A
AVALISTA LOUCA
Como fosse
Seu braço
Uma prisão
Meus
cabelos....
Em meio ao
feixe de luz
Cairiam
Sem sentido
Sumiriam feito
pó
Em meio à
decência
Ao som
clássico
Do correto
estipulado
Fatigada de
desejos
Morreria com
sede
Da vontade
absoluta
Do saber
eterno
Cravado na
bíblia
Dentro dos
túmulos
Erguidos por
ambições
E feitios
esnobes
Aprenderia
tudo
E seria insuficiente
As manhãs
pacientes
O café
O pôr do sol
O meio gelado
Varrido por
vento e dor
O pavilhão
interno
De um coração trincado
e vivo
O choro
escorrido seco
A vergonha
engasgada
A distância
Que nada conta
O quanto vale
Um corpo que
reza
Que dança ao
próprio som
Vendo o tempo
E os milagres
De um deus que
está no céu
GRACIOSA
Se queres
saber de mim
Bate fundo no
eco do trem
Escala como
animal
O córrego
Gotejando em
flor
Na língua do
adeus
Vele pelo som
Surfando em compassos
No abismo de
outra estação
Se apenas fores
sofrer
Amarra firme o
sentido
Esquece as
metáforas
E escapa
discreto
ATLÂNTIDA
Afrodite no
meio da lua
Guerreira
Cavalgando
como amazona no meio da floresta
Cigana lendo a
sorte em algum deserto qualquer
Ninfa de
Shakespeare sem as mãos e sem a língua
Colhendo os
frutos da própria liberdade
De carne e
osso
Negra
incorporando o fogo de um espírito perdido
Uma bruxa no
lodo
Tentando tirar
proveito de um momento ruim
Magia de um pôr-do-sol
Sedução
temperada
Todos os sons
Todas as cores
Acordes e
oitavas
Flutuando no
espaço
Em uma insônia
constante
O feminino
incandescente
Um curso
infinito
Um rio
Vários
meandros
Vários
momentos
Uma
necessidade à toa de voltar
Cantar um coro
crescente com o céu
Os sons da
noite
Que acalantam
os sonhos
Os desejos
ardentes de ser feliz
E voar
Mudar o rumo
O eixo
determinado
A dose certa
de uma maçã
O obstáculo de
um pégaso
Em velocidade
e luz
Quebrando a
lei física
De uma cadeia
invisível
Entre o Céu e
a Terra
A delícia de
ser o que quer
E apodrecer em
paz
EM
BUSCA DO ORIENTE
Corre o vento
No horizonte
pacífico
Chama para o
encontro
No misto azul
Deriva em ondas
Que confeitam
o sul
E findam com
dor
KAIRÓS
Rio de
meandros
Rio do equilíbrio
Da sabedoria
Daquilo que
envolve o cosmo
Que respeita a
dança
Que envolve e
resolve o corpo
Biológico
Mental
O masculino e
o feminino
A essência individual
Rio de
meandros
Processo que
deságua
A consciência
de ser de cada extremidade
A base pedra
Formando o
lodo
Para atingir
um terreno palpável
Biodiverso
Rio do
processo que deságua na produção da alma
E em si
MEDITANDO
COM OS ANJOS
Vamos pular
por cima das frases
Dos versos
livres empolgados
Sobre o mar
envolto de espumas
E descansar,
desfazendo as fases
Um arranha-céu
escondido
Das luzes
rodoviárias
Os viveiros
concretos
Recheados de
sensações confusas
Prédios desabados
No cárcere dos
corações
Em relevo
gasto
Um gesto
obsceno
Estimula as
lágrimas
De quem sente
o abalo
No vai-e-vem
da buzina
O automático
despertador
Cortando o dia
no enlatado
Cerrado e mal
aberto
Confundindo o
sono com a sina
Imagine se o
salto
Soltasse o
fogo
À queima-roupa
Todas as
máscaras
E armaduras
indiferentes
E se não
passasse mais despercebido
O brilho dos
esconderijos próprios
Um poema
soando ao léu
Uma gota
d’água subindo com o vento
O arco-íris
abrindo o céu
Se não fossem
os foras
Seria a hora
Um pé na bunda
Do dito
popular
Se não bastasse
a madrugada exagerada
O batuque
desesperado dos corações
Os dias frios
e mesquinhos
Recheando os
lírios do campo
Os carrosséis
de girassóis ao pôr-do-sol
As opções
desencadeadas
Dirigindo a
vida para lá e para cá
O balanço da
madeira
Temperando o
retorno
Com uma corda
esgarçada
LA
FONTAINE À DORÉ
Olhar do lobo
Propaga a cena
Gerada na
curva
Redemoinho
Cobrindo com
frevo
Pequeno ninho
Poluindo
pintura
Breu do asfalto
Chamuscado de
ira
Temor da
demora
Olor de amora
No caminho de
outrora
Que incita
leveza
Clarão do momento
Apagado pelo
descontento
Fala tardia
Interrompida
por nó de pinho
Madeira de lei
Que serve de
berço
Lobo rei
MUTE
Enquanto o sono
principia
Os sonhos
sambam no acalanto
Vigoram as
delícias
E acalmam o
espírito
Balbucia a
noite
No relento
escuro
O sol se
esconde
Enquanto o
sono principia
Por detrás de
uma cortina
Voando ao léu
Entre uma
revoada de pássaros
Os sonhos
sambam no acalanto
E mais que
discreto
No escuro
perpétuo
Rodam os anjos
E vigoram as
delícias
A maravilhosa
conquista
Do eterno
prazer
Que vai de
leve
Passeando nas
nuvens
Que margeiam
os limites
E acalmam o
espírito
VIDE
O VERSO
Não se assuste
com a fotografia
Revela o mais
Que não avança
para fora
E só
O belo do
externo
Revestido de
sentimento momentâneo
Até
persistente
Periódico no
mínimo
Sanado com
parcelas temporárias de humor
Permanentes
nas polaridades
O custo: é a
produtividade
Em função da
variabilidade
Constituindo a
curva biológica
Não diferente
da vegetativa
Por isso
Não pense um
pouco
Antes de não
fazer nada
O contrário
revela a semelhança
Do antagônico
estado em que estamos
Na correria de
ano p’ra ano
Para um fértil
final húmico.
CALDO
INTEGRAL
Se faz questão
de minha submissão
Assuma tua
condição
Mas me deixe
leve
No deleite de
seu supra-sumo
Sugar o ventre
de tua boca
Não me incomodo
Basta o
incômodo
Para estar
alheia
Garantia de
venda
E falsa estima
Da regressão
pouca
Imposta ao meu
fraco sentido
Linearizada
com a tua condição
Agora feche a
porta
E descanse ao
som de teu ego
JOEMA CARVALHO –
Poemas selecionados
da obra Luas & Hormônios (SEC-PR,
2010), da poeta, engenheira florestal, pesquisadora e consultora ambiental Joema Carvalho. A autora possui
doutoramento em conservação da natureza, graduada em Engenharia Florestal
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde também obteve o título de
mestre. Tem poemas publicados na antologia Nogueira – Conexão IV – Feira do
Poeta (Nogue, 2018), na Agenda Arte 2000, 2012, 2013 e no Jornal Folha de São Paulo
1983 e 1985. Participou de diversos eventos culturais e artísticos, entre eles Um
Poema em Cada Árvore no Passeio Público em 2017, Chuva Poética em 2017 e 2018
(Aliança Francesa, Gelateria, A Fábrika e Shopping Jardim das Américas), Semana
Internacional da Mulher, 2011 em Cambé - PR, Feira de Livro, 2010 em Araucária –
PR e concedeu entrevista para o Jornal Retrato nº 79 Ano 7 e no Face a Face. Veja mais aqui.