Frederico
Barbosa é poeta pernambucano. Cursou Física pela USP e é formado em
Letras/Português. Foi crítico literário no Jornal da Tarde e na Folha de São
Paulo, consultor e redator do volume Help! - Literatura, publicado pelo O
Estado de São Paulo. Leciona Literatura, Texto e Redação no Curso Anglo
Vestibulares. É consultor técnico das coleções Ler é Aprender, do O Estado de
São Paulo; Livros, de O Globo; e Biblioteca ZH, do Zero Hora. Dirige
atualmente a Coleção Alguidar. Publicou os livros Rarefato (Ed. Iluminuras,
1990), Nada feito nada (ed. Perspectiva, 1993 Prêmio Jabuti), 5 Séculos de
Poesia - Antologia da Poesia Clássica Brasileira (Landy Editora, 2000),
Contracorrente (Iluminuras, 2000), Louco no Oco sem Beiras - Anatomia da
Depressão (Atliê Ed, 2001), Na Virada do Século - Poesia de Invenção no
Brasil (Landy Ed, 2002) e Cantar de amor entre os escombros (Landy, 2002).
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Luiz
- Vamos começar por Pernambuco: como você coloca uma observação entre o
Pernambuco da sua infância e o de hoje? De que forma Pernambuco contribuiu
para a sua formação poética?
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Frederico - Tenho
uma relação curiosa com Pernambuco. Vivi em Recife os primeiros seis anos da
minha vida. Só isso. Depois, em 1967, vim para São Paulo. Costumo dizer que
fui exilado, ou meus pais o foram, depois do golpe militar de 64. É
impressionante a quantidade – e principalmente a qualidade – dos
intelectuais, que, como eles, deixaram Pernambuco pouco depois do golpe. Dá
para imaginar como seria o Recife se lá tivessem permanecido intelectuais
como Sebastião Uchoa Leite, Luiz Costa Lima, Márcia e Jorge Wanderley, Ana
Mae e João Alexandre Barbosa (meus pais) e tantos outros, na época muito
jovens, que vieram para sudeste naquela época?
Mas vou a Pernambuco praticamente todos os anos, durante as férias. Nos últimos 15, pouco tenho ido ao Recife, fico mesmo em Tamandaré, praia que fica 90 km ao sul da capital. Costumo dizer que a minha cidade é São Paulo, mas meu estado é Pernambuco. Acho que dá para entender. A cidade que eu conheço melhor é São Paulo, mas pouco conheço do Estado de São Paulo. Quando tenho qualquer oportunidade, pego o carro e vou “subindo” até Tamandaré. Na realidade, nos últimos anos o meu contato com Recife vem crescendo bastante. O maior culpado por isso é o poeta, cineasta, professor, agitador de todos os baratos, Jomard Muniz de Britto. Depois que o conheci, passei a me interessar muito mais pela cultura e pela cidade do Recife como um todo. Até escrevi um poema em homenagem à cidade, quando o Recife elegeu João Paulo prefeito. É dedicado ao Jomard e procura dialogar com o grande “Evocação do Recife”, de Manuel Bandeira. Eis o poema: Vocação do Recife para Jomard Muniz de Britto Recife Não a Veneza americana Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais Não o Recife dos Mascates Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois – Recife das revoluções libertárias Mas o Recife sem história nem literatura Recife sem mais nada Recife da minha infância Manuel Bandeira – Evocação do Recife Recife sim das revoluções libertárias da teimosia ácida do contra. Não o Recife da minha infância de golpe e exílios gorilas e séquito de vermes venais. Recife sim da coragem Caneca da conscientização neológica das lutas ligas lentes do sempre não. Não o Recife sem literatura no papo raso da elite vesga a vida mole e a mente dura. Recife sim poesia e destino na memória clandestina de sombras magras sobre pontes e postais. Bandeira sutil na preterição sim. Clarice sim frieza entranhada na estranheza de ser Recife. Recife sim na literatura navalha só lâmina solar solidão sem soluços só suor de João Cabral. Recife sim nos cortes certos de Sebastião contra a metáfora vaga e o secreto. Não o Recife sonho consumo de turistas e prostitutas na praia do sim shopping sem graça de Boa Viagem. Recife sim que em Nova Iorque se revê Hudson Capibaribe ecos de Amsterdam. Recife rios ilhas retalhos retiros velhos reflexos de Holanda. Não o Recife que revolta na extrema diferença. Não o Recife que expulsou sua própria inteligência. Recife sim que se revolta vivo. Faca clara que ainda fala não. |
Luiz
- Como você observa a linha
que passa de Ascenso, Bandeira, Capiba, João Cabral, até Antonio Carlos
Nóbrega, Lenine, Alceu, Manguebeat?
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Frederico - Há
inúmeras linhas que podem ser traçadas quando se pensa na literatura
produzida em Pernambuco ou, como é o caso de Bandeira e, durante muitas
décadas, de João Cabral, por pernambucanos que vivem fora do estado. Na minha
linha entrariam Bandeira, Ascenso, Joaquim Cardozo, Cabral, Carlos Penna
Filho, Sebastião Uchoa Leite... Todos grandes poetas. Da música não posso falar
muito. Gosto mesmo é de jazz... Mas acho que o Manguebeat foi uma iniciativa
muito interessante, por misturar, antropofagicamente, inúmeras influências.
Recentemente escrevi um poema sobre a rua da Moeda, reduto do rock no Recife.
Aí vai:
Rua da Moeda tapa na cara dos reaças enquanto o poeta reaça na lagoa (maranhense) carioca realça a garça e condena o rock lá em recife a turma dança de negro (fear of the dark) e canta contra (quanto mofo gullar/tinhorão surdo ao novo patrono do pagode banal) tapa na cara dos reaças: rua da moeda dos punks do heavy do soco socorro metal pernambuco contra a paralisia mental enquanto um passadista síntese da direita do preconceito da retro seita brada armorial na rua da moeda camisetas negras mimetizam arrecifes contra a onda do fácil fascio o burro coro coreto nacional-popular (quanto mofo intolerância tola implicância ditadura na voz do velho ariano feito dogma preconceito feito god) tapa na cara dos reaças: rua da moeda onde rock faz mais sentido ácido pesado e divertido contra a nação mesmice um louco pernambuco dadá Recife - São Paulo, fevereiro-abril de 2002 |
Luiz
- Como nasceu, ou melhor, como se deu a descoberta da poesia em Frederico Barbosa?
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Frederico - De início,
se deu por culpa do futebol. Sou palmeirense roxo (até na Segunda Divisão!) e
no começo da adolescência meu maior ídolo era, é claro, Ademir da Guia.
Morava, e ainda moro, perto do Parque Antártica, onde ia sempre vê-lo
jogar... Um dia, quando eu tinha uns 14 anos, meu pai me mostrou o poema que
João Cabral fez para o Ademir... A partir daquele momento não conseguia mais
ver o Ademir jogar sem lembrar da descrição do Cabral... Já estava
contaminado com o vírus da poesia.
No final da adolescência, no entanto, eu tinha dois grandes interesses intelectuais: a poesia e a ciência. A paixão pela poesia foi se se desenvolvendo, a partir do encontro com o poema de Cabral sobre Ademir, através da leitura de poetas como Gregório de Matos, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, entre os brasileiros, e Edgar Allan Poe, T. S. Eliot, Ezra Pound, William Carlos Williams, Rimbaud, Verlaine e Mallarmé entre tantos outros estrangeiros. Formou-se também a partir do convívio, muito precoce e sempre atento, com poetas como Augusto e Haroldo de Campos, Antonio Risério e Sebastião Uchoa Leite, entre outros. Durante os anos de colegial, no final da década de 70, em meio à agitação cultural e política que marcaram o Colégio Equipe, em São Paulo, três professores foram fundamentais para fomentar minha vontade e meu vício de escrever poesia: José Luiz Beraldo, com seu rigor na análise cuidadosa dos fenômenos lingüísticos, Aguinaldo José Gonçalves, com suas leituras ricas, entusiasmadas e iluminadoras dos mais diversos poemas, e Gilson Rampazzo, professor de redação que, com suas posições firmes, instigava a discussão e me estimulava a escrever mais e mais, até mesmo, muitas vezes, com o intuito de me contrapor a suas idéias sobre o fazer poético. No momento de escolher uma “carreira”, no entanto, a ciência me pareceu, de início, mais sedutora. Ingressei, aos 17 anos, no curso de graduação do Instituto de Física na Universidade de São Paulo. Logo percebi, porém, que o meu fascínio com a Física se dirigia mais para o estudo da filosofia da ciência e não para a Física tão abstrata e matemática que se ministrava, naquela época, ao menos, na faculdade. Também não demorou muito para que eu percebesse o óbvio: tratava-se, acima de tudo, de uma fuga da poesia, que eu continuava a escrever, mesmo durante as maçantes aulas de Física, Química e Matemática. Datam dessa época os primeiros poemas que julguei dignos de publicação e que chamaram a atenção de críticos como Boris Schnaiderman e Haroldo de Campos, que, ao publicarem esses poemas em revistas, muito me incentivaram a trocar definitivamente a ciência pela poesia. Assim, em 1982, iniciei os cursos de Português e Grego na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da mesma universidade. No ano seguinte, comecei a ensinar Literatura e Língua no Colégio Equipe, onde aprendi a ensinar procurando plantar sempre nas crianças e nos adolescentes o amor pela leitura e pela redação de poesia. É o que procuro fazer, a duras penas, até hoje, mesmo ensinando em um cursinho. |
Luiz - Como é a relação entre o poeta, o crítico e o
professor?
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Frederico- É tudo
uma coisa só, não? Acho que as três atividades precisam se exercidas com
paixão e rigor. É o que procuro fazer.
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Luiz - Como se
revela a experiência do professor na confirmação ou na satisfação do poeta e do crítico?
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Frederico - É
difícil separar as coisas… Só que é muito interessante ver como muitos alunos
que tive ficaram interessados em escrever e principalmente em ler poesia...
Talvez isso seja fruto da paixão que procuro lhes passar.
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Luiz - A crítica
seria a base do exercício da
cidadania, a atitude participante da poesia?
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Frederico - Creio
que todo artista tem o dever de refletir sobre sua arte. Nesse sentido não é
possível um poeta ser “acrítico”, todos os verdadeiros poetas são, mesmo que
não escrevam ensaios, “críticos”. Um artista acrítico não tem qualquer valor,
assim como é lamentável que qualquer ser humano seja inconsciente, alienado e
conformista.
Quanto à militância da crítica literária, a coisa já é bem mais complicada. Entre 1988 e 1990 procurei desenvolver, exercendo a função de crítico literário dos jornais Jornal da Tarde e Folha de S. Paulo, um trabalho de cunho absolutamente profissional. Jamais ia às redações e dificilmente conhecia os autores que resenhava. Apenas recebia os livros (em algumas épocas, um por semana), lia-os e os resenhava com toda a isenção possível. Acredito, ainda hoje, que é assim que um resenhista profissional deve praticar o seu ofício: elogiando ou criticando um livro de acordo apenas com sua leitura, conceitos, ou mesmo convicções. No entanto, com o decorrer dos anos, tornou-se completamente impossível proceder dessa forma. A politicagem, os interesses pessoais passaram a predominar e eu via, entristecido, fecharem-se todas as possibilidades de seguir com isenção o trabalho. Passei a escrever apenas textos esporádicos somente sobre o que me interessava de fato. |
Luiz - A seu ver,
qual a dificuldade de absorção do público com relação à poesia contemporânea?
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Frederico - A maior
dificuldade, penso, está no acesso do público à literatura em, geral. Quantas
livrarias há nesse país? As pessoas não estão acostumadas a ler. O público
leitor de poesia é ínfimo em qualquer país, mas num país como nosso, em que
as pessoas já lêem me geral muito pouco, a situação fica bem mais complicada.
Creio que devemos encontrar soluções criativas para levar a literatura às
pessoas.
Trabalhei, durante um tempo, com livros que foram vendidos em banca de jornal. Foi um sucesso inimaginável. Fui consultor e redator do volume Help! - Literatura, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, com assombrosas tiragens de 1 milhão de exemplares, e consultor técnico das coleções "Ler é Aprender" (O Estado de S. Paulo), "Livros" (O Globo, Rio de Janeiro) e "Biblioteca ZH" (Zero Hora, Porto Alegre). Além de orientar as publicações, organizei, para essas coleções, vendidas em bancas de jornal a preço sempre inferior a três reais, vários volumes, entre eles, a coletânea Clássicos da Poesia Brasileira, os Poemas Escolhidos de Fernando Pessoa, Os Sonetos de Camões e os Contos Escolhidos de Artur Azevedo, além de assinar diversos dos estudos que acompanham as obras. Muito me empenhei nesse trabalho, já que possibilitou a milhões de brasileiros um primeiro contato com o melhor da literatura luso-brasileira. Para que você tenha uma idéia, só a coletânea Clássicos da Poesia Brasileira vendeu, nas várias edições que teve, cerca de 1 milhão de exemplares... |
Luiz - Você fala de inventividade. Depois de todas as vanguardas, como
você identifica as possibilidades de invenção?
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Frederico - Invenção é tudo na arte. Dizer que a invenção está acabada
é como dizer que História morreu... Balela. As vanguardas não foram o único
momento inventivo na arte. Homero é um poeta de invenção, assim como Ésquilo,
Sófocles... Não consigo conceber um poeta que se sente para escrever um poema
“velho”. Ele sempre há de querer dizer algo novo, de maneira nova. Ou não
será poeta... E há muitos “não poetas” por aí que se dizem “poetas
pós-modernos”.
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Luiz - A Internet tem possibilitado um caminho para a divulgação da
poesia? Isto tem proporcionado uma descoberta de novos valores? Tem levado a
uma maior assimilação do discurso poético por parte do público?
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Frederico - Eu escrevi há alguns anos (está no meu site) o seguinte:
“A Internet é o mais democrático meio de divulgação de poesia já criado. Talvez seja a saída para que os poetas se libertem de uma indústria editorial muito mais preocupada com os resultados comerciais imediatos do que com a qualidade e, desde sempre, refratária à poesia. Assim, têm aparecido, nos últimos anos, inumeráveis sites de poesia e literatura na rede. Se, por um lado, isso é muito rico e pode ajudar a despertar um potencial público leitor, por outro lado dificulta a busca, tornando difícil encontrar poemas de real valor, principalmente para quem se está iniciando nas artes poéticas.” Continuo acreditando nisso. Escrevi essas palavras quando criei o meu site, em 1999. Desde então, já tive mais de 75 mil visitantes no site dedicado à minha poesia e mais de 400 mil no dedicado a estudos de obras literárias. é assombroso. Só o meu livro mais recente, Cantar de Amor entre os Escombros, já teve mais de 8 mil visitas. Como eu navego batante, já descobri muitos novos valores na rede sim. Alguns deles foram Micheliny Verunschki, de Arcoverde, PE, Lau Siqueira, gaúcho que mora em João Pessoa, Rodrigo de Souza Leão, do Rio de Janeiro, Greta Benitez, de Curitiba, Ronald Augusto, de Porto Alegre, etc. Quanto a levar “a uma maior assimilação do discurso poético por parte do público”, como você o coloca, acho que ainda é muito cedo para avaliar... Espero que sim. |
Luiz - Em um dos poemas do seu Oco sem beiras - Anatomia da Depressão,
você traz: "Entre a expressão (banal) e a invenção (genial) fico com a
impressão. Invento no leitor a impressão do horror. Imprima-se". Seria a
sua contestação?
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Frederico - Seria mais uma posição. Tenho horror à poesia “de
expressão”, confessional, verborrágica: banal. Tenho enorme admiração pela
poesia “de invenção”: genial. Mas busco, com o meu trabalho poético, a
“impressão”. Aquilo que os gregos chamavam de “páthos”: imprimir no leitor
uma marca forte, “o meu horror”.
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Luiz - Como você define seu trabalho?
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Frederico - Um rarefato louco no oco sem beiras, nada feito nada
contracorrente. Em suma, cantar de amor entre os escombros.
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Luiz - Que avaliação você faz do Rarefato até o Cantar de Amor entre os
Escombros?
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Frederico - São cinco livros de poesia... Com poemas que foram escritos
entre 1978 e 2002: 24 anos! Difícil falar, não? Só dá para dizer que, ao
contrário de muitos poetas que procuram esconder o seu passado, eu não me
arrependo de ter publicado nenhum dos poemas. Acho que isso já diz muito.
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Luiz - Como é passar de uma antologia da poesia clássica brasileira e,
depois, partir para uma seleção da poesia de invenção no Brasil?
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Frederico - São dois trabalhos totalmente diferentes. A antologia Cinco
Séculos de Poesia reúne poemas anteriores ao modernismo, de 21 poetas
absolutamente consagrados... Já Na Virada do século – Poesia de Invenção no
Brasil reúne o que de mais significativo nós (eu e o Cláudio Daniel)
conhecíamos da poesia produzida no Brasil a partir dos anos 90. É sempre mais
arriscado e sei que cometemos algumas injustiças, até por que já descobrimos
alguns autores que desconhecíamos na época em que fizemos a antologia. E se
“viver é perigoso”, lidar com gente viva também o é. Mas “poesia é risco”...
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Luiz - A seu ver, que nomes novos têm se destacado nessa poesia de
invenção?
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Frederico - Há muita coisa boa sendo produzida por aí. Mesmo correndo o
risco de esquecer alguém, eu diria que os que me vêm à mente no momento são
Amador Ribeiro Neto, Lau Siqueira, Micheliny Verunschki, Cláudio Daniel,
Fabiano Calixto, Joca Reiners Terron, Paulo César de Carvalho, Jorge Padilha,
André Ricardo Aguiar, Rodrigo de Souza Leão e muitos outros que são tão pouco
conhecidos...
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Luiz - Falemos agora da Coleção Alguidar: quais os propósitos dessa
coleção?
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Frederico - A iniciativa de organizar a Coleção Alguidar é mais uma
tentativa de criar canais de comunicação entre os poetas e o público leitor
potencial, que sempre tenho insistido em procurar acordar para a poesia.
A coleção, que será distribuida no Brasil e em Portugal, foi criada para apresentar ao público obras de poesia ou prosa inventiva de autores brasileiros e portugueses contemporâneos. Publicando autores já consagrados, ou inéditos de qualidade, tem como norma a exigência e o rigor. Busca revelar o vigor de uma literatura feita com inteligência, fornecendo ao público leitor da língua portuguesa o “biscoito fino” que ele merece. Procura seguir à risca o ensinamento dos versos de João Cabral de Melo Neto que lhe inspiraram o nome: “Catar feijão se limita com escrever: jogam-se os grãos na água do alguidar e as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar.” Tivemos a honra de publicar, como primeiro número da coleção, o livro A Regra Secreta, de Sebastião Uchoa Leite, que considero um dos maiores poetas que o Brasil já teve. Publicamos também o meu livro, Cantar de Amor entre os Escombros e já temos acertada a publicação dos livros de estréia de Micheliny Verunschki e de Paulo César de Carvalho. Esperamos publicar 2 ou 3 livros por semestre. Espero que dê certo, para que possamos publicar livros destes poetas todos que já citei e de outros que venham a aparecer. |
Luiz - Para quem está se iniciando na trilha da poesia, o que o poeta,
o crítico e o professor Frederico Barbosa teria a dizer?
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Frederico - Caráter e coragem! E desconfie sempre dos caminhos fáceis.
Evite a politicagem e lute sempre pelos seus princípios. Assim, certamente
você não há de se “dar bem” e levará muita porrada. Mas só assim você talvez
se torne um escritor significativo.
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Entrevista
concedida em 2009 para o Guia de Poesia.