MEU ORGULHO
Alimentei em
mim uma paixão: orgulho.
Vivi sonhando a
zombar de tudo quanto
Era sublime.
Jogando ao pedregulho
O Bem, e
transformando o diabo em santo.
Quis demais.
Vaguei... toquei o infinito.
Revolvi as
trevas, transpus o pensamento
E junto ao Deus
desabrochou meu peito num grito
De amor que
hoje transborda sofrimento.
Que diabo!
Inferno vivo a recompensa
Do mal que fiz
a mim, a ti, a todo mundo.
Fui mau, sou
mau, desafiei a Deus a crença.
Entre os
imundos fui e sou o mais imundo.
O descarado
vilão mais presunçoso.
O perigoso e
puro suco da ofensa.
POEMA
Se um dia eu
tivesse que morrer
Queria morrer
assim
Afogado numa
taça de bebida
Tão gelada que
pelo sabor
Repetidamente
experimentado
Tivesse sabor
diferente
E parecesse
quente tão quente
Quanto o beijo
da mulher amada
Que jamais
beijei...
E nunca
experimentei
Um sabor igual.
Ah!...
Se todo o mal
que dilacera o peito
Tivesse o
perfeito e cabal sabor
Da Antarctica
gelada
Ou a dose
alcoolizada do rum
O sabor da
aguardente
Que mata a gente
Sem querer
matar
Para no
esbaldar da vida
Da orgia,
tranquilo partir um dia
Satisfeito por
ter alcançado a graça
De morrer
mergulhado numa taça
E perecer
totalmente embriagado.
MÃE
Mãe, te deram
um dia
Em recompensa
dos dias que consumimos
De tua existência
E pela tua
bondade
Aceitaste tão
pouco
Um dia igual
aos outros
Com um sol
igual e até sem sol.
Com um céu que
nos outros dias
Aparecia mais
azul
E nem estrelas
Na noite do teu
dia poderias vê-las.
Mãe, aceitaste
um presente
Que
simplesmente
É tão pequeno e
logo se dissolve.
Um dia que
morre que também se vai
Como outros
dias.
Merecias, Mãe,
por teu mister soberano
Mais que um dia
E eu te daria
Se poder
tivesse
Uma melhor
prece
E em poesia
Te daria, Mãe,
UM ANO.
POEMA
Os dias passam
alternadamente
Num vai e vem
demente
De dias e
noites...
Noites escuras,
noites bonitas
Com infinitas
estrelas
E a protegê-las
nuvens claras
Belas e raras
em seus coloridos
Tocando os
sentidos do poeta vagabundo
Que em seu
mundo
Esqueceu os
dias.
Os dias de sol
Os que sol não
tem
E no vai e vem
Dos pares de
opostos
Os dias mortos
retornam à vida
Já decidida:
Um claro, um
escuro
Um frio, outro
quente
Levando a gente
Pela nau da
sorte
Apressadamente
Pra perto da
morte.
A ESCOLA
Ontem
Na minha
pequena infância
Sem fragrância
Eu já sentia
O problema da
escola.
Que escola...
Que rudeza da
professora loura
Que chegara no
engenho
Pelo empenho do
dono do sítio
Onde eu morava.
Como gritava...
E a travessura
do colega
A brincar de
pega com as alunas
Que descobriram
E sentiram o
doce enleio do amor.
Vamos brincar,
convidavam, no recreio
E sem receio
meu colega
Como cabra cega
Aproveitava tudo.
Sempre mudo,
nada falava
Mas desbravava
sob delírios
Os íntimos retiros
Do corpo da
colega que pegava.
Só esquentava
Quando sabedora
A professora
loura
Ao dar-lhe o
castigo
Levando-o
consigo
Pra outra sala
E bem
autoritária
Extraordinária criatura
Com secura
Em voz de mando
militar
A gritar
ordenava
E meu amigo
apalpava
Os mesmos
lugares que alcançava
No pega-pega
das colegas
Que pegava como
cabra-cega.
Hoje: espere
amigo
Cantarei num
poema divertido
Que escreverei
sem maldade
O que vejo o
que sinto
No recinto da
faculdade.
FACULDADE
Na vida do
estudante
Que luta para
aprender
Há cada coisa
aberrante
Que faz o pobre
gemer.
Começa na
correria
Do trabalho
para escola
Leva aperto
todo dia
Leva chute que
nem bola.
Na hora da
assinatura
O sofrer
aumenta mais
Uns pela frente
lhe esmurra
Outros lhe
catucam atrás.
Paga caro o seu
estudo
Mas o seu
direito é branco
Até o níquel polpudo
Ele vai levar
no banco.
Se chega na
secretaria
E pede
informação
Lá espera meio
dia
E sempre a resposta
é não.
Tudo isso é
quase nada
Este sofrer é
ameno
Pois tem uma
xaropada
Que é pior do
que veneno.
E quem dela
experimenta
Come do que o
diabo não quer
Arde mais do
que pimenta
Amarga mais do
que fel.
Pois o xarope
danado
Que é dado a
qualquer aluno
É quando está
condenado
A falar com o
seu Bruno.
POEMA CHEIROSO
Lá na Rua
Maurity
Na cidade dos
Palmares
Merda voa pelos
ares
É cocô pra
entupir.
Ainda ontem eu
vi
Um pacote bem
raçudo
Voando melando
tudo
A todo mundo
melando.
Eu perguntei a
Orlando
Se ele avaliava
O peso que a
merda dava.
Ele não soube
pesar
O quanto pode
pegar
A sua esposa
Lindalva.
O FEIO
Eu sou tão feio
Tão feio
Que procuro
mulheres feias
E elas têm medo
de mim
E assim
Num bar
qualquer
Procurar ver as
mesas alheias
Cheias de
mulheres feias
Tão feias que
pergunto a mim:
Como se aguenta
Tantas mulheres
feias
Como sereias
Perto da gente?
MEU ANIVERSÁRIO
42... número
que
Para a loteria
Representaria
Um primo bem
próximo de mim.
É assim que
vejo
No meu desejo
No que faço
No desprezo
No abraço
E até no beijo.
No tempo
perdido
Já passado
E no futuro
inseguro
Que será também
esquecido
E destruído.
É que tudo isso
representa
Incompetência
E em consequência
Nada mais
resta.
Termina a festa
Em sussurro
Sempre afirmando
E martelando
O que já sei.
Que sempre fui
E serei
Um BURRO.
PARA VOCÊ
Luiz Alberto
Nito
Ou Nito de
Rubinho
Eu te agradeço
Não pelos
livros que escreveste
Ou pelos
sentimentos que pretendeste
Expressar em
poemas ou versos.
Mas...
Pelos dispersos
pensamentos
Que encarnaste
E demonstraste
possui-los
Através dos
tempos e contratempos.
Não pelo como
“Viver o
personagem do homem”
Nem mesmo pela
“Intromissão do
verbo”
Mas...
Pela palavra
Pela expressão
Que concebeste
E entendeste
Que:
“o fato era o
feto
O nada tudo”
E o meu mundo
de alucinado
E de esperança
Traduz só para
mim
O feto era um
fato
Um facho de
luz.
Eu te agradeço.
Agradeço pela
vitalidade encontrada
Em “Minha voz”
Que não há de
calar
E que “é a
sujeição de um eterno pavio
Que aceso não
apagará”
E me levará
A vida com “três
amigos,
Três vidas, três...”
“pêndulos
tríduos que justificam viver”
E me faz crer
na evolução
E acho que
revifico em cada abraço
Desse escancarado
coração.
Não
Não devemos
esquecer
“e todos
esquecem de ser humanos
Para ser mais
uma vez
Escravos de um
só dilema inconsciente”.
Não, não mente
Porque “tudo o
que fiz
Os homens
fizeram e farão”
E seguirão a
mesma estrada
Pois a estrada
não se restringe
Ao simples
passeio de brincadeiras
Mas ao estabelecer
da engrenagem
Natural da própria
existência
Que só
descobrimos
(por sorte)
Após a grande
iniciação: Morte
E estaremos
unificados.
Nito: obrigado.
Obrigado porque
neste dia
Com alegria
estarei em mim, em ti...
Nós somos um...
Um todo comum
E teus
sentimentos são meus
Na mais alta
afirmação
No sentido mais
amplo e forte
Da unificação:
DEUS!
Nito, eu te
agradeço
Agradeço poque:
Tu encarnas meu
lar
Minha única
razão de EXISTIR.
À MINHA LOJA
Período longo
Absurdo
Tão triste,
sisudo
Que me faz
chorar...
Afastado de teu
convívio
Senti as
amarguras da solidão
E em vão
combati meu afastamento
Sentindo o
desmoronamento
De minha
ilusão,
Experimentando
a cada passo
O compasso que
se agitava
E que caminhava
paralelamente
Ao meu desejo,
Do desprezo que
me martirizava.
Perguntei a mim
Que mal teria
feito
Para ser
tratado desse jeito?
Em resposta me
veio
Com
simplicidade
A temeridade
Que causei a
tantos.
E em prantos
Senti que era
um pústula
Uma fera
repugnável,
Um lamentável
ser
Que veio ao
mundo
Cumprindo a
sina da desassociação
Das coisas
belas e boas
Se as pessoas
Os meus pares,
os meus irmãos
Guardavam
contra mim
Em seus
corações
Mágoas profanas
Teria eu a
culpa dupla
Da não
reconciliação.
Faltava-me a
capacidade
Ombridade,
valor
Faltava-me tudo
e sobretudo
Faltava-me
amor...
E no calor das
divagações
Explosões
dentro de mim
E a sorrir se
fizeram ouvir
Reclamei a
recuperação
A restauração
da minha atividade
E da vaidade
que me tomava
Que emaranhava
minha aptidão
Rasguei a capa
A farda...
E sempre em
guarda
Desmascarei-me
E entreguei-me
à realidade
Levantei-me e
mais uma vez sorri...
Consegui em
abraço triplicado
Saudar o mundo
Gritei aos
ares, ao campo, a terra, as flores...
Que as dores
As mutilações
Eram
necessárias
Tão necessárias
Quanto os
afagos
Os carinhos, os
beijos,
O próprio
abraço.
Resignei-me
sentindo com ardor
Que tudo me
faltava
Mas ainda
restava
No meu peito
No meu interior
Coisa melhor
que aninhava
Em seu ser
Tudo que sentia
E que me dizia:
O mal não existe.
Tudo é beleza
Que não há
tristeza
Que tudo é bom
Que me
regozijasse
E sempre
lembrasse
Que era UM
MAÇOM!
POEMA
Yoyo
Rosalvo
O Mug
O Chegadinho
Mata-sete
O Bosque
Ou a Sertaneja
Com certeza
É mais meu lar
Que meu próprio
lar
O Bar do Zeca
O Chora Chora
A qualquer hora
Me abraçam
O Pega Pega
O Riso da Noite
Que de pernoite
Não cerram as
suas portas
Nas horas
mortas
Dos meus
enleios
Me acolhe com
desvelos
E me envolvem
em seus seios.
Japaranduba
Petrobrás
Estelita
E outros mais
Disputam,
apostam e gostam
Das visitas que
faço
Com abraço,
alegria, risos
Tem recebido a
mim
Que por ruim
louco
Desnaturado
Sempre cansado
Não encontra a
moradia
O lar
Aquele recanto
Para descanso
Para repousar
E vou chorar?
Parto certinho
Em meu
tristonho
Medonho e
sinuoso caminho
Sempre sozinho
Taciturno
Obscuro
À procura
De um
acalentoso bar!
AMAR
Amar
Sempre foi o
meu brinquedo preferido
Sempre brinquei
de amar
E nunca amei
sinceramente
Presentemente
Sinto que amo
Que desejo
ardentemente
Um amor
definido
Inteiramente comprometido
E sem aquela
brincadeira
Que costumeira
e prazerosamente
Era o meu
passatempo preferido.
POEMA
É bem triste
assistir a transformação
A desnaturalização
Do que de mais
belo existe.
É triste o bem
desolador
A incompreensão
do amor.
A dor, a
decomposição
Do belo em feio
E o anseio
Da humanidade
sem freio
Se corrompem,
garantem a descomunal
Propriedade da
tristeza
Que com certeza
Se transformará
em mal.
Quão degradante
E infamante
É descer do
pedestal do cimo da construção
Divida num
prazer incontido
Desmedido de
equiparação
Da igualdade
com um ser inferior
Que se firmou
Por toda a vida
em dar guarida
Em venerar quem
sem prensar
Procura perder
o seu altar
Se lamentar
tivesse o poder de acordar
Quem assim
deseja
Quem a queda
almeja
Quem ajuda quer
Eu acordaria um
dia a mulher.
POEMA
É bem melhor
levar a vida assim
Sem olhar nem
mesmo auscultar o mal
Todo o mal que
se aninha
Dentro de
mim...
É bem melhor
sofrer conscientemente
Guardando no
interior do peito
Com muito jeito
E para sempre o
mal
Todo o mal que
faço
E que abraço
Dentro de mim
eternamente.
Reclamos,
aborrecimentos
Pelas
frustrações dos meus intentos?
Que nada...
Por nada luto
Lutar pra que?
Só para
conceber no meu interior
Que sou senhor
absoluto do meu ser?
E sofrer e
sentir dores
Os amargores
As decepções
dos novos mundos que surgirão
Pra implantar
no meu amar
No meu quere
bem
Todo o desdém
O desprazer das
desilusões?
Pra que chorar
amargamente o que fiz?
Ou lamentar o
que deixei de fazer
Sem entender o
mal ou o bem
Que retem os
meus passos?
Nada faço.
Não canto, não
choro.
E passo a vida
À procurar
guarida
A gargalhar
A me ufanar
De tudo quanto
Pra meu espanto
Para o meu
mundo
Me fez assim
Um vagabundo
que nada sente
E que mente só
por mentir
E a seguir a
caminhada
Na estrada da
vida
Tão fingida
Procura abrigo
Em ser quem sou
A pregar a
divulgar sem temor
Com toda força
e com prazer
A alegria
A euforia
Que sinto em
fazer AMOR.
POEMA
Os dias passam
E os amigos
consagram
No dia a dia
Que varia
Que se vão
A propensão da
amizade
Da ansiedade
Da vida
Que nos dá
guarida
Nos dá anseios
E no enleio
Do viver sereno
No mundo ameno
das ilusões
Os corações
palpitam
E gritam
pedindo Deus
Aos seus
arcanos
Todos os anjos
Rogai por nós,
guardai
Os sóis, as
noites
Os dias, a
existência
Guardai a vida
E com guarida
suprema
Dai alegria a
mim, a ti, a todos
Quantos te
rogam em prantos
Te pedem,
imploram
Ajudai,
amparai, guardai
Sobre o manto
de tua soberania
Da tua vigília
insana
A Silvana
Que hoje
aniversaria.
POEMA
O amor existe?
Existe amor de
verdade?
Ou o amor é só
mentira?
E aquele que
tem em mira
Que o amor
acontece
Definha,
entristece
Morre louco,
doido expira?
Por que?
Amar é tão
diferente
Do sofrimento
tenaz
Que o amor
sempre traz
Para o coração
da gente?
É ele
impertinente
O nosso
carrasco atroz
Que não ouve
nossa voz
Sempre pedindo
clemência?
É ele uma
doença que mata devagarinho
Que fura bem de
mansinho
O corpo todo da
gente?
Ou mente quem
assim está agindo
Não nos ama
está fingindo
Quem faz a
gente sofrer?
Por que?
Quando se ama
maltrata
Esse maltratar
retrata a essência
Do bem querer?
Você amando
nunca feriu?
Nunca no peito
sentiu
Vontade de maltratar?
Entende que é
salutar
Que faz parte
do amor
Esse sofrer,
essa dor
Que nasce do
querer bem?
Você acha que o
amor tem direito
De massacrar
O dever de
espezinhar
Nosso corpo,
nosso ser?
A meu ver
No meu entender
mesquinho
Todo esse
almontoinho
De pergunta e
de porque
Tem tudo para
você
E é igual para
mim
Pois se amar é
ruim
É sofrer, é
definhar
Prefiro
sacrificar minha vida
O meu todo
Perco tudo
nesse jogo
E vou morrer
apostando
Seja mentira ou
verdade
Eu quero morrer
amando.
POEMA
E o homem
Que queria um
dia melhor
Não conseguiu
equilibrar-se.
Tombou diante
da surpresa
Que na porta do
seu lar
A sua espera
Há várias horas
Implantara seu
quartel.
E coberta de
vaidade
Das surpresas
Pois todas elas
De vaidade
estão cobertas
Deu-lhe um
golpe fatal.
E o homem
Mortalmente
ferido
Pois o seu
corpo sangrava
E a sutil
cutilada
Dilacerara seu
peito.
Era forte.
Tão forte que a
ferocidade do ataque
Não conseguiu
detê-lo.
Arrasta-se
sobre o solo
Não importando
a chaga aberta
Pelo primeiro
contato
Com a terra.
E levanta,
cambaleia...
Ergue a fronte
E olha para os
céus
Como se
implorasse a Deus alento
E num momento
Cerra os
pulsos.
A passos largos
Começa nova
caminhada
Deixando para
trás
A desdita
Que lhe batera
a porta.
GRITO
LIBERTÁRIO
Cresci um dia
Em minha
alucinação
E escondendo o
medo que tinha
Da minha
própria ilusão
Sem asas para
cortar
E desbravar os
horizontes
Da minha rudez
Procurei voar
bem alto;
Queria em sonho
louco
Deixar o
asfalto
Transpor os
muros
Da minha
timidez
Para talvez
Nos degraus da
fama
Da opulência
Sentir a
essência
Daquela fama
Que normalmente
está envolvida
E sempre
imbuída
Em drama.
Quis num
arroubo de loucura
Ganhar a
magistratura
Um refúgio para
minha iniquidade
E esquecer a
simplicidade
Que sempre me
envolveu
E precedeu
minha natalidade.
Quis crescer,
voar, estar no cimo,
No cume, no
ápice da sociedade
Esquecendo em
tudo o mundo mudo
Que me
desenvolveu
Para todo o
sempre
E que me
extraiu de um ventre
Também humilde
e pobre.
Quis, crescer
um dia
Em minha
alucinação
Por
determinação, talvez
De um superior
Que me criou e
quis
Me dar essa
provação.
Pensei
alucinadamente
O berço que me
embalou
Desde a minha
pequena infância
E me revesti de
ganância
Que envolve
muita gente
E que nos faz
esquecer
O que realmente
podemos valer.
E procurando
esconder meus defeitos
Até pensei ser
perfeito e servir
Como
julgador...
Verdadeiro
horror!
Ri.
Ri de mim mesmo
E nem preciso
foi
Medir
capacidade
Simplesmente me
disseram
Acertadamente:
não.
Numa decisão
que confesso
E reconheço
No afã de minha
aspiração
Uma ilusão
Que me fazia um
vesano
Um insano, um
louco,
Um mentecapto,
um demente
Que não sente
E não entende
Os seus
próprios atos.
Que loucura,
meu desejo!
Pensei que
podia
Em futuro dia
Distribuir
justiça
E me lembrei
Que estudei em
tempos idos
“o dar a César
o que a César pertence”
Pura encenação
E Deus que pelo
saber eterno
Não erra,
iluminou meus julgadores
Que,
devidamente iluminados
Em votos
acertados
Voltaram-se à
minha pequena infância
E recolheram-me
A minha
insignificância.
POEMA
Sonhei.
Mais um sonho
floresceu
Em minha vida
Com uma certeza
desmedida
Que me deixou
tristonho.
Sonhei!
E sonhei amando
Te vi em meus
braços
Em abraços
Confesso
Nunca pensei
Que em sonho
A felicidade
encontrasse
Quando não a
encontro
Na realidade.
Despeitei!
Senti que sonho
Estava
E no auge da
minha ilusão
Ainda procurei
Em vão o teu
abraço.
Que fracasso!
Não mais
existias
Fugias
Aos meus olhos
ainda vidrados
Procurando a
todo custo
O teu sublime
Contato e mais
um abraço.
Pouco a pouco
A alucinação
crescia
E crescia também
a desilusão
Para no afã da
alegria
Que desfrutava
Inconscientemente
Viver a
realidade
Eternamente.
SONETO
Tantos dias
passados, tantos anos.
Sei lá
quando... os dias já passaram.
Fiz tanto mal,
dia a dia causei danos
E meus dias,
outros trucidaram.
E este mal que
ainda me acompanha
Me enoja.
Deturpa minha vida.
Fui mau, sou
mau, o mal em mim se entranha
Tenho
existência d’alma pervertida.
Vede meus
olhos: outros se comparam?
Vede meus
lábios: por mim escancarados?
Vede estas mãos
que outras mãos esbarram.
Não são olhos
nem lábios, só amarras
De coração e
mente endiabrados
Que fizeram-me
das mãos temíveis garras.
POEMA
Não.
Não admiro a
vida
Nem sequer
Dentro de mim
Tenho admiração
A esse caminhar
capenga
E sem mister.
Não.
Não ouso amar
Infortúnios
Que não somente
a mim
Como a ti
Procuram
corroer.
Não.
Não posso
escrever
Uma homenagem
sincera
Verdadeira
A uma
brincadeira
Desnaturada
Que desprezo
E lhe nego
Com alegria
Com euforia
Uma só palavra
Um verso de
louvor.
Não.
Não lhe tenho
amor
Muito embora
Em boa hora
Não lhe faça
guerra.
O que a vida
encerra?
Nada...
Está retratada
Num desejo
forte
Ardente que
somente
A tudo consome.
Não.
Não admiro a
vida
Por tantos
abraçada
Endeusada
Defendida.
Não.
Não posso
admirá-la
Sentindo n’alma
Que sobre a
terra
Só faço esperar
O que ela, a
vida,
Não me dá.
Não somente a
mim como a ti
Porque nem ela
Nem o mundo
Vagabundo
Nada tem
E não convém
aceitar
As ofertas vãs
Que são
apenasmente
E simplesmente
Ilusões.
Não.
Não.
Não amo a vida,
Repito.
Sinto a terra,
O mar, o céu,
as estrelas,
E estremeço ao
vê-las.
Vejo os campos,
as árvores,
As flores, a
natureza enfim
E nasce em mim
Em meu peito
Um grito de
pavor
Pela mudez de
tudo
Pela frieza
E rudeza do
próprio mundo.
Eu vejo assim
O mundo rodar
Em torno de
mim.
Sonho...
Belos sonhos
Que vão se
transformando
Sem cessar
Do belo do bem
De tudo que amo
Que aspiro
Que desejo
amar...
E
Eu mesmo sugiro
Não mais
sonhar.
E no processo
regular
Da
transformação
O meu mundo de
ilusão
O meu eterno
sonhar
Abarrota-me de
tédio
E quase ébrio
Cambaleando
Sinto a
metamorfose
Do meu sonho
Que pelo
desgaste
Pela ação
externa
Que vem não sei
de onde
Não mais sonho
É um pesadelo
Que me mata
Maltrata
Me transforma
também
E vou
despertando
No vai e vem
Da emaranhada
vida
Vida de tudo
Vida de maldade
Sentindo-me sem
guarida
Sem um amparo
qualquer...
E
Sem mister
Sem objetar
Sou forçado a
despertar
Na REALIDADE.
POSFÁCIO DE UMA
VIDA
Os meus pés
Como um
alicerce
De uma
construção
Mal edificada
E fadada
A uma
destruição
Sentem
Inevitável
De um verdadeiro
cataclista
A exemplo de
uma cisma
Sem firmeza
Não encontram
apoio
E se fincam
Terra adentro
Como se o
centro
Desta mesma
terra
Convocando-os
Compulsoriamente
Ansiosamente
Os espera.
As minhas
pernas
Fatigadas pelos
anos
Trêmulas e
inseguras
Não mais
dominam
Esses pobres
pés
Que não sabem
Nem mais
espreitam
O solo que
pisam.
O meu tronco
Invólucro de um
intestino
Um estômago,
Fígado, rins,
tudo corroído...
Um peito
sofrido
Um coração
baqueado
Que em
badaladas
Trôpegas,
cansadas
Distribui
deficientemente
Um pouco de
vida ao todo,
Me dá nojo
Repulsa.
Um mísero
aparelho
Respiratório
Que em
irrisório movimento
Sustenta
E ostenta
Uma respiração
forçada
Que termina
Entreabrindo
De quando em
quando
Minhas narinas
Provocando
Um abominável
Um inaceitável
Ruído.
Meus braços,
Magros,
ossudos,
Sustando e
culminando
Em duas
horríveis mãos
Que mal apontam
Direções
opostas
Retratam
Espreitam
Denunciam
Uma caixa óssea
Que guarnece
Um cérebro, um
cerebelo
Um bulbo
Desmoronados
Fadados
À
irresponsabilidade.
Meus olhos
Que precisam
E reclamam
Lentes
corretoras...
Sem brilho, sem
luz,
Transformados
em fontes
Que fabricam
Freneticamente
E sem siso
Lágrimas
Denunciam,
anunciam
Um ser acabado.
Onde a pujança
A fortaleza
Da juventude
Desse conjunto
Debilitado?
Onde a
esperança
Da maturidade
Da acuidade
Da sabedoria
Que viria
Da experiência
Dos dias
vividos,
Coloridos e
recheado,
De alegrias,
venturas
Puras e
próprias,
Da curta
juventude
Experimentada
Hoje retratada
Em meras
decepções!
Onde as
aspirações
Os sonhos
Que pouco a
pouco
Se
transformaram
E edificaram
Nos dias
presentes
Amargamente
Pesadelos e
desilusões?
Onde a
propulsão da vida
Os arroubos
As
impertinências
A própria
crença de ser?
Onde as visões
O alargamento
dos sentimentos
O
aprimoramento,
A subida eterna
Consciente
Que experimente
E saboreie
A certeza do
dever cumprido?
Onde a
segurança
Maturidade
Que assegure e
sentencie
Um viver
vivendo?
Onde o desejo
de sobreviver
E ver
alegremente
Um rendimento
Mero resultado
Do esforço
desprendido
Pelos frutos plantados
Que,
simplesmente
Sem adeus, sem
acenos
Sem mais nem
menos
Escapam, fogem
Desaparecem
E esquecem o
passado?
Onde o amor
A compreensão
A humildade?
Onde o Deus
interior
Que deveria
existir
E assumir
Passo a passo
Uma posição
superior?
Onde a afetividade
Repito:
Onde o amor?
............................
E aqueles pés
Braços, mãos
Enfim
Este corpo
doente
Mutilado
Sem rota nem
leme
Sem fé e
descrente
Dos seus
próprios atos.
Suplica:
Deus, abrevia.
Leva-me por tua
bondade
E misericórdia
Para outra vida
Onde não exista
A possibilidade
Nem a
necessidade
De um lamento
Que, por
desabafo,
Louco,
desesperado
Faço
Em forma de
poema.
RUBEM DE LIMA MACHADO – Poemas extraídos
do livro Raízes & Frutos (Bagaço, 1995), do poeta, historiador e advogado Rubem de Lima Machado (1936-2019), que
foi incluído na antologia Poetas dos Palmares, organizada por Juareiz Correya,
em 1972, tendo publicado poemas no jornal Tribuna de Vassouras (RJ), entre
outras publicações. Veja mais aqui.