A INVASÃO
Invasão! Caravelas no horizonte!
Por usura
(e lusa omissão)
A Holanda se fez dona
Do Arrecife
De Olinda destroçada
E da terra nordestina.
O marnosso foi domado
Pela brava nau batava
E a gente pernambucana
Tornou-se pó e escrava.
A claridade das baterias
Abatei a manhã
E labaredas
Serviram de luminária
À marcial alvorada.
Aqui eles buscaram
Ouro e açúcares.
E esperavam recebê-los
Por fineza zelosa de vassalo.
Ao invés de víveres
A morte os barcos traziam
Com fardos de sujeição.
Com suas cargas de noite
As naves de Holanda
Mataram o amanhecer.
A não ser o sol – Nassau
Vinte quatro anos de incessantes
Trevas nos habitaram.
A MULHER RESTAURADORA
Domana Paes antecipa
O heroísmo da mulher de Pernambuco
Escrito com sangue
Na Saga de Tejucupapo
Escrito com o punho tenaz
De Clara Camarão em Porto Calvo
Escrito pelas mulheres de Igarassu e
Goiana
De Recife e Olinda
De Itamaracá e Carpina.
Domana Paes de peito aberto
Em plena campina
Arrosta a força inimiga
E faz de Casa Forte
Uma casamata urbana.
A REAÇÃO
Pernambuco, hoje te vejo
Na manhã postado
Com os olhos serenos e o grito
Na garganta se construindo.
A mão na espada serva.
Os chuços no ar erguidos.
O temor já alaga
O rosto inimigo
Alumiado pelo sol
Nascido do gume ávido
Da espada pernambucana.
A fama dos feitos
Já corre
Pelos varadouros da memória
E se faz torrente e alma
Da nossa história.
Que Holanda seja o verdugo
De seus enganos
E vítima
Das tramas banqueiras
E nunca dona
De nossas terras,
Proprietária de nosso solo e espírito
Ou senhora de nossa certeza.
OS HERÓIS ANÔNIMOS
Anônimos são os verdadeiros heróis.
A CONTABILIDADE MÓRBIDA
E a campina jaz
Juncada de heróis
Lusos, flamengos e brasileiros
(para júbilo dos banqueiros
Das índias ocidentais
E gloria dos deuses crassos
Da Europa monetária).
A 1ª BATALHA DOS GUARARAPES
Eles buscam
Com o aval da própria vida
Nas grimpas
Dos Montes Guararapes
A estrepitosa e dura
Vitória da raça
Batismo sangrento
Parto de um povo
Valoroso lucideno.
A 2ª BATALHA DOS GUARARAPES
Por duas vezes o sangue uno
Escorreu da colina
Dos Guararapes
Dos corpos heroicos para os cântaros
Da Guerra de Pernambuco.
O tinto espetáculo se repete.
Rios purpúreos correm loucos.
Uma cópia de mortos corpos
O sítio da batalha junca.
A VITÓRIA
Tambores rufos calam-se
Bandeiras rotas cobrem
Armas e bagagens abandonadas.
Ruge a debandada tapuia.
No solo
Mundos leões carmins
De tafetá batavo
Jazem calados
Das mortas armas
Da Holanda ao lado.
O FUNDADOR
Guararapes
Plasmou nossa história
Mas não apagou
A saga de Nassau
O fundador.
VITAL CORRÊA DE ARAUJO – Poemas
recolhidos da obra Gesta
Pernambucana (Fundarpe, 1990), do escritor, jornalista, advogado,
professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo. Veja mais
aqui e aqui.