RECEITA DE POEMA (NÃO DE MULHER)
A poesia pagã (antes do Deus único e que se
tornou cristão, óbvio, quântico, ubiquo, ecumênico, embora mecânico) era
absoluta. Após a chegada do dogma, da religião, de onde veio a rima e as regras
se fincaram (e convenções espirituais enrijeceram a alma humana), a poesia
(mística) tornou-se relativa, desde que só Deus (ou a religião) é absoluto.
A leis escuras do espírito, foi submetido o
verso, e a rima reinou absolurta: místico rima bem com êxtase.
Os dogmas do poema abomino, estão vencidos,
varridos (e os poetas de hoje e agora não o sabem).
Munam-se de enxós, machados, cinzéis,
plainas, formões verbais e esculpam o poema selvagem e natural da realidade lingüística
humana. Fujam da linguagem de formiguinhas eunucas, a serviço do coração
emocionadinho, praticando a moeda da poesia em curso na lauda da usura.
O grande público da poesia (coitado) quer saber
logo tudo, entender de imediato, porque é alienado rato, um joguete do poder.
A única receita possível para “fazer” poema
é: faça-o conforme as mais rígidas regras (rímicas e métricas). Depois,
quebre-o pé a pé de cima a baixo, de baixo a cima – e no meio exatamente. Desrime-o
todo de cabo a rabo... e pronto. Aí está o poema novo, no rumo certo, no curso
do futuro, fora das fronteiras do passado.
CONFISSÃO FINAL (TALVEZ SINCERA)
Não escrevo para agora.
Nunca para ontem
(Escrevo porque a página é vazia
Ou para completa plenitude do nada).
Não escrevo para a água mas pelo abandono.
Porque não se condecora o temor
Com colares de grito escrevo silêncio.
Porque se presenteia a dor
Com tiaras agônicas escrevo.
Escrevo porque próximas a agonias estão
Máscaras de diadema pútrido.
Não escrevo para agora, para o pó supremo.
Quem sabe eu escreva
Para desvario da sombra (de Freud ou Jung)?
Escrevi apenas porque vou morrer.
Poemas
extraídos da obra Semata (Autor,
2017).
INEXPLICAÇÃO AO LEITOR
Comecei a costurar essas palavras
prolegomênicas no banho. Enquanto me ensaboava, a mente (limpa) desandou
pensamentos (impublicaveis, porque nus), e sinapses ou insaites e reflexões
relâmpagas atravessavam o fluxo dos chuviscos.
Completei-as quando usava no raro cabelo o
novo shampu que promete longevidade a cada fio em particular. (Como os possuo
poucos, o produto invencível, mesmo sendo caro, per cápita sai bem em conta). E
enquanto alisava as madeixas carinhosamente pensando em Pope – com esfregões
macios – já findava quase esse cru proêmio. Surpresa foi não esquecer o texto
vindo à luz do banheiro para meu caderno mental úmido.
O POEMA
Contém-se na forma encontrada
E contém a que o encontra.
Leva à completa embriaguez verbal.
Não é senão trânsito
De palavra por nossas veias
Pelos adjetivos de nossas almas
Tramite das gramáticas do corpo
Em forma de fantasmas
E figuras encarnadas
Pelos veios do espírito.
Sombra que enardece
Até a incandescência.
Poemas
extraídos da obra Bando de mônadas
(Bagaço, 2011).
LOUCURA BELA
A loucura tem sobrancelhas castas
E ao atravessares seu umbral branco
Estarás aberto a urânios mentais (e gentis)
A curas decimais
Portanto não dobres
O horizonte físsil senão
Voltaras a ser perfeito idiota normal.
A loucura é uma haste
Que gargalha.
MEU POEMA (2)
Meus poemas vivem à superfície
(a claridade profunda os escurece)
Dos sentidos natos é afogado.
Uso toda a maestria da imperícia
Para compô-los com insoberba grave.
Sou adepto (de fécula) de metro fúnebre
(que mede a morte da poesia)
Que meça a autora do útero (antes do aborto)
E a raiz (ou ardis) do gozo
Que não interessa.
Poemas
extraídos da obra Id (Autor, 2013).
NOTÍCIA DO TÍTULO E CAPA
Sobre a coleção de poemas Kant não estuprou a
camareira (foi firula de Lampe) e ler VCA causa AVC.
Este (sub)título tem por alvo desfazer
quaisquer dúvida que pairarem por ventura quanto à honra (perpétua como a paz)
e integridade solar de Immanuel Kant, meu filósofo de bolso, em relação ao fato
(aleivoso) dele ter estuprado a camareira.
A bem da boa berdade (apodítica inclusive):
Kant nunca estuprou uma camareira sequer. Na sua venerável residência em
Konisberg (hoje, cidade russa).
Tal calúnia não teve autoria real
estabelecida. Atribuem-na a Lampe, seu fiel mordomo por cerca de cinqüenta anos.
Seria lorota, firula, parola a cruel autoria?
Não de um Lampe revoltado por ter sido despedido. O serviçal kantiano, seu
camareiro, confidente, enfermeiro, devotado cozinheiro do exigente e enjoado
Kant para se alimentar, filosoficamente ao ingerir carboidratos apropriados a
fazer funcionar mente tão desmesurada, e acompanhante íntimo (isto é, intimidade
de um mordomo) por cinco década, estaria despeitado – e colérico, pelo fato
injusto de Kant tê-lo dispensado, sem nem ao menos aviso-prévio (que não
existia à época) sem mais nem menos?
Colocado abrupto, de inopino, ao pelo da rua,
Lampe foi de armas e bagagens morrer num asilo de esmoleu.
Portanto, no olho da rua, de uma hora para
outra (sem prévio aviso ou proteção mínima) viu-se em sarilhos, não viu solução
para sua vida, se não recolher seus ossos a um asilo público. (Ia dizendo
púbico).
Na época (sem Getulio Vargas konisgberguiano)
não havia direitos trabalhistas, fundo de garantia, carteira assinada, essas
coisas; não se acreditava em previdência (e a Providência era indiferente). E Lampe
saiu leso e liso, lesado direto para um asilo solitário.
Faço questão de estampar o desmentido no
título desta coletânea para que não sobrassem dúvidas acerca da integridade
moral e sexual de Kant.
E na capa soasse: Kant não estuprou a
camareira. (Isso pode ser coisa de Lampe).
A capa é um magnífico poema visual de Silvio
Hansen, criação visual concebida com a maestria e argúcia gráficas de Marcus
ASBarr. SH consciente do cabalismo hermético hieroglífico e enigmático de minha
poesia pé-cabeça botou o genial e bem (ou mal) intencionado aforismo: Ler VCA
causa AVC.
SETE MANDAMENTOS DO POETA
1 devoro obstinação e sigilo
2 convicção do pecado minha senha
3 me evado de todos os príncipes
(e dos tiques ditatoriais da gramática)
4 me aferro a todas as vertigens
de todos os precipícios me abeiro
das fraturas da visão às convulsões
do espírito ofereço palavra alivio escudo
dessas alavancas – que movem poema
não se sobrevive como poeta
5 abrigo da obsessão (alma) algemo à página
(castelo, exílio, morada, noite escura)
6 (para cultivo da ira me preparo)
7 (e dor dos tempos)
Do livro
Kant não estuprou a camareira: ler VCA
causa AVC (Bagaço, 2012).
POEMA ENTÃO
Tua boca estava calada
Os olhos prostrados
No abandono
Teu torso era abril
Cisne de azulejo
E bom-bril
Tua mão rimava com a aurora
Que se despia sobre as águas do início
Tua sombra bramante negro
Tua sombra bramante negro (e duplo)
Parecia duas
O olhar noturno
Fazia temer a lua
Uma rosa ria
Em teu cabelo graúna
E o gesto lavra
Da mão de uma palavra
Para o passo trôpego da rima
Que ovulava
Com avara certeza
E impiedade lata.
Tudo seria meu
Se tu urgisses
Em cada pausa
Ou demora da vida ávida.
LEMBRETE AO LEITOR
A linguagem poética é forma, não substância.
É sistema, não nomenclatura.
Por isso nunca alcança a realidade.
É muito além de literatura.
A poesia não imita o real.
Finge que imita. Cópia que não copia.
Mais do que sombra, biombo.
Não é instrumental, preciso
Cirúrgico, definitivo como a prosa.
Mas tem a concisão de um bisturi.
Cria efeito de real, ilusão de aparência.
Referencia em poesia é acidental.
Vontade tantálica morre na praia.
Através de rubicões atravessados vou ao
poema.
Poemas do
livro Hímen de Mallarmé (Autor, 2013).
HAVER E
RUMOR
Havia
o verão e o morder.
A
mudança e o viver.
A
trama, a corda, a teoria e a insônia.
Havia
a dúvidada dor e o dever cego.
Não
havia margem ou rumor de fuga mais.
Havia
algum sal de saudade e o cais ermo.
Havia
pássaros, rumor de muros e certo sono.
Havia
além de pálpebras de rosa um rosto morrendo.
Sobretudo
havia o esquecimento (e o espírito náufrago).
Ao
rumor do sono e à certeza
de esquecer
CONCEITOS
PARA ALICERCE DA POESIA ABSOLUTA
A
poesia não é do reino das ideias deste mundo.
A
poesia é o nascimento da palavra. Seu reino
é
no homem (capaz do expandir a mente).
A
poesia é o império do imaginário.
A
prevalência da imaginação sobre a sensação
A
existência (é) das palavras.
O
ser é uma palavra. Deus, outra
As
substâncias são palavras.
O
poeta identifica sujeitos díspares. Não é singular.
A
imaginação poética é capaz de engendrar
(e
expressá-lo) no âmbito livre do pensamento
coisas
tais que a mente lógica não pode aceitar.
Como
Aristóteles não o faria.
Tudo
consiste em indisciplinar rigorosamente a imaginação.
Por
isso a faculdade da imaginação completa
é
considerada da laia esquizofrênica. E
condenada
pelos pensadores racionalistas. Que
prosaicamente
dão de ombros a ela: coisa
de
poeta.
No
período clássico da civilização francesa, cuja
cultura
estabelecia padrões filosóficos, poéticos
políticos,
em sua generalidade, culturais
(século XVII e XVIII), a imaginação
era associada à
irracionalidade, divagação,
nonsense,
rebeldia, instinto
traços ou
prolegômenos da loucura. Pascal a
considerava
anômala, marginal porém
poderosa, maior
do que a vontade. Idem, a
razão. A
condição humana não ser
joguete da
imaginação era a principal frente
de batalha da
razão.
A poética
absoluta não é mais nada do que
a imaginação
assumindo nova forma, aperfeiçoada.
É o mais
inocente e perigoso
dos bens
humanos. A imaginação em sua
força máxima
coloca o imaginante a um grauzinho
da loucura. Daí os poetas...
POESIA
ABSOLUTA (DESARGUMENTOS)
Poesia
é expressão de imagens objetiva. E não produção de sentidos (íntimos, púbicos,
pessoais, públicos, gerais).
O
sentido é algo controverso. Muito interior e variado. Amplo, quase físico,
psicológico. Íntimo.
Em literatura, especialmente em poesia, não interessa a
variação do sentido, sua permanência ou precisão. Não tem valor, nela, o
sentido lógico, filosófico, sociológico, psicológico. Só o linguístico. Isto é,
o sentido advindo ou integrado no signo linguístico. E voltado à mensagem
poética em si.
A cilada foi
considerar a língua um saco de palavras (de coisas e nomes) em que a cada coisa
correspondesse um nome (o sentido). Ao repertório do mundo o dos signos, elo
automático, conjunto fechado.
Sentido seria
essa relação (lógica, obrigatória, permanente) entre coisa e nome (palavra).
O sentido:
convenção, representação ou a imagem da coisa (não em si).
Saussure abriu o
jogo. “O signo linguístico une, não uma coisa a um nome, mas um conceito a uma
imagem acústica” (representação via discurso e fala). Isto é, entrelaça um
significado a um significante.
Mas,
pergunta-se: qual o sentido (direção) do movimento. Presumo que não do
significante ao significado, porém do significado ao significante. Sendo a
partida, primeiro, o significante.
A um significado
corresponderia um significante ou, vice versa, a um significante um
significado?
Em síntese, o
signo é uma entidade psíquica, humana, com duas faces, sendo a imagem acústica
uma representação e o conceito, o sentido em si, a abstração.
Em poesia, é
vital entender (não o poema absolutamente) que não se lida com ideias dadas de
antemão, mas com valores. À poesia não interessa a inequivocidade de uma
palavra tal que só diga respeito a realidades designadas (referências). E
isoladas.
Interessa-nos (a
nós que lemos lendo poesias) as relações de cada palavra (não com a realidade
ou nesga dessa que represente) com outras palavras. Daí a extrema mutabilidade
do sentido poético. Tal como no xadrez, cada jogada põe em cheque todo o
sistema, face à condição relacional e não imobilidade do jogo.
Ou seja, o valor
reside em que o conceito não o é.
O sentido
estabelecido em poesia é balela. Este é cômputo ou acoplamento de elementos
(conceituais) presentes e ausentes, sucessivos e simultâneos, reais e
figurados. E assim por diante.
O que seja
arbitrário, ausente, tempoespaciado, figurado está no presente separado no
tempo e no espaço, reais em si, relacionados por laços de associações
imemoriais.
Em poesia, cada palavra é um universo. É um e mil e outro
e mais versos. É uma minação de sentidos estabelecidos e por estabelecer.
O sentido é o
amálgama das representações sugeridas à emissão das palavras (digamos
dicionarizadas, com repertório estabelecido) e das outras representações
construídas (ou criadas) no instante da expressão. (Pelo poeta ou pelo
momento).
Da conjugação
dos sentidos virtual e atual das palavras advém o sentido real. (Se existir).
Há, num mesmo,
vário sentido: habitual, ocasional, abstrato, concreto, simples, complexo,
próprio, figurado. Tudo é sentido, independentemente do que sentimos e de como
o fazemos. Não é preciso sentir o sentido. Apenas contemplá-lo e dessa liturgia
extrair toda a beleza da palavra.
Não se desespere ao ler poema por não achar sentido. Mas
comemore. Nunca busque sentido, em poesia, como condição do gozo poético. É bem
o contrário. Sentido não interessa. Interessa em poema o ser (poético). Não
seja banal (leitora) a perder tempo e neurônio em busca de lendários sentidos
inexistentes ou inúteis.
O QUE É
POEMA?
O poema
é uma valsa de sílabas descalças condessas caretas êmbolos de palavras em ritmo
verbal de salsa pela cola sintática amalgamada sob graças da gramática que
dança na página da alma? Palco do poema luada repouso e abismo cesura pedra de
arti fício rima? Metáfora seu magnificat poema avança linha a linha até a
náusea. Com exércitos de tropos e esquadros compassados ao bélico das palavras
na página instauram cenário da batalha contra o sentido bárbaro (atro prélio
contra o poema certo) atropelando símbolos e múltiplos até que o detenha
precipício do hemistíquio laurel e triunfo do espírito contra avanço prosaico
em todas as fronteiras do mundo e nos arredores da estrofe.
Prosa do
futuro arcaico (Bagaço, s/d)
POESIA ABSOLUTA – [...]
É a PA sem dúvida uma poesia decadente,
mas tem consciência (ou inconsciência idítica) de que é a ultima e necessária
floração poética na terra arrasada que nos legaram. Em que o crime é virtude. Terra
dos círculos adulterados e ângulos moribundos como os olhos. Que se debruça
sobre tempo corrupto. [...]. Trecho extraído (Me) prefacio: a última
decadência, na obra Semata (Autor, 2007).
Foto: o professor
e poeta Admmauro Gommes, o escritor, filósofo e historiador Reginaldo Oliveira,
o escritor, jornalista e advogado Vital Corrêa de Araújo, eu e o amigo Zonaldo.
VITAL POR ELE MESMO; VCA:
POETA NCLASSIFICÁVEL (OU, MELHOR, DESCLASSIFICADO) – Posso dizer que não sou um poeta inclassificável
(totalmente). Cognomino-me expressionista órfico. Desde que fui a Alemanha, a
primeira vez, em 1988, quando passei vários meses, comecei a pesquisar o
expressionismo literário alemão, graças a uma professora brasileira que morava
em Dusseldorf. Produzi um ensaio de 20 páginas sobre os anos expressionistas. E
sou um pouco íntimo da poesia de Franz Werfel, Heym, o divo Trakl, Stefan
George, o introspectivo Kafka (também poeta), Strindberg (e seu teatro
trágico-lírico), Benn, de Morgue, Jacob Hoddis, Stadler, Stramm, Lichtenstein,
Walter Hasenclever, entre outros. Quase todos morreram ao longo da 1ª Guerra,
antes dos 25 anos.
Para qualquer
aproximação ao expressionismo poético, e imperioso saber que “tudo o que seja
mecânico não tem expressão”. A grande maioria dos sonetistas (que não são
poetas na acepção estética moderna)são só versificadores mecânicos, porque a
forma é estaque e limitada.
O expressionismo
moderno (do século XX) é singular e se alicerça na necessidade do (pintor,
músico) poeta se expressar sem restrições, sob o móvel do instinto ou da
imaginação: Há uma premente necessidade de expressão artística, sem obediência
a qualquer limitação formal, gramatical, sintática. Principalmente qualquer
tipo de escansão versificatória. A obra de Nietzsche é puramente
expressionista, em seu modo de expressar-se e na forma da expressão, tipo
declarações irracionalistas, elevação da linguagem até a exacerbação etc.
Se você – como
poeta – confia sem exceções, sem restrições, sem limite na expressão direta do
ser, tal como seja na vida, no comportamento, na visão do mundo, você é um
poeta moderno.
Que utiliza o
poder da imaginação (direto da alma), sem intermediação da razão, ou melhor,
sem a mediação e a interferência da racionalidade, que é viciada e treinada
para manter poderes sobre e subumanos. Que defenestra qualquer decoro
formalista, que impeça o imaginário, que barre a ação criadora (ou o ato
expressivo).
A emoção do poeta
moderno é instintiva, não é romântica, sentimental, vulgar, normal. O poeta
novo, consequente com seu tempo, contemporâneo de si mesmo, expressa o
sentimento do id, nada do ego. Daí, Van Gogh dizer que nele “as emoções são tão
fortes que não sinto estar trabalhando”. É o mesmo que a possessão ou o
“entusiasmo” de Platão. Não é um você que faz o poema, é o seu todo, a sua
sombra, o seu ser. É o tudo humano que é poeta. O transbordamento da realidade, a fluência da
espontaneidade, a expressão irreflexiva, o ilimite expressivo, o ser intuitivo
e não meramente lógico e o desprezo absoluto a modelos prévios esvaziadores da
imaginação são condições essenciais, necessidades vitais da poesia hoje.
A intensidade da
expressão é o que funda o poema moderno, a espontaneidade da escrita sem liames
prévios, amarrações (de rima v.g.), a exacerbação do transbordar, sair de si,
para melhor se ver por dentro. O id externo, isto é, saindo do si onde é internado.
O transbordamento (ou o ato de entusiasmo) do poeta deve ser espontâneo, para
ser livre, e nunca programado. Tipo ditado pelo acaso.Ou como ditame do acaso:
não é nada casual, mas acasional.
A “mecânica” de
expressionismo artístico era descrita como um processo de “espremer a emoção
para fora do seu recipiente original, a alma humana, porém um espremer para
dentro de seu novo recipiente, a obra de arte, completa o poeta e pintor
expressionista IwannGoll.
O poema absoluto é
neopossexpressionista e é a expressão da turbulência emocional do poeta, do
congestionamento verbal, do exorbitar livre do imaginário transbordando da alma
à lauda da palavra (rimbaldiana).
Em síntese,
sentimento profundo e expressão intensa amalgamam-se. O poema como produto de
uma tensão meditativa (não reflexiva). Todo o sensível da vida e do mundo toma
a forma poesia absoluta. Não há representação, porém apresentação livre,
diretamente esfingética, claramente escura, nitidamente hermética, na PA.
O poema que não
copie, descreva, reflita ou diga o sentimento (isto é, vomita qualquer
verborragia simétrica, de sílabas contadas ou arrumadinho de rimas)é absoluto.
Porque opera no sentido de reagir à realidade viva com a expressão verbal.
A “mensagem” é a
incompreensão criadora (e dinâmica, que, inclusive, dinamiza a mente). Um poema
deve conter, trazer, ser um (ou dois) infinito de significados (ou transportar
infinitos sentidos – simbólicos ou não – inesgotáveis).
Ou seja, a
recepção da poesia absoluta é a mais livre possível, tão livre (para o leitor,
claro) quanto a imaginação do poeta. É osomatório dos imaginários que tem como
resultante o “momentum da catarse da leitura ativa”. Imaginações francas,
abertas, intimas, impessoais e arquetípicas.
A forma de poema
não pode ser fixa, nunca, determinada previamente, estabelecida a priori, em
PA. “Vou escrever uma ode, um idílio, soneto etc é ridículo. A forma poética varia com o ritmo da imaginação, que é a
respiração do poeta.
O mundo interior
do poeta pode ser apenas vivido, não descrito. Expresso, não representado.
Só a emoção
(natural) não existencial é válida em Poesia Absoluta. Emoção verbal, da
palavra, não do poeta, como pessoa. Nunca do individuo, mas do ser coletivo.
Em suma, o poeta
do século 21, para ser moderno e consequente com sua contemporaneidade, deve
desvencilhar-se de quaisquer restrições,liames ou limites ou convenções
gramaticais ou tudo o que cerceie, empaque, represe, sofreie a imaginação
humana, que é tudo o que temos de realmente humano.
Nota: VCA é inclassificável
como poeta, porque a sua poesia não tem classe, no sentido dos clássicos poetas
do século XXI. Portanto, VCA, real, exata e felizmente, não tem classificação
nenhuma.
NOTA DO EDITOR - De
tudo que ele fala e desdiz dele mesmo, além de escritor, jornalista, advogado e o
escambau da porratoda, é também um figura incrivelmente arretada & pai do
ator, conferencista e humorista Murilo Gun.