A ARTE DE MAURÍCIO SILVA – Por Cyane Pacheco. A obra
do artista Maurício Silva resgata à ancestralidade da arte, seus primeiros
rumores, o memento das cavernas que, ali, eram circunscritas ao território da
magia e nós, após tantos séculos, a dissemos: Arte! A obra esse artista,
desvela todas as grandes questões, aquelas que colocam a criação artística nos
lugares confusos da contemporaneidade: ele adentra florestas de símbolos, para
lá confundir uma temporalidade que significa buscar novas pistas, devolve à
terra, camadas do tempo que os homens esqueceram de acrescentar à ínfima
ligação entre criar e viver. Ali, terra da sua amada, desfaz a expatriação, sua
e da própria Arte, refazendo a partir da sua terra natal, outras memórias: uma
pá, um novelo de lã – crochê diverso onde urde à noção de que não há exílio
onde vive a mulher amada. O artista usa a valise de Walter Benjamin, a esvazia
e guarda nela suas criações, buscas de toda sua vida, sabe que há um sistema perverso,
que precisa responder com suas criações, as perguntas sobre a morte, o
anonimato daqueles que lançaram flechas perdidas. Mauricio Silva nos oferece
pistas sobre o lugar estanque da Arte e sobre os modos de resistência a isso,
buscando tremores fundos, que vêm dos caminhos percorridos até aqui. Refaz
todos os lugares, a partir das formas e técnicas primevas, traz para o
espectador, não apenas à fruição, mas torna-o parte daquilo que cria: alguém
que terá que empreender sua própria busca, descobrir naquilo que,
propositadamente, o artista vela e desvela, semi-encobre e oferta. Suas cores,
texturas, formas, sua multiplicidade temporal, o que parece com a criação das
manhãs, voluntariando à Arte, a recriação de suas próprias ferramentas e
buscas. Não pretende reproduzir a natureza, nem sua exaustiva distorção, antes,
abriga-se nas intercessões da existência, funda mundos e convida à uma
compreensão maior do fazer artístico. Maurício Silva, em sua vida e obra, que é
uma só coisa, faz perguntas, as espalha em sítios diversos e abre-se, atento,
às respostas, são seus fios de transversalidade em relação ao outro.
MAURÍCIO SILVA – O artista pernambucano radicado na França, Maurício Silva, trabalha com diversos materiais que compõem a sua
pintura, gravura, desenho, escultura, fotografias e peças em cerâmica, além de vídeos,
instalações e performances em suas exposições. Veja mais aqui e aqui.
CYANE PACHECO – A artista visual e escritora Cyane
Pacheco já realizou diversas exposições e está preparando a publicação do
seu livro Ara ou O Livro das Portas e
uma exposição para breve. Veja mais aqui, aqui e aqui.