ENTREVISTA - Virna
Teixeira é poeta, tradutora e neurologista. Ela lançou em 2000, o livro “Visita”
e, recentemente, o “Distância” ambos pela Editora 7 Letras.
O primeiro, Visita, indubitavelmente, uma viagem
que começa volátil, vai para a sala, quarto, regressa, passa pelo dorso, chega
numa tarde de maio, passeia pelo outono, usa binóculos para se acercar das
lonjuras, vira Penélope e depois retorna ao passado. Segue seus percursos a
partir de janeiro, domingos, museus, meio-dia, caminhos, viagens. Tudo a partir
de uma epígrafe da Ana Cristina César: “A ponto de partir, já sei que nossos
olhos sorriam para sempre na distância”. Uma visita que é ousadia, porque
parte e nem sequer saiu de perto. Uma visita longínqua, porque em si já comunga
tudo e todos. Uma visita que não é visita: é a poesia que vai e volta na
transcendência poética para ser vida.
Agora, Distância, o seu mais novo trabalho onde me
resta reiterar as palavras mencionadas com relação ao primeiro, com um detalhe:
a distância é, ao mesmo tempo, o afeto e o estranhamento. É como estar no meio
do maior rebuliço e estando cônscio de que, mesmo levado pelo movimento, se
posiciona acima, ao lado, abaixo ou mesmo fora dele, digerindo a
experimentação. Isso porque a poeta se faz migrante de uma belíssima viagem que
o leitor jamais esquecerá: o universo poético de Virna Teixeira.
Tendo já comentado os dois livros
dela, agora, uma oportunidade ímpar: um bate-papo com a autora. Com vocês,
Virna Teixeira.
LAM - Virna, primeiro, como costumo
abrir as entrevistas que faço, o de praxe: quando se deu e como foi seu
encontro com a literatura?
Muito cedo, na infância mesmo.
Meus pais são pessoas cultas, bem informadas. Com sete anos de idade ganhei o
livro “Ou isto ou aquilo” de poemas infantis da Cecília Meireles, foi o meu
primeiro encontro com a poesia. Depois li toda a coleção do Monteiro Lobato
para crianças e me tornei, precocemente, uma leitora ávida. Tive acesso a uma
vasta biblioteca em casa. Desde os clássicos da literatura nacional e
estrangeira até poesia contemporânea, beatniks, poesia marginal.
LAM - Você é cearense de Fortaleza e
está em São Paulo. Para você, como é o trâmite de se vê nordestina no meio
dessa loucura toda?
Comecei a mudar de cidade na
infância. Até mesmo na época da faculdade, cursei parte do meu curso de
graduação em Recife.
O motivo de ter mudado para São
Paulo, dez anos atrás, foi a residência médica. Uma mudança grande no início,
mas me adaptei rapidamente. Gosto bastante de São Paulo, de cidades
cosmopolitas, tenho amigos aqui do Nordeste e de toda parte. Minha natureza é
nômade, aprecio a diversidade.
LAM - Você é médica neurologista.
Como concilia medicina, literatura, poesia? Elas se completam ou cada qual,
cada qual?
Tenho um horário de trabalho um
pouco irregular, dou plantões, trabalho final de semana. Mas tenho horários
livres durante a semana, que dedico à poesia, às leituras. Levo livros para ler
no plantão, onde uso o computador e escrevo alguma coisa quando o movimento
está calmo. Sou inquieta, preciso ter várias atividades ao mesmo tempo. E a
poesia, a leitura são necessidades praticamente cotidianas.
LAM - Você publicou o seu primeiro
livro, Visita, em 2000. Como se deu o processo de criação, publicação e a
receptividade?
Comecei a escrever com mais
regularidade após os vinte anos. Já morando em São Paulo, fiz contato com dois
poetas em Fortaleza, o Manoel Ricardo de Lima e o Carlos Augusto Lima. Através
deles conheci alguns poetas da região do ABC paulista, ligados à revista
Monturo, onde publiquei meu primeiro poema, Visita. Este contato foi um
incentivo recíproco e boa parte do grupo publicou seus primeiros livros mais ou
menos na mesma época. “Visita” foi publicado pela editora 7 letras e
auto-financiado. O Manoel Ricardo, que além de poeta é professor de Literatura
(atualmente na UFSC, em Florianópolis) escreveu o prefácio do livro. A
receptividade inicial foi boa, e permitiu que eu fizesse vários contatos, o que
foi importante para amadurecer minha escrita.
LAM - Recentemente você lançou
Distância. E digo, ambos, Visita e Distância, excelentes. Fala, então, da
experiência com esse novo livro que, inclusive, você ainda está vivendo porque
ainda está quentinho, né? Como está sendo a receptividade com esta sua nova
cria?
Melhor do que eu esperava.
“Distância” recebeu menção honrosa no concurso de poesia da FUNALFA, o que foi
um bom começo. Foi publicado pela mesma editora de “Visita”, a 7 letras, na
coleção Guizos. A 7 letras tem ajudado a divulgar a coleção em jornais, e
recentemente saiu uma resenha do livro na revista Zunái. Estou muito contente
com este retorno.
LAM - A sua poesia é constituída de
pequenos relatos, versos enxutos, flagras, tudo num domínio poético com perícia
cirúrgica. O que a poeta Virna Teixeira diz da sua própria poesia?
Minha poesia é concisa, objetiva,
imagética. Gosto muito de fotografia. Muitos destes relatos são coisas vistas
de passagem, em viagens, em deslocamentos. Sempre li muita poesia norte-americana
contemporânea, uma influência nítida na minha escrita.
LAM - Você também é tradutora, fala
dessa experiência. E falando de tradução, aproveito e jé quero saber do blog, o
Papel de Rascunho, onde você normalmente publica as traduções. Como se dá esse
trabalho?
Comecei a traduzir por volta de
2000, logo após a publicação de “Visita”. Nesta época, traduzi alguns poemas da
argentina Alejandra Pizarnik para o site Lumiarte, junto com um pequeno ensaio
sobre a poeta. Traduzi também poemas de Robert Creeley, que saíram este ano no
site Pop Box. Publiquei minha primeira tradução em 2001, na revista Sibila, um
poema da canadense Norma Cole.
Desde então, venho traduzindo cada
vez mais, principalmente após ter passado uma temporada de dois anos fazendo
uma pós-graduação fora do país, na Escócia, período em que descobri vários
poetas interessantes.
Quando começei a editar meu blog,
há pouco mais de um ano, começei a publicar estas traduções, além de mostrar
meu trabalho e o de outros poetas.
Procuro na maior parte das vezes,
publicar o poema original no blog, exceto quando é muito longo.
Tenho colaborado periodicamente em
revistas e suplementos literários como tradutora. Traduzir para mim é uma
tarefa agradável e um aprendizado.
LAM - Você publica na rede, além do
seu blog, em outras revistas eletrônicas, mantendo coluna e circulando sempre
por ela. A Internet tem contribuído para difusão e ampliação do seu trabalho
poético? Qual a sua avaliação da Internet com relação à poesia?
A internet é um veículo excelente
e muito prático para divulgar o seu trabalho. Além disso é uma rede onde o
conhecimento e os contatos se ampliam, onde você pode conhecer pessoas
interessantes. Há blogs e revistas de poesia excelentes na internet, como a
Zunái e a Cronópios.
LAM - Aqui, ali e acolá, a gente hoje
ouve a expressão poesia feminina, literatura feminina. Para você, há uma poesia
feminina? Há uma literatura feminina? Como você vê isso?
Não acredito em escrita feminina,
nem em escrita masculina. Acredito em subjetividades diferentes, que variam de
acordo com o autor, conforme suas experiências e trajeto pessoal.
LAM - Que projetos a poeta Virna Teixeira
tem em mente?
Estou organizando uma antologia de
poetas da Escócia, que deve ser publicada em 2006. Tenho escrito bastante desde
que terminei “Distância” há um ano atrás, imagino que em breve terei outro
livro pronto.