JOYCE CAVALCCANTE – Importante escritora cearense, Joyce Cavalccante tem confirmado seu talento
no cenário literário brasileiro e desenvolvido trabalhos em prol da literatura
brasileira. Alguns anos atrás ela concedeu uma entrevista para o meu Guia de
Poesia que reproduzo aqui.
LAM
- Como a Literatura chegou até Joyce Cavalccante?
JC -
De forma legítima como todos os amores a primeira vista. Eu já sabia que iria
viver literatura desde a primeira redação escolar. Quando chegava o dia da aula
de português eu exultava de alegria. Era uma excitação cheia de sensualidade,
faces coradas, coração aos pulos e inquietude. Só muito mais tarde, quase hoje,
que aprendi ser o mesmo o chacra da criatividade e o da sensualidade, ou seja,
essas duas emoções dividem o mesmo espaço energético. Aliás, diga-se, essas
duas coisas são de extrema importância para minha felicidade e realização como
ser humano.
LAM - E os primeiros
escritos, os primeiros passos, como ocorreram?
JC -
Assim mesmo. Na escola. Comecei ganhando concursos de redação e pra mim isso
nunca foi importante. O que eu queria mesmo, como ainda quero é emocionar com
minha narrativa. Quero buscar dentro de cada pessoa as preciosidades que elas
nem suspeitam possuir. Quero encantar. O que mais mexia comigo eram as
redações. Eu estava sempre narrando algo, descrevendo o que via; mas depois,
quando aprendi metrificação na escola, resolvi ser poeta. Cometi algumas
poesias, é verdade, mas logo logo voltei ao meu estado natural: a prosa. Eu
tenho uma irmã que nesse tempo estava fundando um grupo literário com alguns
colegas de faculdade, o Grupo Literário “Sim”, que até hoje é uma referência
importante na literatura cearense. Eu, ainda menina, ficava ali escutando as
discussões do pessoal. Ficava querendo me meter na conversa, mas me continha
com medo de ser rechaçada por ser criança. Mas certa vez, não me contive e
quando acabou a reunião eu chamei um dos membros do grupo, o Pedro Lyra que
hoje em dia é um grande crítico e poeta conhecido nacionalmente, e
confidenciei-lhe que havia escrito um poema. Pedi-lhe para que lesse e dissesse
o que achou. Ora, O Pedro não só leu como publicou no jornal “O Povo”, de
Fortaleza, o poeminha ingênuo de autoria da menina escutadeira de conversa dos
adultos. E foi assim que tudo começou.
LAM
- Que avaliação você faz de toda a sua trajetória até o "Cão Chupando
Manga"?
JC -
Hoje eu vejo que não carecia de ter tido tanta insegurança ou dúvidas. Tudo
iria acontecer de qualquer forma. Mas a gente é sempre assim: descrente,
ansiosa. Eu não faço exceção. Todas as vezes que estou escrevendo algo sempre
acho que nunca estará suficientemente bom, até que um dia fica do jeito que eu
gostaria. E é só assim que eu libero um original pra publicação. Eu sou
daqueles autores que desconstrói para construir. Fico na lida o tempo todo,
mexo muito no texto, limpo, limpo, limpo. Escrevo e reescrevo quantas vezes
forem necessárias porque escrever mediocridades, coisas imperfeitas, ninguém
merece. No mais, a trajetória foi essa: uma letra em seguida da outra formando
frases que se ligaram em parágrafos que se ligaram em textos literários. Belos,
senão não os assino
LAM
- Você vem arrebatando prêmios ao longo da carreira. Como isso tem contribuído
para a receptividade do público ao "Cão Chupando Manga"?
JC -
Deixe de exagero, poeta. Eu não venho arrebatando prêmios assim a torto e a
direito, não. Mesmo porque eu nem participo tanto de concursos. Ganhei uns
reconhecimentos, foi só. Na verdade o maior prêmio da minha vida foi o
encantamento que o “Cão Chupando Manga” provocou no coração daqueles que o
leram. Foi um arraso geral. Todos os leitores desse romance quiseram
interferir, modificar, escolher um destino para tal e tal personagem, reclamar.
Todos se tornam coautores, e a meu ver essa é a finalidade de um livro. Só
assim uma obra artística se completa.
LAM
- Como foi escrever o "Cão Chupando Manga", aproveitando para que
você indique onde ele pode ser encontrado pelo leitor internauta?
JC -
Bom, escrever o "Cão Chupando Manga" foi um suplício, pra ser mais
precisa. Foram três anos de trabalho diário e ininterrupto, pois é assim que se
faz romances: sentada em frente ao computador sem se dar tréguas. Enquanto isso
os personagens me atormentavam se intrometendo na minha vida, me pedindo
dinheiro emprestado, atrapalhando meus namoros, sujando minha cozinha e me
assustando com seus pesadelos. Eu tinha uma ideia para onde deveria ir mas não
sabia se ia chegar. Mas no fim tudo deu certo. Tudo deu certo. Quanto a indicar
aonde o "Cão Chupando Manga" poderá ser encontrado, tenho a dizer que
ele está bem distribuído e pode ser encontrado em qualquer livraria física.
Como toda livraria nos dias de hoje faz vendas online, no site das referidas
livrarias logicamente terá o "Cão Chupando Manga". Mas se quiser uma
indicação mais direta, pode procurar na livraria REBRA.
LAM
- Qual a sua visão sobre a Literatura brasileira atual? Que destaques você
pontua?
JC -
Acho difícil julgar. É uma tarefa que não me atrai. Mas gosto de ler
principalmente romances e novelas. Tenho lido boas coisas de Ana Miranda, de
Roberto Drummond, de João Ubaldo e outros colegas. A poesia contemporânea ainda
não me cativou, mas talvez seja porque eu tenho o gosto muito clássico. Talvez
até eu esteja perdendo muita coisa. Gosto de ler, isso sim. Não fico um minuto
sem um livro na cabeceira.
LAM
- Como você encara o processo editorial convencional mediante o advento da
Internet?
JC -
Uma coisa não tem nada a ver com outra por isso não dá pra comparar. O processo
editorial do livro impresso é uma coisa totalmente diversa da publicação
online. Um livro de papel é um objeto de arte, concreto, palpável; uma
publicação na Internet é volátil como uma boa ideia. O livro físico sempre
existirá. Há uma enorme camada da população que não passa sem ele, eu sou um
exemplo disso. Quanto a publicações virtuais não sei responder já que nunca li
nenhuma. Não me atrai ficar sentada diante de um computador lendo um livro.
Pobre da minha coluna. Pobre do meu juízo. Mas uma coisa eu garanto, a Internet
auxilia muito na divulgação de um livro, Isso sim. Considero que ela é hoje um
instrumento de primeira necessidade ao mundo das artes e do intelecto. De
qualquer forma essas minhas afirmações tem um certo prazo de validade. Vamos
ver como as coisas irão se situar no futuro.
LAM
- A Internet tem contribuído para a difusão da Literatura e o hábito da
leitura?
JC – Sim. Acabei de afirmar isso. Tem sido de grande
auxilio usar o poder de penetração da Internet para movimentar o mundo
literário. Dando um exemplo simples: eu mantenho um site de referência na rede:
http://www.JoyceCavalccante.com Nesse site estão todas as informações que uma
pessoa, um estudante ou um estudioso, precisa para desenhar um trabalho escolar
sobre a minha literatura. Após visitá-la totalmente, sobre muito pouco a
perguntar, resultando em grande facilidade para a divulgação de meu trabalho. E
isso tem me dado muitas gratificações. Também convites e avisos sobre novas
publicações são melhores distribuídos e menos dispendiosos se usarmos o meio
eletrônico. Grupos de interesses em comum se formam, poetas trocam poesias e
namorados promessas. É uma festa essa rede. Eu fico feliz em estar nessa festa.
LAM
- De que forma a REBRA tem contribuído para a difusão e o desenvolvimento da
Literatura Feminina Brasileira?
JC – A REBRA inteira é movida por essa ideia. Alguns
de nossos princípios são: Divulgar as obras das associadas nacional e
internacionalmente, por meios eletrônicos e convencionais; manter viva na
memória cultural brasileira as obras de nossas escritoras já falecidas,
divulgando a história da literatura feminina do Brasil; desenvolver projetos
literários tais como; cursos, encontros, simpósios, concursos e congressos,
assim como promover publicações visando as finalidades acima descritas; criar
em parceria com a iniciativa privada ou com órgãos governamentais, no âmbito
nacional ou internacional, mecanismos que estimulem o mercado da literatura
feminina em particular e da literatura em geral; expor a literatura brasileira
feita por mulheres para o mundo inteiro, com o objetivo modernizar e globalizar
sua divulgação para o mercado literário; fazer valer os direitos da mulher
escritora a um tratamento justo e igual ao dos homens escritores entre outras
coisas. Temos cumprindo ao que nos propomos e por isso que nesses 4 anos de
vida podemos dizer: a REBRA foi uma ideia que deu certo.
LAM
- Que projetos a Rebra tem desenvolvido e a desenvolver?
JC – As principais iniciativas nossas foram: as home
pages trilíngües para cada sócia e suas consequentes apresentações virtuais
para um universo bem largo de endereços eletrônicos. O SER-Selo Editorial REBRA
e agora a Livraria REBRA. Além disso a participação em feiras nacionais e
internacionais com exposição de livros e a presença de associadas. Tudo isso
ajuda e muito a fazer a voz da mulher brasileira ser ouvida e respeitada. Mas
reconhecemos que ainda há muito a fazer e faremos. Ora se faremos.
Veja no Guia de Poesia aqui.