quarta-feira, setembro 06, 2017

POEMAS DE JOSÉ TERRA CORREIA


CARROSSEL DE POESIA
O historiador leu Paulo Freire para o geógrafo
(com olhos de sede)
O geógrafo leu Josué de Castro para o historiador
(com olhos de fome)
O religioso leu Chico Xavier e Dom Hélder para o historiador e o geógrafo
(com olhos de Deus)
Poeticamente descoberto,
O humanista leu para o religioso, o geógrafo e o historiador
A Rosa do Povo, Cem Sonetos de Amor, Folhas de Relva
E o Americanto Amar América

O POETA CORDIAL
Nunca da minha boca celeste:
Vossa Alteza, Vossa Eminência
Vossa Excelência, Vossa Magnificência
Vossa Majestade, Vossa Reverendíssima
Vossa Santidade, Vossa Senhoria
Agora, sempre sempre
o senhor, a senhora, você, vocês!!!

SONHOS
... de prosa no táxi
Encantam-se o taxista e três poetas
O poeta de agosto (com gosto de morango)
Fala do rosto-Paris da amada
O poeta de setembro (com gosto de amora e laranja)
Fala do corpo carioca da amada
O poeta de dezembro (com gosto de manga, maracujá e pitanga)
Fala da alma campesina da amada
Mais exaltado que as letras
Sorri o taxista:- Nunca vi tanta poesia!
Sou mais o meu amor porque é real!!!

CORAÇÃO FEMINISTA
Merece uma rosa e dois poemas
Quem inventou a mulher romântica
Merece três peixes e quatro pães
Quem inventou a mulher aventureira
Merece cinco perfumes e seis pinturas
Quem inventou a mulher urbana
Merece sete diamantes e oito músicas
Quem inventou a mulher camponesa
E merece nove vinhos e dez amores-perfeitos
Quem inventou a mulher artista

O DESCOBRIMENTO DO BRASIL
Desdenhando a grande Metrópole
Três fomes chegam ao auge da devastação humana
A primeira fome estira as mãos
Cadê meu pão?
A segunda fome espalha as lágrimas
Cadê meu feijão?
A terceira fome estica o sangue
Cadê minha mãe?
Uma moeda de solidão se abriga no peito do Pai
Cinco moedas de sangue se acolhem no peito do Filho
Dez moedas de sonhos se agasalham no peito do Espírito Santo
O Brasil real é cruz na carne do próximo
Não mais que de repente
Brota a nova flor azul
(com educação poética e política)
Para dá às três fomes o pão da “POESIA COM TODOS”

FRATERNURA
- Mulher favelada,
Foi por amor a José e João
Que na casinha periférica
Bebeste toda cachaça do mundo
E alimentaste os barrigudinhos com teu feijão preto?
-Sim, senhores da lei,
José e João são as nossas entranhas, são as luzes da primavera!
- Mulher favelada,
Estás livre para amá-los em qualquer verbo

COISAS DO CORAÇÃO
Ela queria uma moda por mês
Após o sutiã francês, a calcinha espanhola
O vestido de prada e o batom de açucena
Ela queria uma forma
Para ser consumida por mês,
Após a macharia sedenta e o tarado azul
O amante (ex-prefeito,ex-governador e ex-presidente )
Lhe deu os mais tristes presentes da nossa América:
O desemprego e a fome do Brasil!!!

FLOR DA IDADE
Na noite do ficar
A menina da liberdade azulou o menino das aventuras
O menino das aventuras havia sido azulado
Na manhã da luxúria por uma gordinha paulista
Na tarde da carne vermelha por uma negra baiana
E na madrugada do corpo sagrado por uma morena pernambucana!!!
A menina da liberdade e o menino das aventuras
Com beijos de violeta
Brotaram do tutano dos amantes
E antes de chegarem à tutela do amor
Eternizaram-se nas páginas da paixão
No outro dia já eram
PÁSSARO E PAISAGEM

IMPRESSÃO DE AGOSTO
Chove em teu corpo
Teu rosto aparece no poema do inverno
Degustando vinho italiano e queijo francês
O orvalho prepara a grande festa na casa do blues
E anuncia o homem,a mulher,a fé,as estrelas
Nossa noite irá refletir
O pão significativo
A arte dilacerada
E a poesia possível
Amor, o que mais encanta teu reinado de mulher do inverno,
A lua azul ou meu coração de amante?
- Paixão do meu canto de mulher,
A lua azul é minha camomila
E teu coração de amante é minha melhor proposta de amor
Chove em meu corpo
Inauguro a minha única revolução
AMAR A TUA LUZ

POESIA, POEMA E AMOR
Todos os dias a poesia constrói a CASA DA ESPERANÇA
É o poema com duas dádivas:
A lábia e o pé-de-luz do meu amor


JOSÉ TERRA CORREIA - Poemas da obra Música de rua (Panamérica Nordestal, 2014), do poeta José Terra Correia. Veja mais aqui, aqui e aqui.