Sonekka é um desses caras que a gente simpatiza de chapa! Aquele
tipo de gente que, ao primeiro contato, a gente parece que já conhece desde
longa data de tanto entusiasmo. Diriam, então, os místicos de todos os matizes,
que isso se deve ao fato de que essa empatia está devidamente explicada por
outras encarnações anteriores, onde a gente pode ter se encontrado por aí. Pode
ser, admito. Ou porque ele deixa se mostrar com uma benignidade tão expressiva
que comunga, de chofre, com a solidariedade que nos emoldura nas ações
participantes. Então, dou meu testemunho porque foi exatamente assim que senti.
E basta conversar com ele, seja pessoalmente, seja virtualmente, para constatar
logo tratar de um sujeito que carrega um jeito especial de ser.
O meu primeiro contato com ele foi na Rede Social da Música
Brasileira – RSMB. E lá, no primeiro mail, vi logo que era daqueles que
participariam logo da minha trupe e sem restrições.
Claro, Sonekka é o que podemos chamar de sangue bom mesmo: não tem
estrelismo, nem pacutia, nem pantim e logo mostra que não milita pelo
bloco-do-eu-sozinho. E vou provar isso.
Primeiro, é um desses sujeitos que mais parece com aquela grande
idéia do eminente pedagogo pernambucano Paulo Freire: “Ninguém se liberta
sozinho. Ninguém liberta ninguém. Os homens se libertam em comunhão”. Foi assim
que encontrei Sonekka.
Depois vi que ele divulgava no RSMB não só coisas atinentes à
música, mas ao que deve estar na agenda de qualquer pessoa que milite na arte:
o seu trabalho sintonizado com o seu tempo e a sua terra. Sim, porque não é só
de tons e sons que vivem músico e compositor, mas de poesia, de pessoas, de
política, de participar contras as injustiças, de somar para a busca de um
mundo melhor, dentre outras tantas necessidades interiores que permeiam a alma
da arte e do artista.
Daí conheci a seu sítio na Internet: http://clubecaiubi.ning.com/profile/sonekka.
Tem de tudo até hoje: ele e uma penca de gente que com ele divide as emoções de
sua existência: cardápios, contos do Zé, contato, letrário, rádio A, meio mundo
de coisa e informações diversas, dele e de todos.
Foi aí que procurei saber de quem se tratava realmente e encontrei
um profissional formado em processamento de dados que trabalha como consultor.
Também fiquei sabendo que tocou no circuito universitário e no interior de São
Paulo, participando de diversos festivais. Além disso, é cantor e compositor,
toca violão, cavaco e viola caipira.
Pois bem, o mais recente contato com o Sonekka, foi “Incríveis
amores”, o seu cd lançado em 2003 com a sua interpretação e sons tanto de sua
autoria como de parceiros, produzido por Fernando Lee e contando com
participação de músicos, tais como Fábio Schmidt, Peninha, Ivan Pelliciotti,
Marcos Oliva e o Fernando Lee. Ouvi da primeira até a última faixa do álbum.
Fiquei ouvindo e ouvindo: havia algo subjacente que me chamava atenção e eu não
conseguia decifrar. A primeira música que me pegou foi Fugitiva, uma parceria
oriunda do livro Poecrias, com Greice Munhoz. Interessantíssima. A segunda que
destaco, é Ontem, a décima segunda faixa do disco, com letra e música do
próprio Sonekka. Devo dizer, no entanto, que o cd não se restringe a essas duas
músicas. Muito pelo contrário: Impasse, Tanto Faz. Falando Sozinho e Sinto
Muito, todas do Sonekka, mais Na boca, uma parceria dele com o Fernando Lee.
Para melhor entender o que eu digo, em 2003 Sonekka teve canções
suas incluídas nas coletâneas “Brasilidade”, lançada no Brasil e na Europa, e
também na “Estação XXI”. Possui outros parceiros como o Zé Edu Camargo,
Fernando Cavallieri, Leo Nogueira, Ricardo Moreira, Vlado Lima, Paulinho
Tapajós, Zé Rodrix, Élio Camalle, Osmar Reiex, Isielly Ramos, Apá Silvino,
Fernando Guerra, Carlos Machado e Vasco de Britto, dentre outros.
Para ser mais enfático no que estou querendo dizer, basta fazer
uma leitura do que escreveu o músico e crítico de MPB, Julinho Bittencourt,
publicado no jornal A Tribuna, de Santos, mencionando que: “(....) Incríveis
Amores é divertido, engraçado, desabusado, rancoroso às vezes, saudoso quase
sempre e principalmente bem feito, gravado e tocado. Sonekka tem uma qualidade
rara. É humilde no fazer. Não se arroga. Faz sua música de forma leve,
aparentemente descontraída, sem grandes mirabolâncias e consegue resultados
bons de ouvir. O pop enfim em toda a sua extensão. (...) Com nítida influência
das bandas de rock da década de 80, Sonekka voa acima delas e encosta na MPB de
forma sutil. Se comporta exatamente como um roqueiro que amadureceu, sofreu e
se divertiu muito com as mulheres e resolveu contar tudo de uma vez. Tudo segue
em tom corajosamente coloquial”.
Já o Zé Edu Camargo, na coluna “O Zé falou”, advertiu que “(...) o
cantor e compositor Sonekka fala de amor. Mas não fala de amor como qualquer
um. Ele fala de amor para qualquer um. O disco Incríveis Amores fala do meu
amor, do seu amor, do amor como gente como a gente. As 12 canções do disco não
usam disfarce. Ferem firme, algumas. Assopram, outras. Embalam. Relembram.
Explicam. Complicam. Você não vai passar indiferente. Afinal, quem neste mundo
passa indiferente a ele, o velho e bom e incrível amor?”.
Concordo em gênero, grau e número com ambos. Tanto o Julinho
Bittencourt, como o José Eduardo Camargo foram no âmago sonoro e poético de
Sonekka. Mas isso porque a música do Sonekka é cristalina, simples, de uma
simplicidade estonteantemente tão natural, como as coisas advindas do impulso,
do instinto, da intuição. Aí onde está: trata do mais trivial sem ao menos
chegar ao banal. Entendeu? Pois é, este é o segredo, aquilo que está subjacente
rolando da primeira à última faixa. O simples em sua mais espontânea expressão.
Até o jeito do Sonekka cantar é simplíssimo mas com a carga de
quem revela o mistério embutido nos sentimentos da natureza humana: do flerte à
possessão, do enleio ao passional, do namoro ao desastre da incompatibilidade,
do chegar enamorado e partir desiludido, do amor à perplexidade do desamor,
tudo isso sem rancor como se fossem águas que represam e passam na maturidade.
Este, portanto, o Sonekka. E digo: o melhor mesmo é ouvi-lo e
conhecendo seu trabalho no seu sítio. Bote fé e vamos nessa.
Música de Sonekka & Letra de Luiz
Alberto Machado
Voz & arranjo: Sonekka
Sigo em frente
Rédeas soltas
Rente à vida
Lida louca
Tez afoita
Moita adentro
Alma outra
Só relento.
Sigo em frente
No peito e na raça
No meio da sorte
Ou de outra desgraça
Que vem sem aviso
E a remoer
Como se isso
Valesse entender.
E lá vou eu noutras voltas
Cheio de nó pelas costas
Pro que der e vier
Por bem ou malmequer
Ou pelas raias dos ventos
E haja o que houver
Até que a vida se esvaia
Na navalha do tempo.
Sigo em frente
E lá vou eu
Topando breu
Enquanto o dia
É outra agonia
Que a noite inventa
E quanto mais tenta
Mais dá revelia.
Sigo em frente
E lá vou eu
Com o que é meu
Na mesquinharia
Na patifaria
Que a gente agüenta
E no peito aumenta
Nossa rebeldia.
E lá vou eu noutras voltas
Cheio de nó pelas costas
Pro que der e vier
Por bem ou malmequer
Ou pelas raias dos ventos
E haja o que houver
Até que a vida se esvaia
Na navalha do tempo.
Pois bem, tempos atrás, numa das vezes que estive em Sampa, cruzei
com o Sonekka, bebericamos, trocamos idéias, curtimos o Caiubi e, depois disso,
ficou martelando na minha cabeça uma entrevista com ele.
Pois bem, vamos conhecer melhor, com vocês: Sonekka!
LAM - Sonekka,
primeiro, vamos para a pergunta de praxe: como se deu a descoberta pela arte,
pela música?
Luiz, acho que isso meio que nasceu comigo. Eu tenho lembranças
muito remotas de quando trocava qualquer brinquedo por outro que fizesse algum
som. Um dos meus primeiros brinquedos, que eu me lembro, foi uma sanfoninha.
Mas a real afinidade veio ao 13 anos quando soei os 3 primeiros acordes no
violão e não "consegui" mais parar.
LAM - Quando
foi que o Osmar Lazzarini optou pelo Sonekka?
Soneca é um apelido de infância que eu tinha desde os 7 anos de
idade, eu morava numa cidade pequena e algumas pessoas me chamavam por esse
apelido. Nos tempos de colégio a coisa do apelido se expandiu e nos de
faculdade chegou ao ponto de não saberem como era meu nome real ...rsrsrs.
Acabei percebendo que as pessoas tinham facilidade de guadar o apelido e essa
empatia acabou me conquistando também.Os dois "K" no Sonekka só surgiram
há uns 5 ou 6 anos quando decidi trilhar uma identidade musical via internet.
Na web você pode encontrar milhões de Sonecas mas se encontrar um Sonekka,
serei eu.
LAM - Quais
influências marcantes fizeram consolidar a sua opção pela música?
O gosto pelas rodas de viola e violão, a fascinação pelos
festivais(embora não tenha participado de muitos, sempre acompanhei).
A MPB feita pelas figuras que surgiram nos festivais dos anos 60
era minha discoteca básica, juntando-se os repertórios dos cantores de barzinho
no interior de São Paulo e uma boa dose de sambas e modas de viola. Nunca fui
de ouvir muito rock e minha experiencia com musica internacional foi bem pouca.
LAM - Agora
vamos falar de Incríveis Amores. Como se deu o processo de criação desse
projeto? Como se deu a receptividade desse seu trabalho?
O incríveis amores começou com o desejo de gravar um demo, e ainda
a intenção inicial era um demo de sátiras.Depois ficou decidido que faríamos um
disco com as canções próprias de amor que tocava em shows intimistas, os
músicos com quem eu farei a demo, por gostarem das musicas, acabaram me
convencendo disso. Como componho em muita quantidade, durante a seleção das
músicas optei pelo "conceitual" de ser só canções de "amores que
não dão certo" com todo o zêlo pra não cair no piegas, na dor de cotovelo
vã e outros perigos das canções de amor. Durante a seleção mesmo o projeto ja
evoluiu para um disco todo. Ja que estava à beira do estúdio,tinhas as músicas,
porque não levar adiante até a concepção de um CD? Até hoje não encontrei uma
só pessoa que tenha feita uma crítica negativa sobre o disco como um todo,
pontos de fraqueza sempre tem mas o Cd esta calcado em POP-rock de fácil
assimilação, não vai a extremos do gosto pessoal, nem em letra e nem em
melodias e arranjos. O clima é suave. Quem gosta de MPB e quem gosta de rock
consegue se identificar. A dificuldade maior é a receptividade comercial, por
ser um disco feito quase artesanalmente, onde a gente atuava como autores,
arranjadores e "marchands" ao mesmo tempo, enfrentamos barreiras de
distribuição e divulgação expressiva.
LAM - Você
assina todas as músicas do Incríveis Amores, algumas em parceria com Zé Edu
Camargo, Fernando Lee, Fernando Guerra e Greice Munhoz. Como é que se processa
esse trabalho, essas parcerias?
Eu sou preferencialmente melodista, normalmente recebo letras dos
prontas dos parceiros que faço. O Zé edu camargo foi um dos primeiros
parceiros, de lá pra cá eu passei de 50 parceiros musicais. Minha aptidão pra
letras esta cada mais rara, em contrapartida minha intuição para rítmos
variados de melodia está cada vez mais forte.
LAM - Você tem
uma proposta de variedade, transita por ritmos e se insinua por vertentes
inusitadas numa verdadeira heterogeneidade. Como se dá essa proposta?
Eu me ancoro totalmente nas letras que recebo. Quando me ponho a
musicar uma letra recebida eu me concentro totalmente na mensagem que deve ser
passada, a minha heterogeneidade vem diretamente da variedade de parceiros e
por ser um artista indepente, sem vinculos , faço minha criação livremente sem
me ater a rítmos definidos, nem modismos, faço o que acho que fica bem para
aquela letra.
LAM - Comumente
vê-se seu nome enturmado com uma penca de gente de talento e propostas. Quer
dizer, vi você a partir da RSMB, depois ativo no Clube Caiubi e sempre fazendo
uma série de participações. Há sempre um sinal de comunhão, é essa uma das
bases da sua proposta?
Isso eu faço questão de continuar, depois que comecei produzir em
grupo passei a ficar muito mais fértil. De quando entrei na RSMB até agora com
o Clube Caiubi e a M-música só tenho colecionado alegrias. Quando as
organizações surgidas em listas de discussão de internet saem do virtual e vão
pro mundo real, vira uma coisa irresistível, a comunhão de amizade e
talento.Poder fazer coisas que sozinho não seria possível como organizar shows
e gravações cada vez mais profissionais, poder sorver da experiencia de alguns
e oferecer a sua para o crescimento dos outros é um momento mágico.A arte como
ela deve ser : possível , bela e acessível e não meramente um produto comercial
como vem sendo jogada há tempos.
LAM - Como você
vê a alternatividade musical do presente? Ou seja, como você vê o universo
musical brasileiro para os que não conseguem chegar na grande mídia? Como você
se insere nisso e as dificuldades?
O momento é tão bom que talvez só se compare às possibilidades dos
anos 60 quando surgiu a bossa-nova, a TV e a industria do disco e difusão
maciça. Há uma revolução nos costumes musicais que é fácil de ser percebida. A
internet e suas possibilidades infinitas de mídia está cada dia mais ganhando
corpo, é inocente quem acha que nunca vai ser acessível a todos. E dela tem-se
as rádios online que são livres, o mp3, os recursos multimídia, o video digital,
o podcasting, redes de relacionamento, blogs. As facilidades em gravar
digitalmente com qualidade e maneira distribuída acelera esse processo, hoje eu
posso gravar uma base guia na minha casa e enviar para um parceiro no Recife
colocar um piano ou outro elemento e depois repassar os arquivos a outros até
completar o trabalho, tudo isso em questão de dias ou até horas, coisa
impensável em outras decadas. A mídia convencional está totalmente nas mão de
poucos, esse é o business da TV e grande corporações de rádio, produzir alguns
artistas e nos enfiar guela a baixo a custo alto, vendendo e ganhando milhões
em nome de uma qualidade imposta à força, é inocência deles achar que sempre
vai ser assim. A mamata acaba quando as pessoas passam a procurar o que gostam
por si próprias e descobrem que há um universo a ser descoberto e não precisam
de que a TV e a rádio guiem seus gostos, muita gente ja está nesse nível de
pensamento e cada vez mais aumenta.
Nisso tudo, costumo dizer não bato em porta trancada. Se as
gravadoras não nos querem, não querem pegar um artista do zero e gastar pra
coloca-lo na mídia, se os artistas da mídia saem dizendo que não existe mais
compositores, quem sou eu pra lutar contra isso? Nem mando. Faço o meu caminho
pouco a pouco, assim 100% das pessoas que consomem minha arte gostam, pois
vieram espontaneamente. Enquanto isso artistas e diretores de gravadora estão
fechados em suas mansões pensando em como manterem-se por cima do sistema e a
arte cada vez mais vai ficando de lado.
LAM - Como você
a música brasileria do momento? O que há de merecido destaque?
Olha eu sou um cara muito peculiar pra falar nesse assunto, eu não
sei o que ta tocando no Faustão nem na novela pois só assisto rigorosamente o
que gosto , vejo muito pouca Tv e quase nada de rádio comercial. No meu carro
só toca mp3 dos independentes que gosto e rádio só ouço online e sobre gente
que é do meu mundão independente. Faz muito tempo que não compro um Cd
comercial, consumo mais gente que merece mas não tem tido o destaque merecido:
Álvaro Cueva, Kleber Albuquerque, Elio Camalle, CEumar, Max Gonzaga, Fernando
Cavallieri, Alexandre Lemos,Tito Pinheiro são alguns exemplos. Acho também que
muita coisa do Clube Caiubi deveria ganhar mais evidência.
LAM - Quais os
projetos de Sonekka? Como você é inquieto, deve haver projetos prontos para
pipocar, num é?
Esse é o ano mais cheião. Em maio em fiz e gravei um show ao vivo
no Crowne Plaza só com músicas minhas e do Zé Edu Camargo, o "Dois em
Uma", foi inusitado porque as pessoas que foram ao show receberam um CD
com caixa e encarte e puderam baixar as musicas no dia seguinte e gravar o CD.
No momento estou em estúdio com os
Tropecas(http://clubecaiubi.com.br/ostropecas) uma banda um pouco mais voltado
pro Rock e letras mais ácidas, une eu , Ricardo Moreira, Vlado Lima, Ricardo
Soares, Lucio Manosso e Fernando Lee, tuido capitaneado pelo igualmente
irriquieto Zé Rodrix. Ja gravamos 9 músicas , jajá tem mais Cd por aí.
Também estou produzindo o CD sde autor do Zé Edu Camargo que vai
ser interpretado por mim, Mariana Leporace e Elio Camalle com produção musical
do Fernando Lee. vai contar ainda com participações especiais de parceiros como
Celso Viáfora, Guarabyra, Zé Rodrix, Vicente Barreto, Sérgio Santos, Guilherme
Rondon, um projto muito bonito.
Ainda nos próximo vou disponibilizar pra download 17 faixas do meu
projeto "Acridoce" (titulo provisório) reunindo algumas canções de
produção de home estúdio e em comunhão com parceiros Brasil afora.
Ufa! Fora as coisas efervescentes do Clube Caiubi e shows com os
Tropeças e DoisemUmas.
ENTREVISTA concedida em 01 de abril de 2004. Bem, Sonekka, meu
amigo, meu parceiro, não fica só por aqui, tem muito mais, veja no Clube Caiubi de Compositores.