VIDA
PARA TODOS
Quero
viver
Com
a força que acredito ter
E
Transformar
essa crença
Na
vida mais intensa
Mais
cheia
Onde
o ócio dê lugar
Ao
que fazer
Quero
viver
Como
se tivesse a missão de todos.
Pena
que para isso
Eu
precise morrer
Para
mim e
Viver
para todos.
CÂNTICO
PALMARES
Meu
cântico a Palmares
Da
Rua do Rio
Da
Rua das Pedreiras
E
das Ladeiras de Bigode
Daquele
pagode
Lá
de Santo Onofre.
Vou
cantar Palmares
Para
ver como sofrem os inquilinos
Das
ruas sem nome:
É
cheia, inundação
É
morro, é chão batido,
É
rieira, desmoronamento,
É
choro partido dos filhos esmolando.
Meu
cântico a Palmares
Aos
heróis da resistência
Veludo,
Rabeca,
Zé
sem profissão,
João
sem futuro,
Que
podem divertir os que ainda hoje
Acreditam
no porvir.
Vou
cantar Palmares andando a pé,
Pisando
o mesmo caminho
De
Ascenso Ferreira, Fenelon Barreto,
Raimundo
Alves, Artur Griz, Givanilton Mendes, Luiz Berto...
O
Clube Literário, A Notícia
Pax
Dourada, o Clube Ferroviário,
O
antigo mercado
Museu
da lembrança que já acabou.
Vou
cantar
Meu
cântico a Palmares
Santa
Rosa, Santa Luzia
São
Francisco,
A
Rua do Esconde Negro,
O
Beco do Engole Homem,
A
Rua da Viração,
Vamos
cantar comigo
Este
cântico de oração.
Cante
uma vez,
Cante
de novo,
Vamos
cantar
O
sonho desse povo
Numa
só voz,
Num
só coro
Um
canto de luta
Um
canto de paz
Vamos
cantar Palmares
E
não chorar jamais.
SERVENTIA
Na
vida encontrei a dor
Tropecei,
Magoei
As
costas encaliçadas
Das
poltronas públicas;
Das
desburocratizações raquíticas
Que
se perderam em monturos.
Feri
os dedos
Nos
cálculos orçamentários do rotineiro
E
senti sangrar as vísceras do trabalhador
De
tanta inércia.
Parei
o fiel
Da
balança da renda
-
não precisava pesar:
Vários
atlas financeiros
Equilibram
o mundo
Com
os pés no ar.
Escutei
otimistas
Empanturrados
nas mordomias
Traçando
e deduzindo formulas
De
ilusória divisão.
E
eu;
E
muitos
Pasmados
Sem
nos prestarmos para tal
Ficamos
a gritar na noite
Esperando
a serventia acabar.
VIDA
DIFICIL
Quem
não conhece Maria
Nunca
saiu
Basta
frquentar as angustias da noite.
Noite
afora
Se
vê Maria toda fantasia:
Cara,
pele e riso,
Concubina
das madrugadas
Em
cada ombro debruçada
Maquinando
alegria.
Em
cada gole
O
prazer de expor a sorte
Na
sobriedade contraditória
Do
copo de aguardente;
Em
cada homem, o trabalho
De,
no suor do leito,
Conseguir
o mísero salário.
Quem
vê Maria
Na
manhã a embalar seu filho
-
somente eu
Não
conhece a outra
Que
nos bares de ontem,
Num
quarto qualquer
Seu
corpo vendeu.
Quem
vê Maria
Num
beijo singelo saindo pro trabalho
Se
despedindo do lar.
Quem
vê Maria
Sem
riso, sem fantasia,
Nunca
diria que sua vida é fácil.
MINHA
DONA
Não
quero lhe fazer apologia,
Nem
lhe tornar musa,
Mas
descobri que você
Meiguice
eterna em minha companhia
É
o melhor de minha felicidade
O
mais rico de meus poemas
Que
nunca consegui escrever.
Você
Poema-vida
que será inédita
Em
cada gesto,
No
cuidar da casa,
No
brincar com as crianças,
No
abraço e nos carinhos de todas as noites.
Até
mesmo na indecisão das horas
E
nos instantes de impaciência.
Não
quero render homenagem
Para
não me sentir convencional
E
apenas gratificado com você.
Mas
não reclamo num poema
Nem
me desculpo
Não
há nada a desculpar.
E
da vida
Quero
apenas que você me tenha
Assim
como a amo e tenho
Nada
mais.
ENTREVISTA
LAM - Paulo, conta pra gente como e quando se
deu seu encontro com a arte.
Meu encontro
com a arte... Vem da infância. Desenhava as figuras da história: D. Pedro I e
II, Mauá, D. João VI... e principalmente Tiradentes, pois estudava em Aracaju-SE,
no Colégio Tiradentes, e na segunda quinzena de abril ficava desenhando
cartazes até as madrugadas para os colegas de turma e cobrava um mil reis (a
abobrinha do conto de Drummond de Andrade) de cada. Os trabalhados selecionados
eram expostos num espaço na Rua João Pessoa, centro daquela capital. Gostava de
ver meus trabalhos expostos com o nome dos colegas que tinham pago pelo cartaz.
Durante os quatro anos que lá estudei teve apenas um desenho selecionado com
meu nome. Mas, vários que fiz para os colegas.
LAM - Quais as influências da infância e
adolescência que foram determinantes pela escolha da arte?
Ninguém e nada
mesmo me influenciaram para arte. Tinha sempre o gosto pelo desenho, pela
participação nos jograis, recitava poesia na escola, na igreja evangélica que
papai era membro ativo. Sonhava em cursar Escola de Belas Artes...
LAM - Inicialmente você publicou um livro de
poesias. Fala a respeito dessa experiência poética.
Primeiro livro
de poesia. Primeiro entendi que era capaz de fazer poesia. Escrevi alguns
sonetos, quadras, sextilhas... Descobrir os versos brancos e como colocar um
pouco de ritmo e musicalidade nos versos e priorizando o peso das palavras.
Achei que já podia publicar e em 1978, menos de um ano após minha chegada a Palmares,
lancei “Marcas no Silencio”, capa de Anchieta, colega de banco, um
livreto cheio de incorreções gráficas feita em linotipos. Mas, Palmares vivia
efervescência cultural e econômica e acolheu muito bem a poesia e o novo poeta.
LAM - Você publicou um livro de poesias em
parceria com Felipe Maldaner, Jogo Vivo. Como se deu essa publicação?
Jogo Vivo: Com
a experiência do primeiro livro provoquei o colega do Banco do Brasil a estrear
com um livro de poesia em parceria comigo. Dai nasceu “Jogo Vivo”, com a orelha de capa escrita por José Duran y Duran. Eu
jogo o primeiro tempo e Maldaner o segundo. Fizemos dois grandes lançamentos
nas AABBs de Palmares e Garanhuns, com direito a coquetel e show de artistas
locais. Depois disso ninguém segurou mais o Felipe. Enveredou pela prosa com
vários livros publicados, fez critica literária quando deixou o Nordeste e
retornou para o Rio Grande do Sul. Tive noticias que passou mais de dez anos na
Coreia do Sul, onde publicou artigos nos jornais locais e, recentemente, recebi
convite para o lançamento de novo livro em Porto Alegre, após sua volta ao
Brasil, já aposentado do Banco do Brasil e representado um banco estrangeiro.
LAM - Você também publicou o livro Sindicalismo
versus Repressão, contando a trajetória de Zé Eduardo. Quais os resultados
dessa iniciativa?
Sindicalismo X
Repressão – A História de Zé Eduardo, o líder do maior sindicato de camponeses
do Brasil foi lançado com a finalidade de angariar recursos para a campanha de
uma chapa de oposição à presidência do sindicato dos trabalhadores rurais de Palmares,
com a venda dos livros. Escrever a história de Zé Eduardo foi fácil. Bastou o
deixar falar. Livro pronto, editado pela Nordestal Editora, com capa do Artista
Plástico sergipano Pithiu. Perdemos a eleição do sindicato, mas o livro ganhou
as universidades e foi citado em várias dissertações de mestrado e estudantes
vieram de longe conhecer o escritor e o protagonista, Zé Eduardo de Lima Filho.
Foram várias entrevistas e encontros.
LAM - Você foi participante ativo de diversos
movimentos culturais e artísticos em Palmares, como as Noites da Cultura
Palmarense, Revista A Região, Fundação de Hermilo, Edições Bagaço, entre outros.
Fala pra gente dessa sua experiência.
Já após minha
chegada para morar em Palmares Nov/1977, meses depois, já era professor em
vários colégios locais e na FAMASUL. Era recém-formado em Pedagogia pela
Universidade Federal de Sergipe. Daí em 1978 recebia convite para jurado da IV
Feira de Musica dos Palmares. Naquele mesmo ano publiquei meu primeiro livro de
poesia (Marcas no Silêncio). Escrevi com os colegas do Banco do Brasil, Tiné,
Carlos Alberto Pestana, Agenor Sá, Zé Rodrigues, Neudson Simões... jornalzinho
da AABB “A Língua”, depois o “Educativo”. Depois passei a ser militante dos
movimentos de arte e cultura. Tudo com o viés das letras. Falar dessa vivência
caberia num livro de grande brochura. As Noites da Cultura Palmarense, Revista
A Região, Edições Bagaço, Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, projeto
de Juareiz Correia, depois da criação do Museu da Cidade e Fundação Casa da
Cultura de Serra Talhada, onde fui o primeiro presidente. Eram tantas as
emoções. Santa loucura. As Edições Bagaço nasceu movimento cultural onde um
grupo de sonhadores, eu, Arnaldo, Gilberto, Elita, Inez, Nito (Você)... e
outros nos cotizávamos para publicar um poeta da região e com a venda dos
trabalhos viabilizar a publicação de outros até o ultimo escritor inédito.
LAM -Você esteve durante anos na militância
política, que avaliação você faz dessa sua incursão?
Comecei na
campanha de Luiz Portela. Mesmo sem ser candidato participei da escolha dos
candidatos a vereador da chapa PMDB. Estava acontecendo um racha nas bandas do
PDS de Garibaldi Gurgel e Luiz Portela resolveu formar uma comissão para
escolha dos candidatos para não se desgastar com a militância de pré-candidatos
que ficassem sem vaga na disputa. Eu, o finado Koury e Gonzaga da Casa dos
Retalhos. Este último veio logo mostrar uma lista dos nomes que Portela queria.
Desprezamos tal lista. Tivemos a ideia e Koury apoiou prontamente, os 56 pré-candidatos
numa reunião na qual se definia critérios e perfis dos candidatos, eram
divididos em grupos que escolheram os 18 candidatos que acompanharia a chapa de
Portela e Chiquinho ao Palácio do Bambu. Cada grupo escolheu seu 18 nomes,
depois de tabulados os votos escolhidos por todos os grupos garantiram a vaga,
a exceção de Preta que já detinha mandato e direito adquirido e Moacir da
Futurista que Luiz Portela anunciou como décimo nono candidato, vaga negociada
com Maromba, candidato a Prefeito da Sublegenda PMDB dois.
Depois a mosca
azul me picou e inventei de sair candidato a Prefeito em 1988 contra o
candidato de Portela, Seu Chiquinho e o Gaguinho. Teve cinco candidatos a
Prefeito nessa eleição e ficamos em terceiro lugar. Não tive votos, mas ganhei
mais um livro que publiquei treze anos depois. Não queria escrever um panfleto.
Dai a demora.
Fiz militância
em movimentos sociais, sindicais, culturais artísticos, literários,pois sou
membro das Academias de Letras de Palmares e Serra Talhada.
Minha última e
definitiva incursão na política partidária foi em 2012. Fui candidato a
vereador com uma bela campanha nas ruas. Um boneco gigante do Profeta que
atraia a criançada que descia os morros para tirar fotos. Musicas de Zé Ripe
com participação de vários artistas locais (Zé Linaldo, Lulica, João Marcos, e
tantos outros). Para nunca mais. Fiquei no isolamento do idealismo onde não
existia militância paga. Tal decisão foi tomada depois da convicção de que: “Atualmente, não se pode fazer política sem
pelo menos ser conivente com o crime”.
LAM - Além de poeta, você agora também é
artista plástico. Como se deu o processo de enveredar por esta área artística?
Esse sonho de
artes plásticas veio como já disse, da infância. Precisei esperar a
aposentadoria para realizar tal sonho. Como fazer Escola de Belas Artes tendo
que entrar no mercado de trabalho aos 12 anos para ajudar no sustento da casa?
Na infância era apenas o desenho vendido aos colegas para poder comprar roupa.
Depois de aposentado como gerente do Banco do Brasil, em julho de 2007, em
outubro do mesmo ano já frequentava um atelier de uma artista na rua Manoel
Borba, em Recife. No ano seguinte estava matriculado nos cursos de Ilustrador e
Pintor Artístico do SENAC, onde fiz toda a grade dos cursos de arte que
ofereceram naquela época. Em 2009, fiz o ENEM e o vestibular na Universidade Federal de Pernambuco e conquistei uma vaga no
curso de Artes Plásticas. Em 2014, fiz intercambio e fui estudar na Escola de
Belas Artes da Universidade de Porto, em Portugal. Lá passei seis meses
desenhando, pintando e expondo com os artistas da Europa. A Universidade do
Porto recebe cerca de 3.500 alunos do exterior anualmente. Depois de uma
exposição de pinturas realizada na Reitoria da Universidade do Porto, recebi um
convite dos professores curadores da exposição para tomar um “fino” chopp em
taça pequena. No bate papo elogiei o nível da Escola de Belas Artes e um dos
professores fez a seguinte declaração: “pois,
pois,... estamos a ensinar a esses alunos de arte e eles depois não sabem o que
fazer desse saber”. Naquele momento afirmei com emoção: Eu sei o que fazer desse meu saber: vou
compartilhar com Palmares, minha cidade no Brasil.
LAM - O que é e qual a proposta do Instituto
Belas Artes Vale do Una?
Voltei de
Portugal decidido a terminar o curso de Artes Plásticas e criar uma escola de
artes em Palmares. Uma escolinha não dizia nada do tamanho do sonho. Então
criei um Instituto, entidade civil sem fins lucrativos que servirá de guarda
chuva para toda atividade artística, cultural, aí envolvendo, show, exposição, publicações,
formação, consultoria, divulgação, etc. Cabe também nesse projeto, uma escola
técnica e, quiçá, uma faculdade de artes visuais. O nome Vale do Una para
denotar o aspecto regional e abrangente não se limitando a Palmares.
LAM - Quais projetos você tem por perspectiva
de realizar?
Projetos em
perspectivas: oferecer, como já acontece, oficinas gratuitas de desenho e
pintura a alunos da rede pública estadual. Formar parcerias para capacitação de
professores de arte da rede municipal de ensino; criar oficina para o publico
em geral de diversos saberes, encadernação, marchetaria, serigrafia artística,
modelagem, gravura, argila, desenho, pintura... Realizar anualmente, o projeto Pintando na Praça, atualmente na quarta
edição, que consiste em trazer artistas do Recife, alunos de artes da Universidade
Federal de Pernambuco para, juntos dos artistas locais pintar ao ar livre na
praça Paulo Paranhos e fazer exposição durante todo o mês de realização do
evento. Tudo isso com o complemento teórico de palestras sobre arte em escolas
públicas de Palmares realizadas por alunos, artistas e professores de artes da
UFPE.