quinta-feira, agosto 31, 2017

A ARTE NA ENTREVISTA DE VILMAR ANTÔNIO CARVALHO


LAM - Vilmar, como e quando se deu seu encontro com a Literatura?

A literatura apareceu ainda na adolescência. Uns 13 anos. Na época, ingressava no então Segundo Grau e lembro que reservei um caderno e comecei escrever. Certamente, coisas muito vagas e simples. Porém, foi ali que comecei essa aventura, coisa de escola. Os grandes poetas brasileiros descobri na escola, no livro didático, especial Drummond, Bandeira e, um em especial, Olavo Bilac. O primeiro poema que, lembro, despertou-me a musicalidade e a narrativa do verso foi "Ouvir Estrelas" de Bilac e, depois, o tema em Manoel Bandeira, como o moderno "A Estrela", numa cadência mais musical e criativa. Lembro que foi por aí. Gostava de ler e passei a fazer poemas.

LAM - Quais influências da infância e adolescência foram determinantes para sua opção pela Literatura?

Como disse poetas brasileiros: Drummond, Bandeira, Bilac e depois conheci João Cabral de Melo Neto; também me chegou às mãos uns livros de Ledo Ivo, Murilo Mendes e Marcos Acioli. Depois, já com uns 17 anos, conheci dois poetas de Palmares com livros publicados: Juareiz Correya e o amigo (você) Luiz Alberto Machado. Cheguei em Palmares para morar com 15 anos. Uma sorte! Estava numa cidade com tradição literária e isso é incrível coincidência: estava na terra de Ascenso Ferreira e de tantos poetas. Senti que não estava sozinho. Comecei a divulgar meus poemas e conhecer esse pessoal que fazia literatura foi incentivador.

LAM - Você publicou os livros de poemas: Sentimento verso e reverso (1985), Passavida e outros poemas (1988), Cartas ao girassol (1998) e Bordel Barroco (2011), entre outros. Fala pra gente a sua avaliação dessa trajetória poética.

A publicação é uma meta para qualquer jovem que escreve. Comecei assim e tive colaboradores. O primeiro nasceu pelas Edições Bagaços ainda quando funcionava em Palmares. Depois acompanhei as Edições Bagaço até 2011. Hoje, depois do advento da Internet, Blogs e Redes Sociais, o livro de poemas anda secundário, porém, espero lançar novos livros e defender a lira de mais de trinta anos. Poesia é o tempo que apura. Tenho muita coisa inédita e penso logo publicá-las.

LAM - Na obra A Tertúlia (2004), você mescla poesia e prosa. Fala pra gente desse seu projeto editorial.

A Tertúlia é fruto de está a meio caminho entre a prosa e o verso. E isso exige despersonalização. A prosa exige narradores outros e é o que faço na Tertúlia. Criou mais três poetas com biografias e estilos diferentes. O clássico Epicuro Soares; o moderno J. Carlos Acre; e o popular Calixto Mococa. O título A Tertúlia vem dessa lógica de reunião literária. O livro em 2004 circulou bem. Mas acredito que a tiragem limitada e falta de divulgação maior atrapalhou extrapolar o circuito local. Penso em disponibilizá-lo, numa edição revisada e ampliada, na internet.


LAM - O Poeta que virou estante (2011), é a sua incursão nos contos. Conta pra gente dessa sua experiência literária.

A Tertúlia me abriu o caminho. Depois veio a escrita historiográfica. Sou também da seara dos historiadores. O Poeta que vivou estante foi a estreia, mas tenho outros trabalhos inéditos que pretendo publicar e divulgar contos e crônicas que escrevo. Algumas já divulgo na internet.


LAM - Você publicou duas outras obras, Escritos: História, Literatura e Cultura Letrada (2008), e Letrados e Ufanos (2011), esta última oriunda dos estudos de sua dissertação de mestrado. Fala a respeito dessa sua pesquisa.

Ficou feliz de ter feito em 2007 a opção pelo projeto do Clube Literário que submeti ao mestrado em História pela UFPE. Primeiro porque abriu um campo de estudo que vincula Literatura e História. E também, fico feliz por isso, porque pude preservar as ralas e raras memórias do Clube Literário de Palmares que, em 2010, foram totalmente destruídas pelas enchentes. Hoje e sempre haverá publicada essa história do Clube e do papel que desempenhou entre 1883 e 1910, tempo que foi clube de letras.

LAM - No bojo dessas suas pesquisas, você está se doutorando com temática nessa linha. Fala pra gente desse seu projeto de doutoramento.

Pretendo continuar na temática, porém ampliando na direção da história da imprensa de periódicos e revistas nativas da zona da mata sul de Pernambuco sob a influência da estrada de ferro e da modernização conservadora que se estabeleceu na região canavieira a partir de 1870 até 1930.


LAM - Além de escritor e pesquisador, você tem desenvolvido a atividade de professor há muito tempo, tendo, inclusive, assumido a secretaria de educação do município palmarense por diversas vezes. Fala pra gente de como você conciliar essas atividades no seu dia-a-dia laboral.

Tomo essas experiências como engajamento. Fruto da defesa da educação pública e do direito de estudar, ensinar e aprender, principalmente aprender, numa escola municipal democrática e acolhedora. Sinto que contribui com essa trajetória, junto com homens e mulheres de grande valor na educação local e regional.

LAM - Como profissional da educação, que avaliação você faz da educação brasileira na atualidade?

A educação brasileira não consegue sair de certos paradigmas próprios do século XIX. Teimamos em separar a educação formal daquela que é também responsável pela formação cidadã. O ensino mais geral e essa intervenção na vida cotidiana tem que se realizar no ambientes das escolas, formando melhor os professores, disponibilizando padrões de funcionamento e qualidade a todas escolas e aproximando a escola da cultura local. A cultura é a fronteira para que nossa escola avance. O currículo livresco não garante essa condição. É necessário investimento materiais e intelectuais para isso.

LAM - Quais projetos você tem por perspectiva de realizar?

Bem, com quase 55 anos. A vez será da dedicação exclusiva à Literatura. Penso nisso todo dia nos últimos tempo. Esse é meu horizonte. Espero divulgar melhor o que andei e ando escrevendo. Um forte abraço e obrigado pela entrevista.


Veja mais Vilmar Carvalho aqui, aqui e aqui.