LER O MUNDO
Nas páginas da vida
Lascivamente, lemos
Dias, noites e relâmpagos.
Vislumbramos abismos
De luz e absintos cintilantes.
Mágicos suores em sangue
Seguem em passos ermos
Cambaleantes e decadentes.
O mundo jaz em mortíferas
Línguas de mortalhas negras.
E nessa leitura
Passa o vento
Passa o tempo
Passam as horas
Passam os passos
Por onde passa tudo
Porque tudo
Tudo já passou.
LADAINHA DE MÃE
Lá da “inha” da minha mãe
Lembro-me dos seus anelos
E das benzeduras.
Do maternal amor divino,
Do céu iluminado em brechaduras
Da cama encapinzada
Com lindos percevejos verdes.
A paz e a luz no lar se acendiam
Na fome, no mingau de farinha
Na farinha com sal, na água
E no: - Bença mainha!
A POESIA ABSOLUTA
No cálice sagrado do Graal
Bebo o néctar absoluto dos
Seios gregos da “poesialosofia”.
Entorpeço-me em líricos delírios
Viajo nas estrelas escaldantes.
Banho-me nos braços de
Afrodite e digo a mim mesmo?
-O Cosmo é “Poesia Absoluta”.
ACORDAR OU DAR A COR?
Dar a cor ou acordar
É uma questão
De ponto
E de vista.
Quando a vista não
Vê o ponto
O ponto não vê a vista
Que se apresenta
No ilusório horizonte.
OS TÚNEIS NOSOS DE CADA DIA
Nos túneis da vida passamos
Com a garganta apertada
Engolimos lamas.
Num entra e sai eternizados
Lamuriamos nossas perdas
Esquecemos nossos aprendizados
Damos etéreos aleluias
Alienadamente gritamos amém
Contrária, a razão diz: amem.
O BEIJO DO FRACASSO
O fracasso é o avesso às avessas.
Quando o caldo entorna, grosa.
Às moscas, nossas aleluias.
Às dores, um beijo em cada pétala.
COPO D’ÁGUA
Neste copo d’água
Bebo angustias
Dos bêbados
Das prostitutas.
Lambo as feridas
Dos leprosos cães.
Canto uma ode
Às surpresas
Da vida.
Dou aleluias e améns
Aos santos de barro.
Em sonhos borrados
Caio na cama
Quebradamente
Flutuando-me.
VERBO MORTO
No futuro do subjuntivo
Quando eu (des)carregar
Minha alma
Molhada de manhas
Manias e manhãs
Estarei avidamente vivo
Morrendo a cada dia
Na gravidade avermelhada
De sonhos
Em pesadelos
Alegres
Somente
Sem eu
Sem mim
E sem ti.
DIGITAIS ABSOLUTAS – O livro Digitais absolutas – poemas escolhidos (Criaart, 2020), do poeta,
professor e radialista Tony Antunes,
reúne poemas do autor, contando com o prefácio A inquieta poesia de Tony Antunes, escrita pelo também poeta e
professor Admmauro Gommes. Veja mais
aqui, aqui, aqui e aqui.