PORTA
PAPEL DE PORCELANA
Porta papel de porcelana
Esboça a parede, rascunha
olhos de cerâmica
De canto se lê suavemente
Seu suor de verniz
Salgado e brilhante
Nas marcas do corpo
Suas linhas de giz
Pálida e rígida calafrios
sórdidos, alguém diz
Sobre pêlos cheios de
alvoroadas
Deita o colo no calor do
papel
Guardei no canto da sala
Perto da porta
Dentro do Porta Papel de
porcelana.
SEMANICALISTA
Domingo de prache
O clichê chiava...
A sintonia? Perdeu-se!
Uma vida de passeata
Nas segundas ruas
Riu-se? Taxativamente.
O terço no colo do peito
Tecia a terceira via
Como vinha? Parado.
Dentro do quarto
Cobriu o zelo
Guardou a carta
Quase Magda.
Bravo!
Aqui inda se tocou
Quinze queixas do meio
No quintal da mestria.
Gesticular absorvera
Com exatidão
Era a cesta básica?
Obviamente cheias de juros.
Fez-se choque do brioche
Crochê no sábado
Sauvingnon, adivinhem? Doce e secular.
CHECKLIST
SEMÂNTICA
Póros fechados
Aqui de pincelar
No nivelar nível novélico
Neologismos também tem
signos
Engoliu as palavras
lexicais
E aboliu as sentimentais
Sabem que vão desde o
início
Para onde? Enigmas também
tem sentido
A semântica, quem diz? Sabe
lá, ou aqui...
Acolá diz talvez.
Minérios desvarios
descritos a dedo
Cada qual tem seu segredo
Na ponta minimalista
Compôs seu checklist.
ECO
Dos alicerces que a vida me proporcionou
A introversão foi meu único escudo
Um silêncio mútuo se refez dentro da taberna
E quando vi já não existia conversa
Avistei, de longe, sim
Um abismo incompreensível
E a timidez se fez novamente meu labirinto
Um labirinto amianto
Inconforme a vida se levava
Trouxe de volta meu companheiro de sempre: o eco
Ecoa do Sul
Ecoa do norte
E em cada canto do mundo
Não havia mais sorte
A vida me direcionava a
profundas negritudes
Se apalpava com rapidez
cada zumbido ouvinte
Jogava-se magnificamente
num abismo, de longe, devastador.
Arrastando pelo solo
ríspido
O pouco que ainda restava
de queimor
Sombreando meus caules de
Lamartine
Com a exatidão de que o
Anacreonte brotou.
HOLÍSTICO
Na bravura que iluminava
O céu latente ladrilhado
Enquanto opções travavam
seu destino
Avante! Dizia Ecoava aos
desvaneios
Apontando lareiras
escaláveis
A claridade afunilava a
íris dos olhos
No timbre mais banal
Da luz cristalina pairando
entre os dedos
Fez-se silêncio
O sombrio esvaindo
aliterações
Invadindo o poço seco
Encontrou-se a pérola da
noite
Mais valiosa holística
Traduzido em gueixas
exponenciais
Ruptura cambaleante em
signos
Jaz o pó sonoro da lua.
GRAVITACIONAL
No longe torrencial
Avista-se a brisa adocicada
Ponderando o anoitecer em lumes
No selo do timbre
Encontra-se o céu ondulado
Nos lustres de pérolas negras
Não menos que universal
Comtempla-se o acervo de ladrilhos
Da solidez pálida e feroz
No tinto desenhando o celeste
Perdidos nas pálpebras caídas
Bourdeax noutros luares
Caminhei na despedida
Dos destemidos gritos
perdidos
Resplanteceu o profundo brilho
Completa-se meia volta
À esquerda do lume
Gravitando o avesso dos
lírios.
DÉCIMA
SOLIDEZ
Sob o céu cru
De sombras cintilantes
Lareiras de metalurgia
Craquelava o chão
Dos ventos claros
Sobrava-se a luminância da
pulsão décima
Engenhosamente mórbida
Laureando as sebáceas
Correntes de lírios
No campo flamejava
Negritudes maestrais
Entre pérolas enraizadas
Do solo alvo e sublime
Sondava o crepúsculo
latente.
TRANSLÚCIDO
Se escondeu sobre o vidro
Impermeável pensou estar
Ao vento podia-se perceber
Que do outro lado passará
Entre correntes verdejantes
E pastos singelos
Dormia solenemente
Na reiva que cobria o céu
No chão, fazia-se cantoria
Sobre aqueles olhos cor de marfim
Profundos e enigmáticos
Que denunciava o fim.
A VIDA
INCOMPREENDIDA
Desvairados pensamentos
perpetuam sob o céu
Lacrimejante ou nublado
Pingos de realidade
Sobram na vertigem
Do olhar humano.
PAREDE
BRANCA
Sem contos ou fábulas
Concorrente do horizonte
Se vale do orvalho
Das marcas invisíveis
Do plano de fundo de uma
casa vazia.
O CANTO
SOLAR
pincelando horizontes
de nota em nota
aprovava com veemência
os bemóis e sustenidos
cantarolados à beira
de uma lareira acesa.
ACIMA DA
MÁSCARA
Olhos de quem sobreviveu
Da vida os males
Marcas expressivas
De uma caminhada cansativa
Vê-se de longe
Um olhar marcante.
VENTOS INCONSTANTES
Na maré alta
Estalam ruídos
Camuflam vendavais
De mares
Com ares
Que sopram no litoral.
SOB A
MÁSCARA
Esconde-se expressões
Leitura labial
imperceptível
Conjuctura misteriosa
Algumas vezes escapatórias
Noutras os olhos entregam:
Há um sorriso.
COMO
PASSARINHO SOLTO
Liberou perdão
Falou de amor
Cantou saudade
Disse adeus
E voou
No céu azul de Maragogi.
A PORTA
FECHADA
trancou sentimentos
ao lançar farpas
sem prestígio travou
O que seria a forma
concreta
No fim de uma reforma
de um casa sem parede.
MONDURAS ILUSTRES
Pincéis que falam
Diziam quase sem querer
Que a caminhada leve
Estava pintada
No quadro de uma nova
jornada.
A
VIRTUDE DA PRESENÇA
Virtualizaram o abraço
Na sociedade da idade mídia
Não só estamos
Mas somos
Apenas avatares
No mundo real.
AMANDA ARAÚJO – A jovem escritora e poeta Amanda Araújo é formada em
Letras pela Universidade Federal de Pernambuco, atualmente residente na cidade
de Maragogi-AL. Na área da literatura, participou das antologias O Futuro da
Poesia (2017) e Dezditos – Poemas Selecionados (2018), organizadas
pelo poeta e professor Admmauro Gommes. Na área da educação, possui artigos
científicos nas coletâneas DNA Educação, Rumos da Educação e Caminhos
da Educação, organizadas pela Editora Dialogar (Veranópolis-RS). Veja mais
aqui, aqui e aqui.