CLAUDIA
TELLES é uma estrela lindíssima, daquelas que brilham para satisfação do nosso
coração. Além disso, é uma excelente intérprete. E, também, compositora. Uma
artista admirável, não bastando ser quem é: filha do violonista Candinho e da
cantora Sylvinha Telles. Era eu adolescente ainda quando ela embalou meu
coração com suas canções no topo das paradas de sucesso. Curti seus discos e
muito fui embalado por sua voz acolhedora e sua interpretação cativante por
tardes e noites inteiras, acompanhando detidamente cada faixa dos seus discos.
Era uma viagem que eu não fazia a mínima questão que findasse, tanto que eu
retomava a todo instante, deixando-me levar por seu encanto artístico. Não
haveria como ser de outro jeito: virei fã e fiquei a vida inteira esperando uma
oportunidade para manifestar minha gratidão pela emoção com que recheou minha
apaixonada condição de enamorado por sua voz, sua interpretação, seu talento.
Chegou a hora e eu digo: Cláudia, muito obrigado por você existir.
Achando
pouco, ainda inventei de perturbá-la com proposta por uma entrevista. Não ia
perder a oportunidade, ia? Mandei ver. E Cláudia gentilmente, concordou. Quase
lasco o quengo no teto de tanto espalhafato. Era um fã com direito a ter acesso
ao mundo do ídolo. Verdade! Com o riso no coarador, sapequei as perguntas que
ela, simpaticíssima e generosamente concedeu.
Com
vocês, Claudia Telles numa entrevista exclusiva.
LAM - Cláudia, com você
evidentemente que seria desnecessário começar pela pergunta que frequentemente
gosto de abrir as minhas entrevistas, tendo em vista ser filha do violonista
Candinho e da memorável Sylvinha Telles, além de afilhada do não menos
honorável Aloisio de Oliveira. Mas vou correr o risco e, como de praxe,
pergunto: como foi seu encontro com a arte?
Meu
encontro com a arte foi puramente ocasional, apesar de sempre cantar, compor,
estar metida em teatro no colégio e audições de piano. Fui estudar num colégio
onde estudava a Marizinha do Trio Esperança, fizemos amizade, comecei a
trabalhar com eles em vocais para outros artistas, me chamaram para gravar
"Fim de tarde" e eu estourei!
LAM - Por ter nascido no
ambiente que nasceu, quais as influências trazidas da infância e da
adolescência na formação da proposta de seu trabalho musical?
Na
verdade eu vim fazendo um trabalho completamente diferente da minha criação
musical, embora minha mãe fosse bem eclética em termos musicais, quando me
apaixonei pela Soul Music, ela já não estava entre nós. No meu primeiro lp a
maioria das canções eram soul music, mas regravei "Dindi", clássico
da Bossa Nova na voz de mamãe, "And I love her", dos Beatles, e
composições minhas.
LAM - O seu primeiro grande
sucesso foi "Fim de Tarde" de Mauro Motta & Robson Jorge. E
depois, da mesma dupla, "Eu preciso te esquecer". Com foi essa
experiência de frequentar o topo das paradas de sucesso?
Pra
mim foi um susto, quando gravaram comigo foi a título de experiência e nem eles
nem eu esperávamos que virasse o sucesso que virou e que ainda toca até hoje. Na
época eu fui a única artista com dois sucessos nos primeiros lugares das
paradas de sucesso, eu até hoje não entendo direito o que aconteceu comigo, era
muito garota, sozinha, sem ninguém que respondesse por mim.
LAM - Vasculhando seus
álbuns, a gente encontra que você também é compositora. Fala a respeito do seu
trabalho de composição.
Componho
desde garota, gosto de escrever, e as vezes uno os dois, tenho bastante coisas
composta por mim, algumas com parcerias, mas a maioria são minhas sozinha. As vezes
passo muito tempo sem compor nada, mas quando a vontade vem sai uma atrás da
outra.
LAM - Acompanhando sua
carreira, você transitou pelo soul, bossa nova, baladas, músicas que foram
temas de novela, além de fazer releituras de Nelson Cavaquinho, Cartola,
Vinicius de Morais, Tom Jobim, dentre outros. Como é trafegar por caminhos
díspares mas que, com certeza, são complementares, no tocante ao trabalho da
intérprete e compositora Cláudia Telles?
Como
você mesmo disse, no trabalho da intérprete. Me considero uma intérprete, então
me dou ao direito de cantar coisas que acho bonitas independente de estilo
musical, desde que combinem bem com minha voz.
LAM - Em 1995, você foi
premiada como a melhor cantora no Prêmio Sharp. Fala a respeito deste e dos
prêmios que você já arrebatou.
Na
verdade não fui premiada, fui indicada, o que pra mim já foi uma honra, já que
eu concorria com Sandra de Sá e Rosana, as duas completamente estouradas em
rádio e tv e eu absolutamente sem mídia nenhuma. Prêmios já ganhei muitos, é
muito bom ter um trabalho reconhecido.
LAM - Como você está vendo
a música brasileira de hoje, principalmente no que a gente ver no rádio e tv
depois do advento da internet e da democratização de acesso contra o mercado
fechado dos meios de comunicação? Há algo de novo? Ou, a seu ver, esse caldeirão
todo tem algo de bom para mostrar da música brasileira?
Sempre
tem coisas boas, pena que as oportunidades hoje em dia são muito poucas, ou
você tem grana pra fazer uma mídia em seu trabalho e aparecer ou vai
eternamente no trabalho de formiguinha. A internet nesse ponto facilitou as
pessoas de buscarem por seu artista e não ficarem dependendo única e
exclusivamente do que as rádios e tvs querem mostrar.
LAM - E você que nasceu no
universo musical efervescente, que comparações ou comentários faz daquela
turbulência com a não menos trepidante realidade atual da música brasileira?
A
grande diferença é que antes a coisa era muito mais humanizada, as pessoas se
curtiam, se ajudavam, se encontravam toda hora. Hoje basta um sucessozinho e as
pessoas se isolam, camarins separados, fazem questão de não se misturar, é
dessa forma que eu vejo.
LAM - Quais são as suas
perspectivas com o universo musical?
Sinceramente
não sei o que esperar não, de coração.
LAM - Quais os projetos que
Claudia Telles tem por realizar?
Estou
com 3 projetos em mente esperando apenas o principal, dinheiro pra entrar em
estúdio, um é regravar as coisas de meu pai Candinho, que são lindas e merecem
que as pessoas conheçam melhor suas composições, outro é um cd infantil onde
criei as histórias, os desenhos e as canções, e ainda um cd meu, com
composições minhas e de amigos, inéditas misturadas com músicas da década de
70, que adoro!