GABRIEL PERISSÉ – Mestre em Literatura Brasileira pela USP e Doutorando em
Educação pela USP, atua como professor universitário em São Paulo (FASM,
Unifei, ANHEMBI-MORUMBI e IPEP) e como palestrante em escolas e empresas. Autor
dos livros Ler, Pensar e Escrever, O leitor Criativo e Palavras e Origens -
considerações etimológicas. Criou a Escola de
Escritores, ministra cursos sobre produção de textos e literatura pelo IDEC
- Instituto de Desenvolvimento de Educação e Cultura, e tem desenvolvido um
intenso trabalho de formação e orientação de pessoas que desejam escrever
melhor. Comentarista literário do Telejornal São Paulo, na TV CBI, colabora em
vários sites culturais e é editor da revista internacional Videtur-Letras.
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Luiz - O que é e a que se destina o Projeto Mosaico?  | 
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Gabriel
  - O Projeto Mosaico tem como idéia motriz orientar pessoas que querem
  encontrar e desenvolver um estilo próprio na comunicação escrita, em
  particular no trabalho literário. Como ong literária, o Projeto Mosaico tem
  procurado ser uma instância cultural que se interessa pela formação do escritor, o que
  significa pensar na difusão do hábito da leitura, estimular vocações
  literárias e colaborar para que as editoras brasileiras dêem mais espaço aos
  autores nacionais.   | 
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Luiz - Temos ciëncia de que esse projeto
  mantém uma Escola de Escritores.
  O que trata esta escola e quais os requisitos de participação?   | 
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Gabriel
  - Pela Escola de Escritores já passaram mais de 1200 pessoas. Organizamos cursos e palestras que atraem
  pessoas interessadas em escrever melhor e encontrar formas de aperfeiçoar seu
  estilo.   | 
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Luiz - Que cursos são disponibilizados pela
  escola e a quem se destina? Vocës também desenvolvem uma oficina pernamente de texto, o que
  especificamente é desenvolvido nesta oficina?   | 
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Gabriel
  - Atualmente, concentramos nossos esforços no curso particular
  virtual. Estamos também anotando os nomes dos interessados em participar
  da oficina literária, que tem encontros semanais e será retomada no final de
  2002.   | 
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Luiz
  - Vocês avaliam textos de
  diversos autores, como se processa esta avaliação e como participar
  dela?   | 
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Gabriel
  - Criamos um serviço de avaliação de
  originais. Pessoas formadas pela Escola de Escritores recebem por esse
  trabalho, que consiste na apresentação de um parecer, no qual se apontam as
  qualidades e os problemas do texto submetido à avaliação. A pessoa
  encarregada de dar esclarecimentos a esse respeito é Laura Almeida - realreal@uol.com.br    | 
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Luiz
  - Que atividades outras vocês
  desenvolvem literariamente?  | 
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Gabriel
  - Organizamos saraus literários que são divulgados mediante o Serviço
  Cultural Ler, Pensar e Escrever, distribuído gratuitamente, com indicações de
  leituras e outras notícias que interessam às pessoas identificadas com o
  nosso trabalho. Temos também uma revista internacional, a Videtur-Letras (último
  número), em parceria com a USP, na qual costumamos publicar autores
  ligados ao Projeto. Já publicamos 7 antologias literárias, divulgando o
  trabalho de mais de 140 autores inéditos, e temos a intenção de publicar uma
  nova antologia ainda este ano.   | 
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Luiz
  - Vocês trabalham a arte de escrever,
  a vida literária, como são tratadas tais questões para os que buscam auxílio
  nos seus cursos e oficinas?   | 
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Gabriel
  - Acabei de publicar um livro — A ARTE
  DA PALAVRA —, em que apresento um aspecto da nossa metodologia. Lá são
  discutidas questões referentes à aquisição do estilo, ao plágio criativo, à construção de um leitorado etc. O
  importante é frisar que o trabalho do escritor é solitário e solidário. Ou
  seja, boa parte da carreira de um autor se faz na luta pessoal com a palavra,
  mas há também uma vida literária, que consiste em divulgarmos o que
  escrevemos e convivermos com outras pessoas que escrevem.   | 
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Luiz
  - Como é que se desenvolve o serviço
  cultural "Ler, pensar e escrever"?  | 
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Gabriel
  - As pessoas pedem para ser incluídas em nossa mala direta e recebem,
  periodicamente, este serviço cultural. O e-mail de Ana Lasevicius,
  encarregada da nossa mala direta, é analasevi@uol.com.br   | 
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Luiz - Você que também é autor, qual é, a seu ver,
  o papel do escritor ou do papel do poeta no mundo de hoje?   | 
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Gabriel - O autor deve fazer ver. Daí a
  necessidade de que o seu texto, ficcional ou ensaístico, poético ou
  acadêmico, no papel ou na tela do computador tenha a clareza como principal
  atributo. Escrever é transbordar, mas é preciso transbordar de modo que o
  leitor não seja afogado. Os leitores esperam sair de cada leitura com a
  sensação, e com a certeza, de que foram beneficiados generosamente pela
  inteligência do autor, pela sensibilidade do autor, pela imaginação do
  autor.   | 
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Luiz - Você lançou um livro "O leitor
  criativo", como é que se identifica este tipo de leitor? Ou quais as
  características necessárias para ser um leitor criativo?  | 
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Gabriel - O leitor criativo é co-autor daquilo que
  lê. O leitor criativo exerce uma recepção ativa, de modo que, após a leitura,
  torna-se um produtor de sentido, um difusor de realidades, realidades
  observadas na leitura, absorvidas na leitura, mas, sobretudo, recriadas na
  leitura. Para eu me tornar um leitor criativo necessito aprender a ler nas
  entrelinhas, a ler o invisível, preenchendo-as com a minha visão de
  mundo.   | 
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Luiz - Como autor, como você vê o mercado
  editorial brasileiro?  | 
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Gabriel - As editoras continuam lutando para
  sobreviver e, por isso, vivem em busca de best-sellers. O importante é
  salientar que as editoras deveriam ser, além de empresas, locais de encontro
  entre o escritor nacional e o público brasileiro. Já sugeri a várias editoras
  que incorporassem a idéia da Escola de Escritores, no sentido de se tornarem,
  não apenas empresas que recusam ou aprovam originais, mais uma referência de
  formação para pessoas que querem ser escritores. O mercado editorial não pode
  deixar de ser um mercado, mas poderia ser também uma escola, uma fonte de
  aprendizado.   | 
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Luiz - A seu ver, existe algum nome que tenha se destacado
  atualmente na Literatura Brasileira?  | 
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Gabriel - O exemplo do poeta Manoel de Barros! Um
  poeta que se tornou conhecido e finalmente reconhecido porque insistiu,
  porque não abandonou a poesia, porque não fez concessões ao seu trabalho.  | 
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Luiz - A seu ver, quais as perspectivas hoje para
  um escritor ou poeta iniciante conseguir publicar seu livro?  | 
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Gabriel - Continuam difíceis. Mas é uma questão de
  trabalhar. E de aperfeiçoar-se. Um escritor precisa cultivar um leitorado, e,
  para tanto, beneficiar seus leitores. Qual é o bem produzido pela literatura?
  O texto bem escrito provoca um prazer específico. Esse prazer faz bem ao
  leitor. É um prazer de ordem estética. Ou intelectual. O escritor iniciante,
  o poeta iniciante precisam descobrir formas de conquistar uma "imensa
  minoria", ou seja, um público pequeno, mas qualificado e fiel, a partir
  do qual construirão uma base de leitores. Com o tempo, uma editora poderá
  reconhecer o trabalho desse escritor e desse poeta, levando em conta (o que é
  legítimo) a capacidade de venda desse autor em quem investirá.   | 
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Luiz - O que é necessário para que este escritor
  ou poeta iniciante, a seu ver, deva ter em mente no processo de criação para
  que consiga desenvolver um trabalho literário de relevância?  | 
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Gabriel - Escrever bem é escrever com tudo. João
  Cabral de Melo Neto falava que escrever é ir ao extremo de si mesmo. Tal
  entrega é condição sine qua non para escrever. Querer publicar por uma
  questão de vaidade, por exemplo, é perda de tempo. Escrever é um serviço que
  prestamos ao leitor. Um serviço em que lhe entregamos idéias, sensações,
  sofrimentos, esperanças... tudo isso em forma de palavra. Uma palavra com a
  qual lutamos. Uma luta inglória, mas que sempre traz a sua recompensa. Para
  quem escreve e para quem lê.  | 
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Luiz - Que conselho você daria para esse pessoal
  que está começando hoje?  | 
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Gabriel - Cultivar o amor à linguagem. Escrever é
  um ato de amor. Desenvolver esse amor, cuidar desse amor. Tal desenvolvimento
  é impossível sem o conhecimento. Não se pode amar o que não se conhece. O
  escritor iniciante deve iniciar-se na arte da leitura. A leitura, mais do que
  um hábito, deve ser um ato de respiração para o escritor. Escolher os seus
  clássicos pessoais. Escolher e conviver com os seus autores-gurus. E
  imitá-los de modo criativo. Conviver com as palavras. Brincar com o
  dicionário. Brincar com a etimologia. Brincar com os sons das palavras. E com
  os sentidos. Para que escrever faça sentido.  | 
Entrevista concedida em 2009 pro Guia de Poesia.


