sexta-feira, setembro 08, 2017

A ARTE & ENTREVISTA DE ZÉ LINALDO


A ARTE DE ZÉ LINALDO – (por Luiz Alberto Machado) – O  cantor e compositor palmarense Zé Linaldo, também conhecido como Linaldo Martins, é um daqueles sujeitos que a gente gosta pelo ser humano que é e pelo artista que se mostra. Conheci este irmão conterrâneo quando ele batucava em bangôs, atabaques e tumbadoras e logo se juntou com Cikó Macedo, realizando uma das parcerias mais felizes que jamais acontecera pelas bandas pernambucanas. A dupla lançou um LP que foi um sucesso: Notícia extraordinária. Não resistindo ao tempo, a dupla se desfez e Linaldo iniciou uma carreira solo com suas perfomances para lá de elogiáveis e demonstrando talento de compositor, violonista e percusionista dos mais promissores. Tocamos juntos algumas vezes na noite, em shows e ensaios. Firmamos amizade e hoje sou mais seu admirador e fã que propriamente parceiro. No Encontro dos Palmarenses de Maceió, tive a grata satisfação de reencontrar este amigirmão. Ele me trouxe o seu “Quilombo dos Poetas”, um cd contendo 11 músicas, de sua autoria, suas parcerias e de outros compositores como Ascenso Ferreira, Celso Adolfo e Paulo Maciel. Artista de uma pernambucanidade inconfundível e originalíssima, merece destaque a música título do cd, Quilombo dos Poetas, uma parceria dele com Manoca. Também merecem ser destacados outros parceiros do seu trabalho musical, como Antonio J. Ferreira, Josemar Gomes dos Anjos e Henrique Arruda. Garanto que quem tiver acesso ao trabalho musical excepcional de Zé Linaldo, terá, com certeza, o prazer que eu tive de estar diante de um artista completo e uma das maiores promessas do cenário musical brasileiro. E assino embaixo o que meu conterrâneo escritor Luiz Berto disse dele no Jornal da Besta Fubana: “(...) Zé Linaldo é um dos músicos e compositores dos mais talentosos que já conheci na minha vida, além de ter uma belíssima voz, mas, infelizmente, desconhecido tanto de Pernambuco quanto do resto do Brasil. Desperdiçado e mal aproveitado naquela beira do rio Una. É celebridado apenas na região. Ele foi um dos músicos palmarenses que excursionaram Brasil a dentro com a peça de minha autoria, Peibufo, Etc. e Coisa e Tal, e ao qual eu devo muita homenagem pelo sucesso que o espetáculo obteve em tudo quanto é canto onde foi apresentado. Seu último disco, Quilombo dos Poetas, tem na contra-capa o logotipo de 20 firmas, isto mesmo: 20 empresas, desde casa funerária até farmácia, que apoiaram a produção, modesta mas com um conteúdo da bixiga lixa. Coisas de Palmares mesmo e que eu não tenho mais paciência pra falar sobre o assunto”. Hoje ele firmou parceria com outro grande amigo meu: o poeta Genésio Cavalcanti. E juntos estão mandando ver na voz de Marquinhos Cabral. Sucesso pra tu, irmão Linaldo!!!! Gentilmente ele concedeu uma entrevista pra gente, vamos lá, Linaldo!


LAM - Linaldo, vamos começar pela pergunta de praxe: como e quando se deu seu encontro com a arte?

A gente Morava na Rua da Ponte, atual Av. Coronel Pedro Paranhos, que me parecia muito larga. Havia de frente  um descampado e logo após, se via do outro lado, o grupo escolar Professor Miguel Jasseli, onde mais tarde eu iria estudar. Nessa grande área que nos separava da escola, ocasionalmente chegavam os circos. Cresci nessa atmosfera de mágicos, bichos, globos da morte e trapezistas, pois meu pai fazia a segurança dos espetáculos nas horas de folga e hospedava vários desses artistas em nossa casa, que era enorme e possuía vários quartos nos fundos. Esse fato de ter convivido por vários momentos da minha infância em contato com o circo, já que passava o dia dentro das lonas, por ter livre acesso ao mesmo, oriundo da relação inquilino- locatário. Pela noite quando não estava assistindo o espetáculo ficava ouvindo pelos alto falantes todos os sons daquele mundo, principalmente os artistas muiscos que vinham se apresentar.Genival Lacerda chegou a estacionar uma Caravan na calçada da nossa casa uma certa vez  e minha grande curiosidade de menino viajava nesse embalo. Isso  fez com que eu me aproximasse das artes bem mais cedo, a ponto de que quando a enorme lona itinerante levantava acampamento, eu e meus irmãos inventávamos um circo no quintal só pra matar a saudade. Desse circo de brinquedo fui trapezista no balanço da velha goiabeira, baterista das baldes e bacias de minha mãe, assistente do meu irmão mágico e minhas irmãs “rumbeiras”. Esse tempo talvez tenha definido o meu enorme interesse pela música, o que também foi reforçado por minha casa ter sido um lar de ouvintes de Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga e Waldir Azevedo, Capiba, Nelson Ferreira, dobrados militares por influência dos meus pais e Raul seixas e Chico Buarque pelos irmãos mais velhos. Pronto, a música estava inoculada. No entanto era apenas a paixão pela estética da arte, ainda não militava, mas estava bem perto e era o que eu queria...

LAM - Quais as influências da infância e adolescência que determinaram sua definição pela arte?

Minha infância também teve umas experiências pessoais que ninguém participava tipo, tocar no violão do meu irmão mais velho e que ele curiosamente não aprendeu e eu consegui mesmo o básico. Conversar com formigas, colecionar tudo de revista em quadrinho á tampas de rerigerante. Imitar a voz de Elvis Presley, curtir o sapateado de Jerry Lewis, quebrar as cordas do violão e esconder com medo da bronca. Ouvir o rádio, achando que havia uma cidade em miniatura dentro dele com homenzinhos que preparavam aquela programação. Eu e só não escutava um programa chamado “A hora do além”, mas o resto, até as novelas eu acompanhava.” E assim se passaram os anos”...
Estávamos no final da década de 70, quando comecei tocar na banda Marcial do Ginásio Municipal , eu era o mais novo, se não o mais magro corneteiro de uma nota só. Mas aquilo era um sonho, fazer parte de uma banda marcial. Eu era o ultimo da fila, até que me botaram Lá na frente de destaque como um mascote. O menor corneteiro do mundo, pelo menos o mais magro eu era.
Entre idas e vindas dessa adolescência, conheci Aécio Flávio (Mago) na rua do rio, que me colocou no seu grupo de samba Independentes, ali comecei no agogô e depois passei por todos os instrumentos. Foi uma escola. Fazia free com as orquestras de Carnaval já aos 13 anos, com Lulika toquei muitos sambas em comícios e cultura popular em eventos do folklore.  Me aprofundei no Frevo vendo Ivan Melo, Malafaya, Cuscus e depois tocando com eles...já era músico aos 14 anos mas não sabia. Passei dois anos entre as lojas do comercio e a bateria armada na  igreja ali bem perto. Diversas bandas marciais e fanfarras contribuíram nessa formação. Depois com os shows que montávamos no colégio de segundo grau e no teatro. Já como Baterista da Vitrine Band, com Cikó, Kruel, Robinho Paiva, Sikeira Junior, Sergio Edmundo e vários outros estava consumado. Passei a acompanhar vários artistas da cidade e da região a exemplo de Mazinho, Zé Ripe, Ozy, Nito machado, Bony , Marcos Catende, Santana, Lulika etc... as bandas bailes: Nova Era (água Preta), Bando da Lua (Maceió),  Participações na Banda Os Ideais (catende),  Orquestra Ivan Melo, Banda  Escala (RN), fazendo a  trilha sonora da peça de teatro de Luiz Berto viajamos para Belo Horizonte e Brasilia. Antes, durante e Depois de várias experiências com grupos trabalhava na noite com Boni, Cikó Macedo, Kruel e em seguida solo...


LAM - Você lançou o álbum em vinil, Edição Extraordinária (1995), em parceria com Cikó Macedo. Conta pra gente como foi o resultado dessa experiência.

Nesse momento Edson Silva, radialista e produtor cultural vindo da cidade vizinha da Água Preta, convida a dupla Linaldo Martins e Cikó Macedo em 1994 (só fica pronto em 1995) para gravar o também primeiro LP. Edição Extraordinária, pela ED SOM de Caruaru, produzido por Marquinhos Maraial e pela dupla, porém com o selo de Edson Silva Produções.
Durante todo os anos noventa realizávamos shows nas escolas, nas praças, bares, casamentos, aniversários, palcos institucionais do município, no teatro etc. para dar vazão a existência da arte. Como quem estivesse esperando alguma coisa acontecer ali. Muitos de nós estávamos experimentando o prazer de fazer alguns shows no histórico cine teatro Apolo. Um dos artistas que trabalhei por mais tempo foi o amigo e guitarrista  Cikó Macedo, com quem tive a honra e o prazer de dividir o palco durante muitos anos naqueles idos de final de século. Dessa parceria foi surgiu a gravação do primeiro LP.  O convite que partiu do já visionário e radialista Edson Silva que com a ajuda de algumas empresas da cidade, provocou a dupla Linaldo e Cikó a gravar um disco. O LP que fora gravado em Caruaru na mesma gravadora que detinha o selo SOLID, saiu sob o selo do radialista Edson Silva Produções por ser o idealizador do projeto, o mesmo contou com a produção de Marquinhos Maraial. Nós gravamos este Long Play com dez canções inéditas da própria dupla e algumas parcerias e canções de outros artistas como Zé Ripe, Luiz Alberto Machado, dentre outros que além de serem fornecedores de boas canções, eram incentivadores empedernidos e foi assim surgiram as ótimas parcerias. Podemos afirmar que o projeto resultou num naufrágio comercial pela falta de verba para divulgar e também pelo advento da chegada da mídia digital ao mercado concomitantemente e devido ao atraso da conclusão da fabricação que só ocorreu em 1995. O encalhe do material só não foi de todo ruim porque ficou a experiência e o recorte da memória.

LAM - Em 2001, você lançou Maracaúna. Como se deu o desenvolvimento e o resultado desse projeto musical?

Dr. Henrique como assim era conhecido no meio artístico dos Palmares na época em que estamos visitando, foi uma espécie de Mecenas para muitos artistas da época, sendo que no campo musical ele atuou bastante, patrocinando vários CDs, dentre eles podemos destacar O “Linaldo Martins e o Maracúna”. Este trabalho  também teve o apoio do Comércio e mais  efusivamente do médico e Poeta Dr. Henrique Arruda que colocava em prática mais uma vez a sua condição de Mecenas. Conseguimos gravar o primeiro CD do projeto Maracaúna exatamente entre 2000/2001 capitaneado por mim na parte musical e por Arruda na executiva. Experimentamos o uso das alfaias, os tambores de maracatu nação no grupo de rua, nas apresentações em trios elétricos, palcos e bastante no estúdio. Linaldo M. e o Maracaúna é o título desse trabalho pelo fato de esse que vos fala ter dividido a realização com o poeta e médico Henrique Arruda. Esta também foi a nossa primeira experiência na era digital, anos depois da experiência com o Vinil. Gravamos em Recife com a produção de Pierre Lima, jovem talento oriundo das bandas Versão Brasileira e Shampoo.
 Estávamos no centro nervoso de ebulição do movimento mangue, Recife. Mesmo assim gravamos com todos os músicos levados no interior, porque já tínhamos definido a linha musical à seguir. De palmares gravaram Lourival (Vavá) de guitarra, Genaldo Constantino, Felipe Constantino e Evilásio Paiva, Trombone, trompete e sax alto respectivamente. Linaldo M. voz e percussão, Levi Martins e Rogério Badia percussão. Manoel Francisco no contrabaixo, Eliezer Victor e Pierre Lima nos teclados. Mesmo tendo recebido participações importantes como  a do próprio Pierre Lima nos pianos e produção musical e Júnior Cap. Guitarrista da Versão Brasileira. Alexandre Papudo na bateria. Ainda o CD conta com a participação de Mazinho, Boni Brown e Marquinhos Maraial no sax alto, este que já produzia a maior parte das bandas de forró estilizadas que gravavam em Recife. Porém esse disco tem um repertório eclético mesclado de pop, mangue, regae, baião e MPB. Cada um de nós tentávamos do nosso jeito chegar a algum lugar.
Depois com ida do Dr. Henrique de volta para Maceió, as coisas esfriaram até por conta da falta de apoio intensivo mesmo e talvez porque o nosso material era um produto intrinsecamente cultural, não encontrando muito espaço aqui no interior. A linguagem era muito laboratorial, experimental e não atingia o grande público. Maracauna é um grande trabalho com  16 canções inéditas , com ótimos arranjos, porém ( digo isso com orgulho) não apelava para o comercial. Daí não precisa mais falar nada.


LAM - Em 2003 você lançou Zé Linaldo. Conta pra gente acerca dessa sua proposta.

Depois de dois anos de depressão pós parto do primeiro trabalho na era digital, resolvi gravar algumas canções que ainda me perseguiam o juízo no campo regional, com elementos da cultura popular, como maracatus, emboladas e baiões. E fizemos aproveitando para mudar o nome do projeto. Assim nasce o CD Zé Linaldo, onde homenageamos o artista popular Rabeca do caboclinho, estampando a fotografia da sua colorida casa na capa do cd, com fotografias de Sérgio Boi e projeto gráfico idem.
Gravado no estúdio Luz do Som em Ribeirão –PE do grande comunicador Jasiel Santos no final de 2002 ainda com o apoio do Amigo poeta e médico Henrique Arruda, também apoio do Beto do Posto canavial, da cerâmica Faco, supermercado confiança, Jason do posto Petropal, Jorginho da Wind Cell, Padisbel Skol.
Produzido por mim e com o apoio dos timbres de piano do grande maestro Eliezer Victor hoje radicado em são Paulo, com participações especias de Rildo Mago o irmão de Zé Ripe na Faixa felicidade desse Rio parceria nossa, voz de bony também na faixa Por toda vida, Daniel leão na faixa Talvez será ( música minha e de Antonio José Ferreira) , José Emidio (Ceará) voz incidental na Faixa Mulher Maravilha, parceria com o Poeta Genésio Cavalcanti, Jajá e Anca, duas crianças do projeto Peti onde eu dava aula de arte educação, na faixa conto do coco parceria com Henrique Arruda. O Disco foi gravado com os seguintes músicos: Teclados, baixos e guitarras: Eliezer Victor;  Trompete e Guitarras2: marquinhos Araujo; Violões de aço e Nylon: Manoel do Nascimento Junior; Sanfona : Eron do Vergel; Bateria Buiú; Trombone e Flauta : Antonio de castro; Sax alto: Evilasio Paiva; Sax Tenor: Cavalcante; Percussão:  Levi Martis, Zé Linaldo, José Carlos Boka e Nelinho.

LAM - Em 2006, foi a vez do Quilombo dos Poetas. Fala a respeito desse projeto.

O Quilombo do poetas, que é uma faixa com quase 8 minutos que chegou até  a gente através de uma pesquisa acadêmica do Amigo Manoca Leão, que conta a origem da cidade dos Palmares. Com aquele chumaço de laudas, não podia ser diferente. Virou um rap. Foi um momento em que eu estava querendo mesmo dar uma guinada na minha linha de trabalho. Ainda utilizando elementos do maracatu na faixa parceria com Antonio José ferreira “Rainha do mar” e no frevo canção autoral “ Linda colombina”. Entretanto vc vai encontrar um Zé Linaldo mais pop nesse CD até para atender as exigências de um mercado fonográfico louco e sempre em mutação.  Produzido por mim e gravado no Studio D’Boi e mixado pelo próprio Sergio Boi. Exceto duas faixas que foram feitas (04) no Studio  Luz do Som em Ribeirão-PE e  a (08) com Rafael Brás e Mick Bass em Gameleira –PE. Capa de Denilson com foto de Miguel Arcanjo.
Com as guitarras de Muganga Guita; Baixo: Marcelo Bass e Lambinho; Bateria: Sergio sabiá; Teclados: Junior Birimbal e Naldinho de Quipapá; Sanfonas: Tiaguinho Siqueira e Daniel Gouveia; Sax alto: Evilásio Paiva; Pífano:Antonio de Castro; Violão e loop de bateria na faixa (06) : Sergio Boi; Voz incidental na faixa (09) : Francisco Fernandes; Percussão: Zé Linaldo; Vozes da declamação na faixa (11):  Gilvan Mota e Rudinelli Sobral.
O trabalho, pasmem, teve o apoio de 20 empresas, do contrario seria impossível sair... Vou citar aqui, porque depois disso eu resolvi não mais pedir patrocínio na nossa economicamente combalida região. Salve um ou outro empresário amigo que sempre faz questão de contribuir com a causa da cultura. Recebi apoio de duas prefeituras: Palmares e Ribeirão, da farmácia 24 horas, da  extinta Papel Magia hoje seu proprietário tem o Una Hotel. Dinamicar Auto peças de Recife,Riuna Motos palmares, Serv system Informática, Bombomzão, Gabinet móveis e utilidades, Escritorio de advocacia Dr. Eli Alves Bezerra, Posto Petropal, Grupo Confiança, restaurante “O Panelão”, Foto Center, Funerária casa Glória, Radio Cultura dos palmares, Wind Cell import, Edições bagaço, Fundação Casa da Cultura HBF, além dos amigos Dr. Benjamim, Manoca, Dr. Josemar, Paulo Maciel, Dr.Henrique Arruda, Noé Buarque, Douglas Marques e Aécio Flavio.
Fizemos uma tiragem inicial de mil cópias como sempre, que é o que a situação econômica da região permite, que logo se esgotou, pois graças a Deus temos muitos amigos, mas isso não resolvia o problema da auto suficiência.



LAM – Tá. E os projetos Balada Forrozeira e Opção Brasil?

A carência financeira era tanta que só voltamos a gravar com recursos próprios em 2009 o projeto “Balada Forrozeira”, um CD de forró, em parceria com Marcilio Duarte e Bruno Braga, onde conseguimos reunir a nata dos músicos de bandas bailes da região que estavam disponíveis, para esse ousado projeto, porém agora teríamos que concorrer com as gigantes bandas do forró. Sem nenhuma estrutura e sem mídia o resultado foi outro naufrágio. Até que Marcilio nos convidou para em 2010 somarmos ao seu projeto “Opção Brasil”, o que resultou em um belo trabalho de forró com a nossa pegada, diferente das grandes bandas estilizadas. Emprestei a voz e algumas músicas para os dois  projetos , assim como assinei a produção. Bruno Braga amigo e cantor do Ribeirão dividiu comigo os vocais da Balada Forrozeira. Ambas as capas foram criações da New Target, empresa do Marcilio Duarte. Ganhamos uma sobrevida e ainda hoje  nos apresentamos em eventos capitaneados por este empresário, designe e publicitário de Recife –PE que continua nos apoiando, promovendo e vendendo nossos trabalhos nos eventos da sua agencia ou terceirizando.

LAM - Em 2013 você trouxe ao público o Multicultural. Fala da expectativa e da realização desse seu trabalho.

Multicultural foi gravado ao vivo e do show escolhemos 10 faixas no final de 2011, mas só lançamos em 2013 por questões econômicas obvias, rsss. Foi um momento de grande crescimento musical e espiritual. Descobri que estávamos no caminho certo, era o mercado que se permitia à prostituição fonográfica, pra não dizer pornográfica e não nós . Nesse momento, evidenciávamos nos shows: Vander Lee, Zeca Baleiro, Raimundo Sodré, Juraildes da Cruz, Gilberto Gil, Lenine, Lulika dos Palmares, Zé Linaldo, Zé Ramalho etc..  o que havia de bom para o momento.  Gravamos este trabalho nas instalações do Lions Club dos palmares por ocasião do convite de Sandra Santos, cantora, empresária e amiga da arte e nossa, para tocar após a sua apresentação naquela noite. Com o PA de Marcos som, a captação de Carlos George e a Mixagem de Juvanildo Lamb já no Studio Mangue fusão com Lamb Studio. Ainda relutando em sair para garimpar patrocínios, inevitavelmente contamos com o apoio finaceiro dos amigos Toinho Contador da AC Contabilidades, da Lapa Som Equipadora e serviços automotivos, Marcilio Duarte, pastel Dom paulista, Grafica Criativa, Casa da cultura HBF, Lulika, João Bezerra, Hib Eventos e Sandra Santos. Com a Guitarra de Elder Agua Preta; Baixo: Juvanildo Lamb; Bateria: Silvio Borba; teclados: Paulo Henrique e thiaguinho Siqueira, sanfonas Gilson Rozendo e Thiaguinho, percussão: Levi Martins. O CD teve ainda a Foto de Wilson Fotografias e capa de Nel Angeiras saiu o Multicultural, assim chamado pelos vários estilos dos representantes de várias regiões do pais pela constelação de artistas que homenageamos nessa edição. Com uma tiragem de  mil cópias que também se esgotaram rapidamente, porque o CD hoje em dia, não se vende mais. Se distribui para divulgação. Porque a pirataria e a internet . Irá fazer essa função mais cedo ou mais tarde. Às vezes até se antecipa, rssss, ex. “tropa de Elite”. Se foi uma jogada de marketing ou não, funcionou muito bem.

LAM – Foi aí que veio, então, o CD ao Vivo no forró da estação. Palmares 2014?

Sim. Fizemos o show sem pretensão nenhuma , mas o Dj Woog estava no som gravando tudo  rsss o que resultou em uma sequencia pura de alguns forrós que distribuímos pela net.

LAM - Agora em 2016, você lançou Mangue. Como está a receptividade deste seu novo trabalho?

O Mangue é uma homenagem ao projeto do Studio de Marcilio Duarte que surge lá em Recife e vem para a mata sul fazer fusão conosco, precisamente com Juvanildo Lamb. Seria engraçado se não fosse triste o fato de começamos a gravar em  2015 em um enderço do Lamb/Mangue por motivo superior mudamos, continuamos gravando e mudamos de novo de endereço. Se não fosse o ouvido de Lamb e as fases da gravação, teríamos um disco com timbres comprometidos. Nós gravamos a bateria, guitarras, teclados, sanfonas e baixo no endereço da antiga Zona; Percussão e vozes no beco do galo e  mixamos na Letácio Montenegro, onde ainda se encontra o Studio.
Com a capa de Marcilio Duarte obtivemos um belo efeito em Preto e branco. O repertorio é misto entre autoral, parcerias e releituras de artistas consagrados dentre eles temos Gerônimo e Ricardo Luedy, Vander Lee, Gilberto Gil, Caetano, Chiclete,Antonio José Ferreira, uma versão da nova musica africana de Angola,  e finaliza com uma releitura da música “Kizomba”, saba enredo da Vila Isabel do ano de ( ?) de Rodolfo Jonas e Luiz Carlos da Vila.
Participações especialíssimas de Marquinhos Cabral na faixa (07); Layla na voz, Jr birimbal no loop, buiu no bongô na faixa (08); Antonio J. Ferreira na faixa (09) e o Marconny Mello (in Memorian) na faixa (11).
Conseguimos realizar demoradamente, porem sem pedir patrocínio, exceto aqueles amigos que estão sempre por perto como falei anteriormente. Os ouvidos mais atentos têm parabenizado o nosso trabalho. Pela sua apresentação, repertorio e timbres. O que curiosamente, mesmo tendo sido gravado em três estúdios diferentes, em épocas idem, conseguimos ainda salvaguardar uma boa qualidade técnica e de sonoridades. Aqui um voto de aplauso para o grande músico Juvanildo Xavier de Souza, o “Lamb”, que com paciência e maestria finalizou esse trabalho com êxito.
Destaque também para o time que trabalha junto já há alguns anos; Guitarra: Elder Agua preta, Bass: Lamb, Batreia : Silvio Borba, teclados: Naldinho; Sanfonas: Bruno raça Negra, Percussão: Cleovan Predador e Boca Timbaleiro; Violões: Marcos Araujo.

LAM - Além da sua atividade musical, você fez uma incursão na vida acadêmica, realizando estudo sobre a passagem do vinil pro cd, um outro sobre a obra de Hermilo e, inclusive, você assumiu a presidência da Casa de Hermilo. Fala pra gente como se deu tudo isso.

Eu necessitava fazer algo pela micro-história. Fugir das grandes sagas de reis e generais, governadores e coronéis. Lendo Ginzburg na academia, via em cada artista da nossa terra um Menócchio, o Moleiro perseguido pela inquisição. No nosso caso a inquisição era a falta de oportunidades, o preconceito, a crise financeira e a ausência de equipamentos e tecnologias que promovessem as idéias daqueles ainda sem notoriedade. Precisa se escrever muito ainda sobre as cidades, os estados e seus inúmeros personagens. Esta foi uma das minhas motivações a abraçar a licenciatura em história e a pós graduação por enquanto. Acredito que a minha passagem pela academia deverá servir para dar um pouco mais de voz literária às experiências por nós testemunhadas na transição da era analógica para a digital no campo musical e o uso e o desuso do Vinil.. Um dos meus artigos da vida acadêmica não poderia deixar de se colocar a serviço da arte da nossa terra, principalmente sobre um tema ainda pouco discutido, pelo menos na nossa região. Isso me fez pesquisar sobre as possíveis produções musicais de artistas que estavam em atividade na segunda metade do século XX e no começo do XXI, na cidade dos Palmares. Este é o maior município da mata sul do estado de Pernambuco, por isso, delimitamos esta pesquisa sobre as produções dele, por se tratar do município pólo da região. Também por compreender que muito pouco tenha sido escrito cientificamente nesse campo da produção musical local. Acreditamos que a pesquisa direcionada nesse sentido estará contribuindo enormemente na escrita historiográfica da cidade. Concentramos aqui a coleta de valiosas informações que surgem já a partir da segunda metade do século XX, considerando que são bastante elucidativas e que irão servir de norte para futuras gerações de estudantes e pesquisadores da história da arte da cidade. Podemos ainda perceber uma visão antropológica nos comportamentos variados, nas experiências de artistas diversos. Nossa metodologia está centrada no estudo da relação entre História e a arte, quando as produções e suas dificuldades nos permitem traçar um paralelo dos acontecimentos sócio culturais do período.
No início da década de noventa, como já sabemos,sobravam pouquíssimas fábricas de discos de vinil no Brasil,   para atender toda a demanda do país.  Os artistas que gravavam nesse período de transição de analógico para digital em Recife, por exemplo, esperavam ansiosamente a chegada dos discos LPs que eram fabricados no sul do País. Era um processo demorado e cheio de ansiedades. O ano 2000 chegou. O último ano do século e a maioria não havia se adaptado, se quer, compreendido aquelas mudanças. Mas isso é um assunto muito longo e breve disponibilizarei os artigos para que todos possam acompanhar a saga da transição mais amiúde .
O outro artigo que também posso disponibilizar oportunamente é acerca de uma das obras do grande escritor palmarense Hermilo Borba Filho. Já este artigo tem como ponto de análise a obra do escritor Hermilo Borba Filho. Delimitamos esta contextualização sobre as Crônicas, presentes em sua obra Louvações, Encantamentos e outras Crônicas. Compreendemos que,  a publicação desta obra tornou-se um parâmetro dentro da organização do pensamento do autor, onde percebemos uma compreensão direta sobre o contexto histórico de Palmares em tempos de Regime Militar, mais respectivamente entre 1971 e 1976. Nossa metodologia está centrada no estudo da relação entre História e  a Literatura. As tensões e as aproximações destes campos nos permitem realizar uma contextualização acerca da importância evidente da obra de Hermilo Borba Filho. Ao visitar a obra do autor palmarense Hermilo Borba Filho deparei-me com a coletânea “Louvações, encantamentos e outras crônicas”. Imagino que as referidas crônicas e seus variados temas, podem ser bastante aproveitados como conteúdo para aulas, debates e produções de textos. Então em dado momento me pergunto, porque tão vasta e diversa obra não pode ser mais bem utilizada nos conteúdos da educação do município, já que Palmares é a  terra natal deste autor e a obra citada acima  como exemplo, também possui um valor especial, por se tratar de recortes de um período delicado da história. São escritos publicados entre 1971 e 1976 por jornais de grande circulação, evidenciando assim uma importante produção jornalística no gênero observado, deste escritor e pesquisador da cultura popular, romancista e dramaturgo que é aclamado como uma original instituição intelectual brasileira do século xx.


LAM - Quais os projetos que Linaldo Martins tem por perspectiva realizar?

Estamos com um DVD gravado em off no cine teatro Apolo em outubro do ano passado, com 14 faixas autorais, sendo algumas releituras do nosso próprio trabalho e algumas parcerias conquistadas ao longo dos anos. “Memorial” é o título porque resolvi homenagear algumas pessoas e coisas que não quero esquecer nunca e quando  a gente cuida dos recortes da memória o resultado é uma história não evanescente. Homenageio, meu pai e o Sr. Silva o pai do Serginho Raízes, que foram perdas recentes para o plano espiritual. Esse novo trabalho transcorre com as canções em parceria, autorias solo e participações no palco especialíssimas de grandes amigos e artistas que estavam disponíveis ( porque seriam mais , porém alguns não tiveram agenda). Cantaram comigo o Marquinhos Cabral, Bruno Braga, Zé Ripe, Serginho Raízes, Antonio José Ferreira o “Oião” e finalmente o Marconny Melo que faz a sua última aparição em vídeo, porque este veio a falecer no inicio de janeiro desse ano. Com Elder na Guitarra, Lamb no Baixo, Silvio na bateria, Thiaguinho nos teclados, Bruno Raça Negra no Acordeon, Levi Martins, Carlos Boca e Cleovan Predador na percussão gravamos ao vivo em um só dia, o trabalho que ainda está esperando editar por conta de motivos econômicos como sempre, mas pretendo colocar na praça até Dezembro.
Recentemente compus as músicas da peça infantil “As três porquinhas e o Lobo Tal” , uma montagem feminina da Teatróloga Marta Souza e da coreógrafa Gil Sales, que terá estréia em outubro próximo.
Atualmente estou preparando um trabalho de forró pé de serra em estúdio em parceria com o Poeta Eugênio Gerônimo, originário do sertão pernambucano, hoje radicado em Recife. O poeta do sertão ao litoral como gosto de defini-lo tem uma verve brejeira que se entrelaça com o urbanismo de forma magistral, resultando em poemas que cantam por si só. Eu só dei um empurrão com a ajuda de Euterpe, essa musa grega que me acompanha desde que chorei pela primeira vez rsss.
Em breve estaremos apresentando para os amigos este trabalho diferente do que eu sempre faço, pelo fato de ser o primeiro de forró legítimo que eu me envolvo, porque não milito exclusivamente nesse campo.

RELEASE & DISCOGRAFIA DE ZÉ LINALDO –  De nome artístico, Zé Linaldo, é músico, compositor, intérprete, art-educador e produtor cultural de Pernambuco. Ao longo dos anos vem atuando no São João, Carnaval e eventos de gêneros diversos em várias cidades de Pernambuco e Norte das Alagoas. Zé Linaldo é produtor musical, fez e faz parceria com vários poetas e músicos da sua região, Atualmente é produtor do Mangue Estúdio em Palmares e Jaboatão dos Guararapes –PE, atua no seu  shows com banda, experimentando novas influências que vão desde Alceu Valença e Xangai até Lenine e Zeca Baleiro por exemplo. Além dos seus conterrâneos e contemporâneos companheiros de música, onde já gerou diversos trabalhos.
1994 LP “Edição Extraordinária” ( Com CiKó Macêdo ) - Produzido por Marquinhos Maraial, Zé Linaldo e Cikó Macedo;
2001 CD “À Margem” (Com a Banda Maracaúna ) - Produzido por Pierre Lima e Zé Linaldo;
2003 CD “Zé Linaldo” - Produzido pelo mesmo;
2007 CD “Quilombo dos Poetas” – Produzido pelo mesmo;
2008 DVD produzido juntamente com Aécio Flávio da Sahruê Produções intitulado “O CANTO DA MATA” registrando a poesia, a música e a atuação de mais de 30 artistas da cena local;
2009 CD Balada Forrozeira Produzido pelo mesmo. Estúdio Revelação Recife.
2010 CD “Opção Brasil” -- Produzido pelo mesmo. Estúdio Mangue Jaboatão.
2013 CD ao vivo Multicultural – Produzido pelo mesmo . Estudio Mangue Palmares.
2015 CD Estúdio – Produzido pelo mesmo. Estudo mangue Palmares..
Músicas para referência buscar no link: www.nacaocultural.com.br/ze-linaldo-musicas e Palco mp3
CONTATO: LINALDO MARTINS DA SILVA (ZÉ LINALDO) FONES (81) 86901720 E 99462015 Sede à rua José Lagreca 186 Bairro São Pedro Palmares-PE. CEP 55.540-000

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