D'AMOR
ela por
inteiro
na minha
boca,
pra boca
minha.
nos
caminhos dela
sou
poro, piro
e transpiro
a mim
na pele
dela.
ela,
goela abaixo
é bom,
eu acho;
moldura
da minha tela.
seu
segredo, ora revela
mas, por
baixo, prefiro
acreditar
na poesia
de caso
pensado
entre
Deus e ela:
” vá
Cupido, vá!
faça
tudo, tudo!
do teu
arco lança
e da tua
flecha cela “
PHOBOS
soube da
sombra
juntou-se
parasita
criou
desordem
quase
renuncio
a este
fragmentado
corpo-carapaça
soube do
meu descuido
por
sobrevida
abraçou
minha alma
a outra
parte
soube
visitar do alto
um tipo
plural
de
relativa agonia
soube
que era minha
eu soube
ser uma parte
de três:
dor, covardia e medo
duas
porções crispadas
de
indiscreta humilhação
mas
soube ter uma parte
de alma,
que tem urgência
e que
grita porque arde
soube
abraçar
a
terceira parte
soube
ser frágil
a parte
que cuido agora
pra ser
forte
desde
que soube
a vida
ressoa
não mais
parte
PITADA
é sempre por entre os ecos que amo.
pouca luz, silêncio, sombras
virtuosas.
é sempre a cúrcuma que me tempera.
sopro um balé anasalado e assanho
a dança do fogo; são segredos da
vela.
aperto os olhos por uns três
instantes,
abro-os feito espasmo, o mais rápido
que posso e tenho assim, raízes de
sol.
por ser sempre amor, eu só troco o
chão
por poesia e voo com quem ama.
crio chuva com o pólen das abelhas,
visto o amor da bonita roupa feita
pela velha aranha fiandeira,
que tece um mundo todo enquanto vive.
esta coisa que grita prosa em mim
e me lambuza de vida, parece querer
sempre exagerar em 50 anos luz
e mais duas porções para cair do prato.
é sempre por entre os ecos que amo.
QUADRADISMO
subverto quando penso
quando embarco n’outras geometrias
quando m’arrancam do quadrado
se me exponho quando explano
que estou fora quando supõem
que estou dentro de quando em vez
quando quase nunca concordo
quando quase sempre saio do quadrado
eu, ( pensam ) subverto ao cubo
LÁCTEA
pálida, branca
cálida
clara neblina
ávida
pálpebras na noite
gélida
encanta e entoa
válida
casta de crença
cética
posto por gosto
“lácteo”
o fanático
às quatro luas
PERMISSÃO POÉTICA
não faço do luto
o meu habitué
tenho preferências…
de excentricidades
danifiquei um quadro
de Monet
não tenho os zilhões
para o reparo
só minha cara lavada
de ménage à trois
e o copo de Baudelaire
FRONT
fura-se o fluxo
parco côncavo
ao avesso do convexo
acerta-se o prumo
enquanto desconverso
no contraponto reverso
de todo discurso sem nexo
sagra-se o contrassenso
não porque digo
mas porque peço
enquanto clamava ( bastava )
por um amplo amplexo
desculpas ao desfecho disléxico
POR FORA, COM A INTOLERÂNCIA
Primeira tentativa:
Cordel
Ora vejam só; que ironia
pois me pego noite e dia
a refletir da importância
tendo que falar da intolerância
Por certo que incomoda tanta gente
mas de agora é assunto premente
posto que me é movimento
que se dá com encaminhamentos
e surte efeito no pós guerra da
ganância
De gente que se acha importante
sobre toda e qualquer circunstância
que sequer respeita a infância
de quem nada quer com o ódio
e do desejo; só quer ser criança
Esta ausência de habilidade
de respeitar as condescendências
que alimenta o bucho da maldade
e mata de fome a consciência…
Segunda tentativa: esclarecimentos
Escrevo estas mal traçadas linhas e
deixo
“às claras” a minha perturbação
em elucidar o meu ponto de vista,
então deixarei aqui, outra sugestão:
Terceira tentativa: fosso de jacarés
anotem aí os ingredientes:
6 jacarés famintos no fosso
mais ( + ) uma escadaria.
antes de subir os "lances",
se conseguir ( a intolerância );
passar pelo fosso e subir
alguns degraus, "a gente"
aperta
um botãozinho e os degraus somem
e, a intolerância, cai de costas
novamente no fosso de jacarés.
se ainda insistir, puxando
pelo corrimão, saindo do fosso,
apertamos de novo o botão,
e uma pedra rolante enorme,
no estilo Indiana Jones,
desce as escadas, esmagando
a intolerância, lançando-a
de novo, no fosso de jacarés.
Como podem ver, não tenho paciência
com a intolerância. Gosto mais de jacarés...
DESNUDO
roto de tão tosco
no rabisco sacro
de tão ocre
me fiz ogro
de tão ermo
meu espaço
que tão íntimo
me fiz efêmero
de tão louco
me fiz etéreo
santo como fora dito
diferente do que penso
no senso curto
como base manca
encruada laica
de querer do grito
atingido torto
e de acertos
improvisados quantos
do sujo sábio
de motivo escuso
e ao povo pranto
e nisso sofro
de perder o eixo
e se riem disso
me fazendo bicho
A FLECHA
não recorro
aos insights da tristeza
e a retiro do meu berço
esqueço e energizo
o ponto plantar
dos meus pés
com a leveza
sabe-se lá pra onde vai
minha consciência tétrica
em mim não fica
prefiro a amenidade tântrica
e a energia fugaz
feérica quântica
HANG FERRERO – O poeta e produtor
cultural Hang Ferrero é autor dos
livros Aos Pés do Monte Mor(poesia, 2013) e
Código 1 - Crônicas de Plantão (2016). É co-fundador e coordenador do
Grupo de Escritores Verbo e Maresia (2014), apresentador do Festival 6
Continentes (o maior Festival de Artes Integradas de Língua Lusófona do Mundo -
2015, 2016, 2017, 2018 e 2019), fundador da Academia Mirim de Letras da ALBSC
Seccional Itajaí/SC – 2017, membro Correspondente Internacional da Academia de
Letras do Brasil/Suíça – 2018, membro Imortal da Academia de Letras de
Balneário Camboriú – 2018, criador do projeto Casa de Ferrero, Espetos de Pau, que consiste em declamar poemas
autorais com recursos do Spoken Word (poesia falada) e visuais, além da música
conceitual (acompanhado por DJ). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui