OFERTA
Há gotas de rócio
Joias suspensas num escrínio úmido
(pepitas da bateia natural do paraíso)
Há lágrimas de magnólias
Pássaros que esgrimam com flores
Rosas digladiando com espinhos
Néctares trovejando dos céus
Lírios do ramalhete dos olhos
Jardins despencando de ti.
DOIS DÍSTICOS SOLITÁRIOS
Grito
Habita gargantas
Átimo
Ama intervalos
Néctares escuros (aromas solares)
Despenhando dos seios da rosa
(ordenhando os mamilos do tempo dedos
frágeis)
Para a boca dos pássaros
E regaço de flores, eis
O verdadeiro milagre da vida e do amor
vivo
E o destino da vertigem.
SILO DE SOLIDÃO
Do paiol de solidão do Mosteiro
Da janela monacal jardim e selvagem
De todas as rosas convocadas
Para brotar das asas da cidade
Ao sal da penúltima claridade assisto
(derradeira matilha de brilhos
evanescendo
meus olhos extasiados esbugalhando)
todos os gerúndios anunciados
todas as laudas excitadas
para desfile desta página do espírito
rumor baço das seis horas
(de luzes e anhos do cântico do ângelus)
Na asa pousado da libélula extraviada
Cortejando um crisântemo
Ainda acordado.
LUA DE MARÇO
A Maria das Nuvens, amiga
Escrevi o livro de setembro
Sob lua óssea de março (sob influxo
das marés dos amores lunares).
Nele incluí todos os anjos dodecaedros
Musa dos vértices e dos poliedros
Todas as geometrias do sal
Salmo e mosaico, prece, precipício e
seminário
Até a morte.
Depois descobri
Que escrevi o livro de setembro sob a lua
de metileno.
REVÉRBEROS
DO SAL SUBLEVADO –
Poemas extraídos da obra Revérberos do sal sublevado (Criarte, 2021), do
escritor, jornalista, advogado, professor, conferencista e tradutor Vital
Corrêa de Araújo, que é dividido em três partes, Revérberos, Iguarias
bursáteis e Desargumentos, contando com prefácio A sublevação do inédito no
inédito de Vital Corrêa de Araújo, de Gleidistone Antunes, além da seleção e organização
de Admmauro Gommes.
CONHEÇA O SAL DA PALAVRA E A SEDA DA LUA
CONHEÇA
Vá ao silêncio das raízes
Ouça rumor da vida da veia da linfa
pulsando
Impelida de coivaras amestradas, saiba
Que do intestino das sombras brota
Luz de alumínio pura como abeto ou entulho,
Chegue ao ninho de água ou de mácula
Beba do páramo abutre e centelha
De luzes morrendo
E da alvorada peixes amanhecendo
A campinas tingidas de abelhas, olhe
Com a pupila da argúcia em riste
Sinta perfumes dos meses
(e o odor dos pêsames)
Que vêm do voo secreto dos semestres
E das candeias obliquas acate
Luzes bruxuleando como olhos de estrelas
Ainda não cegas da presbiopia dos buracos
negros.
DESFEITOS
A garganta dos obesos é um poço sem fundos
E de certezas abaláveis é feito poema.
Cultivo sede e abrolhos. Sempre.
Incapacite poema de dar noticias.
Não invada a prosaica seara dos
jornalistas.
Nunca espere lição de um poema.
Aguarde desinformação.
Vivencias e emoções são prosaicas que só.
Tá com a bexiga lixa
Ou febre do rato, faça um poema assim.
ÂNGULO OBLONGO É BONITO
Olhe o buraco da agulha a cor
Do palheiro abandonado.
Estátua também mija
(sobre solitário cães e gatos anônimos).
Livro de poema é como rouxinol de luz
De asas acesas para se ler e ver
O intimo do ninho (e fetos de verbos).
Termômetros também têm febre.
Porque adeus está em falta e piedade
também
Sobre perversidade.
CÉU – ESTÁBULO DE RELÂMPAGO - Poemas extraídos da obra Céu –
estábulo de relâmpago (Criarte, 2021), do escritor, jornalista, advogado,
professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo, com seleção
e organização de Admmauro Gommes.
IRREVELAÇÕES VITAIS
Não tenho revelações (senis, juvenis,
afetivas)
Nem guardo candeeiros de lembranças
Se cultivo o pó ou observo a cinza
É porque a glória é de pedra (para a
pedra
pela dor) e nada tenho a dizer. Tudo
já o disseram as palavras.
Gosto de desfrutes lassos ou macio púbis
Acenos lascivos, volúpias castanhas e
torsos
Com seios macios também eretos
Gosto de olhar o gozo, vê-lo gritar
alucinado
E axilas nunca capinada, além de suores íntimos
Em especial de perplexidades
Após a pequena morte (francesa ou não)
Nada de orgamos doloroso ou culpado
Ávido de decifrações úmidas.
A não ser matéria de esfera e arúspices
Não levo assuntos ao coito.
AMANHECER EM BOA VIAGEM
IMENSO
Vômito de claridade
Embebe toda a cidade.
Amanhece em Boa viagem.
CLÁUDIO VERAS E A ALÓGICA POESIA
DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJO
– Livro organizado por Admmauro Gommes, Cláudio Veras e a alógica poesia de
Vital Corrêa de Araújo (Criaarte, 2021), traz o prefácio Cláudio Veras e a
Hermética poesia de Vital Corrêa de Araújo, escrito pelo organizador; o
primeiro capítulo trazendo o Tratado Vital da Poesia, com textos do professor
Cláudio Veras; o segundo capítulo Um ensaio de VCA: Anos expressionistas; e o
terceiro, com uma Mostra Vital da Poesia Absoluta.
VATE VITAL – O livro Vate Vital: aspectos da obra
poética de Vital Corrêa de Araújo (Criaarte, 2020), do poeta e professor
Admmauro Gommes, é uma segunda edição do volume já publicado, revista e
ampliada, que traz a relação de ambos com os alunos do curso de Letras da
Famasul, a Biblioteca da Mata Atlântica, a Poesia Absoluta Vital, a revelação
dos vazios da existência, a estrutura da obra e os diversos ângulos de uma
mesma poesia, reunindo os 31 títulos do autor-poeta e os 30 livros do
poeta-organizador.
Veja mais da
poesia de Vital e de Admmauro aqui, aqui e aqui.