segunda-feira, junho 15, 2015

ENTREVISTA LEILA MICCOLIS




LEILA MICCOLIS - Leila Miccolis é um amor de gente. Ela nasceu no Rio de Janeiro, é editora, professora de roteiro de televisão, promotora cultural e artista performática.

Já publicou mais de 30 livros, dentre eles: Em perfeito mau estado, Editora Achiamé, Rio de Janeiro, 1987; Do poder ao poder - alternativas na poesia e no jornalismo nos anos 60, Editora Tchê, Rio Grande do Sul, 1987; O bom filho a casa torra, editoras Edicon e  Blocos, São Paulo e Rio, 1992; Achadas e Perdidas e Sangue cenográfico, Editora Blocos, Rio de Janeiro, 1997.

Tem obras publicadas na França, México, Colômbia, África, Estados Unidos e Portugal.

Leila é também teatróloga, roteirista de cinema e escritora de novelas de televisão, entre elas: “Kananga do Japão”, “Barriga de Aluguel” e “Mandacaru”.

Já elaborou verbetes para a “Enciclopédia de Literatura Brasileira” (MEC/OLAC) e também publicou: “Catálogo da Imprensa Alternativa”, 1986, pela RioArte/Prefeitª do RJ.

Publicada na Revista Poesia Sempre nº 7 (Biblioteca Nacional/MEC), consta do Banco de Dados Informatizados do Banco Itaú - Módulo Literatura Brasileira, Setor Poesia (categoria: “Tendências Contemporâneas”) e dos “Cadernos Poesia Brasileira” - vol. 4, “Poesia Contemporânea”, editado pela mesma instituição, 1997.

Seu livro reunindo sua obra quase completa, “Sangue Cenográfico” (Ed. Blocos, 1997) tem prefácios de Heloísa Buarque de Hollanda, Nélida Piñon, Gilberto Mendonça Teles, Ignácio de Loyolla Brandão.

E mais: sua obra é citada e analisada por escritores como: Affonso Romano de Sant’Anna (Ed. Vozes/1978), Glauco Mattoso (Ed. Brasiliense/1981),  Jair Ferreira dos Santos (idem/1986), Assis Brasil (Ed. Imago/FBN/UMC, 1998). Co-edita com Urhacy Faustino Blocos Online.

Desde da década de 70 que a gente mantém contato. Ou seja, desde as publicações da Trote, lembro-me bem. E também pela troca de materiais que publicávamos.

Da minha parte, primeiro, pelos trabalhos alternativos que desenvolvi, com amigos, eu ainda adolescente, através da “Nova Caiana”, revistinha editada pelas “Noites da Cultura Palmarense”, na década de 70. Depois com a revista A Região, editada na década de 80, onde além de ser membro do conselho editorial, eu editava o encarte “Vozes de Uma”, destinado à publicação de poesias e que findou nas Edições Bagaço de hoje; e, por fim, pela edição do tablóide “Nascente – Publicação Lítero-Cultural”, que editei na década de 90.

Além disso, durante esses anos todos, eu ficava extremamente feliz cada vez que recebia um aerograma com um alô e uma poesia dela.

Por isso digo e reitero: Leila é um amor de gente mesmo!

Pois bem, havia tempo que eu queria fazer uma entrevista com Leila. E isso foi logo quando ela me inseriu no rol do Muita Poesia Brasileira. Depois quando ela me convidou para escrever uma crônica quinzenal pro Blocos. Escrevi e, por causa da minha louca agenda, passei a enviar de forma não regular. Ou seja, uma aqui; outra daqui um ano. Mas não é ingratidão minha, é briga por sobrevivência, luta por conquistas.

Agora quero me redimir. E como já disse que Leila é um amor de gente, vejam vocês esta entrevista que ela me concedeu.

Com vocês, Leila Míccolis.

LAM - Leila, este ano você está comemorando 40 anos de poesia. Mas, de início, eu quero fazer a pergunta de praxe: como foi que você chegou na poesia, na arte? Como se deu a comunhão artística?

Meus primeiros versinhos, aos três anos de idade, foram trovas para meu gato e, pasme, para Jesus – sempre tive muita ligação com Ele... Minha mãe me incentivou a lidar com a poesia desde sempre. Devo a ela este incentivo e esse caminho. Ela também me estimulava a participar de muitos concursos literários e, tendo vencido vários, tive mais encorajamento para prosseguir; mas nunca pensei em escrever, como profissão. Fui advogada por alguns anos, só que, como costumo dizer, a literatura é um senhor muito possessivo, acabei por abandonar a advocacia e eis-me serva da escrita: “meu bem, meu mal”...

LAM - Como disse anteriormente, você comemora 40 anos de poesia, tudo começa com "Gaveta da Solidão" em 1965, num é? Fala um pouco dessa estrada toda pela poesia, os prêmios, as publicações, enfim, o seu trajeto poético.

Gaveta é meu primeiro livro (a capa é feita por minha mãe), considero-o infanto-juvenil (risos)... mas nele já estava o germe do que eu desenvolveria com o correr do tempo.

INUTILIDADE

Voltaste.
Nem precisava.

Os elementos mais característicos de minha poesia já estão presentes nesse poema, por exemplo: o minimalismo, a crítica e a visão crítica de uma lírica insubordinada e por vezes até agressiva – como na primeira fase da minha obra.
Gaveta, então, tem o mérito de ter sido o primeiro passo, que é sempre difícil, os chineses costumam dizer que às vezes o primeiro passo equivale a mais da metade do caminho.
No dia do lançamento, o poeta Murilo Araújo falou sobre o livro; hoje, me é motivo de orgulho; mas naquela época eu nem sabia o que era o Modernismo. Fazia arte pela arte.
Por “castigo”, passei muito tempo depois exorcizando o livro... risos.
Agora, eu o vejo uma espécie de registro do quanto avancei: do romantismo piegas à consciência crítica.
Depois seguiram-se: Impróprio para Menores de 18 amores, com Franklin Jorge, em 76, Silêncio Relativo (77) Respeitável Público (80), Maus Antecedentes, com o saudoso Paulo Veras (81), MPB (82), Mercado de Escravas, com Glória Perez (84).
A partir daí, vieram os livros da segunda fase: Em perfeito Mau Estado, De 4, com Marçal Aquino, Glória Perez e Ona Gaia, Só se for a dois, com Urhacy Faustino, O bom filho a casa torra, Olívia, a que não era palito, Estalos, com Urhacy Faustino (haicais) e Sangue Cenográfico – com prefácios de Ignácio de Loyola Brandão, Heloísa Buarque de Holanda, Gilberto Mendonça Teles e Nélida Piñon.
Por último, em 1999, “Sob o Céu de Maricá” (edição limitadíssima que pretendo transformar em livro virtual).
No final do ano passado participei do Projeto Celuler – livros de poesia através de telefonia celular.
Esses são meus livros solos ou semi-solos de poesia.
Há as antologias, livros de prosa, etc. etc. etc. A produção é vasta. Urha também já está com seis livros de poesias, alguns infanto-juvenis, inclusive O Pulo do Sapo, com Cláudia Pacce (Ed. Ática), um de romance que eu acho notável: “Colibri deflora o sexo – sexo, amor e amizade pela Internet”, a primeira obra na época a falar dos chats, inclusive utilizando a própria linguagem das salas de conversação; e atualmente está terminando um novo romance, sobre vampiros, bem diferente das obras tradicionais do gênero.

LAM - Você transita por vários formatos poéticos e já atravessou todo tipo de alternativa poética ao longo dos anos, sendo elogiada pela crítica especializada, enfim, como é que se dá o fazer poético para você?

Sou bem cria da Geração Poética de 70: utilizo o material do cotidiano, do dia a dia, seja através de notícia de rádio, uma frase ouvida na televisão ou em uma música, e até, atos falhos ou erros de digitação, pego tudo, o que mostra que fico antenada o tempo inteiro, aberta ao que acontece a minha volta, e, lógico, dentro de mim também.
Sou um laboratório de criatividade ambulante... J O tratamento bem-humorado é para o leitor segurar o impacto da crítica ferrenha, do soco na boca do estômago. Ele lê, sorri, mas quando acaba se toca: do que é que estou rindo? Na verdade, o público entende perfeitamente o morde e sopra do poema...
Minha formação foi parnasiana e dela conservo a força da rima – havendo mais de cem espécies de rimas, a opção do material de escolha então é farta... No entanto, creio ter conseguido o que Mário de Andrade falava: ritmo individual e ritmo socializante, não só através dos temas que abordo, mas, também, pelo modo como o faço, com rupturas ásperas, quebras inesperadas e cortes abruptos.
Pessoalmente, gosto de todos os tipos de poesia. Acho notável esta imensa gama de modalidades poéticas, sinal da riqueza da poesia brasileira, que só se engrandece com essa polifonia de vozes.
Pena que as obras – principalmente didáticas – parem na Geração 45. Poucas são as que vão além, e, quando o fazem, apenas alinham uma relação de nomes, sem se deter nas tendências pós-modernas em que determinados autores se agrupam.
Quanto à poesia experimental então, esta nunca é sequer mencionada. Na verdade há um enorme desconhecimento da poesia brasileira a partir do Modernismo, como se nada mais tivesse valido a pena, a partir dele – o que não é verdade. Nunca se fez tanta poesia como na contemporaneidade – basta compararmos o número de poetas de que se tem notícia até o final do século XIX com o atual (divulgo em Blocos a minha relação já com mais de 7.000 nomes, tendo ainda outro tanto de poetas para acrescentar). Não vejo este dado como negativo: só se aprende escrever, escrevendo. Negativa é esta indiferença pelo que está se fazendo hoje. Afinal, o passado já se encontra registrado; precisamos portanto, resgatar é o presente.
Se Mário não escrevesse sobre as tensões da época, muito do movimento se teria perdido. Ou nos empenhamos em testemunhar a contemporaneidade, ou ela continuará vaga e ironicamente longínqua e inacessível.

LAM - Você e Urhacy Faustino comandam o Blocos. Conta pra gente como se desenvolve todo o trabalho do portal, como nasceu e quais as perspectivas?

Com muito afinco, dedicação e, quase sempre, entrando pelas horas de sono e pelo dinheiro da sobrevivência. Um site, assim como um jornal alternativo, é um importante veículo de resistência cultural, de trabalho em conjunto (embora muita gente não veja por este ângulo). Então, não tenho em mente apenas fazer amigos, embora isto seja primordial, se não o ato de escrever se esvazia. Porém quem abandonou tudo para aventurar-se a escrever em um país como o nosso, não pode achar que um portal seja apenas um “point” de encontro...
Dá um trabalhão danado administrar quase 18.000 páginas de um portal que cresce sempre mais (já temos 6.000 acessos diários); e o desgaste não é só físico; passa também pelo contato diário com uma multidão muito heterogênea de pessoas, das mais humildes às mais vaidosas – estes bastidores (assim como o das novelas) são um capítulo à parte, um exercício muito difícil, às vezes. E, sendo escrever o meu trabalho, há uma confusão generalizada: poucos param para pensar qual é o limite em que o lazer invade a profissão.
Passamos sete anos mantendo Blocos, nem sabemos como... Os gastos são muitos. Agora conseguimos, através de Mauro Salles, dois patrocinadores: Bradesco e Brasil Telecom.
Também estamos com um Conselho Consultor de primeira – incluindo o atual Secretário da Cultura do Rio de Janeiro, Arnaldo Niskier, Affonso Romano, Lêdo Ivo, Nejar, Carlos Heitor Cony, Glauco Mattoso, entre outros – presenças que, por si só, já respaldam nossas atividades, além dos nossos colunistas maravilhosos, e de um pessoal que está surgindo agora, muito interessante.
Tem gente escrevendo MUITO. E é um privilégio lidar com este material, tentar de alguma forma apresentá-lo ao público, interagir com esses escritores que surgem de todas as partes. Esta interatividade é de grande valor para quem, como eu, se interessa pelas propostas estéticas atuais.

LAM - Você reúne no portal uma infinidade de poetas dos mais diversos gêneros, isso tudo no Muita Poesia Brasileira - MPB, que, salvo engano, é o título de um livro que você publicou. Fala dessa reunião, qual o objetivo dessa reunião?

É, o MPB vem do título de um dos meus livros: MPB – Muita Poesia Brasileira, que foi publicado pela Trote, uma editora que tive antes da nossa Blocos (a Blocos no momento está paralisada, porque estamos reestruturando-a, em outros moldes).
Por extensão, coloquei o Muita Poesia Brasileira no portal, não só porque gosto muito do título como também pela conotação da sigla, que chama atenção para o entrecruzamento poético com outras atividades artísticas, principalmente com a música – e a Geração Poética de 70 teve muita ligação com as letras de música.
Nesta nova fase de Blocos, porém, o título MPB foi substituído por outro: Enciclopédia Virtual Blocos de Poesia Contemporânea, que dá uma dimensão mais abrangente do que pretendemos nessa área do portal.

LAM - Você também desenvolve um trabalho de pesquisa que resultou no Catálogo da Imprensa Alternativa. Fala um pouco a respeito dessa pesquisa, os objetivos e resultados até então.

A RioArte - Prefeitura do Rio de Janeiro – publicou o livro em 1986, e agora deve sair a edição revista e atualizada pela Prefeitura de Imperatriz.
Neste novo projeto, Edmilson Sanchez ficou responsável pelos jornais maranhenses e eu pelos dos demais Estados.
Como fonte de pesquisa baseei-me, no meu acervo pessoal, com publicações de todo o Brasil, até 1999, e o Edmilson também utilizou os jornais do acervo particular dele.

LAM - Você está fazendo mestrado em Teoria da Literatura. O que você tenciona com este estudo acadêmico?

Entender cada vez mais a linguagem, em sentido amplo, aprofundar-me nos estudos lingüísticos, literários, e, também mergulhar mais profundamente nos mecanismos do agir da poesia (através da Poética e da História das Idéias, principalmente). Aliás, todas as minhas atividades paralelas são ramificação do tronco em cuja seiva corre o amor ao meu ofício: o portal, as pesquisas literaturas, as leituras, as opiniões críticas, as análises de texto, o meu show “A Pequena Notável”, a editora, as conferências, os debates, a minha luta pela profissionalização e pela conscientização da classe, tudo é inerente à enorme paixão que dedico ao ato de escrever.
Como já disse em um dos meus livros da década de 80, não sei ser feliz sem caneta e papel por perto (ressalva: na época ainda não tinha computador...).

LAM - Você milita na televisão, com trabalhos em novelas e seriados na televisão brasileira. Como é trabalhar na televisão?

Bem, em televisão não se milita... com tanto autor atualmente, no máximo aquartela-se... J
Brincadeiras à parte, eu gosto muito de escrever roteiros, e os que criamos para a televisão dão mais retorno, porque em um país pouco alfabetizado como o nosso, portanto sem hábito de leitura, a literatura oral é muito melhor aceita, é muito mais entendida e, portanto, prestigiada.
Como eu acho que todos os caminhos da palavra podem levar à literatura, desde que se tenha esta prioridade quando escrevemos, não tenho nenhum tipo de preconceito com qualquer gênero – do pornô ao erudito, passando pelas histórias em quadrinho.
Em todas as áreas há sempre pessoas que pensam que a crítica válida é apenas a destrutiva: daí, existem poetas que acham que traí a poesia escrevendo novelas, e, naturalmente, dramaturgos que consideram uma grande perda de tempo e de fôlego eu escrever poesia...
A situação do intelectual brasileiro, principalmente se ele quer viver do que escreve, é um constante pisar de ovos. No entanto, não temo quebrar alguns, porque, afinal, viver é sempre um risco. E não há como agradar a todos. Ainda bem.

LAM - Além da televisão, você trabalha com cinema, rádio e teatro. Fala dessas experiências, como concilia tantas atividades?

Quem vive profissionalmente de literatura, aprende rápido... risos...
Ser polígrafa não é mérito, é questão de sobrevivência.
Para o rádio eu só fiz um seriado radiofônico, mas nunca tentei vendê-lo, ficou só mesmo como teste experimental, que, inclusive gravamos (Tanussi Cardoso, Eugênia Loretti, Carmen Moreno e eu) com efeitos sonoros, inclusive. Foi muito divertido.
Gosto muito de escrever peças para teatro - tenho algumas encenadas, inclusive uma feita para a Ana Rosa, que a produziu no final de 1993, no Rio: "Se o casamento vai mal... pimenta, alquimia e sal".
A peça mais recente que escrevi estreou em São Paulo, Poesia Br, direção do Jo Martin – e ela me deu duas grandes alegrias: a primeira a de colocar a poesia como tema central de um texto teatral (em geral o que vemos é a poesia transposta para a cena), e a segunda a de ter tido a participação do Urha, que é formado em Artes Cênicas, e da Ana Míccolis, minha prima harpista. Foi um trabalho incrível, inesquecível.
Para cinema, meu único trabalho solo, foi a roteirização final do longa-metragem Terra Prometida.
Sempre trabalho em parceria com João Luiz Pacheco Mendes, um grande profissional da área – agora está encarregado da parte de teatro de Blocos On Line, inclusive – e temos inclusive dois curtas baseados em poemas meus.
Trabalhar com uma equipe de se gosta é um prazer raro e precioso.

LAM - Outra coisa, Leila: você trabalha, realiza cursos e muitas atividades na Internet. Pergunto: a Internet tem contribuído para o desenvolvimento dos seus trabalhos? Como é trabalhar com a Internet?

Eu e a Internet foi paixão à primeira vista. Antes mesmo de eu entrar na rede, em 1996, eu já sabia que gostaria dela. Tipo: “nunca te vi, sempre te amei”... Já sonhava com ela, antes de sermos apresentadas, pessoalmente. E ela sempre excede minhas expectativas.
Atualmente, tornou-se da família, tenho inclusive uma série de problemas, a “Fase Micreira”, dedicada a ela.
Sempre me impressiona muito poder falar com países de cultura tão diferente, em browsers simultâneos – esse abrir janelas para o mundo em conjunto me mobiliza profundamente; além disso, todo dia descubro um site que me acrescenta, uma pesquisa que me interessa, um artigo que me abre novas perspectivas, um jogo que me absorve, uma gif que me encanta, uma palavra que me marca e sobre a qual reflito, um contato que me surpreende. Sem falar dos reencontros pessoais que ela me proporciona: amigos que há anos eu não via e que estão morando inclusive fora do Brasil... Companheiros meus da imprensa alternativa ou poetas que voltam a manter contato (como você inclusive, Luiz Alberto)... é muita gente, e é muita alegria efetiva e afetiva quando isto ocorre.
A Internet para mim consegue ser trabalho (os capítulos de Mandacaru chegavam à Manchete via web) e diversão; nela delicio-me com as conversas e com as receitas vegetarianas, com as viagens (adoro os museus europeus), as descobertas, os fóruns, os debates, notícias, comunicados, informações, os jornais online, enfim, com idéias e emoções em movimento caleidoscópico ininterrupto.

LAM - Mais especificamente, a Internet, a seu ver, tem contribuído para a difusão da poesia, da literatura, da arte, enfim?

É, ela cumpre esse papel também, mas, neste particular, preocupo-me muito com a questão dos direitos autorais. Adoro o virtual, mas também adoro o livro impresso, e penso que um deve complementar e não substituir o outro. A divulgação totalmente desgovernada que em geral se faz na rede, induz-me pensar se ela surte na prática os efeitos desejados. É que já foi o tempo em que um escritor apenas escrevia. Escrever é a ponta de um iceberg, como dizia Torquato Neto. Ou, lembrando Barthes, “o saber literário tem muitos saberes”, inclusive entre eles estão, hoje em dia, lidar com a Internet, com o mercado literário, com a política editorial, com as correntes divergentes, com os paparazzos, com as estratégicas publicitárias e com as estratégias de marketing. Por quê não? O impasse é que a maioria dos autores, principalmente os poetas, ainda têm o sonho romântico de que bastam aparecer para que alguém, em meio de milhares de outros bons autores, o descubra, o escolha, e transforme sua obra em best-seller de fama internacional. Nesta vã espera, cruzam os braços e ficam esperando que caia do céu reconhecimento, prestígio, a fama e dinheiro, muito desapontados e frustrados quando nada disso acontece. Este individualismo e essa vaidade desconectam os escritores da realidade mercadológica. Pensam apenas em aparecer nas vitrines (que é como se referem à Internet, comumente), esquecidos de que as vitrines estão sempre ligadas a uma loja a um comércio, cujas leis de oferta e procura eles precisam entender, mesmo que minimamente, até para poderem enfrentar a competitividade a cada dia mais acirrada.

LAM - Quais os projetos que você está desenvolvendo e quais as perspectivas de realizá-los?

São muitos e bem variados, sempre trabalho em vários deles ao mesmo tempo – além de evitar cansaço, quando estou exaurida de um pego um outro, essa alternância também proporciona um distanciamento crítico muito produtivo.
Há alguns projetos que não param, como a ampliação do portal, meus cursos online de teledramaturgia e a dissertação de Mestrado, para daqui a alguns meses; outros já possuem compasso mais lento como meus roteiros televisivos, as peças de teatro, e, como não poderia deixar de ser, a publicação de vários  livros - não só poéticos e ficcionais, mas teóricos também.
Para quem escreve, as perspectivas de realização são sempre bem mais complexas do que a elaboração do texto, uma vez que não se fica muito à vontade dentro da área executiva; porém, quando os projetos estão prontos, só resta ao escritor acumular as funções de showman ou de businesswoman, e corajosamente ir à luta...

Para conhecer mais Leila Míccolis e o seu trabalho, é só acessar: http://www.blocosonline.com.br/ ou enviar um mail para blocos@blocosonline.com.br.

PS: entrevista concedida ao Guia de Poesia. Veja mais aqui e aqui.