A ARTE DE MÁRCIA GEBARA - Márcia
Gebara Artese Barros (Mogi Mirim-SP) é bacharel em Comunicação Visual pela
Mackenzie (SP), mestranda em Artes pela Unicamp, possui licenciatura em
Educação Artística pela UNAR. Realizou cursos de História da Arte no MASP e na
Companhia das Artes de Mogi Mirim com a mestre Caru Duprat; de fotografia no
Foto Cine Clube Bandeirantes; de Aquarela com Zélio no Senac, e outros cursos
na Galeria Vera Ferro, e de Arte Contemporânea na USP. Realizou exposições
individuais e coletivas, além de ser professora de Educação Artística, desenho
e pintura atuando no Ateliê Companhia das Artes de Mogi Mirim, entre outras
escolas. É integrante do Gentamiga Ateliê (SP) e participa da plataforma Ubqub
(SP). Algumas de suas obras foram incluídas na seção Cinema Mulher, da publicação
Dareladas (CriaArte, 2024), em homenagem ao centenário do artista plástico
pernambucano Darel Valença Lins (1924-2017). E realiza a exposição “Entre
linhas e cores a luz vibra na saudade”, no Museu de Arte de Mogi Mirim, em
São Paulo, a partir do dia 13 de junho. Ela concedeu uma entrevista falando
sobre a exposição, seu processo de criação, formação e projetos desenvolvidos.
Com você, a artista Márcia Gebra.
LAM - Márcia, vamos pra pergunta de praxe:
como foi e como se deu seu encontro com a arte?
Sempre tive contato com a arte na família, tio-avo
pintor, meu pai sempre desenhou e me levou em museus, exposições, teatro, cinema,
enfim a arte sempre fez parte da minha infância.
Fiz balé desde os 4 anos e piano por 11 anos. A paixão
sempre foi a dança, a expressão corporal.
Mas o que eu mais gostava era criar, no desenho, na
cerâmica e na fotografia. As ideias vinham da dança, do movimento do corpo, e
meu trabalho de formatura acabou sendo esculturas de cerâmica, baseado nas
formas da silhueta feminina.
Mesmo na faculdade continuei dançando com um grupo
profissional. Além de dançar passei a representar na minha arte essa paixão.
Como artista plástica comecei atuar depois que voltei
para Mogi Mirim, buscando um hobby, atuava profissionalmente na área da
publicidade. E comecei a fazer aulas com a artista Vera Ferro em Mogi Mirim. E
ela me incentivou a investir na área da arte-educação e a participar de salões
de arte e exposições individuais e coletivas.
Assim deixei a publicidade e passei a estudar e me
dedicar as artes plásticas.
LAM - Quais influências foram predominantes
na sua escolha pela profissão artística?
A apreciação e vivências com a arte.
Inicialmente com a dança passando pelo desenho e me
descobrindo no ato de criar com vários materiais e suportes.
Já a arte educação foi o amor em ensinar o prazer da
criação sem amarras que me levou de volta à universidade em busca de
conhecimentos e a descoberta de muitos caminhos para criar.
O Livro Do Espiritual na arte de Wassily Kandinsky, os de
Fayga Ostrower, e as cores de Paul Klee e Matisse sempre foram inspiradores.
LAM - Você é bacharel em Comunicação Social e
mestranda em Artes pela Unicamp. Qual a pesquisa que você está se propondo em
realizar na sua dissertação de mestrado?
Com a busca por uma profissão me deparei com a faculdade de
Comunicação Visual no Instituto Mackenzie. Um curso no qual durante 3 anos em
período integral, tive oficinas de cerâmica, fotografia, modelo vivo,
marcenaria e serigrafia além das matérias teóricas como história da arte e
outras.
O prazer de desenhar que sempre tive se tornou um caminho
profissional na área da propaganda.
A minha pesquisa para o mestrado foi sobre a influência da
arte na educação social e pessoal da criança. Como a arte abre novos caminhos e
ajuda a pessoa enxergar novas soluções em todas as áreas da vida. Realizei essa
pesquisa com os alunos do meu ateliê, da rede pública e da rede particular de
ensino. Não terminei a tese por motivos de saúde da orientadora. E acabei por
terminar várias pós graduações e usar esse estudo na minha vida profissional.
LAM - Você realizou muitos cursos de História
da Arte no MASP, de Arte Contemporânea na USP, de fotografia, aquarela, entre
outros tantos. Fala pra gente dessa experiência.
Ah, minha curiosidade não tem fim, até hoje leio, assisto
cursos online, pesquiso assuntos que me interessam.
Sou observadora da vida humana e principalmente da mulher
e cada técnica que vejo quero aprender, usar e misturar com o que faço.
Isso me levou até o artista Carlos Fajardo, fiz 5 cursos
com ele durante 3 anos, foi pura arte, abstração, simbologias, representações
bi e tridimensionais.
Foram momentos de descobertas, novas maneiras de
expressão e sempre com muito estudo e fundamentação teórica.
A cada curso novas ideias, novas representações, novas
descobertas. O que sempre predomina é o tema, o perfil feminino e a natureza, a
vida.
LAM - Você é professora de Educação
Artística, desenho e pintura. Fala pra gente dessa sua atividade.
Comecei a dar aulas por incentivo da Vera Ferro que tinha
vários alunos aqui em Mogi. Mas mudou-se para Campinas e pediu para eu pegar
algumas crianças para ensinar um pouco da minha arte. Gostei tanto que fui
estudar, fiz outra graduação com licenciatura em Artes Visuais plena e fui
ensinar na escola municipal e particular, ampliando o número de alunos e meu
aprendizado com cada um deles.
Desde que comecei a ensinar sou voluntária em entidades
sociais e mantenho bolsistas no ateliê até hoje.
O que me traz um retorno que a arte é um caminho, algumas
dessas crianças hoje são bons profissionais da área.
A cada aula eu me via mais envolvida e interessada na
arte, sempre pesquisando, buscando maneiras diferentes de mostrar e ensinar a
arte. E o mais curioso é que quem mais aprendia sempre era eu, cada turma, cada
aluno devolvia resultados diferentes o que é fascinante, o mesmo estímulo
desenvolver várias soluções. Algumas eram comuns, mas sempre apareciam resultados
inusitados que me surpreendiam. Aliás ainda hoje me surpreendo com alguns.
LAM - Você atua no Ateliê Companhia das Artes
de Mogi Mirim, em São Paulo. Como se dá essa sua atuação?
Montei meu ateliê e lá continuo ensinando e mostrando a
importância da arte na nossa vida. Um lugar onde se respira arte, um ambiente
de paz, reflexão e criação. O meu ateliê se tornou referência no ensino da
arte, tendo outros cursos, como mosaico, história da arte, cerâmica, pintura em
seda, por vários anos, hoje se mantém o de Tear Manual além das minhas aulas.
LAM - Você integra o grupo Gentamiga Ateliê.
Conta pra gente essa experiência, os integrantes, a proposta grupal e como foi
que tudo começou?
Na pandemia de 2020 a diversão foi fazer cursos online e
um deles foi Arte Contemporâneos 60+ no MAC-USP. E do grupo que começou
sobraram 6 até o final. Quando o curso encerrou combinamos de continuar a nos
encontrar no mesmo horário e produzir, trocar ideias e conhecimentos. Esses
encontros continuam até hoje e o grupo se tornou Ateliê Virtual Gentamiga, nome
dado pelo nosso poeta Luiz Alberto. Os 4 que moram no Estado de São Paulo se
conheceram na bienal de 2023. Somos Rubens e Ricardo de São Paulo capital,
Cibele de Ribeirão Preto, Luiz Alberto de Pernambuco, Solange na Alemanha e eu
de Mogi Mirim, interior de São Paulo.
E continuamos nossos encontros de 2 horas semanais,
fazemos pesquisas, produzimos desenhos. pinturas, gravura, assemblagem e
pintura digital, cada um na sua linguagem, com seu material e desenvolvemos
temas, releituras, técnicas, sempre todos se apoiando, ajudando, interferindo,
mostrando novos caminhos para chegar num bom resultado. E o melhor de tudo um
ótimo papo sobre a arte em geral.
LAM - Você já realizou uma série de
exposições individuais e coletivas. Conta pra gente como foi a vivência nessas
suas participações.
Bom, quando gostamos de um trabalho queremos mostrar, ver
a reação dos espectadores. Toda exposição tem essa observação do artista, é
prazeroso e emocionante cada ação ou reação a sua obra. Eu curto a preparação,
a busca de uma coerência entre as obras expostas, um fio condutor que leve cada
visitante a uma viagem especial. É assim que preparo cada exposição que
realizo.
LAM - Você agora realiza a exposição “Entre
linhas e cores a luz vibra na saudade”, no Museu de Arte de Mogi Mirim, em São
Paulo. Conta pra gente qual a sua expectativa com esta iniciativa?
Espero que aconteçam belas viagens. Não é só uma
retrospectiva, e sim um retorno à arte, à produção, à busca do fio condutor da
emoção, da expressão do perfil feminino. Muitos momentos para serem vividos e
lembrados surgem de uma imagem, que hoje são lembranças, saudades e trazem ao
presente um reinicio, uma retomada, um meio de sobrevivência e vivência. Ė o
passado alimentando o presente, um presente de muita emoção. São muitas
experiências, vivências representadas com linhas, formas, figuras, símbolos e
cores, deixando a luz da vida surgir através dessas imagens.
LAM - Quais projetos artísticos você tem por
perspectiva de realizar futuramente?
Tenho vontade de criar, pesquisar e representar ideias
que surgem no dia a dia, nas emoções da vida, nos encontros e desencontros que
trazem novas vivências, são meus estímulos para buscar e realizar novos
projetos.
Um bom exemplo são os encontros no Ateliê Gentamiga que
não deixa ninguém desistir da arte nem dos amigos.
Quero criar pinturas e objetos sobre a finitude da vida.
Tenho lido sobre esse tema, assistido palestras e, principalmente, vivido isso
com meus pais, sogros e família. Não tenho pressa, só vontade e curiosidade por
enquanto. A vida está trazendo muitas vivências que tento registrar como boas
memórias, para que elas se transformem em arte.
É isso, Luiz, você fez eu parar e colocar em palavras
muitas coisas guardadas no coração. Muito obrigada pela oportunidade.
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