sábado, março 09, 2013

ENTREVISTA: TAVYNHO BONFÁ




TAVYNHO BONFÁ – Conheci o som de Tavynho Bonfá no disco Dança Infernal. Foi um LP que comprei anos atrás e era um dos meus preferidos. Na época ele se assinava Octavio Burnier. Depois tive acesso ao trabalho da dupla Burnier & Cartier.

Hoje, graças o grupo Cardiem, comandado pelo amigo compositor e poeta Felipe Cerquize, tive acesso à substancial obra de Tavynho Bonfá.

Para ficar por dentro do trabalho deste grande artista, o cantor e compositor carioca Tavynho Bonfá estudou no Conservatório Nacional de Barcelona, e, também, estudou arranjo e regência no Instituto Villa-Lobos.

Em 1977, formou-se em Comunicação Social e em 1971, teve a sua primeira música gravada, "Baby blue", uma parceria com Ivan Lins e Paulinho Tapajós.

Tavynho Bonfá a partir de 1974 formou com Claudio Cartier a dupla Burnier & Cartier que obteve grande sucesso e teve suas músicas gravadas por exemplo, pela Orquestra de Paul Mauriat.

Depois Tavynho trabalhou com o saxofonista australiano Don Burrows com quem gravou um álbum que ganhou o disco de ouro!

Tavynho Bonfá teve várias de suas músicas gravadas por Fafá de Belem, Zizi Possi, Wando, Nana Caymmi, Emílio Santiago, Elizeth Cardoso e Roupa Nova. Já participou como violonista de álbuns de Tunai, Chico Buarque e muitos outros artistas da música brasileira. E agora ele está realizando o WorkShop "Music Management" (da Composição à Industrialização) que acontecerá no proximo dia 19 de Setembro de 2009, a partir das 16hs, com carga horária de 3 horas. Local: Rio Rock Blues Club End: Rua do Riachuelo, 20 - Lapa – RIO Tels. para inscrição: (21) 3694-1091 + 3205-7280

Tavynho Bonfá também concedeu uma entrevista exclusiva pra gente!!! Confira!

LAM - Tavynho, começando pela pergunta de praxe: como e quando foi que se deu seu encontro com a música?

Foi bem cedo, entre os seis e sete anos, que por gostar muito de música, ganhei um violão de meu tio Luiz Bonfá.

LAM - Quais influências da infância e adolescência que marcaram a formação do artista?

O tio Luiz, costumava ensaiar com o João Donato na casa de meus pais, mais ou menos nessa época de eu ter seis ou sete anos de idade, e eu ficava horas lá escutando os dois, bem debaixo do piano de calda.
Quando eu era adolescente, eu já tinha avançado demais quando resolvi limitar o meu estudo musical, focalizando na harmonia. Algo que a minha missão como ser humano, pela atividade profissional que me tocou desenvolver, percebia na razão de ser humano.
Agora acredito que não errei em suprimir estudos na improvisação musical, pois me deu a capacidade através da observação, de conhecer outras atividades que colaboraram na harmonia que eu gosto de transmitir com a minha música. Como eu vejo, a música é um produto mas o artista é um meio. Uma mídia ainda muito mal compreendida por sua grande complexidade. Embora seja mais comum o pensamento de que o artista traduza simplesmente as coisas ou fatos que existem localmente em sua sociedade, existe uma parte que interfere. Interfere com os fatos da própria existência da humanidade, que vem através da captação da música pelo artista. Existe uma demanda direta do artista com a grande fonte provedora da música. Poderá ser uma demanda por agradecimento, por beleza... Acredito que inicialmente seria por tranquilidade, por equilíbrio e por domínio. Pela ajuda e contribuição humanitária de um modo geral, é que entendo melhor hoje o que eu li em 1986 num adesivo colocado em um carro, que dizia: você já abraçou um artista hoje? Claro que existe a vontade de ser reconhecido e de ter uma agenda cheia de bons trabalhos como qualquer artista quer em sua profissão, mas tive de conviver com grandes estiagens por causa do aprofundamento nos estudos e das reais e falsas mudanças de mercado. Sobre o mercado de disco tenho poucos exemplos, porém exemplificam o que chamo de produto real e falso.
O que gera propriamente a mudança de mercado real ou falsa. O falso é quando a idéia da produção é somente baseada na tendência do mercado e geminada internamente pelas empresas de disco. A real é quando isto acontece inversamente, ou seja, existe uma talentosa manifestação musical e a partir daí, é gerado o produto que é colocado no mercado.
Através da harmonia, existe na música que eu faço uma faceta estética, que ajuda quando é produzida em estúdio. Os temas, entretanto nascem muitas vezes de maneira celular como em "Moscow Wedding". O título em inglês desta música, retrata o meu casamento na Rússia em 2002. Esta música, por exemplo, chegou tão rápido como um raio e em segundos estava lá para ser trabalhada. Quando a composição chega deste modo é espiritual, que tem a ver com intuição e não religião, de outra forma ela chega por demanda da beleza de um tema, pelo estudo e este é o trabalho.
O grande desafio está em descobrir a maneira como a música (composição musical) pode tocar à alma daquela pessoa que a escuta. Nos concertos (shows) é preciso se criar um ambiente para acolher todo esse repertório para que seja possível mostrar um pouco dessas formas de música. Tenho a certeza que sempre existirá público para a música, porque é uma fonte direta de transmissão de amor entre os seres humanos.

LAM - Conta da experiência do começo com a primeira música gravada, "Baby Blue", do LP com o Grupo Brasil Aquarius, do conservatório na Espanha e do resultado disso tudo!

A música "Baby Blue" foi a minha primeira música gravada, em parceria com Ivan Lins e Paulinho Tapajós, gravada por Ivan Lins, quando eu tinha por volta dos 15 anos - o primeiro recebimento de direitos autorais por venda de disco, lembro, que na época tomei tudo em sorvete com meus amigos. Com a permissão de meus pais, fui aos 17 anos para a Espanha (1968/69) como guitarrista do Grupo Brasil Aquarius fundado pelo baterista Raimundo Bittencourt, gravamos um Lp naquele país, onde estivemos juntos por 1 ano. Ali, estudei no conservatório Nacional de Barcelona, nos moldes como estudei na UNE na Escola Villa-Lobos, como artista convidado, ouvinte, não estar registrado não me importava, uma vez que o que me interessava era estudar. Motivados por uma batida da polícia de imigração, houve a dissolução do grupo ainda na Espanha, pois, todos estávamos com os vistos vencidos. Por causa disso, eu me engajei numa trupe de teatro, que percorreu todo o norte da Espanha por seis meses - uma turnê com mais de 40 cidades .

LAM - Você fez dupla com Claudio Cartier, a Burnier & Cartier. fala dessa experiência.

Mesmo antes de voltar da Espanha, onde surgiu a idéia de formar o duo, me correspondi por carta com o meu futuro parceiro Cláudio Cartier e o convidei para estudarmos. Eu já conhecia o seu grande talento desde a Tijuca nas reuniões do Jaceguai, 27 - onde nasceu o MAU Movimento Artístico Universitário, com Ivan Lins, Audir Blank, Gonzaguinha e outros, o qual freqüentávamos. A partir da volta em 1970 começamos a estudar, gravamos dois discos no Brasil, o primeiro Lp, foi produzido na RCA Victor (hoje Sony) por Raymundo Bittencourt, com arranjos e regências de Laércio de Freitas, Alberto Arantes e Hugo Bellardi, disco no qual escrevi meus primeiros arranjos musicais. O segundo disco LP, foi na EMI, levados pelo amigo Milton Nascimento, produzido por Mariozinho Rocha, com arranjos de Eduardo Souto Neto e do duo. Na Austrália onde fizemos uma turnê, gravamos um álbum duplo (2 Lps), gravado ao vivo pela Cherry Pie Records, com o quinteto do anfitrião Don Burrows, e o Sydney String Quartet, que já havia tocado na Sala Cecília Meirelles no RIO alguns anos antes. Depois da volta australiana, esfriamos os ensaios e de uma maneira que entendemos, não voltar mais a estudar em dupla. Sem orientação ou interesse por parte de empresários brasileiros nessa música tão elaborada, que não compreendiam ou não sabiam vender, a dupla encerrou seus trabalhos em 1975. Até hoje é assim. Empresários artísticos são comerciantes, alguns com alguma sensibilidade musical, mas todos eles estão grudados nos interesses das grandes gravadoras e seus lançamentos, tratando com desinteresse o desenvolvimento de carreiras musicais espontâneas. Entre o primeiro disco e o segundo disco, tivemos um empresário e no primeiro show, atuamos com um quarteto de flautas e uma voz feminina, minha irmã Sonia Burnier, para o qual elaboramos os arranjos, Cartier e eu - na platéia estavam, Milton, Alceu e muitos músicos amigos, naquela época havia uma ebulição entre os artistas - Acabou o show e ninguém viu mais o empresário ou o resultado da bilheteria. Foi o primeiro golpe, das muitas espécies que existem no mercado de música.

LAM - Como foi a história do maravilhoso "Dança Infernal", na série MPBC que eu curti que só?

Mesmo no tempo da dupla, eu era muito solicitado nos estúdios de gravação, tinha boa leitura e boa técnica para gravar. Diferente de apenas tocar, requer cuidados excessivos com os ruídos de cordas e boa integração com a base, que se conhece por "cozinha", que é uma leitura para além da partitura - uma sensibilidade em grupo. Toquei e escrevi muitos arranjos para a Polygram na gestão do nosso bossanovista Roberto Menescal. A partir daí, conheci ótimos produtores como o Hildo Hora, que já havia tido o contato desde a RCA, o Armando Pitigliani, Mariozinho Rocha e sobretudo um produtor do qual me tornei amigo, que é o Sergio de Carvalho - um produtor de uma sensibilidade rara, que não encontrei igual, através dele compreendi muito da produção e dos tramites que ele tinha com o controle de orçamento da companhia, feito na época pelo brilhante contabilista Chico Ribeiro. Era um time muito bom, quando juntávamos os engenheiros de som, Celinho (que foi amigo do Luiz Bonfá e gravaram juntos), Luigi Hofner, William Tardeli e assistentes como o Chocolate e João... alguns sobrenomes eu não lembro mais, mas nos tratávamos por nomes simples e apelidos, você sabe. Por causa dessa integração é que surgiu o disco Dança Infernal. Houve o convite para eu integrar a série como violonista e compositor, mas como eu já tinha começado a orquestrar formalmente, embora ainda estudasse com o maestro Alberto Arantes, que vinha da escola do maestro Guerra Peixe, então, me animei a escrever também os arranjos. Graças à especialização do Sergio, tivemos cordas e metais, que não estavam no orçamento. Toda a sobra de horários com orquestra, em que o Sergio percebia que iriam sobrar horas ele me ligava. e eu escrevia naquela mesma noite, tirava as cópias à mão para cada instrumento e ia com os olhos arranhando a esperar os maestros, o Magro (MPB4) do Chico Buarque, o Dori Caymmi para a Fafá e Zizi Possi. Então, quando terminavam seus trabalhos, eu entrava e pegava o final do período para os meus arranjos. Claro, os músicos, todos professores da sinfônica não gostavam muito, depois de tocarem os arranjos limpos dos arranjadores anteriores, tinham de experimentar alguns arranjos não convencionais para aquela época. Uma das minhas influências maiores na escrita foi o Egberto Gismonti, e eu o conheci pouco, mas juntei pedaços de suas informações até em sua notação musical livre. Algumas vezes, por o não ter sido um acadêmico, tive de explicar aos professores as minhas diferentes notações, que faço por intuição, adicionando o efeito como resultado final, como uma sonoridade deverá ser obtida depois da mixagem, por exemplo. Nesse disco, em particular, houve algum momento de tensão quando no final do trabalho eu quis fechar como se estivesse começando. O próprio Sergio estranhou, mas depois de tanta insistência minha, ele mesmo cortou uma fita de 2 polegadas e a colocou ao contrário para reproduzir na máquina. Isso nos enchia a todos de entusiasmo, era um pessoal que estava ali para criar, então, o final do disco é o começo do disco ao contrário. Técnicas reversíveis, que na época só era possível em gravação daquela forma. Consegui enxergar essa possibilidade, vendo a grade à contraluz. Numa orquestra tocando não se reparam estes princípios físicos numa reversão sonora. Enfim, foi uma coisa que festejamos com esse disco. Depois do disco pronto, entretanto, foi à gota d'água para me rotularem, como fizeram naquela época com vários artistas que vendiam pouco disco, éramos "os malditos".
Lancei o Lp "Dança Infernal" no PGM Fantástico da Tv Globo entre 79 e 80, saltando de pára-quedas, esporte que pratiquei por três anos, e a faixa "Dança Infernal", a que dava o título ao disco, tocou pouco nas rádios, e as vendas não decolaram, muito por ser um disco artístico, aliás, toda a série MPBC foi assim. Algumas pessoas sensíveis como você, a acompanharam. Até o meu tio Luiz, depois de conhecer a complexidade, que era a dupla Burnier e Cartier, achou que eu estava melhorando, me abrindo mais para o popular, e ele sabia que eu estava sendo ousado. Acredito, que aquela série criada pelo Menescal era em si mesma uma ousadia contemporânea. Estivemos com músicos excepcionais ali, Wagner Tiso, Marcio Montarroyos, Laércio de Freitas, Jamil Joanes, Paulo Braga e os cordistas liderados pelo Srs. Pareschi, Paschoal Perrota, um vocal de primeira com o próprio Cláudio Cartier, Sônia Burnier, Luna Messina e muitos outros talentos dentro da sala e no aquário técnico. É bom ouvir agora e descobrir que valeu a pena!

LAM - Fala pra gente dessa trajetória toda, incluindo o disco de ouro na Austrália, as gravações de suas músicas por Nana Caymmi, Fafá de Belem, Wando, Emilio Santiago, Elizeth Cardoso, Roupa Nova, do Tudo Tudo e do Iluminar, quais os resultados dessas experiências?

Seria uma resposta maior ainda que a anterior, mas vou procurar sintetizar. O disco de Ouro australiano foi representativo de uma vendagem inferior aos padrões da época no Brasil, somente porque na Austrália a contagem de consumidores é menor do que a nossa. Na realidade representa um reconhecimento de nível e padrão musicais diferentes dos nossos. Valores sociais diferentes. A música instrumental tem linguagem universal e a dupla Burnier e Cartier, tinham muito desse padrão instrumental, que para o padrão internacional funciona de maneira inversa - o instrumental leva o vocal, o que aqui seria ao contrário. As gravações de minhas músicas por grandes intérpretes devem-se ao fato d'eu ter tido muito bons letristas com quem criei parcerias. Ivan Wrigg, Ivan Lins, Paulinho Tapajós, Mariozinho Rocha, Paulinho Mendonça, Nonato Buzar, Sergio Natureza, Geraldo Carneiro e mais recentemente, Tibério Gaspar. Então, até quando houve uma facilidade de mostra, as músicas foram mostradas e gravadas por nossos grandes intérpretes. Cada uma dessas músicas gravadas por um intérprete, representa um capítulo longo, que vai da composição ao encontro, e da convivência no estúdio. Quando surgiram os primeiros selos independentes, a música nem tanto voltada para o mercado, mas mais voltada para a arte, no meu caso, foi quando apareceram os discos em CD. Gravei Tudo Tudo e Iluminar no sistema intermediário, metade "tape", metade PCM e já finalizado em CD - AAD. Esta nova fase, para mim, se caracteriza por me trazer mais como intérprete e nem tanto como compositor.

LAM - Você é cantor, compositor, arranjador, violonista, produtor e maestro que já fez produção de novelas e seriados da Rede Globo, sem contar sua participação em discos de Chico Buarque, Tunai e de meio mundo de gente! Como é que está o seu trabalho musical num tempo de pirataria e internet?

Minha maneira de conceber a música mudou bastante, não só pelas ferramentas mas também em termos de tempo isso foi afetado. Consigo a simulação da sessão de estúdio em muito menos tempo, mas estou acumulando funções que não ajudam em nada a parte de criação. Sim, continuo compondo mas é como um relampejar. Isto não está afetando só a mim. Estou vendo reflexos em toda a sociedade. Há uma resposta frente à não sustentar os desempregados tecnológicos, que é uma nova categoria criada pelas indústrias de disco e de entretenimento. No mercado de disco esta resposta social vem através da pirataria. Explico: Na década de 80 o computador musical substituiu todo o departamento musical na Rede Globo. Tornou-nos a todos, que trabalhavam ali na época, que eu me lembre de alguns, Guto Graça Melo, Waltel Blanco, Cipó, Alceu Boquino, Andy Mills, copistas, orquestra inteira, em desempregados tecnológicos. Fomos um dos primeiros, junto com as montadoras automobilísticas, mais adiante os caixas bancários, os atendentes dos bancos, e as industrias em geral e as de disco, enfim, o sistema monetário gera esta distorção, onde com menos gente empregada consegue-se produzir mais, mas o consumidor, que é o próprio desempregado e suas famílias não conseguem consumir, pois, antes disso tem que trabalhar em alguma outra coisa para poder comprar. Essa alguma outra coisa é a pirataria. Logo, a própria industria está a criar a pirataria, pois o sistema de lucro não prevê o suporte daqueles que teve de "enxugar". A saída é abrir a tecnologia, e nós já a temos, para que todas as pessoas se beneficiem dos recursos materiais existentes, como energia, água e comida basicamente. Acredito, que não haverá outra saída da crise cíclica. Não cabe nenhum outro tipo de política, por exemplo, pois isto agravaria o quadro de hoje. A música tem um papel fundamental nessa mudança. O de difundir todas as experiências humanitárias, que correspondem à visão fora do obsoleto sistema monetário, por onde toda a música transita. Essa foi uma das razões porque compreendo perfeitamente o Movimento Zeitgeist (ZM). É antes de tudo, estudar a melhor forma de progredir na mudança do sistema monetário para um sistema baseado em recursos, onde ninguém ficaria de fora. Se a moeda fosse sangue, a circulação estaria comprometida e é o que está havendo. O sistema já não está funcionando. Para resumir, no sistema monetário não há mais evolução humanitária. O sistema monetário foi útil à humanidade até recentemente, mas não vai acrescentar nada mais à humanidade e ainda, será muito perigoso para o mundo continuar a estar neste sistema. Temos tecnologia para libertar o homem do trabalho e das misérias, e todos precisam saber disto. A Internet é o canal livre para difundir.
Recomendo que veja estes filmes, que só estão disponíveis na Internet: I Zeitgeist the movie http://video.google.com/videoplay?docid=-2282183016528882906 II Zeitgeist Addendum http://www.zeitgeistmovie.com/add_portug.htm III o autor explica os filmes e apresenta a palestra. http://dotsub.com/view/a34fba0d-4016-4807-b255-021b58dbc9a4 "Todos querem ser livres" O Movimento Zeitgeist - não é um movimento político. Não reconhece nações, governos, raças, religiões, credos ou classes. Chegamos à conclusão de que estas distinções são falsas e desatualizadas, e estão longe de serem fatores positivos ao verdadeiro potencial e crescimento humano coletivo. Suas bases estão na divisão do poder e estratificação, e não na união e igualdade, que são os nossos objetivos.

LAM - Quais as suas perspectivas com relação à música brasileira atualmente?

Reconheço, que estando preso a este sistema monetário, necessito estar atento a como sobreviver dentro dele, então, falar de perspectiva significa neste momento poder prever alguma coisa. Apenas constatar como está evoluindo o direito autoral na Internet, como está o mercado de shows, é dizer, que estamos estagnados. As leis de incentivos, municipal, estadual e federal, são claramente um mecanismo institucional de repressão a Arte. É somente útil aos governos e às corporações multinacionais. É lamentável este quadro, dentro de um país que respira a Arte. Portanto, o quadro de artistas que está fora dos mecanismos corporativos, que é a grande maioria, deveria se unir em uma corporação nacional para sobreviver. Não vejo perspectivas quanto a isto. Porém, posso constatar algumas medidas de compartilhamento, que já estão sendo adotadas na música, que seriam respostas e tendências, tais como, a venda de conteúdo musical direto e íntegra propriedade autoral. A migração em novas carreiras, que o sistema monetário promove em seu arrocho desumano, traz um oportunismo baseado em competição, e muitas falsas oportunidades como as dos festivais, as garagens e caldeirões das TVs. Uma catarse musical é o que estão promovendo por todos os lados rotulando disso ou daquilo em nome da cultura - Serve ao único propósito, consciente ou não, de eliminar a arte nacional e fomentar o desrespeito pela música. Fazem isto com base experimental, ao sabor da ignorância musical do que pensam ser o novo. Uma infantilidade, produto de desqualificados organizadores, que apresentam deficientes antecedentes de base educacional. Constato, de forma alguma, estou criticando, sei que estamos no sistema monetário e que todos tem de fazer o seu trabalho. Mas distorções e enganos como estes acontecem dentro de um sistema obsoleto. Não acrescenta em nada humanitariamente. Um exemplar misto de desrespeito e desperdício humanos.

LAM - Você tem um site no MySpace e um blog. A Internet tem contribuindo para a difusão do seu trabalho musical?

Acredito que sim, entretanto, isto não cresce paralelamente com as oportunidades da música como negócio. Existem particularidades artísticas que não são discutidas ou mesmo mencionadas, prefere-se tachar ou rotular o artista disso ou daquilo, pois não se dão ao trabalho da investigação. O artista da música não é diferente. O verdadeiro artista é um formador de opinião, assim nos rotularam ao nível de quem os entendem assim. Na realidade um artista lida com as tradições de modo diferenciado em relação às demais atividades humanas. Pelo simples fato de criar algo do nada (o dinheiro também é criado do nada) ou da inspiração, como se costuma dizer, agrega o fato de abrir mão de sua criação em detrimento da próxima criação. O que faz da tradição uma ferramenta e não algo que não se desloque ou se mantenha em inércia. Da mesma maneira que uma gravadora multinacional, que é aceita em um país, traz consigo as ferramentas para o seu desenvolvimento, neste caso, alguma fração mínima de responsabilidade social (que é uma mentira institucional) se inclui. O do desenvolvimento da música regional, do país hóspede. Na verdade não há responsabilidade social alguma em face do lucro, que é o seu grande foco e também o é o de todas as corporações em uma visão mais ampla. Uma das ferramentas que trazem é o payola ou o jabá, que através de investimentos pesados na mídia radiofônica principalmente, faz retornar o próprio investimento, controlando os direitos de execução através das sociedades arrecadadoras de direitos. Não há perda de investimento. Em contrapartida, engessam as mídias pelo investimento e não deixam quem quer que seja tocar as suas composições. Além de transformarem a cultura do país hóspede, impedem os próprios artistas nacionais a se desenvolverem, por isso vendem seus produtos internacionais. É uma ferramenta legal. Aceita pelo governo. Mas como a maioria das corporações, destroem a infraestrutura cultural e social do país hospedeiro. Isto já é outro ponto para ser analisado, mas para não fugir ao assunto, o artista está familiarizado pela natureza das ferramentas que traz e desenvolve. Deveria haver muito cuidado para se tratar essa questão ou mesmo para se tratarem métodos a serem aplicados aos artistas, pois uma das especiais ferramentas que carregam é a compreensão do periférico social humano. A compreensão humana neste sentido para um artista é um distanciamento crítico de si mesmo, a fim de perceber a verdadeira natureza, seus valores, suas inquietudes e limites. É um passo seguinte mas concomitante com o exercício da criação. Isso não pode ser imposto sem o risco de passar a ser uma arte engajada. Como um jingle, por exemplo, que é somente um exercício musical. Nada de errado quanto a isto mas voltando aos atributos da arte, sobretudo no que toca à tradição, há um preparo constante e de muitos anos, diretamente proporcional ao amadurecimento na compreensão de cada artista, que é para os não artistas, o doloroso rompimento da tradição. Mexe-se aqui com a autopreservação, mantenedora do "status quo", que é uma posição relativa aos políticos e constante na política, neste caso, não é comumente relativo aos artistas, que de sua condição natural de formadores de opinião, muitas vezes os políticos se nutrem erradamente. Você já deve ter visto um político cercado de artistas... Aos artistas corresponde a busca permanente do que é belo. Por um lado, e isto é verdadeiro, é a fonte de sua atividade. Por outro lado, não quer dizer que o artista não perceba a institucionalidade ou mesmo que se integre a ela. Em ambos os casos, entretanto, estará independente. E agora, nunca como antes, com uma missão humanitária definida.

LAM - Quais projetos e perspectivas do Tavynho Bonfá para serem realizados?

Tenho estúdio caseiro desde os anos oitenta, e cada vez que me inspiro, acabo por gravar uma nova música. Então, tenho bem mais que dois discos prontos. Tenho um DvD em homenagem a música dos Bonfá (meu tio e eu), e isto está sendo trabalhado para uma possível realização de mercado. Existem outros projetos delineados, que correspondem a um possível interesse para patrocinadores reais. Estou terminando a matéria de meu workshop "Music Management" (da composição à industrialização), que fará a sua estréia no próximo dia 19 de Setembro de 2009 no RIO.
Tenho tanta coisa que fazer e ando sem tempo para tanto... e a grande maioria das coisas nada tem a ver com o sistema financeiro, que moribundo, ainda teima em querer prevalecer e reinventar-se. Isto é uma prova de que o incentivo monetário nos dias de hoje é falso para exaltar uma atividade artística humana.
Obrigado pela oportunidade de escrever um pouco sobre o que eu conheço e de como tem sido a minha experiência musical e como ser humano.
Grande abraço.
Sucesso!
Tavynho Bonfa

Entrevista concedida em 04 de setembro de 2009. Não deixe de ver o blog do Tavynho Bonfá e a sua página no MySpace.