabia que precisava me alimentar de algum amargor.
Salivei e esperei.
Ao redor, havia um mundo de dizeres outros que não meus.
E pensamentos molhados de água com sal.
As palavras, duras, amargas, pediam para ser engolidas em seco,
antes que me fosse permitido qualquer outro sabor.
Virei o tempo, ventei vontades.
E verti o caldo delas todas.
Minhas e suas.
Para depois, poder me fartar de algum amor.

Apocalipses

Vou me lembrar de você mesmo depois
da lua encarnada
do céu escarlate,
das veias abertas
da ampulheta quebrada, cacos espalhados pelo céu.
Vou me lembrar de você.
O que mora na alma fica.
Tatuado em silêncio e oração.

Poesia e só

Não adianta. Poesia para mim é estado de espírito, é rasgo na alma, é palavra nascida naquele oceano em que a lua se lava.
Não adianta. Não meço palavras, escrevo o que sinto, pulo as cercas convencionais, dou uma banana para os provincianos.
Poesia não nasceu em mil e alguma coisa. Nasceu muito antes do tempo, talvez tenha surgido na grande explosão. Virou pó de estrelas, caiu sobre o Everest e veio parar em quem não faz questão de aprisionar sons.
Porque poesia mesmo, poesia, ali, no duro, não é de ninguém.
Anda solta e voa. Passarinha de si.

A vida é mulher. Luas

Ainda é lua cheia e o que me diz?
Sair para azarar os homens nos bailes da melhor idade?
Tentar aprender danças de salão e fingir que de um tempo que não é nosso se tem saudade? Sentar à mesa de um bar qualquer em companhia da cerveja que não fica velha apesar de 'choca'.
Ainda é lua cheia. E o que se quer?
Abrir os braços diante do mar e rejuvenescer?
Brincar com os netos, reaprender?
Soar trombetas? Desaparecer?
Novela das nove para se irritar?
Abraçar o corpo amante, beijar na boca, gozar?
Andar à toa, brigar na trilha. Vociferar?
Ainda é lua cheia. O que me diz? O que lhe falta para se sentir feliz?
Parir estrelas?
Conhecer Paris?
Saltar pedras em rios?
Cantar Bethânia, Gal, Elis?
Ou fazer um mea culpa  ouvindo Marisa cantar “Bem-que-se-quis”?
Agora, lua minguante.
E o que se quer?
Receber a vida todos os dias, mesa posta, cama feita.
Beijar o riso dela, riso como o seu.
Riso em cascata. Mulher.
O banho de todos os mares. O sangue de todos os óvulos.
É. É lua minguante. E o que se quer?
Viver a vida, do jeito que a vida quiser.

A teia

Há toda essa teia. Não sei se fui eu quem a teceu, mas acho bem provável, até.
Porque os dias foram se formando em elos e eu os peguei com as mãos crispadas. Depois, não sei.
Quando voltei, vi esta teia ali, diante e adiante. Muda. Estática.
A nada comeu, ainda. Não há insetos ou afetos mortos. Não há vento.
Ainda que eu queira - e quero com uma força imensa - me entremear ali, não posso sair de minha moldura, onde sou o retrato daquilo que sobrou de mim.
Depois do sono ao qual me entreguei ou para o qual fui lançada.
Depois de meus quereres sem nexo.
Depois de meus amores sem sexo.
E esta paixão, quem sabe última, fica assim, sem graça e sem futuro.
Eu a desejar a teia, imensa, bela, agora brilhando à luz de um raio teimoso de sol em plena noite. Eu a desejar ser dela como jamais fui de alguém.
E ainda assim imóvel. Ainda assim pequena.
Presa à moldura envelhecida de meus cinquenta e tantos anos absolutamente nus.

Retrato na retina

Às vezes a gente quer encontrar uma moldura perfeita para determinada gravura. É tão difícil, nada combina...nada parece construir redoma em torno de algo que se retém de belo...principalmente quando está somente gravado em nossas retinas.
Penso que é assim o que sinto agora.
Fiquei imaginando onde poderia guardar uma lembrança quase perfeita que tenho em mim, de um rosto amado.
É um retrato que gostaria de manter, sempre, na memória.
Aquele sorriso, talvez eu jamais veja novamente. Um sorriso de vida fluindo e de uma ternura sem fim.
Está aqui, gravado em minhas retinas, mas não importa o quanto eu procure ou faça, não consigo emoldurá-lo. Nem mesmo as flores do amor posso usar, pois elas agora me parecem cinzentas, caída, murchas. As pétalas se perdem à toa, tamanha sua fragilidade.
Não quero o vazio, contudo não posso retê-las, porque elas recebem de um vento frio o aviso para que se percam em nome da transformação precisa da natureza.
O mesmo vento castiga meu peito.
Dói menos, porém o vazio que se agiganta, assusta. Isso é tão estranho, diferente e distante de mim.
O relógio já dá as doze badaladas. A noite tem um silêncio que me pede o descanso.
O retrato guardado terá que esperar. Talvez eu o guarde mesmo, para sempre.
Até que ele, amarelado e gasto, nem me diga mais de quem é aquele sorriso.

O que faço?

O que faço de mim
que andei tristonha e
alegre pela vida
e escondi minha dor
pra fazer graça
das coisas disponíveis aos olhos do tempo?

O que faço da marca ajuizada
e enlouquecida
que vence o fantasma
quando eu apenas quero rir
e denegrir a ideia da morte?

Faço graça, de novo? Faço poesia?

Olho bem nos olhos do tempo.
Ele é quem faz graça.
E passa.
Eu faço poesia.
E passo também.
Ela fica.
Nos teus olhos, nas tuas marcas.
Pra sempre.

Tijolos amarelos

Hoje eu vi a estrada de tijolos amarelos em algum ponto do olhar da menina que passou e fez de conta que a vida tinha mais do que ciclones e pés-de-vento.
Era como ler poesia em plena luz de um dia quase todo azul, não fosse por aquele ponto de infinitude amarela nos olhos dela.
Compreendi que não importa a idade que temos, quem somos agora, qual o nosso nome e endereço: somos parte de algo muito maior e que faz todo o sentido quando juntamos as peças do quebra-cabeça, aos poucos, com vontade e capricho. Quando lemos a história escrita por nossos pares.
Somos um pouco de todos que já percorreram a própria estrada de tijolos amarelos, tenhamos 10, 20,30,40,50,60,70...anos.
Porque estamos na vida para viver e, neste mundo, para aprender a caminhar.

Eu

Essa fuga dos dias,
dos pensamentos,
da sensatez.
E eu a ficar,
reduzida a brisa marinha
e a pedra de rio.
Os olhos entreabertos
e lágrima escorrendo
em silêncio
em silêncio
em silêncio.
Esta vida comprida
e eu a lidar.
Mãos aguerridas
e alma poeta.
O sorriso boiando feito uma
meia lua no céu.


AGLAÉ GIL - Nasci em Curitiba, ano de 1960, em um mês de fevereiro antes do carnaval. Era uma manhã de sexta-feira. A paixão pela leitura desencadeou, penso eu, a paixão pela escrita, a que me lancei desde muito cedo, sob a atenção de meu pai, um leitor tão apaixonado quanto eu e que antes de eu saber ler e escrever, lia para os filhos, sempre à noite, quando nos reuníamos em torno da mesa de jantar. Eu ficava fascinada por aqueles mundos que ele trazia à tona, desvendava diante de nossos olhos. Geralmente, um mundo real, pois ele lia História Ilustrada, uma coleção lindíssima. Eu aprendia, quase me afogando com as informações que me vinham como uma claridade abençoada. História e Língua Portuguesa sempre foram as matérias preferidas. Ainda são temas de estudo para mim. Minha formação é em Letras-Português, com ênfase em Produção de Textos [pós]. Trabalho como revisora de textos há trinta anos, porque o trabalho do código de nosso idioma e a tessitura de frases, períodos e textos são para mim como tricotar uma longa manta de lã macia e de muita qualidade. Uma paixão. Eterna. Quanto à História. Bem, estudo muito e sempre, movida pelo prazer da pesquisa e pela sede de conhecimento. Essencial. Tenho apenas um livro publicado: “Memórias de uma Fruta Madura”, de 2015, uma coletânea de meus textos mais intimistas. Não sou afeita a rótulos. Conto pequenas histórias, escrevo poemas, fotografo a vida. Escrevo para me manter sã, para tecer aquela manta que mencionei antes. Gosto da sensação, porque sinto que com ela [a escrita, a manta] eu posso aquecer muitas almas irmãs. É isso. Veja mais aqui.


A ARTE DE LUCIANA DO ROCIO MALLON



I

A Vaca Mimosa Salvou a Menina da Lama
Maria era uma menina que morava em Minas Gerais
Ela era pastora e cuidava dos seus animais
Um dia se romperam umas barragens
O rio de lama invadiu várias paisagens

Maria foi levada pela lama sem fim
Junto com a sua vaca Mimosa
Assim o animal nada ruim
Tentou salvar sua dona maravilhosa

A vaca colocou, em suas costas, a menina
Então as duas foram salvas pelo corpo de bombeiros
Com dedicação, coragem e muita adrenalina
Os bombeiros são heróis verdadeiros

A vaca é um animal sagrado que merece respeito
Pois ela dá leite e pode socorrer qualquer sujeito
Não sei o porquê xingam pessoas de mu caráter de vaca e outros animais
Afinal os bichos são inocentes e salvam seres até em outros astrais.

II

A Urna Eletrônica se apaixonou pela Balança de Farmácia e deste amor sem pudor nasceu o TINDER, onde as pessoas mentem, postam fotos com filtro e a falta de vergonha acaba no motel.

III

Como a Dança de uma Personagem Salvou A Vida uma Senhora

Em 1988, eu morava num bairro chamado Cabral na cidade de Curitiba. Na rua abaixo existia uma idosa solteira, que vamos chama-la aqui de Maria para preservar sua identidade. Esta anciã tinha Câncer, além de problemas com pressão alta, depressão e obesidade. Ao entrar na casa dela, pela primeira vez, notei que existiam muitas presenças de estampas xadrez e objetos com a figura do arco-íris. Então falei:
- A casa da senhora lembra muito o filme chamado:
- Dorothy e o Mágico de Oz!
Então uma lágrima escorreu no rosto da anciã, ao mesmo tempo, que ela sorriu e disse:
- A intenção sempre foi esta!
- Pois O Mágico de Oz é meu filme preferido!
- Mas você foi a única pessoa que percebeu!
- Afinal a Dorothy amava seus amigos apesar de suas peculiaridades e a música chamada Over The Rainbow, fala de arco-íris que além de ser um fenômeno da natureza, também, é um sinal espiritual porque tem o poder de levar as pessoas para outra dimensão. Inclusive o meu sonho sempre foi dançar esta música no meu aniversário. Mas quando eu era criança minha família não tinha dinheiro nem para comprar o bolo. A médica falou que eu não passo deste ano. Porém se eu dançasse esta música, na minha festa, eu duraria mais uns cinco anos.
Assim eu perguntei:
- A senhora tem o disco com esta canção?
- Pois tenho amigas, que sabem dançar, e podem fazer uma coreografia especial.
Maria respondeu:
- Não tenho nem sequer o disco com esta música.
Após isto procurei o LP com esta canção, em sebos, livrarias de discos e livros usados. Assim achei um vinil da coleção carrossel que tinha canções de músicas antigas, dentre elas Over The Rainbow.
Depois levei uma amiga que fazia aulas de dança para ensaiar Maria. Ela logo viu um tecido colorido no sofá da idosa e exclamou:
- A senhora será a Dorothy e este lenço virará seu arco-íris.
- Agora todo o final de tarde, vamos ensaiar uma coreografia para sua festa.
Ensaiamos durante três meses com Maria. Então notamos que ela emagreceu e ficava cada dia mais disposta apesar do tratamento com a quimioterapia.
Quando seu aniversário chegou, levamos um bolo e um vestido rodado xadrez. A idosa vestiu, colocamos a música do filme e ela bailou como se fosse a Dorothy.
Mudei de bairro, porém soube que depois de cinco anos Maria faleceu e foi enterrada com um lenço colorido em cima do seu caixão.
Uma médica afirmou que a dança da Dorothy trouxe alegria a esta senhora e os exercícios nos ensaios reforçaram seu aparelho imunológico, além de emagrecer.
Quando uma mulher baila a música da sua personagem favorita entra em equilíbrio com seu corpo e alma.

IV

Dançar Balé é Escrever Poesia com o Corpo

Dançar um balé cheio de harmonia
É transformar o corpo numa caneta
Para com os pés escrever poesia
No ponto final da clássica pirueta!

Os braços viram mágicas vogais
Quando a bailarina é uma estrela cintilante
Bailando em diversos astrais
No palco do céu mais radiante!

A dançarina de Flamenco Espanhol
Escreve um romance com drama belo
Quando sapateia sob a luz do Sol
Que se transforma num pandeiro amarelo!

A odalisca da dança do ventre
Transforma o chão num céu
Quando mexe os quadris de frente
Balançando seu suave véu!

Dançar um balé cheio de harmonia
É transformar o corpo numa caneta
Para com os pés escrever poesia
No ponto final da clássica pirueta.

V

Lenda da Coelha de Páscoa de uma Creche de Taguatinga

Quando eu morei em Brasília conheci um causo de Páscoa muito interessante.
Reza a lenda que nos anos setenta morava em Taguatinga, cidade satélite de Brasília, uma menina apelidada de Dolly, que tinha características físicas muito diferentes, pois era albina e tinha os dentes da frente um tanto maiores do que a maioria da população.
Quando esta garota entrou na escola, logo começou o bullying. Pois os colegas chamavam a pobre de dente de coelho. O problema aumentava, na Páscoa, porque as outras crianças chamavam Dolly de Coelho da Páscoa o tempo inteiro.
Na adolescência, ela chorava muito porque pensava que nunca conseguiria um namorado. Até que um dia, mudou-se um moço, chamado Robson, para o bairro onde ela morava e passou a paquera-la. Deste jeito, ela aceitou namorar o rapaz.
No dia dos namorados, Dolly decidiu pular a janela do quarto do amado para fazer uma surpresa. Porém ela se assustou com o ambiente, pois o tema da decoração era: coelho. Existiam almofadas com a estampa deste animal, abajur com desenho deste bicho, pelúcias deste tema por toda a parte e várias revistas Playboy.
De repente, Robson chegou e assustou-se ao ver a amada chorando:
- O que você está fazendo aqui?
A moça perguntou:
- Por que o tema da sua decoração é coelho?
O rapaz falou:
- Confesso que é porque tenho ejaculação precoce e me sinto um coelho.
Ao escutar estas palavras, Dolly saiu correndo e fugiu para sua casa.
Um mês depois, Robson fez uma serenata pedindo desculpas. Assim os dois se casaram e tiveram uma filha chamada Patrícia.
Na semana santa de 1984, Patrícia viu sua mãe chorando e perguntou-lhe:
- Por que está chorando?
A senhora respondeu:
- É porque na época de Páscoa, lembro-me de que as outras crianças me chamavam de Coelho da Páscoa por causa dos meus dentes da frente que são grandes.
A garota comentou:
- Não fique triste por causa disto. Eu até tive uma ideia: a creche da cidade está precisando de alguém para fazer o papel de Coelhinho da Páscoa. Mas as roupas brancas que recebemos para este personagem são número 54 e não servem para nenhuma voluntária porque todas são magras. Por isto tive a ideia da senhora fazer este papel, já que cabe na fantasia.
Dolly além de aceitar vestir as roupas de coelho, também doou vários ovos de Páscoa. Então,  a partir deste momento, esta moça passou a doar chocolates e a se vestir de coelho, em toda a Páscoa, para visitar a creche.
Em 1987, ela faleceu de Câncer. Porém, na Páscoa de 1988, em Taguatinga, pessoas passaram a ver uma mulher vestida de coelho deixando vários chocolates em frente à creche. Reza a lenda que isto acontece até hoje e por isto este estabelecimento recebeu o apelido de A Creche do Coelho.

VI

Lenda da Flor Chamada Rabo-de-Gato

Na Idade Média havia um casal de idosos, que morava no meio da floresta, com sua filha chamada Virgínia. Então como a jovem cuidava deles e fazia todo o trabalho da lavoura, estes anciãos tinham medo de que ela cassasse com alguém. Por isto, eles proibiam Virgínia de ter amigos e até mesmo animais de estimação. O passatempo desta donzela era costurar em frente à lareira. Por causa da solidão ela sentia muita depressão e tristeza. Porém um pouco da sua melancolia aliviou a partir do momento em que a pobre começou a conversar com a lareira acessa para desabafar seus sentimentos. Por isto as salamandras, que são elementais do fogo, escutavam com paciência todas as lamentações de Virgínia que vivia exclamando:
- Como eu gostaria de ter um animal de estimação!
Quando o aniversário desta donzela se aproximou, as salamandras decidiram fazer uma surpresa. Assim chamaram um gato vermelho, que estava arrependido no Inferno, para fazer companhia à jovem. Deste jeito, quando deu meia-noite, o gato saiu das chamas da lareira e deitou-se ao lado da donzela. Pela manhã, quando a moça acordou, ficou contente ao ver que um animal estava ao seu lado e adotou o bichano. No começo, seus pais não queriam aceitar o seu novo amigo. Mas, com o passar do tempo, cederam.
Perto dali morava uma bruxa muito má que precisava de um gato vermelho para sacrificar em um ritual. Um dia, ela passou pela casa de Virgínia e viu o gato da cor carmim. Assim a feiticeira jogou uma carne com sonífero para o pobre e sequestrou este animal. No ritual, ela matou o bichano. Porém ao enterrar o coitado, se esqueceu de colocar a sua cauda para dentro. O tempo passou e o animal se transformou numa planta chamada rabo-de-gato. Desta maneira a Lua cheia apareceu e disse:
- Gato vermelho, agora que você virou planta de vez, poderá ver sua dona em todas as noites de Lua Cheia.
Já fazia seis meses que Virgínia estava em depressão pelo sumiço de seu animal. Quando, naquela noite enluarada, o bichano carmim entrou pela janela e disse:
- Miau!
A partir daquele instante, em todas as noites de Lua Cheia a donzela passou a receber a visita de seu animal de estimação, que voltava a ser planta no instante em que o Sol surgia.
Reza a lenda que a planta rabo-de-gato anima as pessoas que tem depressão.

VII

Lendas das Bailarinas dos Bandolins

Os causos das bailarinas dos bandolins têm várias versões. Pois há a lenda da dançarina proibida e o causo da bailarina da música, Bandolins, do Oswaldo Montenegro. Então leremos as duas histórias abaixo:
- A Lenda da Dançarina Proibida:
No século dezoito, existia um casal rico que tinha várias poses. O nome da esposa era Laura e do marido era Raul. Mas o problema é que eles não conseguiam ter filhos. Laura vivia agarrada a uma caixinha de música, tradicional de sua família, que tinha uma bailarina que dançava. Por isto ela sempre dizia:
- Meu sonho é ter uma filha igual a esta dançarina!
- Magra, com a cintura fina e não obesa como eu!
- As fadas das lendas e a bailarina da fábula do soldadinho de chumbo são as minhas dançarinas preferidas.
Com o passar do tempo, o relógio biológico da mulher passou a gritar. Assim ela decidiu consultar uma bruxa que todos diziam executar excelentes feitiços.
Quando Laura chegou à casa da curandeira, no meio da floresta, a vidente deu poções e fez uma espécie de magia. Mas explicou à paciente:
- Você terá uma filha do jeito que você deseja. Porém ela não deverá ver e nem tocar em homem nenhum, durante sua vida. Pois se isto acontecer, ela morrerá.
Após isto, Laura engravidou e teve um bebê do gênero feminino. Porém ela morreu no parto. Deste jeito Raul contratou uma babá e fez um quarto especial, na parte de cima da casa, só para a criança. Raul batizou a pequena de Karen.
Quando a menina fez cinco anos de idade, seu pai contratou uma professora de conhecimentos gerais e outra de balé. Porém não deixava que a garota saísse de casa e nem aparecesse na sacada. Raul sempre mentia às professoras que sua filha possuía uma doença rara que impedia a pobre de sair da residência.
Quando Karen completou quinze anos, ela passou a treinar balé na sacada da escada, às escondidas, do seu pai, sempre à noite.
Numa madrugada, ela escutou um som de bandolim que vinha da floresta, em frente a sua casa, e começou a dançar no ritmo. O músico ao ver a dançarina se apaixonou por ela. Porém, por timidez, continuou tocando atrás das árvores.
Uma vez, Raul viu sua filha dançando na sacada. Por isto, foi até o local e ralhou:
- Você não pode fazer isto!
- Pois é perigoso!
- Como eu já comentei diversas vezes, você tem uma doença rara e não pode se expor assim!
A garota explicou:
- Mas, pai, eu preciso tomar um pouco de ar fresco.
O homem, mostrando uma máscara de vedar olhos, explicou:
- Quando precisar de uma brisa, coloque esta máscara escura em seus olhos.
A partir daquele momento, Karen passou a dançar com aquela venda no seu rosto.
Numa noite, o músico dos bandolins tocou seu instrumento como sempre. Porém resolveu se aproximar da sacada e confessou:
- Eu sou o instrumentista que toca o bandolim. Por causa da timidez, só tive coragem de aparecer agora.
- Por que você está usando esta máscara nos seus olhos?
A jovem explicou:
- Eu sempre quis conhecer você!
- Pois, amo dançar ao som deste instrumento.
- Não posso tirar a máscara por causa da minha saúde.
O músico implorou:
- Por favor, tire a venda porque estou apaixonado por você!
A garota obedeceu ao amado.
Porém, no momento em que tirou a venda, ela transformou-se em uma estátua de marfim e a alma do instrumentista entrou no bandolim, que depois foi enterrado na floresta pelo pai da dançarina.
Reza a lenda que quando alguém encontrar este bandolim e toca-lo, a bailarina de marfim voltará a ser de carne e osso.
- A Lenda da Bailarina da Música, Bandolins, do Oswaldo Montenegro:
Bandolins é o nome de uma música composta por Oswaldo Montenegro e Zé Alexandre em 1979, que fala de um amor proibido. Esta canção ganhou o terceiro lugar em um festival de música.
Reza a lenda que a música foi feita para a cunhada de Zé Alexandre, que na época, era uma bailarina adolescente que gostava de escutar canções com bandolins. Esta garota namorava um bailarino. Mas ele ganhou uma bolsa de estudos na França. Como a dançarina era menor de idade e seus pais não apoiavam o namoro, ela foi proibida de viajar com o amado. Por isto, a garota caiu em depressão e o compositor resolveu retrata-la dançando sozinha na música.

VIII

Mulher é Presa Por Assédio ao Enviar Poemas e Flores para Homem Solteiro

Infelizmente o título acima não é uma fake news. Pois aconteceu em 2015, fora os outros casos semelhantes que ocorreram, mas não foram detalhados na mídia.
A prisão desta moça mostra que nossa sociedade está com os valores trocados. Enquanto pessoas que se agridem nas redes sociais e até mesmo nas ruas são vistas como defensoras de opiniões, mulheres que escrevem poemas de amor e mandam flores são presas. Além disto, a moça, da notícia foi xingada por seu pretendente de: oferecida e vulgar. Neste caso entra o machismo, que não admite que mulheres tomem iniciativa para arrumar um relacionamento amoroso. O pior é que no amor a mulher sempre acaba perdendo. Pois se ela se apaixonar, fizer a declaração de amor e o cara não sentir o tão famoso tesão, ela é rejeitada.
Uma vez tentei presentear um amigo com flores e poemas. Fui à floricultura, com o poema dentro do envelope e dei o endereço ao motoboy. Mas segundo o motoqueiro, o meu colega falou:
- Não receberei flores!
- Isto é coisa de veado!
Assim as flores e os poemas foram devolvidos.
Hoje tenho até vontade de mandar flores e poemas para meu amor platônico que tenho desde 2002. Porém possuo medo de ser processada e presa. Pois o amor ofende mais do que ódio nesta sociedade doente.

IX

Nunca Abandone um Animal de Estimação, Principalmente, Perto do Seu Filho, Pois Ele Poderá Abandonar o Seu Neto no Futuro

A história que contarei abaixo não é uma lenda e, sim, infelizmente um fato verídico.
Todos sabem que abandonar animais de estimação, em vias públicas, na frente dos próprios filhos pequenos além de um ato cruel, que não merece perdão, é um tremendo mau exemplo.
Meu falecido avô foi um policial e conheceu vários tipos de pessoas. Um certo dia, ele se deparou com uma mulher que abandonou o filho recém-nascido numa lixeira, amarrado num saco plástico, e que por isto o bebê acabou falecendo.  Então ele perguntou-lhe, de maneira informal:
- Eu não julgarei você por ter abandonado seu filho. Talvez você não tivesse condições de cria-lo. Neste caso, não cabe o meu julgamento aqui.
- Mas por que deixou a criança numa lixeira, amarrada dentro de um saco plástico, em uma praça deserta numa noite de inverno?
- Por que você fez isto, justamente, com um ser indefeso?
- Se não queria o bebê, por que não doou a criança?
A moça respondeu:
- Quando eu era criança, pedi um filhote de cachorro para meus pais. Então eles foram até a uma loja e compraram o bichinho. Só que ele começou a espalhar as necessidades pelo chão e a fazer travessuras. Deste jeito meus familiares colocaram o cão num saco plástico. Depois fomos até uma praça pública e meus pais enfiaram o cachorro dentro de uma lixeira. Deve ser por isto que acho que deixar uma criatura nestas condições seja normal. Talvez isto tenha influenciado no fato de eu abandonar meu bebê nestas condições...
Moral da história: Os pais devem ser exemplos para os filhos. Neste caso eles deram um péssimo exemplo que influenciou na morte de uma outra criatura inocente.
Nunca abandonem animais de estimação em vias públicas e não deem maus exemplos para as crianças.

X

Vesteterapia
A vesteterapia é a terapia feita através das roupas. Esta técnica surgiu entre os povos antigos há três mil anos antes de Cristo. Este método se perdeu com o tempo. Mas arqueólogos, historiadores e terapeutas holísticos estão resgatando estes costumes em pleno século vinte e um.
As roupas e suas estampas tem o poder de influenciar o humor das pessoas através de seus moldes, cores e mensagens subliminares. Exemplos:
- Uma calça com uma estampa colorida, estilo as obras do artista plástico Romero Britto, tem o poder de expulsar a depressão e animar o ser humano nem que seja por algumas horas.
- Quando uma pessoa está se sentindo cansada e com um peso em seus ombros, é recomendável que ela use uma blusa com o decote canoa, que deixa os ombros livres. Pois esta peça deixa que a energia acumulada nos ombros fique livre para voar nem que seja por pouco tempo. Inclusive o poeta Carlos Drummond de Andrade tem um poema chamado Os Ombros Suportam o Mundo, que dá um toque sobre isto.
- Se alguém deseja praticar um esporte num dia de calor, é recomendável uma blusa regata porque ela deixa o braço, o antebraço e as mãos livres. Esta peça carrega a seguinte mensagem:
“Estou com os braços livres para lutar no esporte, porém meus braços e mãos também estão livres para cumprimentar e abraçar os adversários.“
- Quando uma mulher deseja se reconectar com suas antepassadas é bom que ela vista uma saia comprida até os pés, ou, tornozelos. Pois esta peça liga a moça com as energias da terra e de quem já passou por aqui.
Estes apenas são alguns exemplos de como as roupas podem influenciar no comportamento do ser humano.
A partir de hoje, estarei na minha página, chamada Lendas e Poesias da Tia Lu, comentando detalhadamente sobre diversas roupas e o poder da Vesteterapia.
Inclusive, se você deseja saber o segredo de alguma roupa, deixe sua pergunta na parte dos comentários que farei de tudo para responder-lhe.


LUCIANA DO ROCIO MALLON - Luciana do Rocio Mallon é formada em Letras pela UFPR, Magistério pelo Colégio São José e Hospitalidade pelo CEP. Ela escreveu o livro Lendas Curitibanas, participou de diversas antologias, ganhou vários concursos literários, escreveu para diversas mídias, participou do Conselho de Leitores da Gazeta do Povo em 2009, trabalhou durante anos no comércio de Curitiba e realiza repentes em eventos. Atualmente é focalizadora do curso de Danças das Divas de Cinema e Novelas sempre realçando a ligação entre Dança e Poesia. Veja mais aqui.