CATÁLOGO DE ÂNGULOS
PÉTREIA LÁUREA
Laboriosos círculos ourives crava
Na pele lícita da joia engendrando grades de esmeralda
Puros engates, cortes precisos engenhando.
Artifícios íris aziaga comete quilate a quilate
Golpeando a pedra e seus sóis crescentes
Com majestosas pinças e lenta maestria
Até que céus nascidos de suas mãos circulassem
Na pele alma da pedra alada e rainha.
DIXIT VCA FINALMENTE EM RESUMÃO
A bordo do abismo sigo
Cego e vital destino insido
E à poesia crucial sacrifico.
Há os que necessitam do inferno
Amam a claridade feroz do fogo eterno
E cruel do mais ínfero lugar da alma.
Hão de ser estéreis tais criaturas
(E possivelmente estéril tal criador).
VITALIANAS NOVAS
Afogue ganso no hímen do abismo.
Venda a vida à vista, mas dê o necessário
Desconto temporário trisregistro.
Nunca esgane veia, nutra-a de etanol lírico.
Navalhas são lentas quando não cortam
E desafiam a afinação se ávidas
Atravessam carnes inocentes. Saciam-se
Melhor no córrego femural, talvez na aorta aporte.
Rosa esquizofrênica brota
Do jardim depressivo, e desodorece.
Noite cessa quando sol começa
Sua instalação célica.
QUESTÃO
A tona da verdade (como a beira do
Inferno ou a borda do obediente abismo) não é redonda
Qual a cor e o jeito dela?
É funda ou eferica a tona da verdade?
Caso você veja a tona da verdade profunda
Avise à portaria da poesia.
Tal como tona da verdade
Sombra da dúvida não é amarela.
DESOLHAR
As escarpas belas do teu olhar alpino
(olhar lateral é da real
E insincera leitora)
Lábio sujo com úmida pertinácia
E atiço e acicato
Sentidos que não queiram delirar.
ANJO ADJETIVO
Anjo gentil, manso, doce, rilke
Na alegria da gloria imerso.
Farto da grandeza do esplendor (opaco)
Anjo de mel e plumas deliquescendo
Gerundial anjo da colmeia de Deus
De asas enchamejadas do enxame branco do céu
De garganta de orvalho envenenada
Anjo de um tempo pós-angélico
(ou da não-localidade)
De físicas místicas, anjo quântico, ávido.
DÍSTICOS
Medula noturna ama escárnios
Gerúndios se suicidam pulando do catre do anacoluto.
Pra me manter vivo falácias de aura escravizo.
E creio em burocráticos céus pra ser fiel à alma.
CENA ÍGNEA
A zarabatana azulada do relâmpago
Atraiçoa céu rompendo Rombula tenda
Rasga véus de nuvens, dorsos de vento costura
Espaduas do vermelho tremulo exibindo
A olhares incrédulos ou sem brilho
Dos indecisos homens e maltrapilhos.
É O POEMA
De mínimo mundos e somas finitas
De assertivas vãs e obliquas intrusões
De minúsculas mandíbulas (verbo-carnívoras)
De carbono azul e atntas minucias é o poema.
Tanto parco grão quanto
Mero cosmo são o poema.
Abandono que carrega cansaço
Tedio que alimenta sonho larapio
Veia que inflama ser inútil
Som que atenua medo
Tudo são poemas.
Comboio de cães vadios
Viralatando a latir avenidas escusas
É o poema.
CATÁLOGO DE ÂNGULOS – O livro O catálogo de ângulos
(Autor, 2018), do poeta e crítico literário Vital Corrêa de Araújo, reúne poemas
com prefácio Os diversos ângulos de uma mesma poesia, de Admmauro Gommes, e Apresentação
do próprio autor. Veja mais aqui e aqui.
VATE VITAL - O livro Vate Vital: aspectos da obra
poética de Vital Corrêa de Araújo (CriArt, 2018), do poeta e professor Admmauro Gommes, traz uma palavra do vate e as partes tratando
Vital Corrêa e o curso de Letras da Famasul, da influência poética, estrutura
da obra, intervalo da pré-teoria da Poesia Absoluta (PA), entre outros
assuntos. Veja mais aqui e aqui.