LAM - Zé Ripe, como se deu seu encontro com a
música?
Na
verdade, na verdade, ainda criança na escola eu cantava nos aniversários das
professoras, entre os 6, 7 e 10 anos, no Grupo Escolar Zé Bezerra. Depois disso
em shows de calouros, que era muito comum naquela época, os festivais
estudantis e as feiras de músicas idealizadas por Juareiz Correya.
LAM - Quais as influências de infância e
adolescência que contribuíram por sua definição profissional?
Muita
gente, meus irmão mais velhos curtiam, A Jovem Guarda, meus pais A velha
Guarda, Luiz Gonzaga e seus seguidores. Meus amigos curtiam, MPB pesada, Rock
progressivo. Então, eu sofri influência de: Chico Buarque a João Gilberto,
Quinteto Violado a Banda de Pau e Corda e Orquestra Armorial, de Roberto Carlos
a Reginaldo Rossi, de Vicente Celestino a Ataulfo Alves, de Waldick a Roberto Müller
e por ai vai. Mas com a minha adolescência eu já havia feito uma triagem do que
de fato me serviria para minha formação musical.
LAM - Você participou na época de colegial de
uma série de eventos, como recitais, cantorias, melodramas, entre outras
atividades. Conta pra gente como se deu essas experiências.
Aí, tive
de certeza os dois mais importantes parceiros, que foi o Célio Cavalcante de
Siqueira (Célio Carneirinho), e você, Nito Machado. Célio, o começo e você
segurou a barra e apostou pesado em mim, tanto que fizemos muitas apresentações
juntos, desde a quadra do colégio Diocesano até palcos além das fronteiras
palmarenses.
LAM - Você teve participação ativa em
Festivais, Feiras de Música, blocos carnavalescos e muitas outras. Quais as
contribuições dessas participações para sua formação artísticas?
Todas! Porque
foram vivenciadas com certo zelo e carinho, pois havia um cuidado com o que se
cantava, e o meio artístico em que vivíamos era muito rico, e seleto,
culturalmente falando, tanto na parte intelectual quanto musical. Tivemos uma
boa escola. Agradeço a Deus por cada um de vocês. Desde Marcos Ripe até Gulu. E
aí, vinha: Nito Machado, Fernando Melo, Ozy dos Palmares, Célio Carneirinho,
Vavá, e outros.
LAM - Você já compunha músicas e apresentou
diversos shows, teve músicas gravadas muito antes de gravar o seu primeiro
álbum, tendo já desde então um público cativo e bem definido que acompanhava
seus shows e cantava suas músicas. Fala pra gente dessas sua relação com o
público..
Eu, modéstia
a parte, digo que, tenho uma história que contraria o dito popular: Santo de
casa não obra milagre! E aí, eu sou o milagre. Na minha Terra, eu sou rei. Hoje
ainda conservam o respeito por mim, mesmo com um certo distanciamento do palco
por mil razões culturais e políticas, consigo me manter dentro da aceitação
popular.
LAM - Foi em 1999 que você gravou seu primeiro
álbum, Vivências? Como se deu essa realização?
Foi com a
chegada de Dr. Henrique Arruda a Palmares, que se deu a oportunidade. Eu tive o
prazer de conhece-lo, e ficarmos amigos ao ponto de virarmos parceiros
musicais, em diversas músicas. E Vivências, era um poema dele e eu o musiquei,
com certa dose de sorte, porque a musica caiu muito bem, e aí, ele resolveu
grava-la. Foi um teste de fogo para mim, porque ele fazia poemas e letra de
músicas numa rapidez incrível. Em uma semana fizemos o disco.
LAM - Em 2004, foi a vez de você lançar o álbum
Trombetas. Fala dessa experiência.
Trombeta
já foi um negocio difícil, porque Dr. Henrique, já não tinha o mesmo entusiasmo,porque,
os planos políticos dele não se realizaram. Eu tive que, ir atrás de
patrocínio, e ai, quem acabou fazendo grande intervenção, foi Paulo Profeta. Ele
que seria apenas um dos colaboradores. Mas o disco é uma grande obra, e teve a
direção do grande amigo e parceiro, Zé linaldo.
LAM - Em 2007 você lançou Trem Azul, qual o
destaque que você faz dessa empreitada?
Princípio,
Trem Azul. Por sua força poética resgatadora da memória do Trem de Alagoas o
Trem que, Ascenso tão bem decantou em seu poema:“Vou danado pra Catende”.Musicado
e gravado por Alceu Valença. Mas, “Cilene” acabou sendo a surpresa por súbito
acontecimento de sua morte. Esta canção ficou sendo por muito tempo o carro
chefe.
LAM - Em 2008, foi a vez de Raízes Populares.
Qual a proposta desse seu trabalho?
Raízes
Populares, tinha o proposito moral de preservar a nossa cultura, diante do
bombardeamento descabido da mídia capitalista e cruel, tomando todos os
espaços, amordaçando tudo que é belo e em troca simplesmente do dinheiro. e eu já previa o caos de morte, anunciada na Saia Rodada, Avião, Forró do
Muído e outras do mesmo gênero. Hoje o pouco que tem agoniza em leito de adeus.
LAM Em 2011, você aparece pro público com Zé
Ripe & amigos em pé de serra. Conta pra gente como foi realizar essa festa.
Era já
final de ano e eu tive essa ideia de chamar os amigos forrozeiros para fazer um
forró natalino, em pleno mês de dezembro foi meio que coisa de louco. Ninguém
comprava ideia, mas foi um sucesso, enchemos a Praça Paulo Paranhos. 10 mil pessoas foram ver. Santanna, eu, Zé Linaldo e mais uns dez amigos. Ficamos muito felizes porque, provamos que o
forró de Luiz Gonzaga, Dominguinhos em nossas músicas cabe e o povo gosta em
qualquer tempo. Já dizia Ariano: “O cachorro come o osso, porque, não lhe dão o
filé!
LAM - Em 2015, deu-se o lançamento de Varal
Nordestino. Fala para gente como se desenvolveu esse seu álbum.
Varal
Nordestino é um projeto que não consegui mostra-lo em seu todo porque eu fui
operado as pressas em pleno trabalho no mês de junho. Mas é um projeto de fusão
do Maracatu, Ciranda, Forró e xote, que rende um molho dançante sem perder as
características de cada um, num proposito de mostrar um novo sem banalizar a
cultura. Mas vou ver ainda como tocar pra frente, uma vez que, nada ganha
dessas bandas e grupos empresarias que comandam, seja o Arrocha, o Sertanejo e o
forrofoleragem que sufoca toda e qualquer boa música, numa inversão de valores
nunca vista.
LAM - Você além de compositor musical, escreve
suas letras e poemas. Como é fazer letras e poemas, há distinções no fazer
artístico neste sentido?
Às vezes
sim outras não. Há poema que por mais metafórico que seja é aceitável,
assimilável ao público, outros não tanto, por não ter a intensão de ser claro.
Ou esclarecedor de uma situação. Já as letras de músicas tem endereço certo.
Tem uma função mais informativa, exceto quando se faz como se fazia na Ditadura
Militar. A exemplo de Chico e outros que burlavam intelectualmente a censura. É como que, letra de música quer contar uma
história e o poema meio que se abstêm a isso. Como diz Belchior: Sim! Já outra
viagem.
LAM - Você está concluindo o curso de Letras,
esta sua formação acadêmica tem contribuído com o poeta e letrista?
Tem,
demais! Pelas questões das técnicas e regras da Língua. A norma culta e a
linguagem padrão e não padrão, os textos tendem a melhorar gradativamente. E ficarem
mais cumpridor de suas funções. Obedecendo a Gramática ou Linguística. Mas, eu
não tenho tanto problema para me adaptar.
Porque já escrevia razoavelmente bem. Isto é: poemas e letras de
músicas. A prosa requer outros cuidados que aos poucos vou me adaptando.
LAM - Quais os projetos Zé Ripe tem por
perspectiva realizar?
Terminar e
não parar a graduação. Fazer pós e vai. Isto, José Rodrigues, parceiro e
paciente com Zé Ripe, que em mais breve tempo, quer fazer um trabalho mais
intimista, mais acústico. Eu vou ver como usar melhor a internet para divulgar
novos empreendimentos artísticos.