A ARTE DE ZÉ LINALDO – (por
Luiz Alberto Machado) – O cantor e compositor palmarense Zé Linaldo,
também conhecido como Linaldo Martins, é um daqueles sujeitos que a gente gosta
pelo ser humano que é e pelo artista que se mostra. Conheci este irmão
conterrâneo quando ele batucava em bangôs, atabaques e tumbadoras e logo se
juntou com Cikó Macedo, realizando uma das parcerias mais felizes que jamais
acontecera pelas bandas pernambucanas. A dupla lançou um LP que foi um sucesso:
Notícia extraordinária. Não resistindo ao tempo, a dupla se desfez e Linaldo
iniciou uma carreira solo com suas perfomances para lá de elogiáveis e demonstrando
talento de compositor, violonista e percusionista dos mais promissores. Tocamos
juntos algumas vezes na noite, em shows e ensaios. Firmamos amizade e hoje sou
mais seu admirador e fã que propriamente parceiro. No Encontro dos Palmarenses
de Maceió, tive a grata satisfação de reencontrar este amigirmão. Ele me trouxe
o seu “Quilombo dos Poetas”, um cd contendo 11 músicas, de sua autoria, suas
parcerias e de outros compositores como Ascenso Ferreira, Celso Adolfo e Paulo
Maciel. Artista de uma pernambucanidade inconfundível e originalíssima, merece
destaque a música título do cd, Quilombo dos Poetas, uma parceria dele com
Manoca. Também merecem ser destacados outros parceiros do seu trabalho musical,
como Antonio J. Ferreira, Josemar Gomes dos Anjos e Henrique Arruda. Garanto
que quem tiver acesso ao trabalho musical excepcional de Zé Linaldo, terá, com
certeza, o prazer que eu tive de estar diante de um artista completo e uma das
maiores promessas do cenário musical brasileiro. E assino embaixo o que meu conterrâneo
escritor Luiz Berto disse dele no Jornal
da Besta Fubana:
“(...) Zé Linaldo é um dos músicos e compositores dos mais talentosos
que já conheci na minha vida, além de ter uma belíssima voz, mas, infelizmente,
desconhecido tanto de Pernambuco quanto do resto do Brasil. Desperdiçado e mal
aproveitado naquela beira do rio Una. É celebridado apenas na região. Ele foi
um dos músicos palmarenses que excursionaram Brasil a dentro com a peça de
minha autoria, Peibufo, Etc. e Coisa e Tal, e ao qual eu devo muita homenagem
pelo sucesso que o espetáculo obteve em tudo quanto é canto onde foi
apresentado. Seu último disco, Quilombo dos Poetas, tem na contra-capa o
logotipo de 20 firmas, isto mesmo: 20 empresas, desde casa funerária até
farmácia, que apoiaram a produção, modesta mas com um conteúdo da bixiga lixa.
Coisas de Palmares mesmo e que eu não tenho mais paciência pra falar sobre o
assunto”. Hoje ele firmou parceria com outro grande amigo meu: o poeta
Genésio Cavalcanti. E juntos estão mandando ver na voz de Marquinhos Cabral. Sucesso pra tu, irmão Linaldo!!!! Gentilmente
ele concedeu uma entrevista pra gente, vamos lá, Linaldo!
LAM - Linaldo, vamos começar pela pergunta de
praxe: como e quando se deu seu encontro com a arte?
A gente Morava
na Rua da Ponte, atual Av. Coronel Pedro Paranhos, que me parecia muito larga.
Havia de frente um descampado e logo
após, se via do outro lado, o grupo
escolar Professor Miguel Jasseli, onde mais tarde eu iria estudar. Nessa grande
área que nos separava da escola, ocasionalmente chegavam os circos. Cresci nessa atmosfera de
mágicos, bichos, globos da morte e trapezistas, pois meu pai fazia a segurança
dos espetáculos nas horas de folga e hospedava vários desses artistas em nossa
casa, que era enorme e possuía vários quartos nos fundos. Esse fato de ter
convivido por vários momentos da minha infância em contato com o circo, já que
passava o dia dentro das lonas, por ter livre acesso ao mesmo, oriundo da
relação inquilino- locatário. Pela noite quando não estava assistindo o
espetáculo ficava ouvindo pelos alto falantes todos os sons daquele mundo,
principalmente os artistas muiscos que vinham se apresentar.Genival Lacerda
chegou a estacionar uma Caravan na calçada da nossa casa uma certa vez e minha grande curiosidade de menino viajava
nesse embalo. Isso fez com que eu me
aproximasse das artes bem mais cedo, a ponto de que quando a enorme lona
itinerante levantava acampamento, eu e meus irmãos inventávamos um circo no
quintal só pra matar a saudade. Desse circo de brinquedo fui trapezista no
balanço da velha goiabeira, baterista das baldes e bacias de minha mãe,
assistente do meu irmão mágico e minhas irmãs “rumbeiras”. Esse tempo talvez
tenha definido o meu enorme interesse pela música, o que também foi reforçado
por minha casa ter sido um lar de ouvintes de Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga e
Waldir Azevedo, Capiba, Nelson Ferreira, dobrados militares por influência dos
meus pais e Raul seixas e Chico Buarque pelos irmãos mais velhos. Pronto, a
música estava inoculada. No entanto era apenas a paixão pela estética da arte,
ainda não militava, mas estava bem perto e era o que eu queria...
LAM - Quais as influências da infância e
adolescência que determinaram sua definição pela arte?
Minha infância
também teve umas experiências pessoais que ninguém participava tipo, tocar no
violão do meu irmão mais velho e que ele curiosamente não aprendeu e eu
consegui mesmo o básico. Conversar com formigas, colecionar tudo de revista em
quadrinho á tampas de rerigerante. Imitar a voz de Elvis Presley, curtir o
sapateado de Jerry Lewis, quebrar as cordas do violão e esconder com medo da
bronca. Ouvir o rádio, achando que havia uma cidade em miniatura dentro dele
com homenzinhos que preparavam aquela programação. Eu e só não escutava um
programa chamado “A hora do além”, mas o resto, até as novelas eu acompanhava.”
E assim se passaram os anos”...
Estávamos no
final da década de 70, quando comecei tocar na banda Marcial do Ginásio
Municipal , eu era o mais novo, se não o mais magro corneteiro de uma nota só.
Mas aquilo era um sonho, fazer parte de uma banda marcial. Eu era o ultimo da
fila, até que me botaram Lá na frente de destaque como um mascote. O menor
corneteiro do mundo, pelo menos o mais magro eu era.
Entre idas e
vindas dessa adolescência, conheci Aécio Flávio (Mago) na rua do rio, que me
colocou no seu grupo de samba Independentes, ali comecei no agogô e depois
passei por todos os instrumentos. Foi uma escola. Fazia free com as orquestras
de Carnaval já aos 13 anos, com Lulika toquei muitos sambas em comícios e cultura
popular em eventos do folklore. Me
aprofundei no Frevo vendo Ivan Melo, Malafaya, Cuscus e depois tocando com
eles...já era músico aos 14 anos mas não sabia. Passei dois anos entre as lojas
do comercio e a bateria armada na igreja
ali bem perto. Diversas bandas marciais e fanfarras contribuíram nessa
formação. Depois com os shows que montávamos no colégio de segundo grau e no
teatro. Já como Baterista da Vitrine Band, com Cikó, Kruel, Robinho Paiva,
Sikeira Junior, Sergio Edmundo e vários outros estava consumado. Passei a
acompanhar vários artistas da cidade e da região a exemplo de Mazinho, Zé Ripe,
Ozy, Nito machado, Bony , Marcos Catende, Santana, Lulika etc... as bandas
bailes: Nova Era (água Preta), Bando da Lua (Maceió), Participações na Banda Os Ideais
(catende), Orquestra Ivan Melo,
Banda Escala (RN), fazendo a trilha sonora da peça de teatro de Luiz Berto
viajamos para Belo Horizonte e Brasilia. Antes, durante e Depois de várias
experiências com grupos trabalhava na noite com Boni, Cikó Macedo, Kruel e em
seguida solo...
LAM - Você lançou o álbum em vinil, Edição
Extraordinária (1995), em parceria com Cikó Macedo. Conta pra gente como foi o
resultado dessa experiência.
Nesse momento
Edson Silva, radialista e produtor cultural vindo da cidade vizinha da Água
Preta, convida a dupla Linaldo Martins e Cikó Macedo em 1994 (só fica pronto em
1995) para gravar o também primeiro LP. Edição Extraordinária, pela ED SOM de
Caruaru, produzido por Marquinhos Maraial e pela dupla, porém com o selo de Edson
Silva Produções.
Durante todo os
anos noventa realizávamos shows nas escolas, nas praças, bares, casamentos,
aniversários, palcos institucionais do município, no teatro etc. para dar vazão
a existência da arte. Como quem estivesse esperando alguma coisa acontecer ali.
Muitos de nós estávamos experimentando o prazer de fazer alguns shows no
histórico cine teatro Apolo. Um dos artistas que trabalhei por mais tempo foi o
amigo e guitarrista Cikó Macedo, com
quem tive a honra e o prazer de dividir o palco durante muitos anos naqueles
idos de final de século. Dessa parceria foi surgiu a gravação do primeiro
LP. O convite que partiu do já
visionário e radialista Edson Silva que com a ajuda de algumas empresas da
cidade, provocou a dupla Linaldo e Cikó a gravar um disco. O LP que fora
gravado em Caruaru na mesma gravadora que detinha o selo SOLID, saiu sob o selo
do radialista Edson Silva Produções por ser o idealizador do projeto, o mesmo
contou com a produção de Marquinhos Maraial. Nós gravamos este Long Play com
dez canções inéditas da própria dupla e algumas parcerias e canções de outros
artistas como Zé Ripe, Luiz Alberto Machado, dentre outros que além de serem
fornecedores de boas canções, eram incentivadores empedernidos e foi assim
surgiram as ótimas parcerias. Podemos afirmar que o projeto resultou num
naufrágio comercial pela falta de verba para divulgar e também pelo advento da
chegada da mídia digital ao mercado concomitantemente e devido ao atraso da
conclusão da fabricação que só ocorreu em 1995. O encalhe do material só não
foi de todo ruim porque ficou a experiência e o recorte da memória.
LAM - Em 2001, você lançou Maracaúna. Como se
deu o desenvolvimento e o resultado desse projeto musical?
Dr. Henrique
como assim era conhecido no meio artístico dos Palmares na época em que estamos
visitando, foi uma espécie de Mecenas para muitos artistas da época, sendo que
no campo musical ele atuou bastante, patrocinando vários CDs, dentre eles
podemos destacar O “Linaldo Martins e o Maracúna”. Este trabalho também teve o apoio do Comércio e mais efusivamente do médico e Poeta Dr. Henrique
Arruda que colocava em prática mais uma vez a sua condição de Mecenas.
Conseguimos gravar o primeiro CD do projeto Maracaúna exatamente entre
2000/2001 capitaneado por mim na parte musical e por Arruda na executiva.
Experimentamos o uso das alfaias, os tambores de maracatu nação no grupo de
rua, nas apresentações em trios elétricos, palcos e bastante no estúdio.
Linaldo M. e o Maracaúna é o título desse trabalho pelo fato de esse que vos
fala ter dividido a realização com o poeta e médico Henrique Arruda. Esta
também foi a nossa primeira experiência na era digital, anos depois da
experiência com o Vinil. Gravamos em Recife com a produção de Pierre Lima,
jovem talento oriundo das bandas Versão Brasileira e Shampoo.
Estávamos no centro nervoso de ebulição do
movimento mangue, Recife. Mesmo assim gravamos com todos os músicos levados no
interior, porque já tínhamos definido a linha musical à seguir. De palmares
gravaram Lourival (Vavá) de guitarra, Genaldo Constantino, Felipe Constantino e
Evilásio Paiva, Trombone, trompete e sax alto respectivamente. Linaldo M. voz e
percussão, Levi Martins e Rogério Badia percussão. Manoel Francisco no
contrabaixo, Eliezer Victor e Pierre Lima nos teclados. Mesmo tendo recebido
participações importantes como a do
próprio Pierre Lima nos pianos e produção musical e Júnior Cap. Guitarrista da
Versão Brasileira. Alexandre Papudo na bateria. Ainda o CD conta com a
participação de Mazinho, Boni Brown e Marquinhos Maraial no sax alto, este que
já produzia a maior parte das bandas de forró estilizadas que gravavam em
Recife. Porém esse disco tem um repertório eclético mesclado de pop, mangue,
regae, baião e MPB. Cada um de nós tentávamos do nosso jeito chegar a algum
lugar.
Depois com ida
do Dr. Henrique de volta para Maceió, as coisas esfriaram até por conta da
falta de apoio intensivo mesmo e talvez porque o nosso material era um produto
intrinsecamente cultural, não encontrando muito espaço aqui no interior. A
linguagem era muito laboratorial, experimental e não atingia o grande público.
Maracauna é um grande trabalho com 16
canções inéditas , com ótimos arranjos, porém ( digo isso com orgulho) não
apelava para o comercial. Daí não precisa mais falar nada.
LAM - Em 2003 você lançou Zé Linaldo. Conta
pra gente acerca dessa sua proposta.
Depois de dois
anos de depressão pós parto do primeiro trabalho na era digital, resolvi gravar
algumas canções que ainda me perseguiam o juízo no campo regional, com
elementos da cultura popular, como maracatus, emboladas e baiões. E fizemos
aproveitando para mudar o nome do projeto. Assim nasce o CD Zé Linaldo, onde
homenageamos o artista popular Rabeca do caboclinho, estampando a fotografia da
sua colorida casa na capa do cd, com fotografias de Sérgio Boi e projeto
gráfico idem.
Gravado no
estúdio Luz do Som em Ribeirão –PE do grande comunicador Jasiel Santos no final
de 2002 ainda com o apoio do Amigo poeta e médico Henrique Arruda, também apoio
do Beto do Posto canavial, da cerâmica Faco, supermercado confiança, Jason do
posto Petropal, Jorginho da Wind Cell, Padisbel Skol.
Produzido por
mim e com o apoio dos timbres de piano do grande maestro Eliezer Victor hoje
radicado em são Paulo, com participações especias de Rildo Mago o irmão de Zé
Ripe na Faixa felicidade desse Rio parceria nossa, voz de bony também na faixa
Por toda vida, Daniel leão na faixa Talvez será ( música minha e de Antonio
José Ferreira) , José Emidio (Ceará) voz incidental na Faixa Mulher Maravilha,
parceria com o Poeta Genésio Cavalcanti, Jajá e Anca, duas crianças do projeto
Peti onde eu dava aula de arte educação, na faixa conto do coco parceria com
Henrique Arruda. O Disco foi gravado com os seguintes músicos: Teclados, baixos
e guitarras: Eliezer Victor; Trompete e
Guitarras2: marquinhos Araujo; Violões de aço e Nylon: Manoel do Nascimento
Junior; Sanfona : Eron do Vergel; Bateria Buiú; Trombone e Flauta : Antonio de
castro; Sax alto: Evilasio Paiva; Sax Tenor: Cavalcante; Percussão: Levi Martis, Zé Linaldo, José Carlos Boka e
Nelinho.
LAM - Em 2006, foi a vez do Quilombo dos
Poetas. Fala a respeito desse projeto.
O Quilombo do
poetas, que é uma faixa com quase 8 minutos que chegou até a gente através de uma pesquisa acadêmica do
Amigo Manoca Leão, que conta a origem da cidade dos Palmares. Com aquele
chumaço de laudas, não podia ser diferente. Virou um rap. Foi um momento em que
eu estava querendo mesmo dar uma guinada na minha linha de trabalho. Ainda
utilizando elementos do maracatu na faixa parceria com Antonio José ferreira
“Rainha do mar” e no frevo canção autoral “ Linda colombina”. Entretanto vc vai
encontrar um Zé Linaldo mais pop nesse CD até para atender as exigências de um
mercado fonográfico louco e sempre em mutação.
Produzido por mim e gravado no Studio D’Boi e mixado pelo próprio Sergio
Boi. Exceto duas faixas que foram feitas (04) no Studio Luz do Som em Ribeirão-PE e a (08) com Rafael Brás e Mick Bass em
Gameleira –PE. Capa de Denilson com foto de Miguel Arcanjo.
Com as
guitarras de Muganga Guita; Baixo: Marcelo Bass e Lambinho; Bateria: Sergio
sabiá; Teclados: Junior Birimbal e Naldinho de Quipapá; Sanfonas: Tiaguinho
Siqueira e Daniel Gouveia; Sax alto: Evilásio Paiva; Pífano:Antonio de Castro;
Violão e loop de bateria na faixa (06) : Sergio Boi; Voz incidental na faixa
(09) : Francisco Fernandes; Percussão: Zé Linaldo; Vozes da declamação na faixa
(11): Gilvan Mota e Rudinelli Sobral.
O trabalho,
pasmem, teve o apoio de 20 empresas, do contrario seria impossível sair... Vou
citar aqui, porque depois disso eu resolvi não mais pedir patrocínio na nossa
economicamente combalida região. Salve um ou outro empresário amigo que sempre
faz questão de contribuir com a causa da cultura. Recebi apoio de duas
prefeituras: Palmares e Ribeirão, da farmácia 24 horas, da extinta Papel Magia hoje seu proprietário tem
o Una Hotel. Dinamicar Auto peças de Recife,Riuna Motos palmares, Serv system
Informática, Bombomzão, Gabinet móveis e utilidades, Escritorio de advocacia
Dr. Eli Alves Bezerra, Posto Petropal, Grupo Confiança, restaurante “O
Panelão”, Foto Center, Funerária casa Glória, Radio Cultura dos palmares, Wind
Cell import, Edições bagaço, Fundação Casa da Cultura HBF, além dos amigos Dr.
Benjamim, Manoca, Dr. Josemar, Paulo Maciel, Dr.Henrique Arruda, Noé Buarque,
Douglas Marques e Aécio Flavio.
Fizemos uma
tiragem inicial de mil cópias como sempre, que é o que a situação econômica da
região permite, que logo se esgotou, pois graças a Deus temos muitos amigos,
mas isso não resolvia o problema da auto suficiência.
LAM – Tá. E os projetos Balada Forrozeira e
Opção Brasil?
A carência
financeira era tanta que só voltamos a gravar com recursos próprios em 2009 o
projeto “Balada Forrozeira”, um CD de forró, em parceria com Marcilio Duarte e
Bruno Braga, onde conseguimos reunir a nata dos músicos de bandas bailes da
região que estavam disponíveis, para esse ousado projeto, porém agora teríamos
que concorrer com as gigantes bandas do forró. Sem nenhuma estrutura e sem
mídia o resultado foi outro naufrágio. Até que Marcilio nos convidou para em
2010 somarmos ao seu projeto “Opção Brasil”, o que resultou em um belo trabalho
de forró com a nossa pegada, diferente das grandes bandas estilizadas.
Emprestei a voz e algumas músicas para os dois
projetos , assim como assinei a produção. Bruno Braga amigo e cantor do
Ribeirão dividiu comigo os vocais da Balada Forrozeira. Ambas as capas foram
criações da New Target, empresa do Marcilio Duarte. Ganhamos uma sobrevida e
ainda hoje nos apresentamos em eventos
capitaneados por este empresário, designe e publicitário de Recife –PE que
continua nos apoiando, promovendo e vendendo nossos trabalhos nos eventos da
sua agencia ou terceirizando.
LAM - Em 2013 você trouxe ao público o Multicultural. Fala da expectativa e
da realização desse seu trabalho.
Multicultural
foi gravado ao vivo e do show escolhemos 10 faixas no final de 2011, mas só
lançamos em 2013 por questões econômicas obvias, rsss. Foi um momento de grande
crescimento musical e espiritual. Descobri que estávamos no caminho certo, era
o mercado que se permitia à prostituição fonográfica, pra não dizer
pornográfica e não nós . Nesse momento, evidenciávamos nos shows: Vander Lee,
Zeca Baleiro, Raimundo Sodré, Juraildes da Cruz, Gilberto Gil, Lenine, Lulika
dos Palmares, Zé Linaldo, Zé Ramalho etc..
o que havia de bom para o momento.
Gravamos este trabalho nas instalações do Lions Club dos palmares por
ocasião do convite de Sandra Santos, cantora, empresária e amiga da arte e
nossa, para tocar após a sua apresentação naquela noite. Com o PA de Marcos
som, a captação de Carlos George e a Mixagem de Juvanildo Lamb já no Studio
Mangue fusão com Lamb Studio. Ainda relutando em sair para garimpar
patrocínios, inevitavelmente contamos com o apoio finaceiro dos amigos Toinho
Contador da AC Contabilidades, da Lapa Som Equipadora e serviços automotivos,
Marcilio Duarte, pastel Dom paulista, Grafica Criativa, Casa da cultura HBF,
Lulika, João Bezerra, Hib Eventos e Sandra Santos. Com a Guitarra de Elder Agua
Preta; Baixo: Juvanildo Lamb; Bateria: Silvio Borba; teclados: Paulo Henrique e
thiaguinho Siqueira, sanfonas Gilson Rozendo e Thiaguinho, percussão: Levi
Martins. O CD teve ainda a Foto de Wilson Fotografias e capa de Nel Angeiras
saiu o Multicultural, assim chamado pelos vários estilos dos representantes de
várias regiões do pais pela constelação de artistas que homenageamos nessa
edição. Com uma tiragem de mil cópias
que também se esgotaram rapidamente, porque o CD hoje em dia, não se vende
mais. Se distribui para divulgação. Porque a pirataria e a internet . Irá fazer
essa função mais cedo ou mais tarde. Às vezes até se antecipa, rssss, ex.
“tropa de Elite”. Se foi uma jogada de marketing ou não, funcionou muito bem.
LAM – Foi aí que veio, então, o CD
ao Vivo no forró da estação. Palmares 2014?
Sim. Fizemos o show sem pretensão nenhuma , mas o Dj Woog
estava no som gravando tudo rsss o que
resultou em uma sequencia pura de alguns forrós que distribuímos pela net.
LAM - Agora em 2016, você lançou Mangue. Como
está a receptividade deste seu novo trabalho?
O Mangue é uma
homenagem ao projeto do Studio de Marcilio Duarte que surge lá em Recife e vem
para a mata sul fazer fusão conosco, precisamente com Juvanildo Lamb. Seria
engraçado se não fosse triste o fato de começamos a gravar em 2015 em um enderço do Lamb/Mangue por motivo
superior mudamos, continuamos gravando e mudamos de novo de endereço. Se não
fosse o ouvido de Lamb e as fases da gravação, teríamos um disco com timbres
comprometidos. Nós gravamos a bateria, guitarras, teclados, sanfonas e baixo no
endereço da antiga Zona; Percussão e vozes no beco do galo e mixamos na Letácio Montenegro, onde ainda se
encontra o Studio.
Com a capa de
Marcilio Duarte obtivemos um belo efeito em Preto e branco. O repertorio é
misto entre autoral, parcerias e releituras de artistas consagrados dentre eles
temos Gerônimo e Ricardo Luedy, Vander Lee, Gilberto Gil, Caetano,
Chiclete,Antonio José Ferreira, uma versão da nova musica africana de
Angola, e finaliza com uma releitura da
música “Kizomba”, saba enredo da Vila Isabel do ano de ( ?) de Rodolfo Jonas e
Luiz Carlos da Vila.
Participações
especialíssimas de Marquinhos Cabral na faixa (07); Layla na voz, Jr birimbal
no loop, buiu no bongô na faixa (08); Antonio J. Ferreira na faixa (09) e o
Marconny Mello (in Memorian) na faixa (11).
Conseguimos
realizar demoradamente, porem sem pedir patrocínio, exceto aqueles amigos que
estão sempre por perto como falei anteriormente. Os ouvidos mais atentos têm
parabenizado o nosso trabalho. Pela sua apresentação, repertorio e timbres. O
que curiosamente, mesmo tendo sido gravado em três estúdios diferentes, em
épocas idem, conseguimos ainda salvaguardar uma boa qualidade técnica e de
sonoridades. Aqui um voto de aplauso para o grande músico Juvanildo Xavier de
Souza, o “Lamb”, que com paciência e maestria finalizou esse trabalho com
êxito.
Destaque também
para o time que trabalha junto já há alguns anos; Guitarra: Elder Agua preta,
Bass: Lamb, Batreia : Silvio Borba, teclados: Naldinho; Sanfonas: Bruno raça
Negra, Percussão: Cleovan Predador e Boca Timbaleiro; Violões: Marcos Araujo.
LAM - Além da sua atividade musical, você fez
uma incursão na vida acadêmica, realizando estudo sobre a passagem do vinil pro
cd, um outro sobre a obra de Hermilo e, inclusive, você assumiu a presidência
da Casa de Hermilo. Fala pra gente como se deu tudo isso.
Eu necessitava fazer algo pela
micro-história. Fugir das grandes sagas de reis e generais, governadores e
coronéis. Lendo Ginzburg na academia, via em cada artista da nossa terra um Menócchio,
o Moleiro perseguido pela inquisição. No nosso caso a inquisição era a falta de
oportunidades, o preconceito, a crise financeira e a ausência de equipamentos e
tecnologias que promovessem as idéias daqueles ainda sem notoriedade. Precisa
se escrever muito ainda sobre as cidades, os estados e seus inúmeros
personagens. Esta foi uma das minhas motivações a abraçar a licenciatura em
história e a pós graduação por enquanto. Acredito que a minha passagem pela
academia deverá servir para dar um pouco mais de voz literária às experiências
por nós testemunhadas na transição da era analógica para a digital no campo
musical e o uso e o desuso do Vinil.. Um dos meus artigos da vida acadêmica não
poderia deixar de se colocar a serviço da arte da nossa terra, principalmente
sobre um tema ainda pouco discutido, pelo menos na nossa região. Isso me fez
pesquisar sobre as possíveis produções musicais de artistas que estavam em
atividade na segunda metade do século XX e no começo do XXI, na cidade dos
Palmares. Este é o maior município da mata sul do estado de Pernambuco, por
isso, delimitamos esta pesquisa sobre as produções dele, por se tratar do
município pólo da região. Também por compreender que muito pouco tenha sido
escrito cientificamente nesse campo da produção musical local. Acreditamos que
a pesquisa direcionada nesse sentido estará contribuindo enormemente na escrita
historiográfica da cidade. Concentramos aqui a coleta de valiosas informações
que surgem já a partir da segunda metade do século XX, considerando que são
bastante elucidativas e que irão servir de norte para futuras gerações de
estudantes e pesquisadores da história da arte da cidade. Podemos ainda
perceber uma visão antropológica nos comportamentos variados, nas experiências
de artistas diversos. Nossa metodologia está centrada no estudo da relação
entre História e a arte, quando as produções e suas dificuldades nos
permitem traçar um paralelo dos acontecimentos sócio culturais do período.
No início da década de noventa, como já
sabemos,sobravam pouquíssimas fábricas de discos de vinil no Brasil, para atender toda a demanda do país. Os
artistas que gravavam nesse período de transição de analógico para digital em
Recife, por exemplo, esperavam ansiosamente a chegada dos discos LPs que eram
fabricados no sul do País. Era um processo demorado e cheio de ansiedades. O
ano 2000 chegou. O último ano do século e a maioria não havia se adaptado, se
quer, compreendido aquelas mudanças. Mas isso é um assunto muito longo e breve
disponibilizarei os artigos para que todos possam acompanhar a saga da
transição mais amiúde .
O outro artigo que também posso
disponibilizar oportunamente é acerca de uma das obras do grande escritor
palmarense Hermilo Borba Filho. Já este artigo tem como ponto de análise a obra
do escritor Hermilo Borba Filho. Delimitamos esta contextualização sobre as
Crônicas, presentes em sua obra Louvações, Encantamentos e outras Crônicas. Compreendemos que, a publicação desta obra tornou-se um
parâmetro dentro da organização do pensamento do autor, onde percebemos uma
compreensão direta sobre o contexto histórico de Palmares em tempos de Regime
Militar, mais respectivamente entre 1971 e 1976. Nossa metodologia está
centrada no estudo da relação entre História e
a Literatura. As tensões e as aproximações destes campos nos permitem
realizar uma contextualização acerca da importância evidente da obra de Hermilo
Borba Filho. Ao visitar a obra
do autor palmarense Hermilo Borba Filho deparei-me com a coletânea “Louvações,
encantamentos e outras crônicas”. Imagino
que as referidas crônicas e seus variados temas, podem ser bastante
aproveitados como conteúdo para aulas, debates e produções de textos. Então em
dado momento me pergunto, porque tão vasta e diversa obra não pode ser mais bem
utilizada nos conteúdos da educação do município, já que Palmares é a terra natal deste autor e a obra citada
acima como exemplo, também possui um
valor especial, por se tratar de recortes de um período delicado da história.
São escritos publicados entre 1971 e 1976 por jornais de grande circulação,
evidenciando assim uma importante produção jornalística no gênero observado,
deste escritor e pesquisador da cultura popular, romancista e dramaturgo que é
aclamado como uma original instituição intelectual brasileira do século xx.
Estamos
com um DVD gravado em off no cine teatro Apolo em outubro do ano passado, com
14 faixas autorais, sendo algumas releituras do nosso próprio trabalho e
algumas parcerias conquistadas ao longo dos anos. “Memorial” é o título porque
resolvi homenagear algumas pessoas e coisas que não quero esquecer nunca e
quando a gente cuida dos recortes da
memória o resultado é uma história não evanescente. Homenageio, meu pai e o Sr.
Silva o pai do Serginho Raízes, que foram perdas recentes para o plano
espiritual. Esse novo trabalho transcorre com as canções em parceria, autorias
solo e participações no palco especialíssimas de grandes amigos e artistas que
estavam disponíveis ( porque seriam mais , porém alguns não tiveram agenda).
Cantaram comigo o Marquinhos Cabral, Bruno Braga, Zé Ripe, Serginho Raízes,
Antonio José Ferreira o “Oião” e finalmente o Marconny Melo que faz a sua
última aparição em vídeo, porque este veio a falecer no inicio de janeiro desse
ano. Com Elder na Guitarra, Lamb no Baixo, Silvio na bateria, Thiaguinho nos
teclados, Bruno Raça Negra no Acordeon, Levi Martins, Carlos Boca e Cleovan
Predador na percussão gravamos ao vivo em um só dia, o trabalho que ainda está
esperando editar por conta de motivos econômicos como sempre, mas pretendo
colocar na praça até Dezembro.
Recentemente
compus as músicas da peça infantil “As três porquinhas e o Lobo Tal” , uma montagem
feminina da Teatróloga Marta Souza e da coreógrafa Gil Sales, que terá estréia
em outubro próximo.
Atualmente
estou preparando um trabalho de forró pé de serra em estúdio em parceria com o
Poeta Eugênio Gerônimo, originário do sertão pernambucano, hoje radicado em
Recife. O poeta do sertão ao litoral como gosto de defini-lo tem uma verve
brejeira que se entrelaça com o urbanismo de forma magistral, resultando em
poemas que cantam por si só. Eu só dei um empurrão com a ajuda de Euterpe, essa
musa grega que me acompanha desde que chorei pela primeira vez rsss.
Em breve
estaremos apresentando para os amigos este trabalho diferente do que eu sempre
faço, pelo fato de ser o primeiro de forró legítimo que eu me envolvo, porque
não milito exclusivamente nesse campo.
RELEASE & DISCOGRAFIA DE ZÉ LINALDO
– De nome artístico, Zé
Linaldo, é músico, compositor, intérprete, art-educador e produtor cultural de
Pernambuco. Ao longo dos anos vem atuando no São João, Carnaval e eventos de
gêneros diversos em várias cidades de Pernambuco e Norte das Alagoas. Zé
Linaldo é produtor musical, fez e faz parceria com vários poetas e músicos da
sua região, Atualmente é produtor do Mangue Estúdio em Palmares e Jaboatão dos
Guararapes –PE, atua no seu shows com
banda, experimentando novas influências que vão desde Alceu Valença e Xangai
até Lenine e Zeca Baleiro por exemplo. Além dos seus conterrâneos e
contemporâneos companheiros de música, onde já gerou diversos trabalhos.
1994 LP
“Edição Extraordinária” ( Com CiKó Macêdo ) - Produzido por Marquinhos Maraial,
Zé Linaldo e Cikó Macedo;
2001 CD
“À Margem” (Com a Banda Maracaúna ) - Produzido por Pierre Lima e Zé Linaldo;
2003 CD
“Zé Linaldo” - Produzido pelo mesmo;
2007 CD
“Quilombo dos Poetas” – Produzido pelo mesmo;
2008 DVD
produzido juntamente com Aécio Flávio da Sahruê Produções intitulado “O CANTO
DA MATA” registrando a poesia, a música e a atuação de mais de 30 artistas da
cena local;
2009 CD
Balada Forrozeira Produzido pelo mesmo. Estúdio Revelação Recife.
2010 CD
“Opção Brasil” -- Produzido pelo mesmo. Estúdio Mangue Jaboatão.
2013 CD
ao vivo Multicultural – Produzido pelo mesmo . Estudio Mangue Palmares.
2015 CD
Estúdio – Produzido pelo mesmo. Estudo mangue Palmares..
CONTATO: LINALDO MARTINS DA SILVA (ZÉ
LINALDO) FONES (81) 86901720 E 99462015 Sede à rua José Lagreca 186 Bairro São
Pedro Palmares-PE. CEP 55.540-000