LAM - Vilmar,
como e quando se deu seu encontro com a Literatura?
A literatura apareceu ainda na adolescência. Uns 13 anos.
Na época, ingressava no então Segundo Grau e lembro que reservei um caderno e
comecei escrever. Certamente, coisas muito vagas e simples. Porém, foi ali que
comecei essa aventura, coisa de escola. Os grandes poetas brasileiros descobri
na escola, no livro didático, especial Drummond, Bandeira e, um em especial,
Olavo Bilac. O primeiro poema que, lembro, despertou-me a musicalidade e a
narrativa do verso foi "Ouvir Estrelas" de Bilac e, depois, o tema em
Manoel Bandeira, como o moderno "A Estrela", numa cadência mais
musical e criativa. Lembro que foi por aí. Gostava de ler e passei a fazer
poemas.
LAM - Quais
influências da infância e adolescência foram determinantes para sua opção pela
Literatura?
Como disse poetas brasileiros: Drummond, Bandeira, Bilac
e depois conheci João Cabral de Melo Neto; também me chegou às mãos uns livros
de Ledo Ivo, Murilo Mendes e Marcos Acioli. Depois, já com uns 17 anos, conheci
dois poetas de Palmares com livros publicados: Juareiz Correya e o amigo (você)
Luiz Alberto Machado. Cheguei em Palmares para morar com 15 anos. Uma sorte!
Estava numa cidade com tradição literária e isso é incrível coincidência:
estava na terra de Ascenso Ferreira e de tantos poetas. Senti que não estava
sozinho. Comecei a divulgar meus poemas e conhecer esse pessoal que fazia
literatura foi incentivador.
LAM - Você
publicou os livros de poemas: Sentimento verso e reverso (1985), Passavida e
outros poemas (1988), Cartas ao girassol (1998) e Bordel Barroco (2011),
entre outros. Fala pra gente a sua avaliação dessa trajetória poética.
A publicação é uma meta para qualquer jovem que escreve.
Comecei assim e tive colaboradores. O primeiro nasceu pelas Edições Bagaços
ainda quando funcionava em Palmares. Depois acompanhei as Edições Bagaço até
2011. Hoje, depois do advento da Internet, Blogs e Redes Sociais, o livro de
poemas anda secundário, porém, espero lançar novos livros e defender a lira de
mais de trinta anos. Poesia é o tempo que apura. Tenho muita coisa inédita e
penso logo publicá-las.
LAM - Na
obra A Tertúlia (2004), você mescla poesia e prosa. Fala pra gente desse seu
projeto editorial.
A Tertúlia é fruto de está a meio caminho entre a prosa e
o verso. E isso exige despersonalização. A prosa exige narradores outros e é o
que faço na Tertúlia. Criou mais três poetas com biografias e estilos
diferentes. O clássico Epicuro Soares; o moderno J. Carlos Acre; e o popular
Calixto Mococa. O título A Tertúlia vem dessa lógica de reunião literária. O livro
em 2004 circulou bem. Mas acredito que a tiragem limitada e falta de divulgação
maior atrapalhou extrapolar o circuito local. Penso em disponibilizá-lo, numa
edição revisada e ampliada, na internet.
LAM - O
Poeta que virou estante (2011), é a sua incursão nos contos. Conta pra gente
dessa sua experiência literária.
A Tertúlia me abriu o caminho. Depois veio a escrita
historiográfica. Sou também da seara dos historiadores. O Poeta que vivou
estante foi a estreia, mas tenho outros trabalhos inéditos que pretendo
publicar e divulgar contos e crônicas que escrevo. Algumas já divulgo na
internet.
LAM - Você
publicou duas outras obras, Escritos: História, Literatura e Cultura Letrada
(2008), e Letrados e Ufanos (2011), esta última oriunda dos estudos de sua
dissertação de mestrado. Fala a respeito dessa sua pesquisa.
Ficou feliz de ter feito em 2007 a opção pelo projeto do
Clube Literário que submeti ao mestrado em História pela UFPE. Primeiro porque
abriu um campo de estudo que vincula Literatura e História. E também, fico
feliz por isso, porque pude preservar as ralas e raras memórias do Clube
Literário de Palmares que, em 2010, foram totalmente destruídas pelas
enchentes. Hoje e sempre haverá publicada essa história do Clube e do papel que
desempenhou entre 1883 e 1910, tempo que foi clube de letras.
LAM - No
bojo dessas suas pesquisas, você está se doutorando com temática nessa linha.
Fala pra gente desse seu projeto de doutoramento.
Pretendo continuar na temática, porém ampliando na
direção da história da imprensa de periódicos e revistas nativas da zona da
mata sul de Pernambuco sob a influência da estrada de ferro e da modernização
conservadora que se estabeleceu na região canavieira a partir de 1870 até 1930.
LAM - Além
de escritor e pesquisador, você tem desenvolvido a atividade de professor há
muito tempo, tendo, inclusive, assumido a secretaria de educação do município
palmarense por diversas vezes. Fala pra gente de como você conciliar essas
atividades no seu dia-a-dia laboral.
Tomo essas experiências como engajamento. Fruto da defesa
da educação pública e do direito de estudar, ensinar e aprender, principalmente
aprender, numa escola municipal democrática e acolhedora. Sinto que contribui
com essa trajetória, junto com homens e mulheres de grande valor na educação
local e regional.
LAM - Como
profissional da educação, que avaliação você faz da educação brasileira na
atualidade?
A educação brasileira não consegue sair de certos
paradigmas próprios do século XIX. Teimamos em separar a educação formal
daquela que é também responsável pela formação cidadã. O ensino mais geral e
essa intervenção na vida cotidiana tem que se realizar no ambientes das
escolas, formando melhor os professores, disponibilizando padrões de funcionamento
e qualidade a todas escolas e aproximando a escola da cultura local. A cultura
é a fronteira para que nossa escola avance. O currículo livresco não garante
essa condição. É necessário investimento materiais e intelectuais para isso.
LAM - Quais
projetos você tem por perspectiva de realizar?
Bem, com quase 55 anos. A vez será da dedicação exclusiva
à Literatura. Penso nisso todo dia nos últimos tempo. Esse é meu horizonte.
Espero divulgar melhor o que andei e ando escrevendo. Um forte abraço e obrigado
pela entrevista.