Alagoas tem dessas coisas.
Nem só do noticiário de práticas escusas, nefastas e criminoas vive Alagoas. Não só.
Apesar da poluição, o mar alagoano é lindo. Maceió é um aquário delicioso de viver. Além do mais, o povo alagoano é hospitaleiro e bom. E tem mais: a música de Hermeto Pascoal, Djavan e dos da Cooperativa dos Músicos de Alagoas – COMUSA. Tem a literatura de Graciliano Ramos, a poesia de Ledo Ivo, Arriete Vilela, Marcos de Farias Costa e tantos outros. Tudo isso sem contar a lindeza de Penedo e Xingó, a rusticidade interiorana de clima maravilhoso em Mata Grande e Mar Vermelho, o passeio de Maragogi, as Dunas do Marapé, as lagoas Mundaú, Manguaba e Roteiro e um bocado de cenário bonito de se ver no litoral todo.
Vivendo em Maceió já há alguns anos, uma certa tarde resolvi bebericar e curtir um barzinho catado a dedo, onde se veiculava uma música diversificada. Isso me chamou atenção porque na seleção musical tocava chorinho, samba, baião, toada, forró, tudo da gente do muito bom gosto e qualidade. E entre os ritmos, uma voz: Ibys Maceioh, um alagoano de Porto Calvo, cidadão do mundo radicado em Maceió, cidadão do mundo, músico, compositor e cantor que começou a aprender violão com o também alagoano Zé Romeiro que era discípulo de Dilermando Reis. Entre os professores de violão ele tivera, nada mais, nada menos, que Turíbio Santos, o que lhe rendeu uma vaga de professor no Centro Livre de Aprendizagem Musical - CLAM, dirigido pelos músicos do Zimbo Trio, em São Paulo. Por conta disso, passou a ser reconhecido como um violonista de alto gabarito.
Na trajetória de 35 anos de Ibys Maceioh pode-se destacar, entre outras pomposidades curriculares, a sua passagem por diversos festivais de música, entre eles a Feira de MPB, realizada no Centro Cultural São Paulo, a série Novos Intérpretes, no museu de Arte de São Paulo – MASP, e o Projeto Pixinguinha. Também fazem parte da sua trajetória musical alguns shows como "Uma Questão de Estilo" - realizado no Centro Cultural São Paulo, e "Sem Mídia Apóia os Sem-Terra" - no teatro Noel Rosa, no Rio de Janeiro, entre muitos outros.
Sabedor disso, continuei bebericando no bar e curtindo o som quando, por força do maravilhamento musical e teor etílico da empolgação, peguei o telefone e disquei chamando:
- Alô, é o Ibys Maceyoh?
Não deu outra. Poucos minutos depois estava aboletado na minha mesa a pessoa simples, simpática, amiga e fraterna dele.
Frente a frente, ele de chapa me presenteou o seu disco “Cabelo de milho” e o “Ibys Maceioh convida Academia M.M. – Festival de ritmos”.
Entabulamos um papo como se a gente já se conhecia de séculos, enquanto as músicas tocavam no som do bar, clareando as idéias.
Papo vai, papo vem, a tarde virou noite e, daí, singramos a madrugada entre goles, risadas e confissões.
Depois fui contemplado com o presente do “Ibys Maceioh 34 anos de música”, uma extraordinária reunião de suas belíssimas canções, realizada pelo radialista e também compositor alagoano, Rui Agostinho.
Ainda anteontem mesmo, ele me chegou com o cd/DVD gravado ao vivo no projeto Maceio Viva Cultura, da Fundação Municipal de Ação Cultural, onde ele faz uma releitura de parte do seu exuberante trabalho.
Disso tudo sou mais que grato, porque não é todo dia que a gente estreita amizade com um gigante que esconde sua grandiosidade na estatura mediana, com um mestre da música escondido na simplicidade de gente, com um expoente artístico que perambula pelas ruas como quem fosse o mais simples dos mortais.
Assim é Ibys Maceioh: uma nascente miudinha que esborra o sabor de todas as águas que dão vida à terra das Alagoas.
Com você, Ibys Maceioh!
LAM - ibys, vamos começar pelo de praxe: quando e como foi que o Valmiro de Porto Calvo se encontrou com a música?
Desde Porto Calvo. Lá eu fazia seresta com os amigos, sem tocar violão, cantando musicas de carnaval, marchinhas etc.
LAM - Quais as influências da infância e adolescência que marcaram a formação do artista Ibys Maceió? E como foi que Valmiro virou Ibys Maceyoh?
As influências: Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Roberto Carlos e etc.
A idéia do Ibys Maceioh foi do Silvio Marcio, quando gravei o compacto com Depois do Vendaval e Otimismo. E em Sampa a turma me conhecia como Maceió, na noite.
O Silvio achou legal acrescentar Ibys Maceioh.
LAM - Você aprendeu com Zé Romero que foi discipulo do legendário Dilermando Reis. Também estudou com o grandioso Turíbio Santos e virou professor do CLAM do Zimbo Trio. Fala dessa experiência.
Comecei a estudar no poço com Luizinho 7 Cordas que me indicou o Prof. José Romeiro, que tinha chegado do Rio de Janeiro. Ele era professor de português e começou a dar de violão por musica e que tinha estudado com Dilermando Reis.
Luizinho depois de um tempo me indicou o Zé Romeiro.
Participei do Festival de Inverno em Sampa, no ano de 1974 e participei das aulas do Turibio Santos, durante todo mes de julho de 1974.
Tinha grandes concertistas, inclusive, meu grande amigo, Francisco de Araujo.
Depois tive contato com Dalva Abrantes, prof.de Historia da Arte da Faculdade Martiniano de Carvalho, em Sampa que me apresentou Noé Lourenço, concertista e formado em Paris.
Noé Lourenço, me apresentou ao Luiz Chaves, contrabaixista do Zimbo Trio, pra estudar violão popular e harmonia.
Depois passei a dar aulas no CLAM-Centro Livre de Aprendizagem Musical, dirigido pelo Zimbo Trio.
Trabalhei com Nico Assunção, Ulisses Rocha, André Geraissati, Leia Freire e muitos grandes nomes que fazem sucesso no Brasil e mundo afora.
Foi uma experiência muito importante até agora. Diria, muito iluminada e agradecendo sempre ao meu mestre Luiz Chaves.
LAM - Na sua trajetória, você foi incentivado por Luiz Gonzaga e Djavan, virou parceiro de Zé Keti e já trouxe pra tocar nos seus discos Osvaldinho do Acordeon, Fernando Melo do Duofel, entre outros. Conta pra gente o que marcou dessas convivências.
O incentivo de Luiz Gonzaga foi desde menino e uma vez vindo de Sampa pra Maceió, tive a oportunidade de conversar bastante com ele no avião. Inclusive o mestre fez uma observação muito importante na letra de Espera Sem Fim, parceria com Silvio Marcio e logo depois iria visitá-lo. Ele faleceu e não tive a oportunidade de mostrar a nova mudança na letra.
Já o Zé Keti, morei na casa dele no Rio e aprendi muito com o mestre e conheci muitos bons compositores.Temos até parcerias ineditas.
Fernando Melo e Osvaldinho são iluminados e tive muita felicidade de tê-los nessas gravações;
LAM - Continuando na sua trajetória, faz um balanço desses 35 anos de carreira, que começou com o compacto que trazia "Vendaval" e "Otimismo", passando pelo Suave (2000), Cabelo de Milho (2002) e o 34 Anos de Música (2007).
Balanço bastante positivo. Apesar das dificuldades, aprendi muito,convivi com grandes músicos,foi um grande aprendizado.
LAM - Você tem participado ao longo dos anos de festivais, do Projeto Pixinguinha, do Forum Social Mundial, do disco "Zimbo Trio Convida" e sempre atuando na noite em diversas capitais brasileiras. Fala dessas andanças e da experiências que você tem acumulado ao longo dessa sua entrega musical com o público.
Não tenho hoje participado de muitos festivais. Participei de Maringá e do SESC em Maceió.
O Zimbo-Convida foi muito importante nessa trajetória tocar com Mara Leporace, Valdo Luir, Toninho Ciardulo, grandes violonista e participar desse disco que tinha muitas estrelas da MPB.
Na noite tenho participado por uma questão de sobrevivência, não é mais como era antigamente. Mudou muito. E a tendência é só ir pra tomar uns birinaite e rever os amigos.
LAM - Você tem um timaço de parceiros, que vai desde Zé Keti ao elogiado poeta alagoano, Marcos de Farias Costa. Fala das suas parcerias, então.
Zé Kéti foi o mais famoso e, como já disse, convivi com ele no Rio e me fez conhecer muitos compositores e muitos músicos.
Depois vem Geraldo do Norte da Radio Nacional do Rio de Janeiro e Jorge Simão que tem um trabalho sobre Lima Barreto, no Rio.
Vários parceiros importantes que também me ensinaram muito foram Marcos Farias Costa, Marcondes Costa, Mario Mammana, Silvio Marcio, Tai Breda, Marcello Laranja que é presidente do Clube do Choro de Santos e o próximo que já está no prelo, Luiz Alberto Machado. Essa turma só somaram na minha vida.
LAM - Você tem um site/blog pessoal e também participa da comunidade do Clube Caiubi de Compositores. A Internet tem contribuido para a difusão do seu trabalho musical? E o Clube Caiubi capitaniado pelo parceiramigo Sonekka - o Osmar Lazzarini, como você vê essa expansão do grupo e a contribuição para o seu trabalho?
Hoje essa ferramenta é de uma importância muito grande e quem não estiver nela dança.
O clube Caiubi é muito importante tem aumentado o conhecimento de meu trabalho.
Sonneka é grande incentivador e fico feliz em ser seu amigo e todos que fazem essa pagina maravilhosa.
LAM - Como você vê a música brasileira atualmente, especialmente a alagoana?
A musica brasileira é muito rica, mesmo que a mídia não dê muita abertura ela continua viva.
Tenho ouvido muita gente nova fazendo um trabalho de alto nível.
Quando estou em Sampa e Rio, vejo que nada está perdido. Existe espaço pra musica boa.
Já Alagoas está tendo uma ótima produção o que precisa união dos artistas, a mídia abrir mais espaços pra que possamos mostrar todos esses trabalhos.
Com seu programa Tataritaritatá já temos perspectivas de melhores dias.
LAM - Quais os projetos e perspectivas que o Ibys Maceioh tem por realizar?
Repensar todo trabalho realizado até agora. Não é mais aceitável com as tecnologias de hoje, fazer um trabalho meia-boca.
Também pretendo viajar e mostrar meus parceiros e nossas musicas pro Brasil e o mundo inteiro.
Aqui me despeço, abração, que Deus te ilumine sempre, Ibys.
Entrevista concedida em 28 de agosto de 2009.