domingo, julho 15, 2018

ID DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJO


SOU (?)

Eu deliro quando poemo.
Sou o id. E você é o quê?
Creio no incrédulo.
De insana consciência declaro que sou.
De mim dou infé.
Busco, creio, sonho com a incerteza
E o descontínuo
Detesto continuidades extensivas
E simetrias idiotas, iro
A lógica hiante cotidiana
Do ser ordinário curral e seminário
Os frios cálculos da usura (que dependuro
E crucifico na cruz contável e festejo com linces bursáteis
E suas mandíbulas de deságios).
Execro a ignorância crassa
Dos que vivem de banalidades imperiosas
E se movem só no entorno
Do juro, da moeda e do umbigo.
Vade retro
Ordinária humanidade!

MEU POEMA

Meus poemas vivem à superfície
(a claridade profunda os escurece)
Dos sentidos natos é afogado.
Uso toda a maestria da imperícia
Para compô-lo com ensoberba grave.
Sou adepto (de fécula) de metro fúnebre
(que mede a morte da poesia)
Que meçam a autora do útero (antes do aborto)
E a raiz (ou ardis) do gozo
Que não interessa.

ELEMENTOS DO POEMA

Narcisos não são sonolentos, mas fugazes
Nuvens que são esferas (esférico Deus)
Montanhas não são cones (cônicas águas)
Gaivotas são círculos do ar salino
O córtex de um pinheiro é plano
Nenhum raio viaja em lua reta
(contra Einstein).

POSIÇÕES

Cremes para consumo dos rostos.
Súplicas para conforto da alma.
Sombras para gozo das pálpebras.
Prego a fundação de uma nova
Realidade poética
Um novo vigor da palavra
Uma nova aventura do verbo
(cansado da rotina que Deus me deu).
Prego nova sensibilidade
E nova modalidade de rima.
Em poema, não há circunstâncias atenuantes
Nem culpa sem dolo, verbo sem alma.
O que se apodava inspiração
Hoje, agora, é espírito crítico.

IDELIRANDO

Brisa apazigua deuses
Noite esmera sombras
Tarde afoga-se dos pasteis do crepúsculo
Lua apunhala de silêncio a alma.
Todo amor é solitário
Nenhum gozo se divide
A volúpia é promíscua
Invejosa, avarenta.
Outono chora folhas
Que foram embora.
(Como choro da lucidez desvairada).
Veredas do outono não percorri.
Elas vivem em meus pés.
Ensinam ao rosto o caminho.

ID LÍRICO

Em teu olhar há
Luas acantonando-se docemente
E sois esperando
Desmaio da tarde.

ID MÚSICO

Venho de longos violoncelos
De zelos e cantatas mortas há muito.
Venho de gorjeios de flores
Rubro arrulho de rosas
Trago secreto matizes de pássaros comigo.
Comungo com ovelhas
E velhas estrelas
Da comarca quimeras.
(A vida é estreita porta para o sopro
Espessa saída para o nada
Que parca torpe fia e desfia
À vontade de sua triste sina).
(Roca vil).

IDÍTICAS CERTEZAS (OU CINZAS DO EGO)

Há vândalos no imo das fortalezas
Touros acantonados nas furiosas ameias.
Cílios dos olhos das colmeias
Prêmios das quintas do inferno.
(ID sonha o céu).
Das ruas ira submarina
(imersa nas almas – sanguessugas)
Cólera cerca edifícios
Dos halls raiva se banqueteia.
Templos de conflitos das avenidas
Atropelados choram nas calçadas
Mendigos rosnam como ratos da última sarjeta intacta.

ÚLTIMA LÁPIDE

Abandono a claridade crua
A selvagem panaceia do nítido
Penetro a escuridão líquida.
Se alma mandíbula metafisica
Do gusano devora
Come meu corpo terra ingrata (e sagrada).

IDO livro Id (Autor, 2013), do escritor, jornalista, advogado, professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo, traz apresentação de Roberto Cavalcanti de Albuquerque, ID Vital de Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque, O ID e o poeta & Para entender Vital Corrêa de Araújo de Admmauro Gommes, ID e a Poesia Absoluta de Vital de Osman Holanda Cavalcanti, e é dividido por ID Primo, ID Duo, ID Tertvs, ID Qvartvor, ID Qvintvs, Com a palavra o ID, ID Sextvs (ou o sexo do ID), Mãos ausentes. ID Septvor, Conclvsão, Adendos para desesclarescimentos do leitos e Adendos de última hora, Cínicos, como o ID. Veja mais aqui.