SILVÂNIA MAIA DUTRA – A sagitariana Silvânia é professora de Educação Infantil, cursou Magistério na Escola Estadual Dr. Eloy Werner, em 1988, graduou-se em pedagogia e fez especialização em Inspeção Escolar pela Faculdade de Direito e Ciencias Sociais do Leste de Minas – FADILESTE, em 1996, atuando hoje como vice-diretora Escola Estadual Ana Mendes Pereira Dutra, onde possui extensão de carga horária na função de professor de Sociologia e Filosofia para o Ensino Médio; além de coordenar o PEAS JUVENTUDE/2009 - Programa Educacional Afetivo-Sexual de atenção ao jovem.
Ela tem experiência na alfabetização e Educação Infantil em creche e, também no ensino de Artes. Possui capacitações em diversos cursos para disciplinas do Ensino Fundamental e Educação Ambiental, participando ativamente de cursos de capacitação, oficinas pedagógicas, seminários, simpósios e congressos.
Tem interesse pessoal e profissional pela área de Educação, pela diversidade cultural e de fazer amizades. Ela concedeu uma entrevista pra gente, confira.
LAM - Sil, quando se deu e qual a razão da sua definição pela pedagogia?
Em 1992 lecionava em uma turma do 3° Ano do Ensino Fundamental classificada como turma “D”. Grande parte dos alunos não sabia ler e escrever tinha baixa auto-estima, não gostavam de estudar e não viam nenhum atrativo para que pudessem permanecer dentro de uma sala de aula. Então vi na Pedagogia uma luz para que eu pudesse conhecer novas metodologias e técnicas educativas e aplicá-las no trabalho docente.
LAM - Você milita na área pedagógica, o que a fez tomar esta opção?
O fato de acreditar que é possível transformar positivamente a história da Educação atual no Brasil, dando dignidade e não apenas criando um piso salarial ridículo como este que tem sido alvo do marketing Nacional da Educação. Resgatar a dignidade do profissional dando condições dignas de trabalho.
LAM - Ao longo desses anos, como professora, quais experiências positivas você pode registrar?
Uma das maiores experiências e talvez um dos grandes desafios, têm sido a inclusão, trabalhar com as diferenças individuais e principalmente com a questão de gênero, orientação sexual e cultura.
Sou apaixonada pelo ser humano e vejo que a escola pode fazer muito por ele, desde que se desprenda de alguns conceitos e práticas educativas que não condizem com a realidade.
LAM - Como você vê atualmente a atuação do professor com os novos paradigmas que norteiam a prática pedagógica? Essa mudança contra a educação "bancária" tradicional para uma pratica dialógica funciona? Ou é apenas lenha para queimar em debates intelectuais?
Estamos vivendo tempos de mudanças rápidas e complexas na sociedade globalizada, que repercutem na vida cotidiana de todos. Esses processos de transformações pelos quais passam o mundo geram conflitos em toda sociedade. Portanto a escola deve ser um espaço aberto para o diálogo de forma que o aluno tenha visão de si e do outro.
LAM - Como você desenvolve a sua relação com seus alunos? E como você vê essa relação atualmente?
Tendo sempre como o principal ponto de partida o diálogo, o respeito mútuo, a ética e a segurança ao ministrar os conteúdos.
Vejo como aspecto fundamental em qualquer sociedade, por maior que seja.
LAM - A seu ver a escola cumpre o seu papel? Há condições de se promover a educação na realidade atual da escola pública?
Para que a escola cumpra com o seu papel é necessário que haja ainda muitas mudanças em seu currículo, nos programas, materiais didáticos e até mesmo na estrutura física e arquitetônica.
É difícil promover a Educação nestas condições atuais, porém não podemos cruzar os braços, nós professores devemos estar atentos as informações disponibilizadas dentro e fora da escola e criar espaço de discussão e crítica a respeito da realidade atual, problematizar, questionar e criticar tais situações.
LAM - Qual a sua opinião acerca da LDB 9394/96? A prática pedagógica, a seu ver, realmente pode, conforme a previsão constitucional que deu base para a LDB vigente, proporcionar o pleno desempenho da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho?
A prática pedagógica baseada em uma ação reflexiva contribui e muito para a formação da pessoa, desde que fundamentada em ações significativas e não em uma Educação Competitiva.
O exercício da cidadania é ainda mais difícil, não aprendemos a lidar com a “Democracia” e por isto vivemos a mercê de uma política imunda, onde o capitalismo impera a todo custo e a esmola é vista como “caridade”.
Não concordo que seja função da Escola preparar o jovem para o trabalho, como educar os jovens para uma sociedade futura cuja natureza desconhecemos em detalhes, mas que certamente será diferente, em muitos aspectos fundamentais, do passado e do presente?
A Educação deve ensinar o jovem como pensar, prepará-lo para o seu futuro e não para o nosso passado, não apenas vivenciar fatos históricos e científicos como tem feito até o presente momento, porém analisá-los, criticá-los.
LAM - Qual a sua opinião acerca da prática pedagógica voltada para a dignidade humana e exercício da cidadania pautada nos Termas Transversais? É uma realidade ou conversa pra boi dormir?
São temas importantes e urgentes, que devem ser tratados e que muitas vezes são deixados de lado pela complexidade do assunto.
LAM – Como você vê a inclusão? Quais as experiências que você teve no tocante à questão pedagógica inclusiva?
Só existe a inclusão porque houve a exclusão.
Uma das maiores experiências da inclusão não foi exatamente com alunos, foi o fato de me casar com um paraplégico, isto facilitou a compreensão que eu tenho respeito deste assunto.
Quem está impossibilitado de ter um filho com deficiência, ou mesmo se tornar um deficiente? Ou ainda ter um esposo/ esposa que de repente por acidente ou uma moléstia grave se torne um deficiente?
Sinto-me uma pessoa sensível ao ponto de enxergar apenas o lado bom da inclusão, fico a imaginar o que seria de Maria e João (nomes fictícios) se não estivessem incluídos na escola regular. Maria é surda e João tem síndrome de Down. Maria eu acompanho de perto há 3 anos, hoje faz leitura labial, brinca com as demais crianças que sabem da sua deficiência e estão também aprendendo a lidar com ela. João está cursando o 8° ano do Ensino Fundamental, me lembro quando iniciou seus estudos há oito anos, quantos avanços percebe-se nele, uma criança que não sabia cuidar do seu próprio corpo, hoje se sente seguro para ir a escola sozinho, aprendeu atravessar a rua, recebe e segue instruções e está iniciando a leitura e escrita das palavras. Participa dos eventos escolares, aprendeu a conviver com as demais crianças e o mais lindo de tudo isto, as crianças ditas “normais”, aprenderam a lidar com estas diferenças que não anulam o ser humano, apenas o torna diferente.
LAM - Há esperança para os profissionais da educação e alunos no Brasil? A seu ver o que deveria ser feito para que se tenha uma educação eficiente e eficaz no Brasil?
Há esperança quando buscamos sentido na vida. Portanto, onde há vida, há também esperança.
Para que tenhamos uma educação eficiente e eficaz, precisamos valorizar mais a criatividade do que propriamente a eficiência.
LAM - Quais os projetos que pretende ou tem por perspectivas realizar?
Pretendo me tornar intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais); fazer um mestrado na área da Educação; e elaborar com os jovens da nossa escola 3 mini-projetos no mês de abril e executá-los a partir 2° semestre englobando o tema: Afetividade e Sexualidade: Prazer em viver.