quinta-feira, outubro 19, 2017

ENTREVISTA GENÉSIO CAVALCANTI


GENÉSIO CAVALCANTI – Nascemos na mesma cidade, eu na Rua do Rio, ele no centro. Trilhamos as mesmas estradas: ruas, calçadas, praças, tudo de Palmares, onde sonhamos tudo na vida. Estudamos em escolas diferentes, em paralelo, distâncias que convergiram quando ele começou a namorar minha prima Fátima. Aí, nas quatro festas do ano, aniversários, enterros e outras comemorações familiares na casa de Pai Lula & Carma, a gente se cruzava, contávamos piadas, mangávamos dos outros, ríamos de tudo. Por causa do sucesso musical da dupla Bosco/Aldir, eu só o tratava por: Genésio-a-mulher-do-vizinho. Anos, décadas depois, caí no mundo. No final da segunda metade dos anos 1990, ele me envia uns textos para ler. Eram crônicas e contos, coisas de Barra Grande, Palmares, mangações, lirismos, chega eu fiquei impressionado: esse cabra escrever melhor que eu! Aí eu duvidei: isso não são textos de Genésio, tenho certeza! E ele ria. Quem está escrevendo isso, Genésio? Eu! Porra, meu, duca! Vibrei. E reiterei: você escreve melhor que eu. Daí mais um tempo, o cabra dá com a gota para produzir: músicas, poemas, crônicas, novelas, romance, até cinema! Vixe! Será o Benedito? Oxe, na vera! Duma lapada só recebi quatro CDs do meu primo-cantor Marquinhos Cabral, tudo com música de Genésio e seus parceiros! Como é? Isso mesmo. Depois veio uma lapada de livros de poesia, passou a editar o blog Ser Poeta, meteu-se na rede social e singrou o virtual, lançou dois livros de poesias duma vez só, o ótimo DVD Gente da minha terra, o DVD que me deixou boquiaberto com A saga de um rei: as histórias de Josafá Fortunato, o Rei! E aindagora ele me envia um calhamaço denominado “Descaminhos” – deste só falarei depois. Aí eu peitei ele para uma entrevista, nem melindrou e sapecou na hora carradas de respostas! Esse, como a gente diz aqui, é danado! Então desafiei: manda aí a sua relação com o seu público! Ele nem pestanejou, mandou ver! Ao ler, resolvi apenas abrir este espaço para que vocês conheçam melhor, eis Genésio Cavalcanti:

POR FAVOR, UM MINUTO DE SUA ATENÇÃO!


Outro dia, alguém me perguntou:
- O que fizeste de melhor na vida?
Sem titubear, lhe respondi:
- Amei intensamente!
Por isso digo-lhes:
Se hoje, agora nesse exato momento, restasse-me pouco tempo de vida, eu pediria ao Pai apenas que me fosse outorgado um breve tempo. Um tempo para relatar um pouco do que mais me deu prazer nesta vida.
Então, em primeiro lugar, eu simplesmente começaria agradecendo a Ele por tudo que me foi permitido, citando que fui um homem extremamente feliz! Feliz por ter descoberto que o amor é a coisa mais sensata, delicada, intensa que alguém possa sentir permitir!
Sim, amei. Amei tanto que me doei à plena felicidade de amar de tal forma, que nenhum fragmento meu perder-se-á incompleto a vagar. Que nenhuma forma utópica distorcida de amar, depois da minha partida, se sentirá sozinha, desamparada, excluída.
Você duvida?
Ah! Como eu amei. Amei tanto que cheguei a sobrepor minha própria vida ao desejo incontido de amar. E por ele, doei-me de corpo, de alma; de coração!
Aí, se você me contestar, dizendo que o amor não é o maior sentido da vida, eu haverei de entender.
Até porque compreendo que nesse exato momento, você nem queira me escutar. Acho até que pensa que o mais sensato seria me ignorar, me tripudiar!
Afinal de contas o que nesta vida é mais difícil? Amar ou perdoar?
No entanto, peço-lhes apenas um pequeno obséquio: olhe pra mim, me dê atenção, ouvidos. Peço-vos encarecidamente, um minuto, por favor, para que quando comentarem algo distorcido sobre amor, a meu respeito, diga-lhes apenas que ninguém ousou amar como eu.
Pois, a bem da verdade, insisto em dizer que mesmo nas horas incertas... Eu amei! Amei, nem mais nem menos. Amei na medida certa: amigos, familiares, minha eterna namorada, mulher mais que perfeita. E desse amor prolífico, vi crescer os melhores rebentos. E ainda, sem qualquer suspeita, um lugar, uma cidade. A minha cidade das verdejantes palmeiras.
E nela, jogando o jogo da vida, me sobressaí atento pelo prazer da vitória.
E posso dizer que minha luta não foi inglória quando meus pés palmilharam esse chão quer seja na escuridão da noite, ou na claridade da aurora, para que eu levasse mensagens de paz e amor aos queridos irmãos.
Minhas mãos? Minhas mãos, ávidas, sulcaram a terra fazendo brotar o mel da cana-de-açúcar para que pudessem adoçar suas vidas.
E quando algumas vezes, fechei os olhos, foi possivelmente, para não ver atos que fizessem sangrar meu coração. No entanto, minha voz em tempo algum, emudeceu. Contra as injustiças, gritei, bradei, denunciei!
Mas, e, sobretudo, foi de tanto ressaltar o amor, que lapidei parte desta história, cantarolando versos, versos de um amor transcendental.
E que nem por um segundo, me arrisquei em vão...
Não, não me entendas mal... Eu sei perfeitamente da sua incredulidade e até acho supernatural quando dizes: “amor na verdade, é uma grande desilusão!”
Eu apenas discordo replicando que pra cada amor perdido, conquista-se mais de um milhão...
E a maneira de provar o que ora lhes falo, é que mesmo quando o vento soprou contrário, eu fiz do inescrupuloso noticiário mais um motivo para amar.
E quando todos os sonhos tentaram desistir de mim, entreguei-me ainda mais compenetrado.
E fui evoluindo, evoluindo... Até que nesse processo evolutivo,
Fiz dos meus erros
Um grande aprendizado
Da minha paz,
Meu eterno descanso
Do meu mundo
Um mundo quase perfeito.
De cada despedida
A certeza de breve reencontro.
Fiz das minhas antipatias
Risos, canções, melodias.
Do nada, fiz tudo que me foi possível.
E do imprevisível...
Minha melhor colheita.
E quando em dado momento
Pensei em desistir...
Aí, fortalecido,
Ainda mais me doei ao amor:
Das minhas fantasias
Fiz meu melhor enredo.
Da eterna luta...
Minha melhor batalha.
Das tristezas
Minha maior alegria.
Dos meus pesadelos
Minhas calmarias.
Das minhas inconsequências
Meu melhor resultado.
Das minhas angústias?
Sábios momentos de oração, reflexão e fé!
Dos meus dilemas
Ressaltando enfaticamente o amor
Escrevi a cada dia um novo poema!
Talvez por isso, Deus com piedade de mim, tem me ajudado para que antes que o palco da vida cerre a cortina, definitivamente, eu viva meus dias como se fossem os últimos. E por isso mesmo:
tenho escrito mais, lido mais, sorrido mais, chorado mais e, acima de tudo, a cada dia, amado ainda mais!

ENTREVISTA DE GENÉSIO CAVALCANTI


LAM - Genésio, como e quando se deu seu encontro com a arte?

Durante toda minha vida, tive o privilégio de viver no seio de uma família, que de certa forma, fora envolvida com a arte. E por isso, sou um homem agradecido a Deus. Quis Ele que eu nascesse em berço culto, ao invés de berço de ouro. Minha mãe pianista a tocar com exímia aptidão. Meu pai, mesmo sem nunca ter lançado livros, sempre foi um homem culto, de um intelecto privilegiado. Um homem que viveu anos-luz à frente do seu tempo. De grandes ideias filosóficas. Leitor como poucos. Tinha um poder de assimilação extraordinário. Lia um livro, um artigo uma única vez e pronto, memorizava pelo resto da vida. Um dos homens mais inteligentes que conheci ao longo de minha existência. Nunca lhe faltaram diariamente, livros, revistas, jornais e boa música. Uma pessoa de mente brilhante. De um quoeficiente de inteligência altíssimo. Quem conviveu com ele, sabe bem que o que escrevo é a mais pura verdade. Lembro-me perfeitamente, que em nossa casa, a farta mesa, todos os nove filhos tinham o livre-arbítrio de se expressarem sobre os assuntos que lhes conviessem. Fui crescendo no ímpeto dessa magia. Como reclamar da vida, se a vida toda fui contemplado e favorecido com o que sempre houve de melhor em termos de literatura, educação, formação?
Um dos primeiros livros que li foi à peça teatral do escritor francês, Edmond Rostand, Cyrano de Bergerac. Eu deveria ter entre dez, onze anos de idade. Encantei-me. A partir daquele dia, sonhei em ser poeta/escritor.  

LAM - Quais as influências da infância e adolescência que determinaram a escolha pela arte?

Como falei anteriormente, vivíamos extasiados curtindo culturalmente, juntamente com meus irmãos, o que à época existia de melhor em termos de arte. Interessei-me pela leitura. Da biblioteca da nossa casa, se sobressaiam Olavo Bilac, Drummond, Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Euclides da Cunha e Graciliano Ramos. Os estrangeiros: Nietzche, Lenin, Kafka, Alexandre Dumas, Vitor Hugo, Tolstói, Shakespeare, Dante Alighieri, e por aí vai... até chegar ao escritor conterrâneo, Hermilo. Lê-los, tornou-se para mim meu maior prazer.
Da boa música, quem encabeçava a trupe era Francisco Buarque de Holanda, seguido de João Bosco, Elis, Noel, Pixinguinha, Gilberto Gil, Noel Rosa, Gal Costa. E ainda os fenomenais, Nat King Cole e Ray Charles. Na nossa casa, os Lps eram aos montes. E haja discos na vitrola!
A esse banquete cultural, some-se o talento de D. Celecina Gizelle de Oliveira Cavalcanti Lima de Vasconcelos, minha mãe. Sentava-se ao seu piano Dorner e, divinamente, passava horas desligada do mundo executando com soberba maestria, os grandes nomes consagrados da música clássica mundial: Beethoven, Chopin, Vivaldi, Bach, Mozart. E os brasileiros, Heitor Villa Lobos e Ernesto Nazaret. Era simplesmente, maravilhoso. E quanto mais aplaudíamos nossa mãe, mais nos orgulhávamos em poder ser fruto do seu bendito ventre.
Não rara às vezes, sentados à farta mesa, discutíamos embalando nossos sonhos, debulhando nossas esperanças no amanhã. E eu era sempre o primeiro a questionar meus irmãos: Fabíola, o que você quer ser quando adulta? E ela respondia: professora. Teresa, e você? Advogada complementava. E você, Luiz Carlos? Piloto de avião como nosso tio, tenente Everaldo Genésio. Então, chegava a hora deles me interpelarem. E você, Genésio? E eu feliz da vida: poeta! Por que poeta? - alguém perguntava: - Quero ser poeta, pois o sendo, eu posso ser o que eu quiser...!
E nessa privilegiada convivência, fui alimentando minh'alma por esse sonho maravilhoso durante toda a minha adolescência.
Homem feito, nos meus quase vinte anos, danei-me a escrever poemas, croniquetas e contos. Todos tinham que obrigatoriamente e pra variar, falar de familiares, amigos e conhecidos: irmãos, tios, primos, avós, Sr. Zé da mercearia, Mané do leite, Zezinho dos ovos. O estoque já estava acabando, aí nascia um sobrinho da vizinha, lá vamos nós... E era uma festa só. Todos os familiares incentivavam-me: "Parabéns! Continue. Você escreve muito lindo!". E eu me achando... Rrsrs.

LAM - Em 2014 você lançou dois livros: Alma de Poeta & Noite Ensolarada. Fala a respeito desta sua primeira incursão pela poesia.

Pois bem, sempre fui muito cobrado por minha família e amigos queridos, para publicar meus poemas, crônicas e contos. Inclusive, havia escrito no início da década de noventa dois romances que só agora resolvi publicá-los. Eu relutava dizendo para eles que um dia talvez viesse a publicá-los. Desculpava-me comentando que de certa forma, como eu os propagava nas redes sociais, por si só já era uma publicação. E o tempo foi passando... Deu-se que, com a cheia que devastou nossa cidade no ano de 2010, perdi todos meus escritos. Mais de quinhentos poemas, um livro com 120 crônicas – dessas crônicas, recuperei algumas - e outros contos mais. Confesso-vos que me doeu n’alma. Uma tristeza sem precedentes tomou-me de assalto. Inquietou-me. Adoeci. Não pela perda material e sim por ver meu sonho chafurdado na lama. Naquele momento de amargura, chorei todos os meus arrependimentos. Fui atingido por dois grandes golpes: a cidade que tanto amo destruída, assim também como fora destruído todo meu acervo poético. Condoído comigo mesmo, pensei em parar de escrever. Seria o mais sensato? Perguntava-me. Mas eis que, no final da tarde do mesmo dia, caminhando pelas ruas da nossa cidade – Palmares -, novamente, fui arrebatado pela inspiração. À noite, sob a luz de velas, escrevi uma crônica intitulada “Palmares Despedaçada.” No outro dia minha irmã Teresa publicou em seu blog – VIVA MAIS -, que tinha uma visitação diária de aproximadamente dez mil usuários. Ganhou o mundo. Recebi centenas de felicitações pela crônica. Assim como minha cidade, ressurgimos das cinzas! Ali, naquele momento, ficou sacramentado: a escrita era e continua sendo a razão substancial da minha existência terrena. Retornei a ela com ânsia e fulgor!
Na vida há dois caminhos a ser percorridos: amor e dor! Porque na verdade há duas maneiras de aprendermos a evoluir: ou se pratica o amor, ou aprende-se a amar através da dor! Enveredei pelo caminho mais evolutivo para o ser humano, o do amor. E a partir de então, nunca mais parei. Prometi a mim e a Deus que, se por ventura, novamente fosse me dado à possibilidade de novos escritos, eu não deixaria por escapar...
Inebriado pela motivação, passei a escrever diariamente. A inspiração me desafiava, encantando-me cada vez mais. Assim sendo, recebi como recompensa, inspirações respaldadas em poemas de amor. Não só no amor carnal, mas e, sobretudo, no amor aos amigos, à natureza, a vida; a Deus. E assim ela foi surgindo aos borbotões.
Sou um homem muito romântico. Isso faz com que minha poesia desabroche encantada por esse romantismo. Acredito plenamente que, todos os poetas/escritores recebem influência espiritual de outros poetas/escritores que por aqui já passaram. No meu caso específico, minha alma, - espírito -, não aceita escrever sobre assuntos pesados, soturnos. Ela – minha alma -, sempre me confidencia: “de coisas ruins o mundo anda cheio!” O mais incrível de tudo, é que quanto mais escrevo sobre o amor, mais ele desabrocha harmonioso, contemplativo. Uma das reflexões de minha autoria que mais adoro, revela-se assim: Minha poesia não tem a menor pretensão de mudar o mundo, mas ressaltando o amor, escrevo um mundo melhor! Sou adepto de que, quando pensamos positivamente, somos fortalecidos por boas energias.  
Todos nós, seres humanos estamos sempre à procura de um sentido que nos leve à felicidade. E essa busca incessante pode às vezes demorar a vida inteira...
Ou talvez, esteja bem próximo de nós e nós não a percebamos. Em que consiste a felicidade? Consiste em obter a satisfação naquilo em que se está propenso fazer. Naquilo, que lhe dê alegria, alegria de viver, de sonhar!
E eu, encontrei essa felicidade quando descobri dentro de minh'alma, dentro do meu ser o que é ser poeta. Daquele momento em diante, a poesia passou a ser o alimento indispensável para minha existência. Poesia essa, - repito - fundamentada essencialmente no amor, porque é de amor que vive minh'alma, meu coração.
Chegara a hora, portanto, de agradecer a Deus por tanta inspiração recebida ao longo desses quatro anos pós-enchente. Na verdade, foram lançados dois livros de poemas de uma vez só, no mesmo dia. Os livros Alma de Poeta, com prefácio do professor, historiador e amigo, Marcondes Torres Calazans e Noites Ensolaradas, tendo escrito o prefácio, o querido amigo e professor, Wilson Santos. E ainda os recitais: ALMA DE POETA E NOITES ENSOLARADAS. Sendo o primeiro recitado por mim e recebendo acompanhamento de violino e cello. O segundo recital, cantado. - apesar da minha voz horrorosa, rsrsrs – foi todo dedilhado pelo amigo Juvanildo (Lambe). A data? 27 de novembro de 2014. Data em comemoração ao Centenário do Cine Teatro Apolo. Quanta honra!
E muita trabalheira também. Senão vejamos: lançar livros, recitais e curtas metragens, tudo isso num mesmo dia? Muitos duvidaram. Enquanto eu sonhava pensando positivamente. Mesmo sabendo que não seria fácil. E não foi!
Entretanto, como eu queria uma noite deslumbrante, uma noite literária como nunca houvesse acontecido em nossa querida cidade. Dado a persistência do meu sonho, obtive êxito!
Falemos dos livros:
...É quando ando nas nuvens que meus sonhos tornam-se reais!
Em Alma de Poeta, fui mais além desses sonhos, dessa vontade incontida e prazerosa. Andando de nuvem em nuvem, conversando com estrelas, contemplando o sol, admirando a lua, percorri caminhos aonde, graças a Deus, o amor à paz me conduziram numa travessia de aventuras inimagináveis para outros horizontes lindos, suaves, brandos, delicados e sem qualquer fronteira. Lá, atingi o ápice de felicidade na sua real plenitude.
Nestas páginas, está o mais puro e nítido reflexo autêntico e inexorável da minha arte, da minha poesia que, certamente, descortinar-se-á à sua leitura, à sua apreciação.
Aqui está! Eis meu livro, meu tesouro! Entrego-o de corpo com todo prazer e tudo mais que transcende Alma de Poeta!
Do livro Alma de Poeta, escolhi dois poemas declamados por mim naquela noite, para que o leitor possa deleitar-se:


ALMA DE POETA

- Minha alma tem a cor/de uma linda flor!/Tem cheiro de perfume/que se espalha no ar/ que vive sorrindo a cantar!/ Minha alma dança.../ ao som das flores/rubras, amarelas /jovens e donzelas. /Minha alma voa.../ voa sobre os pomares/ de todos os lugares/ voa com esplendor/à procura do seu amor/ minha alma vive de paz/ rosa branca e lilás/ minha alma é de poeta/ sem rumo, sem hora certa.

O ÚLTIMO BEM QUE ME RESTA...

- O último bem que me resta/ não tem preço, não tem pressa/ é a minha sublime parte do que fica de saudade/ Eu, corpo de uma vida que chora, ri, pede passagem. /Se tudo que tenho é pouco ou demais/ o que mais importa se eu não fui capaz... /E a lembrança viva de tudo que vivemos sem saber.../Pois minha intensa lembrança é e será sempre você. /E quando partir levarei comigo/ recordações de velhas amizades/ a simplicidade de um legado/ e a certeza de inesquecíveis momentos/ Eu com meus sonhos, meus pecados, eu e você. Minhas paixões não as revelarei. / Se tudo quanto perdi, ganhei. /Basta-me ver o que fala tua boca/ e a lembrança viva de tudo que vivemos sem saber!


NOITES ENSOLARADAS

Adoro o dia. E não menos a noite! Não me pergunte qual dos dois mais me apraz... Porque durante o dia na inquietude torrencial versejante que pulsa em minhas veias, sou sugado pelo próprio cordão umbilical e passo a passo, renasço a cada momento, a cada nova poesia. E quando a luz do sol reflete em minha pele dourando meus pelos, é como se um espelho resplandecesse em todo meu ser, anunciando que o prazer da vida, originasse basicamente na gratidão de cada amanhecer.
Durante a noite, na calmaria do silêncio que habita minh'alma, sonhando, me elevo ao patamar dos deuses e em doses de alquimia, literalmente, viro anjo sonhador. Viver na intensidade de cada momento do dia esperando ver chegar o anoitecer é uma contemplação deveras maravilhosa.
Em Noites Ensolaradas, estando o céu aluarado ou no calor da chama inspiradora do sol, raios e estrelas me guiam, me fazem descobrir segredos inimagináveis dentro do universo de prazer e alegria, onde o encanto da natureza é o ponto chave para uma completa sintonia. Por isso, posso dizer que não há prazer comparável entre sonhar e viver. Sonhando, vivo intensamente o maior propósito de minha felicidade: poetizar! Assim, formam-se elementos imprescindíveis e indômitos ao meu viver!
Minha poesia continuou ecoando vibrante nos quatro cantos do Cine/Teatro Apolo, ao recitar mais dois poemas. Desta feita, do livro Noites Ensolaradas. Ei-los aqui:

MINHA ALMA ASSIM SE DECLARA: - TESTAMENTO. - A QUEM POSSA INTERESSAR...

Minha alma assim se declara: antes da minha partida/fica assim meu legado/ dessa forma distribuída/ toda posse de minha vida: meu coração será plantado/por entre os três coqueiros/ do nosso quintal arborizado/ meu corpo adormecido/ ligeiramente enterrado/ sem choros, sem despedidas/ e rapidamente esquecido./ Meus livros e discos/ permanecerão guardados/ e vez por outra.../ por outra boa alma/ manuseados, tocados, relidos./ Deixo para amigos e afins/ as rosas mais lindas plantadas em meu jardim!/ Para esposa e filhos/ deixarei todas as recordações/ de toda nossa convivência/ extraída da mais límpida fonte:/ amor, união e benevolência./ Para a minha querida cidade/ deixo crônicas, versos e poemas/ ficando também comigo guardado/ a lembrança de rios e pontes/ e assim feliz me despeço/ sem mentiras, sem dilemas!
E ainda o poema:

SEM AMOR, O MUNDO ACABOU.

– Nesta hora, o público presente, para a minha alegria, declamou comigo todo o poema. E assim, pudemos bradar ao mundo, em uníssona e boa voz:   
Sem amor não existe saudade/ sem saudade não há tristeza/ sem tristeza, não há esperança/ sem esperança não existe felicidade/ sem felicidade não há respeito/ sem respeito não existe amizade/ sem compreensão não há perdão/ sem perdão não existe harmonia/ sem harmonia não existe paz/ não há paz sem ter havido guerra/ não há guerra se dois não querem/ Sem sonho não existe utopia/ sem utopia nem sonho, nem poesia/ sem amizade não há alegria/ sem alegria não existe emoção/ Ninguém vai ao Pai sem verdade/ sem dignidade não há honra/ sem honra não existe trabalho/ sem trabalho não existe fé/ sem fé não existe Deus! /Sem Deus não existe vida/ sem vida não há passado/ sem passado não existe amor/ sem amor o mundo acabou!

Esse poema consagrou-se para mim, quando a grande mestra/orientadora e membro da banca examinadora da Universidade Federal de Pernambuco, Maria Auxiliadora de Queirós Cavalcanti, ao ser homenageada com o título de professora emérito pela vida toda dedicada a aquela instituição de ensino de nível superior, recitou o poema “Sem Amor o Mundo Acabou”, enchendo-me de orgulho, felicidade!

Achando pouco, irrompi pela sétima arte apresentando doze curtas-metragens. Todos os curtas filmados em Palmares, nos Engenhos da nossa cidade e no distrito de Serro Azul.
E para tornar aquela noite muito mais que inesquecível, convidei minha mãe para um breve concerto ao som do seu inseparável piano Dorner.  Se ela aceitasse o desafio, seria um grande marco para a história cultural da nossa cidade. Pois, ela havia realizado seu primeiro concerto ali, no palco da cultura palmarense há exatamente, 80 anos. Aceitou de pronto! Porém, havia uma única dúvida: seu estado de saúde um tanto debilitado requeria cuidados. Suas taxas estavam acima do tolerável.
E quando a cortina finalmente, se abriu...
Lá estava ela! Exuberante. Linda, maravilhosa!
Confesso-vos que foi uma noite memorável. Uma noite a altura dos grandes acontecimentos desta terra.  Ao ouvi-la tocar os primeiros acordes, o público presente extasiado, foi ao delírio. E, literalmente, as lagrimas.
Ao término do espetáculo, dona Celecina, fora ovacionada por mais de cinco minutos pela espetacular exibição, por toda plateia presente. Faço questão de salientar aqui que, aquele momento, é um dos registros mais significativos para a cultura palmarense, por se tratar de uma musicista tocando magistralmente com os seus oitenta e oito anos de vida, a meu ver, Hour concours por assim dizer!
Para completar a noite, fui convidado para ser membro da Academia Palmarense de Letras, tendo como Patrono de minha cadeira – número 12 – meu avô, Genésio D’Oliveira Cavalcanti, que, diga-se de passagem, mesmo não sendo poeta/escritor, recebeu a indicação do seu nome, pelos relevantes serviços prestados quando comandou o Clube Literário dos Palmares por dois mandatos tendo como secretários/auxiliares, grandes personalidades da literatura palmarense.


LAM - Em 2015, você publica Poéticas de amor. Conta pra gente como se deu esse projeto.

O amor continuava pulsando latente em minha veia poética. Decidi publicar então, minha terceira obra literária intitulada, Poéticas de Amor. Nesta obra, o maravilhoso prefácio foi da querida amiga poetisa e advogada Onilda Nunes de Oliveira.
Novamente, quis Deus que sete meses após ter lançado as suas duas primeiras obras, o poeta retornasse ao mágico palco centenário do Cine Teatro Apolo, para reafirmar seu propósito de amor tanto a terra querida, como também pela sua literariedade poética.
Alguém por mais sábio que seja, consegue definir o que seja amor? Não! Todo e qualquer amor é indefinível, muito embora, seja explicável. Todavia, nem tudo aquilo que sentimos no mais profundo do nosso âmago, possamos explicar. Faltam-nos palavras, sobram vontades de expressá-las.
Para amar é preciso apenas que se tenha amor n'alma, no coração. Porque amar é doar-se, entregar-se de tal forma, que se tendo bastante amor por uma pessoa, alguém possa por ela doar a própria vida. Contudo, é preciso frisar que amor não se ensina; apenas se sente.
Quando escrevi "Poéticas de Amor", procurei exprimir tudo que alguém possa sentir ao estar amando, ou sendo amado.
Mas, ainda mais importante do que estar amando alguém, é preciso que amemos o próximo, a natureza, a vida. Amemos a nós mesmos! Quem não ama estará sempre vulnerável a sofrer de distúrbios mentais.
E, se porventura, um dia, o homem deixar de amar, decerto, o mundo estará fadado a ser habitado por seres embrutecidos, desalmados, insensíveis! Alguém consegue viver sem amar? Certamente. Porém, é corpo sem alma, é vida sem sentido. E quando alguém afirma ser o amor abstrato, discordo veementemente. Como abstrato se posso senti-lo, tocá-lo, penetrá-lo? O amor em minha vida sempre foi uma constante e sempre procurei regá-lo com afinco, prazer, alegria, compartilhamento. E posso afirmar: eu não seria feliz ou não teria qualquer prazer em viver sem amar. 
Porque somente através do amor podemos nos tornar seres melhores, evoluir a tal ponto até se atingir a felicidade plena. Por isso ame! Ame demasiadamente. E que seja o amor fonte inesgotável para a vida de toda humanidade. 
Dessa vez quem fez as honras da casa, - superlotada - foi a minha Fátima. Que encantou a plateia, declamando alguns poemas contidos neste livro. Eis dois deles:

O QUANTO QUERO DIZER

- O quanto quero dizer/ Mesmo sem olhar pra você/Digo sem palavras/Basta fechar os olhos/E me expressar com a alma./ Porque em dados momentos/Quando se elevam os pensamentos/ O ofegar da respiração/ Transborda tão meigo suave/Que nenhuma palavra pronunciada/ Explica tamanha emoção!

AMOR NÃO ESCOLHE TEMPO

- E quando me perguntaram/ com um certo jeitinho de malícia/ me contestando, tripudiando.../ "Existe tempo certo para amar?"/ Respondi-lhes com propriedade:
Amor não escolhe tempo!/ Bem aventurados os que amam de coração/porque em tempo algum se humilharão!/ Tempo e amor precisam apenas de sintonia/porque sintonia é coisa d'alma,/ e alma vem do passado,/ de outras vidas./ Enquanto amor pertence sempre/a quem sabe, quer e pode evidenciá-lo! Por isso, digo-lhes:
- De que importaria aquela estação/de tempo frio, invernoso/se não houvesse a sementeira, a plantação?/Me diga: de que importaria o tempo primaveril/se as flores não se abrissem em botão?/De que importaria o outono/ se faltasse lápis e papel/para colorir de branco e azul todo céu?/ De que importaria? Me diga:/ De que valeria a intensidade do sol/a banhar-te o rosto sem o calor do verão?/ Apenas me diga com sinceridade/ se não existisse amor.../ pra cada nova estação/ o que seria do tempo, da felicidade? 

A apresentação do livro ficou por conta do jornalista – meu filho - Luiz Heitor. E mais uma vez, apresentei ao público presente 10 filmes curtas-metragens.


LAM - Em 2016, você emplacou mais um título: Tempo de amar. Fala a respeito dessa publicação.

Em Tempo de Amar, o poeta foi mais além. Porém, não digo com isso que tenha diminuído a intensidade de seu amor na sua total e plena conjectura. Muito pelo contrário: intensificou-o!
Contendo 327 páginas – sempre me dizem que é demasia colocar tanta poesia em um livro. “No máximo você deveria pôr 70”...
Respondo-lhes dizendo que se sou contemplado recebendo diariamente, muita inspiração, porque poupá-la, limitá-la? – tendo me dado à honra do prefácio Luiz Alberto Machado, o grande bardo/menestrel. Eterno guardião das obras literárias de poetas, prosadores e escritores não só palmarenses, como também, de todos aqueles ilustres que compõem a casta cultural da região Mata Sul do Estado de Pernambuco.   
Nesta antologia, dei-me ao prazer de acrescentar além de poemas, crônicas, contos, algumas reflexões e aforismos. Ficando por assim dizer, uma obra de inestimável valor. Porque marca com total envergadura e significância a evolução tanto pessoal e também como poeta/escritor.
Novamente quis Deus que eu desse continuidade à  trajetória de poder escrever mais um livro. E nesse desafio fortuito, sinto que evoluí tanto como pessoa, como poeta/escritor. Porque cada vez mais, descubro que de alguma forma essa evolução tem ajudado outrem. 
Eu poderia escrever sobre qualquer coisa... Mas qualquer coisa, não encheria minh’alma de carinho, afeto, delicadeza. Ela, minh’alma, de tão ávida, audaz, simplesmente só se satisfaz quando falo de amor! Senão vejamos:

DEPOIS DE TANTO AMOR

- Depois de tanto amor/ peço-te: não te recomponhas... /que permaneças assim/ arrepiada, nua, despida/ maravilhosa, desejosa atrevida... / que lances sobre meu corpo/ infinitamente ainda mais amor/ ardente, tenaz, sedutor./e que na delícia das horas/ perca-se o tempo lá fora/ depois... muito tempo depois/ tudo estará perfeito: /eu, você e todo amor/ que cabe desmedidamente/ dentro do nosso peito!

CANTIGA DE AMOR

- Despojei meus versos/ em uma cantiga de amor/ nela, acentuei a melodia/ que coube, cabia/ toda ternura em flor.../ assim foste contemplada/ no mais íntimo e profundo
sentimento /ingênuo, cheio de afeto, calor. /porque amo-te! /Amo-te assim tão forte/ pois sei, já sabia/ e ainda mais te amarei depois da morte!

Na verdade, esses quatro livros lançados por mim, que falam e se declaram substancialmente, sobre todas as formas de amor, foram mais além do que eu poderia imaginar. Convenhamos que, falar de amor para muitas pessoas, mesmo nos dias atuais, ainda continua sendo de certa forma, tabu. Cheguei a sofrer na pele esse tipo de discriminação. Sempre me perguntam: poeta, você só sabe escrever/ falar sobre amor? Como se o amor fosse uma coisa banal, desinteressante. Ora, ora! Apenas respondo-lhes dizendo: Oh! Amigo, creia-me, que é tudo que tenho para oferecer!
Divulgando minha arte em mais de trezentos grupos de uma rede social, - inclusive destes 86 sendo estrangeiros -, minha poesia foi aos poucos ganhando notoriedade, admiração pelos usuários. E assim, fui recebendo muitos convites para ingressar em Academias de Letras país afora. Destas, destaco uma internacional. Alego sempre dizendo não dispor de tempo suficiente para dar-lhes o reconhecimento da grandeza e a produção literária que são merecedoras.


LAM - Você também fez uma substancial incursão pela música, fala da parceria com Zé Linaldo e Marquinhos Cabral, e de outros parceiros que foram reunidos em vários CDs.

Realmente, Luiz Alberto Machado, e que experiência bendita, extraordinária!
Sabe aquele trabalho que, quando você acaba de concluir, fica o gostinho de quero mais? Pois bem, assim se deu com a realização desses três CDs.
Há muito tempo, mantenho laços de estreita amizade com meus queridos amigos/parceiros/irmãos, Marquinhos Cabral – cunhado – e mestre Zé Linaldo.
Certo dia convidei-os para molharmos o bico e prosearmos um pouco. Nesse bate-papo, tive a ideia de formarmos uma parceria: eu entraria com os poemas, mestre Zé Linaldo, com as melodias enquanto Marquinhos Cabral com sua belíssima voz. De pronto, eles toparam. Recordo-me neste momento, depois de mostrar os poemas ao mestre Zé Linaldo, perguntei-lhe: o que você acha? E ele simplesmente respondeu: “Se você acredita, eu acredito com você!” Fomos em frente. 
Ali ficou decidido apenas, que cada um daria o melhor de si, sem pensar em qualquer lucratividade além d’arte. Estava, portanto, formado o trio GMZ.
Naquela mesma manhã, iniciamos nossas atividades e, ao final da tarde, havíamos composto uma série de poemas/canção. Mais dois encontros e finalizamos nosso primeiro trabalho intitulado, “Viva o Congresso Nacional.” Título dado à música carro chefe do cd. Uma sátira em cima do Congresso Nacional. – esse congresso (com letra minúscula mesmo), que continua sendo a casa maior da galhofagem brasileira!
A custo de muito suor, - como sempre sem qualquer apoio das instituições (in)competentes – apenas com os nossos parcos recursos e de três amigos mais chegados, nós conseguimos lançá-lo.
Foram muitas entrevistas, muitos elogios. Sentimos-nos felizes, realizados.
O próximo cd a ser lançado, pelo trio GMZ, - dedicado a meu pai - recebeu o título de “América em Canção”
E foi com as bênçãos do Nosso Jesus Cristo de Nazareth, que desembrulhamos para o público nosso segundo disco, contendo 15 canções, mesclado de ritmos e poesia ímpar.
Inspirado no caliente sol da América do Sul, palco iluminado das nossas origens, das nossas batalhas, da nossa arte, do nosso amor!
Nessa retórica, debruçamo-nos em América em Canção, verossimilmente e fomos transplantados para o que mais nos move, além dos nossos sonhos: a sensibilidade diversificada no que fazemos de melhor! E foi por este sol que a todos nos ilumina e por você que é raio brilhante de luz, que assinamos em baixo.
Nesse cd, contamos com a luxuosa presença de cinco dos maiores nomes da  musicalidade palmarense. E pela segunda vez consecutiva, o cd foi gravado e mixado no Studio D’Boi – Palmares – E as ilustrações do publicitário Denilson Vasconcelos.
Faixas: 
03 – Mar de Paixão – Mazinho
06 – Amor ao Sul do Hemisfério – Bonny Brow
09 – Pensando em Você – Simone Rodrigues
12- Terra (Ara) – Zé Ripe
13- Lágrima Sertaneja – Harryson Nogueira
Por essas participações especialíssimas, de tão felizes, não cabíamos em nós. Muitas vezes, dói-me a alma por ver talentosos artistas sofrendo no anonimato. Enquanto isso...
Aí, um dia, quando menos esperamos, através de um telefonema veio a grande surpresa:
A sétima música – carro chefe – Revolucionários da História, foi agraciada com a medalha Honra ao Mérito pelo Arquivo Nacional.  “Em nome do Arquivo Nacional e do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985) - Memórias Reveladas agradecemos  o gentil envio do cd musical "América em Canção", e em especial da música "Revolucionários da História". Por oportuno, informamos que o referido cd foi incorporado ao acervo do Memórias Reveladas.
Em outro e-mail recebido, nos foi dito que, a nossa canção, perpetuar-se-ia ao lado de  dois monstros da MPB, Vinícius de Moraes (Rosa de Hiroshima) e Francisco Buarque de Holanda ( Amanhã Vai Ser Outro Dia), é pouco? Quanta honra! Quanta felicidade!
Depois de termos recebido tal honraria, nada teria tanto valor para nós. Pois, jamais  trocaríamos nossa digna arte por alguns míseros trocados. Estávamos no caminho certo... Nosso público alvo apoiava cada vez mais nosso trabalho.
Foi com redobrado entusiasmo que partimos céleres para o nosso terceiro trabalho. E ele chegou e nos encantou ainda mais. “MADRIGAIS”. Desta vez, dediquei a obra, mesmo com minhas imperfeições, à minha querida mãe. 17 composições no total. E novamente gravado e mixado no Studio de Sérgio Boi. – Palmares - E projeto Gráfico do talentoso Denilson Vasconcelos.
E mais uma vez, as participações especialíssimas de:
Faixas:
05- Sinfonia do Amor – Mazinho. (dedicada a minha mãe).
10- O Verde dos Seus Olhos – Bonny Brow
13- Maria o Dom do Amor – Mazinho e Marquinhos. (dedicada a minha tia Geraldina Maria.
15- Santa Oração – Sérgio Boi
17- Apenas Palavras - Jerlane Lopes.
Confesso-vos que este foi um dos trabalhos mais prazerosos de toda minha vida. E espero um dia, se Deus quiser poder dar prosseguimento.


LAM - - Qual a proposta do projeto Gente da minha terra?

Querido amigo, posso dizer que sou um homem extremamente sonhador. Essa crônica na verdade seria mais uma crônica das tantas escritas por mim. Entretanto, ela vem ganhando certa importância social. Serviu até para iniciar uma tese de mestrado. Virou curta metragem.
Quiçá, não vira um romance?
Ei-la:
O negro céu ainda esconde o raiar de um novo dia. A noite exibe risonha a madrugada escancarada. No céu, uma névoa encobre parte de uma cidade esquecida na bruma do tempo. O homem cutuca a mulher que se encolhe e vira resmungando. Fazendo esforço para manter-se de pé, ele levanta-se temendo estar atrasado. O bom e velho despertador deve estar caducando, nunca se atrasa, pensa ele. A essa altura, já deveria ter cantando por três vezes. Caminha ainda trôpego, acende o bico de luz, dirige-se para a porta dos fundos da casa, ao abri-la depara-se com o amigo estirado no terreiro. Morrera o galo das noites em vigília. Suspende-o pelas asas, examina-o diagnosticando-o :! “ deve de ter sido de gogo, mal que assola a raça!” Em seguida chama por sua Maria, que prontamente levanta-se e vai ao seu encontro. Mostra a ave inerte pendurada pelas asas a ela, que se contém do choro com os olhos rasos d’água.
A mulher acende o fogo de lenha, coloca o bule verde florido, retinto de tisna de carvão, sopra e abana, espantando piaba, seu cachorro magricela e rabugento, porém de muita estima, para focinhar o amigo das brincadeiras terreiras.
Seu João senta-se no tronco de madeira apodrecida e prepara o cigarro com o fumo de corda, colocando-o entre os lábios murchos de banguela.
O gole de café fervente faz descer o pedaço de pão adormecido por dias. Alimentado, cava com sua enxada três palmos de terra, ajoelha-se e enterra a tão estimada ave. Ainda era criança quando recebeu de presente de seu pai, o tão querido galo. Cobria quantas galinhas desejasse. E não era por demasia que lhe apetecesse. Disposto e brigador. Naquele pedaço de terra, outro galo jamais se arriscaria a cantar de galo... Defendia seu paraíso com unhas e bico. Certa vez, até uma cobra de duas cabeças, enfrentara, ciscando-lhe e bicando-lhe, matou-a! Chamava-se Chico, negro de asas, brigador de nascença. Discussão com a vizinhança só quando se excedia nos cantos alvorescentes.
No velho pardieiro, desteme-se a picada do barbeiro. O que causa angústia e medo é a fome, pois desta ninguém escapa. O homem dá os últimos retoques na indumentária que o protege diariamente do sol inclemente e do pêlo da palha da cana-de-açúcar , que na melhor das hipóteses, causa-lhe prurido e alergias: camisa longa atacada até o pescoço, meias que calçam pés, servem para abrigar mãos e braços, calça jeans remendada, o velho chapéu de palha puído, a bota Sete Léguas; sem esquecer da quartinha com água do pote e principalmente da boia escaldada e fria, recheada de pimenta malagueta e por último, o fumo para mascar quando o tempo se fizer de lerdo. Adepto de prática religiosa benze-se três vezes, e agradece reverenciando a Deus, tirando o chapéu. 
Despede-se dos quatro filhos menores que se amontoam num estrado ao lado da cama de casal. Olha para a mulher que já pendura no ventre outra cria e vai saindo, e já espreitava a porta, quando para para escutá-la: “Deus te ilumine, te leve e te traga!” Maria, ainda é uma mulher nova: tem peitos grandes, que lhe tremem a miúda blusa. Peitos que incessantemente alimentam. Seios fartos e fé, não lhe faltam. É devota de vários santos. Pra cada doença, se agarra a um: Santo Expedito, Santo Amaro, São Benedito. Mais tem um que é o seu favorito: Padim Ciço Romão Batista do Juazeiro.
O destemido homem, enverga nos costados a foice, instrumento de sua labuta e célere desce a ladeira escorregadia, encharcada do barro misturado às poças d’água. É uma sexta feira de um mês chuvoso, de qualquer que seja o ano. É a vida que lhe cabe!
Para este homem, não existe perspectivas. Sua vida é marcada sem lampejos de futuro. Sem histórias de passado.
Mais à frente, encontra-se uma legião de amigos que aguardam pacientemente o caminhão para transportá-los a quilômetros dali.
O tempo é comprido e longo, sem contas, sem queixas, sem reclamos, não há o que bradar. Nas mãos dos que enganam, roubam-lhe no peso das toneladas de cana cortadas, ou furtam-lhe nos metros medidos pelo cabo. O que fazer? A quem apelar?
No infinito, o olhar percorre o firmamento, inatingível, impassível. Ergue novamente, no partido de cana, a foice que rompe desafios, nem ao menos sente a hora avançar. A cada foiçada, renova-se seu vigor, escorre-lhe o suor pegajoso que aduba a terra pingo a pingo, mirrando suas forças. Mesmo assim, inclina-se sobre as pernas, abrindo a marmita, degusta o bolo compactado de feijão, farinha e o próprio caldo da cana e faz descer goela abaixo, a boia fria preparada na noite anterior.
Final da tarde, o mulato parrudo e musculoso, já se encontra fraco, cansado. Olha em volta com a serenidade dos que sabem distinguir latifúndios e terras que possui nas unhas dos dedos calejados, deformados. É hora de fazer o percurso de volta, mete-se no pau-de-arara e faz a viagem de volta em silêncio, pensativo, lembra do galo, aquele lá pelo menos, descansa em paz.
O caminhão despeja-os onde foi buscá-los. Há tempo ainda para desafogar as mágoas. Para na bodega da esquina mergulha no esquecimento o que de direito lhe foi usurpado, entorna algumas lapadas de aguardente de cana, que ironicamente ajudou a produzir. Ao chegar em casa, é recebido festejamente pela molecada e recebe deles, o abraço sem igual. Sacodem-se em seus braços, brincam alegremente. Assim a vida segue até quando Deus quiser!


LAM - Você desenvolve projetos como diretor de cinema, fala pra gente como se desenvolve essa sua experiência.

Diria que com muita garra, determinação. E o mais difícil de tudo: sem qualquer apoio financeiro dos órgãos competentes. O que não me esmorece de forma alguma. Inclusive, tenho lutado para transformar Palmares em palco para festivais de cinema. Por sinal tenho feito algumas mostras tanto no Teatro como também em praça pública. Posso contar até o dia de hoje, ter produzido 34 curtas-metragens totalmente independentes. Confesso-vos que de certa forma, chego a ficar triste com tamanha falta de apoio e reconhecimento. É deveras doloroso!
Quando encabeço um projeto, sinto-me convidado a dar sempre o melhor de mim, independente se com esta atitude fico impossibilitado de viajar com a família, trocar o veículo por outro alguns anos mais novo ou mesmo reparar a casa que precisa de consertos. O mais importante de tudo é que a minha própria família é a primeira a apoiar meus projetos.
E esse é um dos mais auspiciosos de todos. Cinema! E eu sonho. Sonho porque enquanto vida tiver, haverei cada vez mais de projetar minha querida cidade.
Pra começar, procuro como roteirista, encaixar minha poesia, melhor dizendo minha liberdade poética dentro dos poucos recursos que disponho.
Outro dia, chegou o pessoal do Funcultura e da Fundarpe para uma apresentação de alguns curtas metragens em nossa cidade. Cinco, seis filmes premiados e reconhecidos pelo público. Pois bem, ao saberem que em Palmares havia um cineasta, convidaram-me para que eu mostrasse um desses filmes. Marcamos encontro no Cine Teatro Apolo. E lá fui eu...
Por via das dúvidas, levei dois filmes para que escolhessem um. Antes de mostrá-lo, senti que havia certo sorriso de escárnio por parte de algumas pessoas dessas instituições. Na verdade, eu sabia que estavam tripudiando-me, ironizando-me quando me perguntavam: você é cineasta? E o roteiro, quem escreve? Você mesmo? E outras perguntas indiscretas mais. E eu com toda paciência ia respondendo. Até que em dado momento, resolvi silenciar e não mais mostrar filme nenhum. Mas aí uma distinta moça que os acompanhava, deu-me o braço e sendo muito delicada atenciosa para comigo, pediu-me para que eu mostrasse. Retornei um pouco mais complacente. E assim aconteceu, quando colocaram o primeiro filme para rodar, - “Sobre Cavalo Marinho e Boi Bumbá” gravado com as crianças da Escola Hélio Rezende do Engenho Humaitá, a moça encantou-se, dizendo-me:
- Meu Deus! Que coisa tão linda! Olhe para mim, veja como estou toda arrepiada!
Os outros integrantes aproximaram-se. Sentaram-se pertinho de mim. Agora eles eram só elogios. Terciam comentários estimulantes, bacanas. Pediram para assistirem o próximo um curta de aproximadamente 15 minutos intitulado, “Inês, a princesa da liberdade”. Os elogios se duplicaram. E quando o filme terminou aí, o bicho pegou de vez. Foram muitos cumprimentos, muitas felicitações.
- Parabéns, parabéns. Seus filmes são muito lindos! Com sua permissão, nós vamos levar esses dois filmes para que o restante das cidades do Agreste e Sertão que ainda não foram contemplados possa assisti-los.
Mesmo de coração partido, chegou a hora de dá o troco. Então, eu disse-lhes:
- Levar o quê? De forma alguma!
- Não faça isso Sr. Genésio, por favor! Suplicaram. Mas aí, continuei irredutível:
- De forma alguma! Ora, se o governo não me ajuda em absolutamente NADA, como posso dá-los de mãos beijadas?
Pediram permissão para exibirem em Palmares os dois curtas naquela noite, com que concordei imediatamente.     

LAM - Quais projetos você tem por perspectivas de realizar?

São muitos esses projetos. Tantos, que muitas vezes não sei qual bote em prática em primeiro lugar. Mas não costumo “botar o carro na frente dos bois”. Sei e entendo que pra tudo na vida tem sua vez, sua hora. Entrementes, o próximo projeto é publicar meu primeiro romance intitulado, “Descaminhos”, que terá o prefácio do nobre amigo que muito me honra com esta entrevista. Depois, um livro de crônicas, - muitas dessas recuperadas -, contos, prosas e fábulas. Todos esses escritos têm como pano de fundo, nossa querida Palmares. E ainda: 10 curtas metragens já para o próximo ano. Também para 2019 mais um romance, desta feita, “Um OVNI na Terra dos Poetas”. Outro livro de poemas e mais um de aforismos. E... vamos juntos!
E que Deus nos proteja!
Que assim seja!
Genésio Cavalcanti
Servo e poeta!

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