Imagem: Foto recolhida por Eilson Freire.
Como fui muito andejo entre as escolas, conto
logo que comecei no Grupo José Bezerra e, depois duma crise hepática, fui parar
na Escola Fraternidade Palmarense para concluir o ensino primário, fazer
admissão no Ginásio Municipal onde fiquei os dois primeiros anos do ginasial
concluído no Colégio José Ferreira Gomes. Deste saí pro Colégio Diocesano para
começar o segundo grau, o qual findei no Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Foi
aí que continuei minhas estripulias artísticas.
No colégio das freiras fui muito bem
recepcionado pela Madre Maria do Espírito Santo que logo me nomeou representante
da turma. Lá um timaço de pedras boas: Wilson, Sérgio David, Alexandre Goia,
Virginio, Luciano de Chiquinho e outras trocentas pessoas camaradas.
Não parando quieto, estreitei primeiro
amizade com o pianista Sérgio David com quem, toda noite de sexta feira,
largava os afazeres e cultos da igreja batista para bebericar comigo vinhos e
vermutes até altas horas, ouvindo peças pianísticas que eu dispunha na minha
modesta discoteca, que ia desde os eruditos aos do rock progressivo e música
instrumental contemporânea. A gente viajava na ideia mesmo ao som de Gismonti,
Rick Wakeman, Keith Jarret, Tomita, Vangelis, Chick Corea, Duck Ellington, etc
e tal. Virávamos a noite, a ponto de um dia lá, a gente se organizar e partir
emendando dum dia pro outro pra assistir o espetáculo 1984, de Rick Wakeman, lá
no Geraldão, em Recife. Nem lembro que ano foi isso, sei que a gente, curtiu o
som e outras fumaçadas de braqueros que rolava adoidado na pista do ginásio,
viramos a noite lá e zarpamos de volta de manhanzinha cedo depois uma tocada de
improviso que demos no apartamento dum distinto lá que nos acolheu. O negócio
deu tão certo pra nossa banda que, anos depois, findamos os dois bancários
lotados em agências diferentes do velho e bom Recife, pra nunca mais cruzar as
ventas na vida.
Mas voltando a conversa do colégio das
freiras, certo dia lá, eu e o Sérgio David havíamos já dado umas ensaiadas num
duo violão/piano, chegando a nos dar o topete de querermos apresentar nossas
traquinagens no auditório do colégio. Vupt! O negócio cresceu e logo chegaram
juntos pra compor a executada, o Wilson que tirava foto e dava uma de
baterista, e o Luiz Virgínio que era músico já de estrada que se enturmou com a
gente de posse do seu contrabaixo, para, enfim, formamos um quarteto que por
completa falta de imaginação, não conseguimos nomear. A gente ensaiou direito e
bonito e, num dia lá que não lembro de jeito nenhum de que ano foi, acertei com
a madre superiora e ela levou a turma toda pra assistir no auditório. Foi um
arraso. Contudo, o quarteto só resistiu a essa apresentação, cada um arribando
pruma banda, seguir seus afazeres: eu fui fazer Letras na Famasul; o Sérgio
virou bancário e se restringiu ao piano da igreja; Wilson foi tirar foto e
imitar seu ídolo Cauby Peixoto; e Virgínio arribou concursado numa instituição
federal pra Maceió, só o encontrando uns 30 anos depois.
Imagem:
Uma das fotos da nossa apresentação no Colégio. Adivinha quem está todo cheio
de munganga na bateria! E quem está do lado? O Amaro? Tem mais outras fotos,
mas não consigo encontrar.
Anos depois reencontro Wilson e no meio das
nossas cachaçadas, certo sábado eu fui armado do meu violão e ressaca
inspiradora, até o apartamento dele. Aboletado e jogando conversa fora, a gente
começou um papo musical que findou numa parceria duma canção que eu perdi na
memória e só devo ter registro dela no meio de uma tuia de fitas cassetes que
carrego e nunca mais tive tempo de ouvir. Foi a única parceria e, no frigir dos
ovos, esquecível.
Esse mesmo Wilson, filho do saudoso amigo João
do Foto (e a sua lambreta envenenada), tornou-se Wilson Fotografias – a sensação
das fotos da região! Emendamos muitos bigodes nas maiores biritadas da gente
perder até a noção do tempo com outro sujeito que fechamos um trio da gota:
Gláucio Braga de Queiroz, mais popularmente conhecido como Gal do Caixão, ou
Gal da Funerária, ou Gal do seu Guedes e dona Glorinha e outras tantas
afiliações – outro que faz uma data que não revejo. Depois conto as dele.
Hoje o cabra Wilson tomou jeito, virou cantor
de verdade (o que muito me envaidece, pois ele gravou no seu cd duas músicas
minhas, Cantador e Desnorteio), fez-se vereador e locutor na tradicionalíssima
emissora da integração regional, a Rádio Cultura, com o programa Nos tempos do Ferroviário que sempre que
posso aprecio pela rede aos sábados de tarde
Todavia, entre as lembranças mais
representativas do colégio das freiras, como a da irmã Eugênia, dos colegas de
classe e dos amigos professores, uma eu destaco com o maior prazer do coração:
o professor Barbosa. Ele era meu vizinho de fundo na Cohab (eu morava na rua D
e ele na rua A e não havia muros para divisar as residências. Um andava pelo
quintal do outro, à época. Tempos bons). Esse professor, gente boníssima e da
melhor estirpe, era um daqueles que faltasse um, ele estava lá pronto para lecionar.
Ele era professor de Matemática. Contudo, faltou o professor de religião, ele
mandava ver; faltou de Química, ele lá; faltou o de Física, ele na maior;
faltou o de Moral e Cívica, oxe, moleza; e era assim: qualquer matéria, ele
dominava. Aí, teve um dia que o professor de Inglês não apareceu. Aí, sim.
Agora que a gente ia conhecer pela primeira vez a saída do Barbosa. Ôxe, nem
deu tempo da gente começar a imaginar como seria o estrupício, logo, no de
repente, ele abriu a porta espalhafatosamente e tascou com seu ar envolvente:
- Vamu aprendê ingrês qui portugueis nós já
sabe!
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