quinta-feira, novembro 02, 2017

A POESIA ABSOLUTA DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJO

RECEITA DE POEMA (NÃO DE MULHER)

A poesia pagã (antes do Deus único e que se tornou cristão, óbvio, quântico, ubiquo, ecumênico, embora mecânico) era absoluta. Após a chegada do dogma, da religião, de onde veio a rima e as regras se fincaram (e convenções espirituais enrijeceram a alma humana), a poesia (mística) tornou-se relativa, desde que só Deus (ou a religião) é absoluto.
A leis escuras do espírito, foi submetido o verso, e a rima reinou absolurta: místico rima bem com êxtase.
Os dogmas do poema abomino, estão vencidos, varridos (e os poetas de hoje e agora não o sabem).
Munam-se de enxós, machados, cinzéis, plainas, formões verbais e esculpam o poema selvagem e natural da realidade lingüística humana. Fujam da linguagem de formiguinhas eunucas, a serviço do coração emocionadinho, praticando a moeda da poesia em curso na lauda da usura.
O grande público da poesia (coitado) quer saber logo tudo, entender de imediato, porque é alienado rato, um joguete do poder.
A única receita possível para “fazer” poema é: faça-o conforme as mais rígidas regras (rímicas e métricas). Depois, quebre-o pé a pé de cima a baixo, de baixo a cima – e no meio exatamente. Desrime-o todo de cabo a rabo... e pronto. Aí está o poema novo, no rumo certo, no curso do futuro, fora das fronteiras do passado.

CONFISSÃO FINAL (TALVEZ SINCERA)

Não escrevo para agora.
Nunca para ontem
(Escrevo porque a página é vazia
Ou para completa plenitude do nada).
Não escrevo para a água mas pelo abandono.
Porque não se condecora o temor
Com colares de grito escrevo silêncio.
Porque se presenteia a dor
Com tiaras agônicas escrevo.
Escrevo porque próximas a agonias estão
Máscaras de diadema pútrido.
Não escrevo para agora, para o pó supremo.
Quem sabe eu escreva
Para desvario da sombra (de Freud ou Jung)?
Escrevi apenas porque vou morrer.

Poemas extraídos da obra Semata (Autor, 2017).


INEXPLICAÇÃO AO LEITOR

Comecei a costurar essas palavras prolegomênicas no banho. Enquanto me ensaboava, a mente (limpa) desandou pensamentos (impublicaveis, porque nus), e sinapses ou insaites e reflexões relâmpagas atravessavam o fluxo dos chuviscos.
Completei-as quando usava no raro cabelo o novo shampu que promete longevidade a cada fio em particular. (Como os possuo poucos, o produto invencível, mesmo sendo caro, per cápita sai bem em conta). E enquanto alisava as madeixas carinhosamente pensando em Pope – com esfregões macios – já findava quase esse cru proêmio. Surpresa foi não esquecer o texto vindo à luz do banheiro para meu caderno mental úmido.

O POEMA

Contém-se na forma encontrada
E contém a que o encontra.
Leva à completa embriaguez verbal.
Não é senão trânsito
De palavra por nossas veias
Pelos adjetivos de nossas almas
Tramite das gramáticas do corpo
Em forma de fantasmas
E figuras encarnadas
Pelos veios do espírito.
Sombra que enardece
Até a incandescência.

Poemas extraídos da obra Bando de mônadas (Bagaço, 2011).


LOUCURA BELA

A loucura tem sobrancelhas castas
E ao atravessares seu umbral branco
Estarás aberto a urânios mentais (e gentis)
A curas decimais
Portanto não dobres
O horizonte físsil senão
Voltaras a ser perfeito idiota normal.
A loucura é uma haste
Que gargalha.

MEU POEMA (2)

Meus poemas vivem à superfície
(a claridade profunda os escurece)
Dos sentidos natos é afogado.
Uso toda a maestria da imperícia
Para compô-los com insoberba grave.
Sou adepto (de fécula) de metro fúnebre
(que mede a morte da poesia)
Que meça a autora do útero (antes do aborto)
E a raiz (ou ardis) do gozo
Que não interessa.

Poemas extraídos da obra Id (Autor, 2013).


NOTÍCIA DO TÍTULO E CAPA

Sobre a coleção de poemas Kant não estuprou a camareira (foi firula de Lampe) e ler VCA causa AVC.
Este (sub)título tem por alvo desfazer quaisquer dúvida que pairarem por ventura quanto à honra (perpétua como a paz) e integridade solar de Immanuel Kant, meu filósofo de bolso, em relação ao fato (aleivoso) dele ter estuprado a camareira.
A bem da boa berdade (apodítica inclusive): Kant nunca estuprou uma camareira sequer. Na sua venerável residência em Konisberg (hoje, cidade russa).
Tal calúnia não teve autoria real estabelecida. Atribuem-na a Lampe, seu fiel mordomo por cerca de cinqüenta anos.
Seria lorota, firula, parola a cruel autoria? Não de um Lampe revoltado por ter sido despedido. O serviçal kantiano, seu camareiro, confidente, enfermeiro, devotado cozinheiro do exigente e enjoado Kant para se alimentar, filosoficamente ao ingerir carboidratos apropriados a fazer funcionar mente tão desmesurada, e acompanhante íntimo (isto é, intimidade de um mordomo) por cinco década, estaria despeitado – e colérico, pelo fato injusto de Kant tê-lo dispensado, sem nem ao menos aviso-prévio (que não existia à época) sem mais nem menos?
Colocado abrupto, de inopino, ao pelo da rua, Lampe foi de armas e bagagens morrer num asilo de esmoleu.
Portanto, no olho da rua, de uma hora para outra (sem prévio aviso ou proteção mínima) viu-se em sarilhos, não viu solução para sua vida, se não recolher seus ossos a um asilo público. (Ia dizendo púbico).
Na época (sem Getulio Vargas konisgberguiano) não havia direitos trabalhistas, fundo de garantia, carteira assinada, essas coisas; não se acreditava em previdência (e a Providência era indiferente). E Lampe saiu leso e liso, lesado direto para um asilo solitário.
Faço questão de estampar o desmentido no título desta coletânea para que não sobrassem dúvidas acerca da integridade moral e sexual de Kant.
E na capa soasse: Kant não estuprou a camareira. (Isso pode ser coisa de Lampe).
A capa é um magnífico poema visual de Silvio Hansen, criação visual concebida com a maestria e argúcia gráficas de Marcus ASBarr. SH consciente do cabalismo hermético hieroglífico e enigmático de minha poesia pé-cabeça botou o genial e bem (ou mal) intencionado aforismo: Ler VCA causa AVC.

SETE MANDAMENTOS DO POETA

1 devoro obstinação e sigilo
2 convicção do pecado minha senha
3 me evado de todos os príncipes
(e dos tiques ditatoriais da gramática)
4 me aferro a todas as vertigens
de todos os precipícios me abeiro
das fraturas da visão às convulsões
do espírito ofereço palavra alivio escudo
dessas alavancas – que movem poema
não se sobrevive como poeta
5 abrigo da obsessão (alma) algemo à página
(castelo, exílio, morada, noite escura)
6 (para cultivo da ira me preparo)
7 (e dor dos tempos)

Do livro Kant não estuprou a camareira: ler VCA causa AVC (Bagaço, 2012).


POEMA ENTÃO

Tua boca estava calada
Os olhos prostrados
No abandono
Teu torso era abril
Cisne de azulejo
E bom-bril
Tua mão rimava com a aurora
Que se despia sobre as águas do início
Tua sombra bramante negro
Tua sombra bramante negro (e duplo)
Parecia duas
O olhar noturno
Fazia temer a lua
Uma rosa ria
Em teu cabelo graúna
E o gesto lavra
Da mão de uma palavra
Para o passo trôpego da rima
Que ovulava
Com avara certeza
E impiedade lata.
Tudo seria meu
Se tu urgisses
Em cada pausa
Ou demora da vida ávida.

LEMBRETE AO LEITOR

A linguagem poética é forma, não substância.
É sistema, não nomenclatura.
Por isso nunca alcança a realidade.
É muito além de literatura.
A poesia não imita o real.
Finge que imita. Cópia que não copia.
Mais do que sombra, biombo.
Não é instrumental, preciso
Cirúrgico, definitivo como a prosa.
Mas tem a concisão de um bisturi.
Cria efeito de real, ilusão de aparência.
Referencia em poesia é acidental.
Vontade tantálica morre na praia.
Através de rubicões atravessados vou ao poema.

Poemas do livro Hímen de Mallarmé (Autor, 2013).


HAVER E RUMOR
Havia o verão e o morder.
A mudança e o viver.
A trama, a corda, a teoria e a insônia.
Havia a dúvidada dor e o dever cego.
Não havia margem ou rumor de fuga mais.
Havia algum sal de saudade e o cais ermo.
Havia pássaros, rumor de muros e certo sono.
Havia além de pálpebras de rosa um rosto morrendo.
Sobretudo havia o esquecimento (e o espírito náufrago).
Ao rumor do sono e à certeza
de esquecer

CONCEITOS PARA ALICERCE DA POESIA ABSOLUTA
A poesia não é do reino das ideias deste mundo.
A poesia é o nascimento da palavra. Seu reino
é no homem (capaz do expandir a mente).
A poesia é o império do imaginário.
A prevalência da imaginação sobre a sensação
A existência (é) das palavras.
O ser é uma palavra. Deus, outra
As substâncias são palavras.
O poeta identifica sujeitos díspares. Não é singular.
A imaginação poética é capaz de engendrar
(e expressá-lo) no âmbito livre do pensamento
coisas tais que a mente lógica não pode aceitar.
Como Aristóteles não o faria.
Tudo consiste em indisciplinar rigorosamente a imaginação.
Por isso a faculdade da imaginação completa
é considerada da laia esquizofrênica. E
condenada pelos pensadores racionalistas. Que
prosaicamente dão de ombros a ela: coisa
de poeta.
No período clássico da civilização francesa, cuja
cultura estabelecia padrões filosóficos, poéticos
políticos, em sua generalidade, culturais
(século XVII e XVIII), a imaginação
era associada à irracionalidade, divagação,
nonsense, rebeldia, instinto
traços ou prolegômenos da loucura. Pascal a
considerava anômala, marginal porém
poderosa, maior do que a vontade. Idem, a
razão. A condição humana não ser
joguete da imaginação era a principal frente
de batalha da razão.
A poética absoluta não é mais nada do que
a imaginação assumindo nova forma, aperfeiçoada.
É o mais inocente e perigoso
dos bens humanos. A imaginação em sua
força máxima coloca o imaginante a um grauzinho
da loucura. Daí os poetas...

POESIA ABSOLUTA (DESARGUMENTOS)
Poesia é expressão de imagens objetiva. E não produção de sentidos (íntimos, púbicos, pessoais, públicos, gerais).
O sentido é algo controverso. Muito interior e variado. Amplo, quase físico, psicológico. Íntimo.
Em literatura, especialmente em poesia, não interessa a variação do sentido, sua permanência ou precisão. Não tem valor, nela, o sentido lógico, filosófico, sociológico, psicológico. Só o linguístico. Isto é, o sentido advindo ou integrado no signo linguístico. E voltado à mensagem poética em si.
A cilada foi considerar a língua um saco de palavras (de coisas e nomes) em que a cada coisa correspondesse um nome (o sentido). Ao repertório do mundo o dos signos, elo automático, conjunto fechado.
Sentido seria essa relação (lógica, obrigatória, permanente) entre coisa e nome (palavra).
O sentido: convenção, representação ou a imagem da coisa (não em si).
Saussure abriu o jogo. “O signo linguístico une, não uma coisa a um nome, mas um conceito a uma imagem acústica” (representação via discurso e fala). Isto é, entrelaça um significado a um significante.
Mas, pergunta-se: qual o sentido (direção) do movimento. Presumo que não do significante ao significado, porém do significado ao significante. Sendo a partida, primeiro, o significante.
A um significado corresponderia um significante ou, vice versa, a um significante um significado?
Em síntese, o signo é uma entidade psíquica, humana, com duas faces, sendo a imagem acústica uma representação e o conceito, o sentido em si, a abstração.
Em poesia, é vital entender (não o poema absolutamente) que não se lida com ideias dadas de antemão, mas com valores. À poesia não interessa a inequivocidade de uma palavra tal que só diga respeito a realidades designadas (referências). E isoladas.
Interessa-nos (a nós que lemos lendo poesias) as relações de cada palavra (não com a realidade ou nesga dessa que represente) com outras palavras. Daí a extrema mutabilidade do sentido poético. Tal como no xadrez, cada jogada põe em cheque todo o sistema, face à condição relacional e não imobilidade do jogo.
Ou seja, o valor reside em que o conceito não o é.
O sentido estabelecido em poesia é balela. Este é cômputo ou acoplamento de elementos (conceituais) presentes e ausentes, sucessivos e simultâneos, reais e figurados. E assim por diante.
O que seja arbitrário, ausente, tempoespaciado, figurado está no presente separado no tempo e no espaço, reais em si, relacionados por laços de associações imemoriais.
Em poesia, cada palavra é um universo. É um e mil e outro e mais versos. É uma minação de sentidos estabelecidos e por estabelecer.
O sentido é o amálgama das representações sugeridas à emissão das palavras (digamos dicionarizadas, com repertório estabelecido) e das outras representações construídas (ou criadas) no instante da expressão. (Pelo poeta ou pelo momento).
Da conjugação dos sentidos virtual e atual das palavras advém o sentido real. (Se existir).
Há, num mesmo, vário sentido: habitual, ocasional, abstrato, concreto, simples, complexo, próprio, figurado. Tudo é sentido, independentemente do que sentimos e de como o fazemos. Não é preciso sentir o sentido. Apenas contemplá-lo e dessa liturgia extrair toda a beleza da palavra.
Não se desespere ao ler poema por não achar sentido. Mas comemore. Nunca busque sentido, em poesia, como condição do gozo poético. É bem o contrário. Sentido não interessa. Interessa em poema o ser (poético). Não seja banal (leitora) a perder tempo e neurônio em busca de lendários sentidos inexistentes ou inúteis.

O QUE É POEMA?
O poema é uma valsa de sílabas descalças condessas caretas êmbolos de palavras em ritmo verbal de salsa pela cola sintática amalgamada sob graças da gramática que dança na página da alma? Palco do poema luada repouso e abismo cesura pedra de arti fício rima? Metáfora seu magnificat poema avança linha a linha até a náusea. Com exércitos de tropos e esquadros compassados ao bélico das palavras na página instauram cenário da batalha contra o sentido bárbaro (atro prélio contra o poema certo) atropelando símbolos e múltiplos até que o detenha precipício do hemistíquio laurel e triunfo do espírito contra avanço prosaico em todas as fronteiras do mundo e nos arredores da estrofe.
Prosa do futuro arcaico (Bagaço, s/d)


POESIA ABSOLUTA – [...] É a PA sem dúvida uma poesia decadente, mas tem consciência (ou inconsciência idítica) de que é a ultima e necessária floração poética na terra arrasada que nos legaram. Em que o crime é virtude. Terra dos círculos adulterados e ângulos moribundos como os olhos. Que se debruça sobre tempo corrupto. [...]. Trecho extraído (Me) prefacio: a última decadência, na obra Semata (Autor, 2007).


Foto: o professor e poeta Admmauro Gommes, o escritor, filósofo e historiador Reginaldo Oliveira, o escritor, jornalista e advogado Vital Corrêa de Araújo, eu e o amigo Zonaldo.

VITAL POR ELE MESMO; VCA: POETA NCLASSIFICÁVEL (OU, MELHOR, DESCLASSIFICADO)Posso dizer que não sou um poeta inclassificável (totalmente). Cognomino-me expressionista órfico. Desde que fui a Alemanha, a primeira vez, em 1988, quando passei vários meses, comecei a pesquisar o expressionismo literário alemão, graças a uma professora brasileira que morava em Dusseldorf. Produzi um ensaio de 20 páginas sobre os anos expressionistas. E sou um pouco íntimo da poesia de Franz Werfel, Heym, o divo Trakl, Stefan George, o introspectivo Kafka (também poeta), Strindberg (e seu teatro trágico-lírico), Benn, de Morgue, Jacob Hoddis, Stadler, Stramm, Lichtenstein, Walter Hasenclever, entre outros. Quase todos morreram ao longo da 1ª Guerra, antes dos 25 anos.
Para qualquer aproximação ao expressionismo poético, e imperioso saber que “tudo o que seja mecânico não tem expressão”. A grande maioria dos sonetistas (que não são poetas na acepção estética moderna)são só versificadores mecânicos, porque a forma é estaque e limitada.
O expressionismo moderno (do século XX) é singular e se alicerça na necessidade do (pintor, músico) poeta se expressar sem restrições, sob o móvel do instinto ou da imaginação: Há uma premente necessidade de expressão artística, sem obediência a qualquer limitação formal, gramatical, sintática. Principalmente qualquer tipo de escansão versificatória. A obra de Nietzsche é puramente expressionista, em seu modo de expressar-se e na forma da expressão, tipo declarações irracionalistas, elevação da linguagem até a exacerbação etc.
Se você – como poeta – confia sem exceções, sem restrições, sem limite na expressão direta do ser, tal como seja na vida, no comportamento, na visão do mundo, você é um poeta moderno.
Que utiliza o poder da imaginação (direto da alma), sem intermediação da razão, ou melhor, sem a mediação e a interferência da racionalidade, que é viciada e treinada para manter poderes sobre e subumanos. Que defenestra qualquer decoro formalista, que impeça o imaginário, que barre a ação criadora (ou o ato expressivo).
A emoção do poeta moderno é instintiva, não é romântica, sentimental, vulgar, normal. O poeta novo, consequente com seu tempo, contemporâneo de si mesmo, expressa o sentimento do id, nada do ego. Daí, Van Gogh dizer que nele “as emoções são tão fortes que não sinto estar trabalhando”. É o mesmo que a possessão ou o “entusiasmo” de Platão. Não é um você que faz o poema, é o seu todo, a sua sombra, o seu ser. É o tudo humano que é poeta. O transbordamento da realidade, a fluência da espontaneidade, a expressão irreflexiva, o ilimite expressivo, o ser intuitivo e não meramente lógico e o desprezo absoluto a modelos prévios esvaziadores da imaginação são condições essenciais, necessidades vitais da poesia hoje.
A intensidade da expressão é o que funda o poema moderno, a espontaneidade da escrita sem liames prévios, amarrações (de rima v.g.), a exacerbação do transbordar, sair de si, para melhor se ver por dentro. O id externo, isto é, saindo do si onde é internado. O transbordamento (ou o ato de entusiasmo) do poeta deve ser espontâneo, para ser livre, e nunca programado. Tipo ditado pelo acaso.Ou como ditame do acaso: não é nada casual, mas acasional.
A “mecânica” de expressionismo artístico era descrita como um processo de “espremer a emoção para fora do seu recipiente original, a alma humana, porém um espremer para dentro de seu novo recipiente, a obra de arte, completa o poeta e pintor expressionista IwannGoll.
O poema absoluto é neopossexpressionista e é a expressão da turbulência emocional do poeta, do congestionamento verbal, do exorbitar livre do imaginário transbordando da alma à lauda da palavra (rimbaldiana).
Em síntese, sentimento profundo e expressão intensa amalgamam-se. O poema como produto de uma tensão meditativa (não reflexiva). Todo o sensível da vida e do mundo toma a forma poesia absoluta. Não há representação, porém apresentação livre, diretamente esfingética, claramente escura, nitidamente hermética, na PA.
O poema que não copie, descreva, reflita ou diga o sentimento (isto é, vomita qualquer verborragia simétrica, de sílabas contadas ou arrumadinho de rimas)é absoluto. Porque opera no sentido de reagir à realidade viva com a expressão verbal.
A “mensagem” é a incompreensão criadora (e dinâmica, que, inclusive, dinamiza a mente). Um poema deve conter, trazer, ser um (ou dois) infinito de significados (ou transportar infinitos sentidos – simbólicos ou não – inesgotáveis).
Ou seja, a recepção da poesia absoluta é a mais livre possível, tão livre (para o leitor, claro) quanto a imaginação do poeta. É osomatório dos imaginários que tem como resultante o “momentum da catarse da leitura ativa”. Imaginações francas, abertas, intimas, impessoais e arquetípicas.
A forma de poema não pode ser fixa, nunca, determinada previamente, estabelecida a priori, em PA. “Vou escrever uma ode, um idílio, soneto etc é ridículo. A forma poética varia com o ritmo da imaginação, que é a respiração do poeta.
O mundo interior do poeta pode ser apenas vivido, não descrito. Expresso, não representado.
Só a emoção (natural) não existencial é válida em Poesia Absoluta. Emoção verbal, da palavra, não do poeta, como pessoa. Nunca do individuo, mas do ser coletivo.
Em suma, o poeta do século 21, para ser moderno e consequente com sua contemporaneidade, deve desvencilhar-se de quaisquer restrições,liames ou limites ou convenções gramaticais ou tudo o que cerceie, empaque, represe, sofreie a imaginação humana, que é tudo o que temos de realmente humano.
Nota: VCA é inclassificável como poeta, porque a sua poesia não tem classe, no sentido dos clássicos poetas do século XXI. Portanto, VCA, real, exata e felizmente, não tem classificação nenhuma.



NOTA DO EDITOR - De tudo que ele fala e desdiz dele mesmo, além de escritor, jornalista, advogado e o escambau da porratoda, é também um figura incrivelmente arretada & pai do ator, conferencista e humorista Murilo Gun.

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