domingo, novembro 07, 2021

REVÉRBEROS & CÉU DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJO, ADMMAURO GOMMES & MUITO MAIS

 

 

OFERTA

 

Há gotas de rócio

Joias suspensas num escrínio úmido

(pepitas da bateia natural do paraíso)

Há lágrimas de magnólias

Pássaros que esgrimam com flores

Rosas digladiando com espinhos

Néctares trovejando dos céus

Lírios do ramalhete dos olhos

Jardins despencando de ti.

 

DOIS DÍSTICOS SOLITÁRIOS

 

Grito

Habita gargantas

Átimo

Ama intervalos

Néctares escuros (aromas solares)

Despenhando dos seios da rosa

(ordenhando os mamilos do tempo dedos frágeis)

Para a boca dos pássaros

E regaço de flores, eis

O verdadeiro milagre da vida e do amor vivo

E o destino da vertigem.

 

SILO DE SOLIDÃO

 

Do paiol de solidão do Mosteiro

Da janela monacal jardim e selvagem

De todas as rosas convocadas

Para brotar das asas da cidade

Ao sal da penúltima claridade assisto

(derradeira matilha de brilhos evanescendo

meus olhos extasiados esbugalhando)

todos os gerúndios anunciados

todas as laudas excitadas

para desfile desta página do espírito

rumor baço das seis horas

(de luzes e anhos do cântico do ângelus)

Na asa pousado da libélula extraviada

Cortejando um crisântemo

Ainda acordado.

 

LUA DE MARÇO

A Maria das Nuvens, amiga

 

Escrevi o livro de setembro

Sob lua óssea de março (sob influxo

das marés dos amores lunares).

Nele incluí todos os anjos dodecaedros

Musa dos vértices e dos poliedros

Todas as geometrias do sal

Salmo e mosaico, prece, precipício e seminário

Até a morte.

Depois descobri

Que escrevi o livro de setembro sob a lua de metileno.

 

REVÉRBEROS DO SAL SUBLEVADO – Poemas extraídos da obra Revérberos do sal sublevado (Criarte, 2021), do escritor, jornalista, advogado, professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo, que é dividido em três partes, Revérberos, Iguarias bursáteis e Desargumentos, contando com prefácio A sublevação do inédito no inédito de Vital Corrêa de Araújo, de Gleidistone Antunes, além da seleção e organização de Admmauro Gommes.

 


CONHEÇA O SAL DA PALAVRA E A SEDA DA LUA CONHEÇA

 

Vá ao silêncio das raízes

Ouça rumor da vida da veia da linfa pulsando

Impelida de coivaras amestradas, saiba

Que do intestino das sombras brota

Luz de alumínio pura como abeto ou entulho,

Chegue ao ninho de água ou de mácula

Beba do páramo abutre e centelha

De luzes morrendo

E da alvorada peixes amanhecendo

A campinas tingidas de abelhas, olhe

Com a pupila da argúcia em riste

Sinta perfumes dos meses

(e o odor dos pêsames)

Que vêm do voo secreto dos semestres

E das candeias obliquas acate

Luzes bruxuleando como olhos de estrelas

Ainda não cegas da presbiopia dos buracos negros.

 

DESFEITOS

 

A garganta dos obesos é um poço sem fundos

E de certezas abaláveis é feito poema.

Cultivo sede e abrolhos. Sempre.

Incapacite poema de dar noticias.

Não invada a prosaica seara dos jornalistas.

Nunca espere lição de um poema.

Aguarde desinformação.

Vivencias e emoções são prosaicas que só.

Tá com a bexiga lixa

Ou febre do rato, faça um poema assim.

 

ÂNGULO OBLONGO É BONITO

 

Olhe o buraco da agulha a cor

Do palheiro abandonado.

Estátua também mija

(sobre solitário cães e gatos anônimos).

Livro de poema é como rouxinol de luz

De asas acesas para se ler e ver

O intimo do ninho (e fetos de verbos).

Termômetros também têm febre.

Porque adeus está em falta e piedade também

Sobre perversidade.

 

CÉU – ESTÁBULO DE RELÂMPAGO - Poemas extraídos da obra Céu – estábulo de relâmpago (Criarte, 2021), do escritor, jornalista, advogado, professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo, com seleção e organização de Admmauro Gommes.

 


IRREVELAÇÕES VITAIS

 

Não tenho revelações (senis, juvenis, afetivas)

Nem guardo candeeiros de lembranças

Se cultivo o pó ou observo a cinza

É porque a glória é de pedra (para a pedra

pela dor) e nada tenho a dizer. Tudo

já o disseram as palavras.

Gosto de desfrutes lassos ou macio púbis

Acenos lascivos, volúpias castanhas e torsos

Com seios macios também eretos

Gosto de olhar o gozo, vê-lo gritar alucinado

E axilas nunca capinada, além de suores íntimos

Em especial de perplexidades

Após a pequena morte (francesa ou não)

Nada de orgamos doloroso ou culpado

Ávido de decifrações úmidas.

A não ser matéria de esfera e arúspices

Não levo assuntos ao coito.

 

AMANHECER EM BOA VIAGEM

 

IMENSO

Vômito de claridade

Embebe toda a cidade.

Amanhece em Boa viagem.

 

CLÁUDIO VERAS E A ALÓGICA POESIA DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJO – Livro organizado por Admmauro Gommes, Cláudio Veras e a alógica poesia de Vital Corrêa de Araújo (Criaarte, 2021), traz o prefácio Cláudio Veras e a Hermética poesia de Vital Corrêa de Araújo, escrito pelo organizador; o primeiro capítulo trazendo o Tratado Vital da Poesia, com textos do professor Cláudio Veras; o segundo capítulo Um ensaio de VCA: Anos expressionistas; e o terceiro, com uma Mostra Vital da Poesia Absoluta.

 


VATE VITAL – O livro Vate Vital: aspectos da obra poética de Vital Corrêa de Araújo (Criaarte, 2020), do poeta e professor Admmauro Gommes, é uma segunda edição do volume já publicado, revista e ampliada, que traz a relação de ambos com os alunos do curso de Letras da Famasul, a Biblioteca da Mata Atlântica, a Poesia Absoluta Vital, a revelação dos vazios da existência, a estrutura da obra e os diversos ângulos de uma mesma poesia, reunindo os 31 títulos do autor-poeta e os 30 livros do poeta-organizador.

 

Veja mais da poesia de Vital e de Admmauro aqui, aqui e aqui.