EXORTAÇÃO AO POEMA
Ergue-te poema!
Grita, trágico alárico
soa nos surdos orvalhos dos olhos
das manhãs
mescla tardes, mutanteia as noites.
Engole o tempo e o espaço
concreta tua tez
ensolara a sombra que de devora nua.
Abre-te aos corações fechados
singulariza-te nos plurais
das intenções.
Petrifica-te nas almas repletas
de vazios.
Mergulha no mármore das minhas paixões
espatifa-te livre no amargo véu
embrionário
das minha doces ilusões.
Eleva-te ao expoente máximo da tua
brevidade
Dessa forma, no transverso do avesso
suprimo lírico esta voz.
Reluzo-me ao pó, num rasgo de risco
e sem data cravo meus dentes nos
obtusos óbitos
da própria morte.
TRAÇO FLUTUANTE
As crastinas do credo em cruz
fosforesceantes de agonia em rezas carmins
lapam as lágrimas de granizo e pó.
Flâmbulos de quirodáctilos em ristes
riem descaricaturados de febris ânilos.
Os nastigados sopros agoníacos
resboreados de verticalidades loram
lipidiosamente
Flutuantes, flebulares e fleumáticos
engasgagueiam-se gargarinos, nucléicos
e sorolados.
Em seus traços rebuscam fôlegos
nebulizados ciscam ao sabor dos sopros
depois, afogam-se copiosos e xerocados
em folhas de mar-fins.
CANALHISMO DE UM CADÁVER
Ao seco orvalho dos cristalinos percalços
crânulos de pus pulsam em pedregulhos
mórbidos, traiçoeiros e ladipantes em
negritos.
As moscas mascam em derredor dos dedos
alarindo a fé que não transcende aos tempos:
— Matam sonhos em pesadelos felizes.
Findados no começo do término, encovam-se
num limbrionário mostram-se ocos:
— Há um cadáver canalha atolado na
própria lama da agonia.
EMBRIONÁRIOS LÍNFRICOS
Frondados em frontes de cera
coloridos colorem a escuridão da
melancolia.
Grunhando-se em overdoses de azias
à margem das estradas se perderam
gangonados em afoinos de chibatas.
O misto de gozo e agonia – zimbra-se
cutículas vãs em contos de fadas
com bombas de escorpentinas.
Os dentes beijando as almas
lambem os espíritos embrionários
a escorrerem dos astros em bússolas
de solidão.
ORA, DIREI?
O que direi das lágrimas
do rouxinol que canta em meu peito?
Das dores dos faróis monocromáticos...
Do asfalto indiferente
às causas dos pés
que lhe pisam?
Das náuseas atônitas, tontas, mas não tantas...
o que direi?
O Que direi das
lástimas nicrolítricas – de fel?
Das amarguras silenciosas em cetins de
papel machê...
Dos gomos de plásticos – lásticos?
Dos câmbulos da
África estuprada...
o que direi?
O que direi dos almas sebosas?
Do acalanto cadavérico no cadafalso dos homens...
Da massa atômica do neônio?
Do isótopo num divórcio celular...
o que direi?
Ora, direi!
PROVARÍNEOS DE FULGORES
Fristigados de fórmulas flácidas
nêurons tortuosos simbronam-se
em números inexatos
— Não há dúvidas.
Os nítigos negam a própria sorte
furambulária de gota e de agonia.
Perícono osteanais de brin
terganalmente opulenta seu resultado:
— Um zero.
O tecido matemático, filosófico
biológico e químico
dispersam-se num atroz
sentimento perdido, prostrado e louco.
CRASSO POEMA CRASSO
Este belo poema feio
segura-se no slackline das nossas
retinas
perambula rumo ao acaso
queda-se livremente e nu ─ Torturado.
Reverberado e aturdido ─ Clama por um clárido.
profano e retilíneo ─ Chorora por seus algozes.
Com pedras de cetins monta sua decadência
a estourar nos corações sem ventrículos.
Resminguado e ronronado remoe suas
lembranças...
Seu jardim está vazio numa lápide de marfim
que reluz ante a calvidez do seu cérebro
ogrozado de esperança e languidez.
RAMALHETES DA MALDADE
Nos uivos opacos das neblinas
orvalham-se loucos atrevados
nas artérias solitárias.
A ruindade amargura, agrura
entremeia a alma dos espíritos
enfeia as fileiras das esperanças
suga átomos, neutraliza nêutrons.
Ríspidos eructantes em flatulência
se estouram
estorvados de pecados apenam-se
o burburinho combalido tomba.
— A idade desveste a fantasia.
O bóctio, no ócio da bondade
sismizifica-se nos olhos do fura(cão).
ORÁCULOS DAS INCIDÊNIAS
Os signos songis nas ruas
as superstições do sincretismo
com os orixás a banharem-se na lua cheia
Nas encruzilhas perpendiculares
os atabaques a soarem no ritual
perplexas mentes a se assombrarem
Perpetua-se um sacrifício
em meio às densas trevas
numa noite nua e sangrenta
A purular-se com velhas velas
E num pardo ebó de axé
um curumim em açã
a maniçoba devora.
UTEROIDE TUBA
Do Cosmo nítigos surgem vidas
Paralelas
em massa, todos esperançam
esperançados n’águas de concretos
fustigam as forças dos astros
e nolam afinidades afins
Placentários em uteroides tubas
todos passam pelo portal
vagináticos da vida
O oráculo destina o credo
hipnóticos humanoides se matam
— Não há justiça na matança cristã
No final, retingados de dores
somos almas penduradas nos
varais
presos pelos calcanhares
esticados numa rasa-cova
novo portal da vida.
LORINÁRIOS DE
PERCALÇOS
A letra na palma da minha mão
marca o “status quo” deste
poema.
Talhando a madrugada na tábua
deste papel
reflito os brásculos de uma poesia.
As baionetas das vírgulas pausam
meus pensamentos
ipublinados num pulso de poros
ar-dentes de suores.
Gulo-me de afoitezas atrozes
em lapsos de ternuras infelizes
calos em clãs de adagas malditas
abençoam e assoviam as chuvas dos
gritos aos ventos
no silêncio das madrugadas
surdas e mórbidas.
817B / L2 8º
Andar
Pregado neste leito calcifico meu
cérebro
o retardado tempo me aflige
as horas preguiçosas arrastam-se
os gritos das buzinas escorrem
desconexos
e a brisa tapeia em carícias as dores
ociosas.
O alarido da emergência e suturas
atroz se perpetua na memória
o éter e a ética supuram insanos.
Nafitídios gósmicos reluzem-se em
pirilampos
de confetes
Sondas penianas penetram felizes os
ureteres
ar-dentes
Em náuseas, propelindo lindamente, as
urinas
escorrem
os ruins rins pagam por suas
insanidades
os 184 degraus do térreo ao 8º andar
riem largos sorrisos de mangação em
conta-gotas
e as vidas cessam em choros agourentos
de dores, agonia e de tormentos.
DIVINA COMÉDIA DE UMA
EMERGÊNCIA HOSPITALAR
Chegamos às 17h30min na ala da Emergência Clínica do
Hospital da Restauração, Recife – Pernambuco, onde já havia um amontoado de
gentes, mas que pareciam molambos espalhados pelos corredores.
Um forte cheiro de dor, gemidos e sussurros impregnando
as paredes, o chão e teto, iluminados por umas luzes amareladas. Essa visão nos
deu a impressão de estarmos entrando num matadouro público municipal.
Enfermeiros com seus ares de náuseas atendendo às
necessidades dos desprovidos de saúde, moribundos, esquálidos e fatídicos a
ampliaram essa visão, tal qual ”Guernica” de Picasso.
Cadavéricos CPFs com seus números e histórias de vida
(agora de morte) na iminência de serem cancelados por obtusos óbitos a
engordarem as panças dos urubus, donos de funerárias.
Doentes, atropelados e agonizantes esperam, ávidos em
delírios, algum gole de esperança, nem que seja nos vômitos da caridade alheia.
Uns purulam dolentes as cicatrizes dos cortes de peixeira, foice, faca e facão.
E nesta sutúrica comédia Dantesca, inferno purgatório e
paraíso não passam de estatísticas no livro da politicagem assassina, corrupta,
holocáustica e miserável.
TONY ANTUNES – É
como é identificado poeticartisticamente o poeta, cronista, radialista, blogueiro
e professor Gleidistone Antunes, que
é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Facauldade de
Formação de Professores da Mata Sul (FAMASUL). Ele é formado em Radialismo pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), eletrotécnico pelo Senai e
membro do movimento literário da Poesia Absoluta. Ele edita os blogs Poemas & Prosas e o Professor Gleidistone. Veja mais dele aqui, aqui & aqui.