sexta-feira, março 08, 2013

MILTON NASCIMENTO




MILTON NASCIMENTO




Minha voz é a coragem de amar no ultraje dos desencontros.

Foi com este verso que cheguei à cobertura do hotel em Recife, para uma entrevista com Mílton Nascimento.

Eu já era fã, desde que conhecera sua voz no disco "Caros Amigos", de Chico Buarque, fazendo-me comprar, imediatamente, o "Gerais" e ouvi-lo ao lado de constelações como Mercedes Sosa, o próprio Chico Buarque, Clementina de Jesus e muito som originalíssimo.

Isso me fez ainda e compulsivamente comprar "Minas", "Milagre dos Peixes" (o do show dedicado à Leila Diniz e Agostinho dos Santos, e o de estúdio todo instrumental), "Clube da Esquina I e II", outros anteriores, até "Txai", "Portal da cor", "Sentinela", "Caçador de mim", "Ãnima", "Ângelus", "Nascimento", "Gil & Milton", dentre muitos outros, para uma verdadeira coleção.

O que me chamava atenção, era a sempre importante letra escrita por Fernando Brant, ou Márcio Borges, ou Ronaldo Bastos, freqüentes em suas belíssimas canções, como "Cais", "Travessia", "Encontros e despedidas", "Coisas da vida", "Rouxinol", "Canções e momentos", "Coração Civil", "Planeta Blues", "Certas canções", "Guardanapos de papel", além de outras importantes parcerias de voz com Elis Regina, com Nana Caymmi, com Jon Anderson, com Caetano Veloso, com Gilberto Gil, com Peter Gabriel, com James Taylor, e outros espetaculares duos.

Foi no lançamento do disco e do show "Yauaretê" que me vi ao lado desse grande nome da música brasileira e cidadão do mundo, honra mais que excepcional.

O que me pegou mesmo foi quando estava ali amontoada uma enorme presença da imprensa falada, escrita e televisada, e ele já desceu querendo falar com a Quilombo FM, onde eu trabalhava à época, deixando-me cheio de pernas e tremendo além demais da conta.

Todos os holofotes flagrando meu nervosismo de estar frente a frente com Mílton.

Para relaxar, entreguei-lhe uns livros meus publicados, ensaiando uma apresentação que ele, em seguinda, muito entusiasmado, demonstrou interesse em veicular um programa seu na emissora, quando agradeci a deferência entregando-lhe um poema meu “Minha voz”.


Rolou um papo depois.

Sou navio com rota esquecida e naufrágios muitos... quando o nublado olhar pousa em meu rio, é presságio que paira... quando minha voz é torrente de dor, no exagêro sombrio de uma canção, não é nada, é tempestade que passou e deixou danos...


Com esses versos tive a coragem de encontrar-me com ele novamente, anos depois, quando havia lançado o disco "Miltons", agora num papo descontraído na beira da piscina de outro hotel, também em Recife, numa entrevista emplacada na programação da emissora.

Imagine um fã da minha laia, tendo a oportunidade de registrar esse encontro, quando questionei o que era o disco, o show, as canções, as parcerias, a participação política, o Brasil e a esperança, quando ele arrematou: "Se eu não tivesse esperança com o Brasil, eu já tinha parado de cantar há muito tempo".

Depois reproduzi essa entrevista numa das edições do Nascente - publicação lítero-cultural, jornal que insistí publicar alguns anos atrás.

Dele, evidentemente, que guardo enormes e esclarecedoras palavras, ouvindo sempre suas canções de amor à vida, ao planeta, ao ser humano, ao Brasil e à natureza.

E fecho meu poema assim: ...quando minha voz é a coragem de amar, não é a sombra de um vendaval, é a sujeição de um eterno pavio que aceso, nunca apagará.

E viva Milton Nascimento!

Veja as entrevistas que fiz com Fernando Brant e Marcio Borges.

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