MAURÍCIO MELO JÚNIOR – O escritor, jornalista, crítico literário e
documentarista Maurício Melo Júnior,
é catendense que viveu muito anos em Palmares, cidades da região Mata Sul de
Pernambuco, radicado atualmente em Brasília. Ele é graduado em Comunicação
Social e pós-graduado em Ciência Política e Economia, tendo atuado em diversos veículos
jornalísticos como Correio Braziliense, Jornal do Brasil (RJ) e Zero Hora (RS).
Escreveu e publicou diversos livros infantojuvenis, além de uma novela e um
volume de crônicas. Tem contos publicados em diversas antologias, participado de diversos eventos literários em todo país e escreve resenhas para
o jornal Rascunho (Curitiba/PR) e crônicas semanais para o blog Jornal da Besta
Fubana (Recife/PE). Ele concedeu uma entrevista pra gente, confira.
TTTTT - Mauricinho, vamos pra pergunta de praxe do TTTTT: Como e quando
se deu seu encontro com a Literatura?
Foi na primeira infância, em Palmares. Não
sei precisar o momento exato, quando me dei conta já tinha me tornado um leitor
compulsivo. E lia tudo que me chegava: gibis, poesia, romances, tudo de
interessante que encontrava nas prateleiras da banca de revistas de seu Odilo e
na Biblioteca Fenelon Barreto, sob a tutela de dona Jessiva. Gostava de dizer
que comecei a ler por ser péssimo jogador de futebol. Enquanto os meninos da
rua iam jogar, eu ficava em casa lendo, mas parei com a brincadeira depois de
ler uma entrevista onde Umberto Eco dizia a mesma coisa.
TTTTT - Quais as referências, influências e indicações da infância e
adolescência que levaram você à definição profissional pela Literatura e
Jornalismo?
Acho que a principal referência a professora
Alzira Rocha Cavalcante, ainda no primário. Ela nos incentivava a fazer
dissertações, escrever sobre nossas férias, e eu gostava desse ensinamento
lúdico. Já aos 14 anos, 1976, li a novela Os Ambulantes de Deus, de Hermilo
Borba Filho, e vi que a literatura estava em meu quintal. Isso também foi
decisivo para enveredar pela literatura e o jornalismo.
TTTTT - Você começa sua carreira literária, salvo engano, ainda jovem em
Palmares, com o livro Hóspedes de Antanho, tendo já publicado vários títulos e
reedições ao longo das últimas décadas. Qual avaliação você faz dessa sua
trajetória?
Hóspedes, de 1986, foi uma publicação
apressada que considero mais um rascunho que uma obra propriamente dita. Um
ensaio, um treino. O jogo de encarar a literatura com seriedade só a partir de
A Revolta do Cascudo, de 1992. E enfrentar o texto com seriedade e autocrítica
é fundamental. O segundo romance que escrevi, com o nome de Medo, em 1988,
muito me desagradou. Deixei na gaveta por vinte anos. Quando o retomei, o
reescrevi dezessete vezes e foi publicado em 2017 com o nome de Noites
Simultâneas. Tenho vinte e cinco livros publicados. Creio que tem sido uma boa
trajetória.
TTTTT - Pernambucano da Mata Sul, como é que você vê o desenvolvimento
literário na Região?
Não tenho acompanhado de perto a literatura
da Zona da Mata, lamentavelmente. Sei que existem bons poetas por aí, mas,
infelizmente, não tem recebido notícias constantes.
TTTTT - Como você desenvolve o seu processo de criação e escrita?
É a ordenação do caos. Preciso da história
contada, então a escrevo do início ao fim. Depois vou reescrevendo. Com
anotações feitas com canetas de cores diferentes, faço quatro leituras de cada
versão. Nisso vou verificando dados, acrescentando pesquisas, lapidando as
frases. Um trabalho criativo instigante e demorado. O romance que lançarei no
primeiro semestre de 2020, pela Cepe, Não me Empurre para os Perdidos, mereceu
quatorze versões.
TTTTT - Desde 2001 você realiza pela TV Senado o programa Leituras. Fala
pra gente as experiências dessa realização já com quase 20 anos de estrada.
Sinto-me privilegiado em trabalhar com o que
gosto, literatura. O programa é uma janela para a literatura brasileira. E por
ele passaram estrelas como João Ubaldo Ribeiro e Lygia Fagundes Telles e também
autores menos conhecido. São mais de seiscentas entrevistas gravadas e
veiculadas. Uma experiência incalculável. Tenho aprendido muito com meus
entrevistados e com eles descobri que literatura é sedução e trabalho sério.
TTTTT - Você escreve regularmente resenhas para o Rascunhos (PR) e o
Jornal da Besta Fubana (PE), entre outras publicações e veículos, afora
participar regularmente de eventos literários que ocorrem em todo o Brasil.
Fala, então, das suas atividades de crítico literário, da contribuição desses
eventos para o seu desenvolvimento literário e as expectativas e satisfações na
Literatura Brasileira atual.
Parei de escrever as crônicas para o Jornal
da Besta Fubana depois que o Luiz Berto resolveu restringir as publicações do
blog para voltar a escrever um romance. Mantenho a colaboração com o Rascunho,
não na regularidade que desejo, por acreditar muito na seriedade do projeto.
Comecei a escrever crítica literária meio por acaso em um jornal classista, da
associação de servidores da Câmara dos Deputados. Quando fui trabalhar no
Correio Braziliense, em 1988, o editor de cultura, Rui Nogueira, descobriu
esses textos e me levou para o caderno de cultura, onde fiquei por dez anos
como repórter e crítico literário. Essa trajetória seguiu com o Leituras, na TV
Senado, onde cheguei por concurso público e disposto a falar de política, no
entanto, mais uma vez, a literatura voltou a me puxar. Este trabalho tem me
levado a vários eventos, do Rio Grande do Sul ao Amapá, ao seja, do Chuí ao
Oiapoque, e também da Ponta do Seixas, na Paraíba, a Rondônia e Acre. Com a
literatura, pela literatura percorri todo o Brasil. Atualmente vejo com
bastante otimismo a literatura brasileira. Temos grandes escritores e o Brasil
está se lendo cada vez mais. Infelizmente o mundo ainda não nos descobriu de
fato.
TTTTT - Você tem publicado regularmente títulos para área
infanto-juvenil. Como é, para você, o processo criativo, relações e
perspectivas com esse público?
A grande maioria de meus livros é infanto-juvenil.
Normalmente recebo uma encomenda de um editor e vou à luta, vou descobrir a
melhor maneira de abordar determinado tema. Um exemplo? Depois do carnaval de
2019 fui provocado a escrever um livro infantil que falasse do surgimento dos
livros e das bibliotecas. Criei, então, uma personagem, Teca, uma traça que
mora numa biblioteca e se recusa a roer os livros pelo tanto que os ama. A
partir daí ela vai contando toda história dos livros e das bibliotecas. E a
recepção tem sido fantástica. Frequentemente sou abordado por leitores que
falam com carinho da experiência de leitura de um livro meu. Outro dia recebi o
e-mail de uma moça do Pará que foi a Jericoacara, no Ceará, porque ainda
guardava a lembrança da leitura do livro A Cidade Encantada de Jericoacara que
lera na adolescência. Isso é o que nos
leva a continuar trabalhando.
TTTTT - Como se dá a conciliação de atividades entre o escritor, o
jornalista, o crítico literário e o documentarista?
Caminha tudo junto. Uso o mesmo chip para
todas essas atividades. E sempre parto de provocações. Atualmente como
jornalista tenho feito dois programas, o Leituras e o Cidadania, onde
entrevisto pessoas sobre os mais diversos assuntos. O escritor não para. Estou
escrevendo um novo romance, um livro de contos (encomendados a mim por mim
mesmo) e um infanto-juvenil sobre Brasília que me foi encomendado por uma
editora daqui. O crítico anda meio em banho-maria, atuando de maneira eventual
no Rascunho. Também o documentarista está de molho esperando um novo projeto. O
último documentário que fiz, Cantorias, é de 2016 e nasceu das entrevistas que
não foram aproveitadas em outro projeto, O Homem que Viu Zé Limeira, sobre o
jornalista e escritor Orlando Tejo, feito 2013. Sem contar que também escrevi
três peças teatrais, uma delas, Volta à Seca, montada com bastante repercussão
em Maceió pelo ator Chico de Assis. Mas tudo caminha junto, na medida que os
projetos vão surgindo.
TTTTT - Quais os projetos você tem por perspectiva de realizar?
Muitos. Tenho mais projetos que a Sudene.
Kkkkk. Como já disse, estou escrevendo três novos livros. E organizando uma
viagem a Portugal. Devo ficar lá por um mês em 2020 buscando material sobre o
poeta Miguel Torga. Quero transformá-lo em personagem.
PS: Este blog Tataritaritatá - o TTTTT -, foi criado em 2002, em uma homenagem expressa aos amigos Maurício Melo - pai & baita tal -, e aos irmãos (metralhas) Gilberto e Maurício Melo Júnior.