quinta-feira, janeiro 23, 2020

A POESIA DE AMANDA ARAÚJO



NA GARUPA, A SAUDADE

Aquela motocicleta branca
Estacionou na minha calçada
Parecia ter um torcicolo
Ou olhada para as flores do meu jardim

Porque fostes parar logo ali, motocicleta?
Poderia ter levado esta tua bagagem pro outro lado da cidade

Aquela motocicleta veio falar de saudade

Sinto lhe dizer, querida motocicleta
Mas seu farol já apagou.
Não adianta mover nenhuma embreagem.

ONDAS DE TAROT

O latente dos olhos ciganos
Já pincelava o futuro
Arcaico era
Lapidando efêmeros luares
Reféns do Canoeiro
Cati, o chamavam
A ecoar o mar cristal
Da esmeralda que beirava o litoral sul.
Nu, naval.

RETIFICAÇÃO

Cumprir o protocolo
Bom seria um pouquinho
De lá, adormecida as erratas
Retificando a notícia
O mundo é lapidado a regras
Quebradas
Na tentativa de conserto
Falha fortemente.
O erro se constrói na destruição
De uma vida mansa
Sem previsões de escrúpulos
Avistando um crepúsculo
Que antecede o luar.

DESTE LADO, SÓ O PÓ

Vi cumprir, mas só o pó
Que destilava o vento atroz
Aprazível para longanimos toques suaves

Ouvi soar o suor
Era barulho de cartas jogadas
Levemente adocicadas e ásperas

Senti o paladar salivando
Loucura desenhada a lápis
Ruptura que encarnava o elo.

Saboreei a existência de uma foto
Estática, falava de Vênus
O mais belo que emanou luz.


DOR EM SÃ

O impulso de sê-lo
A punição da trilogia em glândulas
As sebáceas de salivar
O tinto da linha tênue
Com parabrisa desesperado
Entre ventos torrenciais
De praxe, baixa umidade
Para o magnífico de uma destruição iminente.
Era estatística pressentida
Você me adoecia.

TRIANGULO ALITEROSO

Leve e lave
Lê o louvor
Loucura a lápis
Labor de uma vida insana.

Fale o feito
Fazendo florescer
Flamingos a flutuar
Faltando apenas a desventura.

Cante o calor
Clareador de conserto
Comemorando com confetes
Calmamente personificando o fôlego.

Rios raivosos
Respeita as redondezas
Responde com rapidez
Resolvi a vida por caminhos hostis.

INTEMPERANTE

Pálida e feroz
Correndo a noite inteira de prazer
Vagando nos vagalumes
Iluminando a voz do amanhecer

Encontrava-se destemida
Pronta para o ataque
Soltou as pétalas ao vento
Apontou para o almanaque

Era apenas uma criança
Acompanhando a solitude
Seus traços alvos
A indagava por amplitude

Ó, doce menina
Preserve a sua ingenuidade
Amanhã, talvez
Cantará sobre os lírios
Além da sobriedade.


AMANDA ARAÚJO - Poemas da poeta e crítica literária Amanda Araújo, acadêmica de Letras pela UFPE (EaD), incluída nas antologias O futuro da poesia (2017) e Dezditos – Poemas Selecionados (2018), organizadas pelo poeta e professor Admmauro Gommes. Veja mais aqui.